domingo, 30 de dezembro de 2007

Profecia de catástrofe alimentar ainda pode se realizar

Fatos extraordinários estão acontecendo no mercado mundial de alimentos. O preço do trigo, da soja, do milho e de laticínios mais que duplicou nos últimos anos, enquanto a demanda superou a oferta pela primeira vez desde a Segunda Guerra Mundial. Por quê? A população mundial está crescendo, mas não em um ritmo acelerado. No entanto, milhões de pessoas pobres, especialmente na China, hoje podem comprar carne, e a produção de proteína animal exige muito mais insumos por quilo do que a de vegetais. O cidadão chinês médio come 30% mais carne hoje do que cinco anos atrás. Em segundo lugar, houve uma série de colheitas fracas ao redor do mundo. E terceiro, muitos países ocidentais estão subsidiando os agricultores para trocar o plantio de alimentos por colheitas de energia renovável.

Mais de 200 anos atrás, o demógrafo e economista político britânico Thomas Malthus afirmou que a população superaria a oferta de alimento e que se não houvesse limites rígidos à reprodução humana o mundo rumaria para um desastre. Até agora ele se mostrou totalmente enganado; a população mundial aumentou dez vezes e há menos fome do que em sua época. Mas a população global provavelmente crescerá de 6,5 bilhões para 9 bilhões até 2050, o que exigirá que os agricultores do mundo produzam mais alimento nos próximos 40 anos do que nos últimos 200. As previsões malthusianas estiveram erradas durante 200 anos, mas poderão se mostrar válidas nos próximos 50.

Depois da Segunda Guerra Mundial, os governos europeus readotaram políticas protecionistas para aumentar a produção interna de alimentos. Mais tarde, a Política Agrícola Comum introduziu barreiras protecionistas e grandes subsídios, encorajando os agricultores europeus a produzir muito mais que o necessário. Nos últimos 20 anos, uma série de medidas foram adotadas para reduzir as cotas de produtividade, e há uma "reserva" compulsória para tirar terra arável da produção. Mesmo assim, a produção tendeu a superar a demanda, deprimindo os preços e reforçando ainda mais os subsídios.

Esse problema foi exacerbado pelo impacto da inovação científica e tecnológica na produtividade agrícola nos últimos 60 anos. A produtividade - por hectare, por vaca leiteira, por porco - triplicou. Os avanços em herbicidas, pesticidas e antibióticos conseguiram controlar a maioria das doenças animais e vegetais e também os predadores. Novas técnicas notáveis por meio de hibridação melhoraram a produtividade de plantas e animais. Aplicações químicas encurtaram e enrijeceram o caule das plantas, permitindo que elas absorvam mais fertilizante e suportem climas inclementes.

A revolução tecnológica foi ainda mais dramática. Depois da guerra, o cavalo ainda era a principal fonte de energia agrícola na Europa. Hoje, são o trator e a colheitadeira mista.

Esses avanços transformaram a produtividade agrícola. Máquinas de alta velocidade resultam em colheitas mais curtas e rápidas, com menos alimento perdido para a intempérie. Uma área maior de terra é usada em agricultura. Ao mesmo tempo, há necessidade de menos pessoas para lidar com esses enormes aumentos de produção. Sessenta anos atrás, uma fazenda arável de 350 hectares podia empregar 40 pessoas. Hoje meu filho administra uma fazenda desse tamanho com apenas mais uma pessoa.

Em conseqüência disso tudo, apesar de a população mundial ter triplicado durante a minha vida, o mundo está mais bem-alimentado do que nunca. Quando ainda ocorre escassez, como na África, a fome surge por causa de fracassos logísticos e políticos. Há alimento disponível, mas ele está no lugar errado.

A população global continuará crescendo. As economias dos países mais pobres também vão prosperar, o que resultará em pessoas mais bem-alimentadas e comendo carne. A demanda por alimentos aumentará entre 50% e 100%, dependendo da escala da mudança de consumo vegetariano para carnívoro. A mudança climática vai distorcer os padrões do tempo com desvantagem para a maioria dos agricultores, mas aqueles no norte temperado e rico poderão se beneficiar. E, finalmente, muitos governos continuam comprometidos com um grande aumento da energia renovável a partir de vegetais.

Nos últimos 200 anos, foi possível suprir as crescentes demandas por alimentos colocando mais terra em produção. Mas hoje estima-se que só existam mais 5% de terra disponível para esse fim. A produção alimentar absorve 70% da chuva que cai sobre o solo. Devido à mudança climática, o suprimento de chuva se tornará mais volátil, com mais enchentes e secas, ambas as quais dificultam a vida dos agricultores.

Se os agricultores do mundo não conseguirem suprir a demanda de alimentos, haverá sérias conseqüências econômicas e políticas. A inflação alimentar poderá ameaçar o crescimento econômico e a escassez alimentar poderia criar instabilidade política no mundo em desenvolvimento. A liberalização do comércio global, que foi um fator chave para reduzir as tensões políticas internacionais, poderá ser revertida se os países decidirem proteger seus suprimentos internos de alimentos. Os países mais pobres poderão se tornar dependentes demais dos alimentos das zonas temperadas mais afluentes, nos EUA e na Europa, o que por sua vez exacerbaria os problemas de escassez de mão-de-obra nessas regiões, resultando em novas migrações polêmicas.

Para evitar essa catástrofe malthusiana, várias coisas precisam acontecer. Como antes, a inovação científica e tecnológica será chave, mas desta vez a tarefa não é cultivar mais terra, e sim melhorar substancialmente a produtividade da terra já cultivada. Mas, no Ocidente, os grupos ambientalistas resistem a essa inovação, notadamente, mas não exclusivamente, com relação às modificações genéticas.

A tese contra o uso irresponsável da ciência e da tecnologia não pode ser facilmente rejeitada, mas nos últimos anos os regulamentos foram reforçados e os cientistas reagiram à preocupação pública. Os ambientalistas devem reconhecer isto e preparar-se para fazer compromissos. A maneira mais rápida de realizar a terrível predição de Malthus seria que o mundo se tornasse totalmente orgânico.

Para que isso não ocorra, nós, como indivíduos, devemos parar de usar energia no ritmo em que o fazemos e de desperdiçar alimentos na medida em que o fazemos. Atualmente, desperdiçamos quase a metade do alimento que produzimos, jogando fora produtos perfeitamente bons em nossas cozinhas, restaurantes e lojas.

A agricultura atingiu um divisor de águas, e se as pessoas continuarem a se comportar de maneira egoísta ou irracional, as previsões malthusianas se realizarão. Prevê-se que depois de 2050 a população mundial deverá se estabilizar ou até declinar. Enquanto isso, devemos confiar na engenhosidade e no bom senso humanos para superarmos as dificuldades.


*Chris Haskins é fazendeiro e ex-presidente da Northern Food, uma indústria de alimentos britânica.
Tradução: Luiz Roberto Mendes Gonçalves

Fonte: UOL Mídia Global
http://noticias.uol.com.br/midiaglobal/prospect/2007/12/30/ult2678u135.jhtm

terça-feira, 25 de dezembro de 2007

Câmbio: A marcha da insensatez

Segundo matéria de Fábio Graner, no caderno de Economia do Estadão de hoje, projeção de déficit nas contas externas de 2008 saltou para US$ 7,6 bilhões.

Veja bem: em, julho a projeção era de superávit de US$ 5 bilhões. Em novembro, déficit de US$ 3 bilhões. Agora, déficit de US$ 7,6 bilhões. E ainda nem estão devidamente contabilizadas as perdas com a crise de crédito internacional.

O mercado tem por hábito comparar projeções anuais. Pegam dados dos últimos anos e projetam para frente. A questão é que a deterioração na ponta (nos últimos meses) é muito mais rápida do que a deterioração, quando captada em termos anuais.

Se se pegar a deterioração dos últimos meses, e projetar com ferramentas estatísticas, a progressão será assustadora.

Lembro que, mesmo sem ter o carisma de Lula, o populismo cambial de FHC (que Lula repete agora) permitiu-lhe conquistar um segundo mandato. Uma semana depois que o câmbio explodiu, acabaram popularidade e governabilidade.

No mesmo link, o professor Luiz Carlos Bresser Pereira - umn permanente porta-voz do bom senso - mostra os erros nessa história de que a poupança externa fará o país crescer.

Não adianta. Quando vier a crise, os papagaios vão repetir a cantilena de que o problema é fiscal. Assim como FHC, Lula irá jogar fora todas suas boas iniciativas, quando a verdade do câmbio aparecer,

Fonte blog do Luis Nassif de 25/12/07 12:29
http://www.projetobr.com.br/blog/5.html



Leia, abaixo, a entrevista do professor Luiz Carlos Bresser Pereira



'Poupança externa não fará o País crescer'

www.estado.com.br/editorias/2007/12/25/eco-1.93.4....

'Poupança externa não fará o País crescer'

Para Bresser-Pereira, estratégia traz redução da poupança interna, câmbio valorizado, dependência, endividamento e crises

Fernando Dantas

O ex-ministro da Fazenda Luiz Carlos Bresser-Pereira considera desastroso que o Brasil tenha deixado o real se valorizar a ponto de eliminar o superávit em conta corrente, que deve se transformar em déficit em 2008, segundo as projeções do Banco Central (BC). Um país com déficit em conta corrente não consegue fazer com que a sobra do consumo, que é a poupança interna, financie todo o seu investimento. Por essa razão, importa poupança dos outros países.

Esse processo é visto como saudável por muitos economistas, desde que seja trilhado de forma moderada e sem despertar temores de calotes nos financiadores internacionais. Para Bresser, porém, a poupança externa não traz crescimento e, sim, dependência, endividamento, câmbio valorizado, redução da poupança interna e crises. Ele cita países como China, Coréia e Índia, como exemplos de rápido crescimento sem uso da poupança externa. A seguir, os principais trechos da entrevista:

Como o sr. vê as projeções de que haverá déficit em conta corrente em 2008, pela primeira vez desde 2002?

É a crônica de uma morte anunciada. Essa tendência estava se anunciando desde meados do ano, e a causa evidentemente é a sobrevalorização da taxa de câmbio. Como estamos no Natal, é época de comemorar. Crescimento de 5% não é nenhuma maravilha, mas para o Brasil é um ano bom, dadas as taxas de crescimento medíocres que temos tido. Mas, evidentemente, não estamos plantando para o futuro, muito pelo contrário.

Por quê?

Porque estamos abrindo novamente o fosso do endividamento externo, do déficit em conta corrente, do crescimento com poupança externa. Aliás, ponha entre aspas, porque crescimento com poupança externa significa não crescer. Isso tudo mostra claramente que o Brasil não tem uma estratégia nacional de desenvolvimento.

O sr. poderia explicar melhor?

A história econômica do Brasil tem um período que termina em 1980, do nacional-desenvolvimentismo, que foi um grande sucesso. Depois houve a crise da dívida externa, nos anos 80, e, a partir de 1990, com a abertura comercial, mas especialmente com a abertura financeira em 1992, o Brasil deixa de controlar as entradas de capitais e passa a adotar o que eu chamo de ortodoxia convencional - a estratégia que é proposta para nós pelos concorrentes lá do Norte. É claro que o Brasil desde então não cresce. Em vez de usar sua estratégia nacional de desenvolvimento, usamos a estratégia que os nossos concorrentes nos dão.

Por que o câmbio valorizado atrapalha o crescimento?

O grande obstáculo dos países em desenvolvimento para crescer é a tendência à sobrevalorização do câmbio. O câmbio artificialmente apreciado tira o estímulo ao investimento no setor industrial na quantidade que você precisa para exportar. Tem de ter também educação, instituições, infra-estrutura, reformas, mas não basta. Se não tiver oportunidade de investimento lucrativo, o país cresce muito menos, porque quem provoca crescimento é o empresário investindo.

Mas o investimento está crescendo a taxas robustas e sendo puxado pelo mercado interno. O empresário não pode investir e produzir para o mercado interno?

Está havendo espaço no mercado interno porque, primeiro, com a valorização cambial os salários aumentam, e isso aumenta o consumo. Em segundo lugar, houve uma melhoria do crédito direto ao consumidor muito grande, desde o ano passado. E, com a queda da taxa de juros, que foi muito boa, o crédito aumentou fortemente para o consumo. Mas quando o câmbio se valoriza, a importação acontece em três etapas. Na primeira, são as commodities - é um produto homogêneo, que tem preço de mercado, e, se o preço fica mais barato lá fora, importa-se. Mas o Brasil importa pouco commodity. Em segundo lugar, importa-se equipamentos. É um cálculo racional feito por empresas. Só no terceiro momento vem a importação de bens de consumo, que é muito mais complicada, porque são produtos de marca, que têm de ter canais de distribuição no varejo. Essa importação também está aumentando, mas não o suficiente. O ano que vem é que vai ser um desastre para a indústria nacional, porque vai aumentar muito mais essa importação de bens de consumo.

Por que o sr. é contra o crescimento com poupança externa?

Nenhum país cresceu com poupança externa. Essa é a forma de ficar dependente e não crescer. A China não cresce com poupança externa, nem a Índia, nem a Coréia. A Coréia, quando cresceu um pouquinho com poupança externa, antes de 1997, foi para a crise. Quando começa a entrar dinheiro, como entre 1994 e 1999 no Brasil, e o que está acontecendo de novo agora, o câmbio se valoriza, os salários aumentam, cresce o consumo e diminui a poupança interna.

Mas não falta poupança interna ao Brasil para crescer?

A história de que o Brasil não tem poupança para crescer é absolutamente falsa. O Brasil tem uma classe capitalista e uma classe média muito grandes. Objetivamente, nos últimos anos, durante os quais não se usou nenhuma poupança externa, o País cresceu bem mais do que nos anos 90, quando se usou muita. Em 1994, tínhamos zero de poupança externa, em 1999 tínhamos 4,32% do PIB, ou seja, este era o déficit em conta corrente. E, nesse período, não aumentou nada a taxa de investimento do País. A conta corrente ficou positiva a partir de 2003 e chegou a mais de 1% de superávit. Isso é exportação de poupança, e era de se esperar que a taxa de investimento caísse, mas não caiu nada. Até aumentou um pouco. Nós mostramos que temos capacidade de poupar.

Por que o câmbio se valoriza?

Há dois motivos fundamentais. Um é a chamada doença holandesa (sobrevalorização por causa da exportação maciça de commodities), que no Brasil não é grave feito na Venezuela ou na Arábia Saudita, mas é suficientemente grave, por causa do café, do ferro, da cana, da soja, da madeira. Isso não dá uma enorme valorização, mas dá alguma, de 20% a 30%, que é mais que suficiente para criar problema. O segundo fator é a atração que juros altos e altas taxas de lucro fazem ao capital estrangeiro, seja investimento direto ou empréstimo.

O que se pode fazer para evitar a valorização cambial?

Tem que controlar a entrada de capitais e o endividamento externo. E tem que neutralizar a doença holandesa, com um imposto sobre exportações dessas commodities supervalorizadas que o País tem em abundância, como fazem o Chile e Argentina. No caso argentino, há o imposto na exportação de soja, carne e trigo, que eles acabaram de aumentar. Com esse imposto, os exportadores não são lucrativos com uma taxa de câmbio mais valorizada do que a que eles têm. Se não fosse o imposto, o câmbio poderia baixar de 3 para 2 pesos por dólar, porque seria lucrativo exportar commodities nesse preço. Mas, com o imposto, você segura o câmbio no nível em que há competitividade das commodities.

O sr. tem elogiado a estratégia da Argentina. Como a compara com o Brasil?

Com exceção de falsificar os números da inflação, que é um vergonha, a estratégia mostra que eles aprenderam que o fator fundamental do processo de desenvolvimento é a taxa de câmbio. E isso apesar da violenta pressão do FMI (Fundo Monetário Internacional) para que eles valorizem o câmbio, o que facilitaria a vida, porque baixaria a inflação. Mas eles estão certíssimos, tiveram um aprendizado muito forte com o desastre causado pelo fato de terem seguido o FMI nos anos 90. Eu acho que a economia brasileira está muito pior do que a argentina hoje. No critério mais importante de todos, que tanto economistas keynesianos (desenvolvimentistas) quanto os ortodoxos acham fundamental,que é garantir a disciplina fiscal, a deles está muito melhor que a nossa - eles têm superávit e nós temos déficit público de 2%. Estão muito melhor do que nós também no câmbio. Só estão pior na inflação. Mas a inflação, se você não deixa haver indexação nenhuma, ela volta, baixa, assim que equilibra oferta e demanda. Nós sofremos horrores com a inflação entre 1980 e 1994 por causa da indexação que tínhamos, que deu inércia na inflação. Controlar a inflação é muito importante, mas é alguma coisa que se pode fazer com razoável facilidade.

O sr. tem mais recomendações para o Brasil?

Sim, tem de haver um ajuste fiscal mais duro e tem de se praticar taxas de juros mais baixas. Os juros devem flutuar de acordo com a inflação, mas num nível baixo, e não nesse nível escandaloso do Brasil, que melhorou um pouco nos últimos tempos.


Meu comentário:
Sou a favor de câmbio que permita aos brasileiros exportarem o máximo possível e que nossas importações sejam o mínimo indispensável.

Reforço escolar

A partir de 2008, todos os estudantes das quatro primeiras séries da rede municipal de ensino fundamental terão reforço escolar em português e matemática. Além do aumento da carga horária dessas disciplinas, as salas de aula contarão com mais um professor, que atuará como assistente ou monitor ajudando os alunos com maior dificuldade de aprendizagem. Essas medidas estão previstas pelo programa Ler e Escrever, criado há dois anos pela Prefeitura de São Paulo.

No início, apenas o ciclo de alfabetização contava com reforço escolar e com a presença de um segundo professor em sala nas escolas municipais. Mas os resultados foram tão positivos que a Secretaria da Educação decidiu ampliar a experiência para as quatro primeiras séries do ensino fundamental. A decisão foi anunciada três semanas após a OCDE ter divulgado os resultados do Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), no qual o Brasil ficou em 52º lugar entre 57 países. Realizado a cada três anos, o Pisa avalia a capacidade de leitura e conhecimento de matemática e ciências e mostrou que a maioria dos estudantes brasileiros tem dificuldade para ler textos simples, fazer as quatro operações aritméticas e apresentar idéias de forma clara, objetiva e lógica e somente consegue resolver questões que façam parte de sua rotina ou cuja solução esteja evidenciada no próprio enunciado da pergunta.

Com o programa Ler e Escrever pretende-se habilitar os alunos que ainda estão em fase de alfabetização a associar as palavras com as grafias corretas, a responder positivamente a um ditado e a ampliar o conhecimento de matemática. O programa funciona com alunos recrutados nas faculdades de pedagogia e letras, que trabalham com material didático preparado por especialistas, recebem um salário de R$ 400 por uma jornada de 20 horas e podem contar esse tempo como estágio. Todas essas medidas são necessárias para que crianças na faixa etária entre 7 e 10 anos se interessem em buscar novos conhecimentos e aumentem sua capacidade de redigir, de associação lógica de idéias e de reflexão sobre questões mais abstratas.

Como os indicadores do Ministério da Educação e dos organismos multilaterais apontam há muito tempo, é justamente nessa fase do ensino básico que se encontra um dos maiores pontos de estrangulamento do sistema educacional. Como é sabido, a escolaridade básica é o principal alicerce para uma boa formação profissional. É, também, um fator decisivo para a redução das desigualdades sociais, já que a mobilidade de jovens e adultos no mercado de trabalho depende da qualidade da educação básica. Depois que se aprende a ler, escrever, calcular, pensar e refletir, tudo o mais se aprende com rapidez e facilidade.

Por isso, a decisão da Prefeitura de ampliar o programa Ler e Escrever para os alunos até a quarta série do ensino fundamental merece aplauso. Essa experiência vem sendo desenvolvida há quase dois anos, com enorme sucesso, pelo governo estadual. A idéia deu tão certo que agora está sendo estendida para as demais séries do ensino básico. A partir de 2008, os estudantes de 5ª a 8ª série do ensino fundamental e das três séries do ensino médio das escolas estaduais também passarão por uma espécie de reforço concentrado no início do ano letivo. Eles terão pelo menos 45 dias de aula nas disciplinas de português e matemática, antes de iniciarem o ensino rotineiro de suas respectivas séries. Com isso, as aulas começam no dia 18 de fevereiro e a rotina curricular será retomada em abril.

Outra novidade anunciada pelo governo estadual é a distribuição, aos seus 236 mil docentes, de um guia com currículo mínimo elaborado com base nos Parâmetros Nacionais Curriculares. Embora seja prevista pela Lei de Diretrizes e Bases, editada em 1996, até hoje essa medida não havia sido implementada. Graças ao bom entendimento político entre o prefeito Gilberto Kassab e o governador José Serra, finalmente as autoridades municipais e estaduais do setor educacional passaram a trocar experiências e a adotar programas comuns. Há muito tempo isso não acontecia. Quem ganha com isso são os alunos da rede pública.

Fonte: jornal O Estado de São Paulo de 25/12/07

Comida mais cara

A produção mundial de cereais em 2007 deve alcançar 2,1 bilhões de toneladas, ou 4,6% mais do que a produção de 2006, de acordo com a última estimativa da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). É uma produção recorde, mas, mesmo assim, os preços internacionais de alguns dos principais produtos já atingiram o nível mais alto da história e tendem a subir mais. Os produtos agrícolas em geral estão ficando mais caros. Desde o início do ano, o preço do trigo duplicou e as cotações do milho, do leite e de oleaginosas já alcançaram ou estão prestes a alcançar seu valor mais alto de todos os tempos.

Por muitos anos, os preços dos alimentos estiveram em queda - segundo a revista The Economist, entre 1975 e 2004, eles diminuíram 75% em termos reais -, mas a tendência se inverteu. De 2005 até agora, diz a revista, a cotação de um grupo de alimentos de maior consumo no mundo aumentou 75% em termos reais. Acabou a era do alimento barato?

O mercado mundial de grãos passa por mudanças que devem ser duradouras. A produção cada vez mais intensa de biocombustíveis e a mudança do padrão alimentar em países cuja renda cresce rapidamente são as principais causas dessas mudanças, cujos efeitos se espalham por todos os países, produtores ou consumidores.

O estímulo concedido pelo governo dos Estados Unidos para o plantio do milho destinado à fabricação do etanol impulsionou o preço desse produto no mercado mundial. Os agricultores americanos responderam a esses dois estímulos - apoio do governo e preços em alta - aumentando a área plantada com milho, que neste ano será a maior desde a 2ª Guerra Mundial. A produção será recorde, mas, assim mesmo, os preços do milho continuam a subir.

A utilização de mais terras para o cultivo do milho reduz o plantio de outros produtos, cujos preços também sobem. A produção animal, que utiliza intensamente rações derivadas desses produtos, igualmente incorre em custos maiores. O resultado é o encarecimento das carnes em geral.

A esse fenômeno soma-se outro: o aumento do consumo de carne na China e em outros países de rápido crescimento. Em 1985, diz a revista The Economist, cada chinês consumia em média 20 quilos de carne por ano; agora, consome 50. São mais chineses comendo mais carne. E maior consumo de carne quer dizer também maior consumo de grãos, pois, como lembra a revista, a produção de 1 quilo de carne bovina exige 8 quilos de grãos.

O diretor-geral da FAO, Jacques Diouf, advertiu recentemente para o sério risco de cada vez menos pessoas terem acesso à comida, especialmente nos países pobres. Esse risco se acentuou recentemente. Em 2006, o índice de preços de alimentos da FAO registrou alta de 9%, considerada inaceitável. Em 2007, o aumento foi de 40%.

À alta dos preços se soma o problema dos estoques baixos. O estoque mundial de trigo, segundo a FAO, diminuiu 11% em 2007, atingindo seu nível mais baixo desde 1980. O estoque corresponde a 12 semanas do consumo mundial, bem menos do que a média de 18 semanas observada de 2000 a 2005. O estoque de milho, por sua vez, que era suficiente para o consumo mundial de 11 semanas na primeira metade da década, hoje é suficiente para 8 semanas.

Para complicar, o aumento do preço do petróleo encareceu os custos de transportes dos produtos agrícolas. E a maioria dos países de baixa renda importa boa parte dos alimentos que consome.

Diouf sugere que os governos e as organizações internacionais reexaminem as políticas agrícolas adotadas “num ambiente econômico diferente” do atual, para evitar o agravamento do problema mundial.

Por que não, por exemplo, cortar subsídios visto que os preços altos estimulam a produção, como sugere The Economist? Por que, em vez de subsidiar a produção do etanol a partir do milho, os EUA não importam mais etanol do Brasil, produzido com mais eficiência que o americano e, por isso, a custo mais baixo e sem a utilização do dinheiro do contribuinte?

E por que não tornar mais livre o comércio de produtos agrícolas, que ajudaria a aumentar a renda dos países mais pobres e a reduzir as pressões sobre os preços dos alimentos em geral?

Fonte:jornal O Estado de São Paulo de 25/12/07

Meu comentário: Encher tanque de combustível dos veículos com comida vai encarecer cada vez o alimento nosso de cada dia

segunda-feira, 24 de dezembro de 2007

Desigualdade educacional é ainda maior que a de renda

Estudo mostra que abismo entre pobres e ricos no Brasil é maior na educação

Pesquisador usou parâmetros similares aos da fórmula usada por economistas para chegar a essa conclusão


O abismo que separa pobres e ricos no país em termos de aprendizado é maior que o verificado na desigualdade de renda, área em que, apesar dos avanços recentes, o Brasil ainda é lembrado como uma das nações mais desiguais.
A conclusão é de um estudo do pesquisador José Francisco Soares, coordenador do Grupo de Avaliação e Medidas Educacionais da Universidade Federal de Minas Gerais.
Publicado no periódico científico "International Journal of Educational Research" (Jornal Internacional de Pesquisa Educacional), o trabalho estimou a desigualdade na educação brasileira usando parâmetros similares aos do índice de Gini, fórmula usada por economistas para avaliar o grau de desigualdade na renda de um país. Esse índice varia de zero a um, sendo um o máximo de desigualdade.
Usando a mesma escala, Soares calculou a desigualdade de aprendizado de alunos brasileiros a partir das notas dos estudantes de oitava série nas provas de matemática do Saeb em 2003 (exame do MEC que avalia a qualidade da educação) e chegou ao índice de 0,635.
"É um valor alto, o que mostra que o resultado do sistema educacional brasileiro fica muito abaixo das expectativas. É também superior ao índice de Gini do Brasil, ou seja, a desigualdade educacional [...] é maior do que a econômica", afirma o pesquisador em seu artigo. Para 2003, o IBGE calculou em 0,545 o índice de Gini brasileiro.
O estudo mostra ainda que a desigualdade entre meninas é maior do que a entre meninos e que, de 1995 a 2003, houve aumento no índice.
Para calcular a desigualdade, Soares diz que os economistas estabeleceram como parâmetro uma situação ideal em que todos teriam a mesma renda e, a partir daí, medem quão distante cada país está disso. "O que fiz foi adaptar essa idéia para a educação. Aqui, entretanto, o ideal em termos de desempenho não é a igualdade. Não podemos querer que todos aprendam o mesmo em todas as áreas. Quando eu olho uma boa escola, é preciso que ela tenha um grupo de excelência, mas que seja também capaz de garantir níveis básicos de aprendizados para todos."
Para Soares, o preocupante no caso brasileiro é que a desigualdade nas notas entre alunos nem sempre é discutida pelos gestores. Ele teme que possa acontecer com a educação o mesmo que ocorreu com a economia no milagre econômico (na década de 70) -ou seja, as médias crescerem sem que a desigualdade diminua.
"O Ideb [índice criado pelo MEC a partir das taxas de repetência e notas dos alunos para estabelecer metas de melhoria até 2022], por exemplo, não incorporou essa discussão. As médias poderão melhorar com estratégias não equitativas."
Como exemplo de uma dessas estratégias que melhoram as médias sem diminuir a desigualdade, ele lembra que uma escola pode concentrar seus esforços nos alunos medianos e que estão mais próximos da meta, deixando de lado os que estão muito abaixo.

Texto ANTÔNIO GOIS na Folha de São Paulo de 24/12/07

Ascensão pelo trabalho

Desde outubro de 2002, cerca de 20 milhões de brasileiros com mais de 16 anos ascenderam das classes D e E para a C. Entre outubro de 2002 e junho de 2006, 6 milhões de pessoas fizeram essa transição. Nos últimos 17 meses (de julho de 2006 a novembro passado), a travessia envolveu cerca de 14 milhões de brasileiros.
Os resultados auspiciosos foram captados pelo Datafolha. O critério de classificação utilizado retrata o perfil de consumo das famílias -não reflete necessariamente uma melhora no nível de renda. Os valores são obtidos por uma pontuação atribuída de acordo com a qualidade e a quantidade de bens na residência dos entrevistados.
Os dados indicam que o processo de transição da classe D/E para a C foi impulsionado, num primeiro momento, pela expansão dos programas sociais e da renda oriunda da Previdência. Na fase recente, contudo, a recuperação do mercado de trabalho e a do crédito foram os elementos que empurraram mais brasileiros para situação de maior conforto. Apenas uma crise externa será capaz de tirar a economia desse trilho no curto prazo.
Está demonstrada a eficácia das políticas de crescimento. Programas assistenciais desempenharam papel importante, ao assegurar um mínimo de poder de compra às classes mais vulneráveis durante os anos de instabilidade econômica. Mas apenas a expansão da produção e do emprego pode sustentar a ascensão social ao longo do tempo.
O combate à desigualdade social poderia enfatizar agora a calibragem da carga tributária e dos investimentos estatais. O objetivo deveria ser, de um lado, desonerar os mais pobres e, do outro, favorecer projetos que empreguem maciçamente e produzam bem-estar para as faixas de menor poder aquisitivo.

Fonte: Folha de São Paulo de 24/12/07

Meu comentário:
O assistencialismo iniciado por FHC que foi copiado e ampliado por Lula está a demonstrar o acerto da pregação do senador Eduardo Suplicy a favor da "renda mínima".

O próximo passo da sociedade é exigir e que a política de exportação de empregos para a China, via câmbio irrreal, seja trocada por uma política de políticas de emprego de brasileiros.
A recuperação de emprego ainda é muito tímida, precisa ganhar mais velocidade, pois sómente pelo emprego é que podemos resolver diversos problemas brasilieros sendo o principal a segurança.

domingo, 23 de dezembro de 2007

Preparando o álibi para o aumento de juros

Nos últimos dias, alguns porta-vozes do mercado passaram a alertar para dois problemas futuros:

1. A volta da inflação, devido ao aquecimento da economia, exigindo a elevação dos juros.

2. A expectativa de que a crise internacional possa afetar o mercado brasileiro, devido à ausência de ajuste fiscal, exigindo a elevação dos juros.

Por trás das análises, começa a ser montado o álibi para os problemas que poderão aparecer nos próximos anos, talvez no próximo, devido aos erros da política cambial, que trouxe de volta o déficit nas contas correntes.

Para desviar o foco do livre fluxo de capitais (e dos juros elevados), hoje em dia o principal fator de lucro do mercado, começa-se a buscar o bode expiatório.

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O que está ocorrendo objetivamente? Com o “boom” da economia chinesa, houve uma explosão nos preços das matérias primas em geral, que são itens relevantes na pauta de exportações brasileira.

Quando entram muitos dólares na economia, ocorre um movimento de encarecimento do real, que acaba por prejudicar exportações de outros produtos, não beneficiados pelas altas internacionais.

Não bastasse esse fluxo de dólares ingressando pelo superávit comercial, o Banco Central manteve as taxas de juros internas permanentemente bem acima das taxas internacionais. Com isso atraiu uma avalanche de dólares pelo mercado financeiro, que vinham atrás das taxas de juros e da perspectiva de apreciação adicional do real.

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A economia já vinha se aquecendo em função das políticas sociais bem conduzidas, do aumento do salário mínimo e da abertura do mercado de crédito e financiamento. O real valorizado trouxe um componente a mais, ao aumentar ainda mais o poder aquisitivo do consumidor. Houve um aumento expressivo do consumo, em um primeiro momento suprido pela alta expressiva das importações, e pela perda de dinamismo das exportações.

Se o dólar cai muito (e o real fica muito caro) chega um momento em que se bate no fundo do poço e o real para de se valorizar. Quando isso ocorre, o mercado deixa de ganhar em cima dessa valorização.

Para não interferir nos lucros do mercado, com o livre fluxo financeiro, não ter que reduzir os juros, e esticar o período de sobrevalorização do real, o BC passou a comprar dólares, até constituir uma reserva em dólares de US$ 180 bilhões. O Tesouro passou a ser onerado não apenas pelos juros do BC, mas pelo custo de manter esses dólares em caixa – o BC emite títulos que custam 12,5% ao ano, compra dólares e aplica a menos de 4% ao ano. A diferença é prejuízo fiscal.

***

Agora, mesmo com a tática do BC, o dólar começa a chegar perto do fundo do poço, ainda mais após a crise internacional. No próximo ano, se terão dois fatores novos em jogo:

1. O dólar voltando a se valorizar.

2. A volta, após muitos anos, dos déficit em conta corrente (mesmo com o preço ainda elevado das matérias primas).

3. A crise internacional, que aumentará a percepção de risco, exigindo que os emergentes ofereçam mais juros para atrair o capital especulativo.

***
É a partir dessa percepção de fim de festa, que analistas e operadores de mercado, como Luiz Carlos Mendonça de Barros e Armínio Fraga, começam a preparar o terreno para justificar futuras altas nas taxas de juros.


Coluna Econômica 23/12/2007 do Luiz Nassif
http://www.projetobr.com.br/blog/6.html de 23/12/07

Haiti, Pará e Baurú

Uma delegada com a aprovação de uma juiza entrega uma garota de 15 anos a 20 homens para ser estuprada e um garoto de 15 anos morre torturado por policiais com choques elétricos no saco e no resto do corpo.

Esse país se chama Haití ou se chama Brasil?

Porque a coincidência de usarem orgão genitais para humilhar, torturar e matar.
O garoto está morto fisicamente e a garota tem uma morte mais lenta: a morte da alma.

A coincidência é que:
são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos



Esse país se chama Haití ou se chama Brasil?

Nos tempos em que militava na oposição o hoje ministro fez uma canção que protestava contra o Haití que havia no Brasil, hoje no conforto dos palácios não quer brigar com ninguém nem perder a "mordomia, certamente sua voz estremeceria os porões das celas e traria à luz esta podridão que é a segurança pública brasileira em que apenas os 3 Ps são punidos, os pretos, os pobres e as prostitutas.


Veja no YouTube http://www.youtube.com/watch?v=oQPsmnW2z-o


Haiti - Letra: Caetano Veloso/ Música: Gilberto

Quando você for convidado pra subir no adro da Fundação Casa de Jorge Amado
Pra ver do alto a fila de soldados, quase todos pretos
Dando porrada na nuca de malandros pretos
De ladrões mulatos
E outros quase brancos
Tratados como pretos
Só pra mostrar aos outros quase pretos
(E são quase todos pretos)
E aos quase brancos pobres como pretos
Como é que pretos, pobres e mulatos
E quase brancos quase pretos de tão pobres são tratados
E não importa se olhos do mundo inteiro possam estar por um momento voltados para o largo
Onde os escravos eram castigados
E hoje um batuque, um batuque com a pureza de meninos uniformizados
De escola secundária em dia de parada
E a grandeza épica de um povo em formação
Nos atrai, nos deslumbra e estimula
Não importa nada
Nem o traço do sobrado, nem a lente do Fantástico
Nem o disco de Paul Simon
Ninguém
Ninguém é cidadão
Se você for ver a festa do Pelô
E se você não for
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

E na TV se você vir um deputado em pânico
Mal dissimulado
Diante de qualquer, mas qualquer mesmo
Qualquer qualquer
Plano de educação
Que pareça fácil
Que pareça fácil e rápido
E vá representar uma ameaça de democratização do ensino de primeiro grau
E se esse mesmo deputado defender a adoção da pena capital
E o venerável cardeal disser que vê tanto espírito no feto
E nenhum no marginal
E se, ao furar o sinal, o velho sinal vermelho habitual
Notar um homem mijando na esquina da rua sobre um saco brilhante de lixo do Leblon
E quando ouvir o silêncio sorridente de São Paulo diante da chacina

111 presos indefesos
Mas presos são quase todos pretos
Ou quase pretos
Ou quase brancos quase pretos de tão pobres
E pobres são como podres
E todos sabem como se tratam os pretos
E quando você for dar uma volta no Caribe
E quando for trepar sem camisinha
E apresentar sua participação inteligente no bloqueio a Cuba
Pense no Haiti
Reze pelo Haiti

O Haiti é aqui
O Haiti não é aqui

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

A guerra do PSDB

Em outubro do ano passado, em pleno processo eleitoral, um amigo procurou o governador eleito José Serra e o alertou: se não se afastasse de Fernando Henrique Cardoso, não teria chances. Por dois motivos. Primeiro, pela imagem que FHC deixou junto ao eleitorado, de maneira geral. Depois, porque jamais FHC o apoiaria para presidente da República.

FHC tem obsessão com sua própria biografia. Nas eleições de 2002, rifou Serra, jogou contra. Temia que um bom governo, depois dele, mostrasse as fragilidades de sua própria gestão. Apostava em um governo desastroso de Lula que, por efeito comparação, ajudaria a consagrar o seu e, quem sabe, abrir as portas para ressugir como o grande conciliador, a consertar os prováveis erros do PT.

***

O governo Lula não foi um desastre. O segundo governo Lula deverá ser melhor que o primeiro. Com exceção da imprudência do câmbio, seu sucessor receberá um país melhor do que o deixado por FHC. A eventualidade de uma eleição de Serra permitiria completar um ciclo virtuoso, com Lula lançando as bases de políticas sociais consistentes e iniciando investimentos consistentes em infra-estrutura; e Serra investindo nas reformas que faltam e em políticas desenvolvimentistas.

***

Serra não concordou com os argumentos. Alegou que FHC era seu amigo, que o apoiava contra Geraldo Alckmin e Aécio Neves.

Na semana passada, a ficha caiu. O empenho com que FHC atuou para derrubar a CPMF (Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira) não era parte de uma estratégia para derrotar Lula. A intenção era derrotar os governadores, como líder do PSDB.

***

Em outubro esse quadro estava claro. Com as eleições, mudavam as regras do jogo. Em tempos de paz, os governadores dão as cartas; em tempos de guerra, FHC e senadores.

No dia seguinte à derrota da CPMF, FHC se apresentava como o líder da oposição, oferecendo a mão a Lula para uma conciliação. Arthur Virgílio, livre atirador, senador que já bateu no teto de suas ambições políticas, logo após a votação, admitia ter cumprido ordens de FHC e oferecia a conciliação.

***

Nenhum país do mundo conseguiu dar o salto sem a pacificação política interna. Foi assim com a Espanha, a Irlanda do Norte, com Portugal pós-revolução dos Cravos, com o Chile. O desarmamento de espíritos, a continuidade da política, a união em torno de objetivos comuns, são peças essenciais para o grande salto.
Hoje em dia, se tem essas condições. Lula tem relações de amizade com Serra e cordiais com Aécio. Não interessa a nenhum deles instaurar um clima de guerra. Com o PT chegando ao poder, integrou-se ao jogo democrático a última peça que faltava.

Serra-Lula-Aécio têm muito mais afinidades entre si do que diferenças. As diferenças de Serra em relação ao governo Lula são as mesmas que tinha em relação ao de FHC: a submissão excessiva ao mercado. Na outra ponta, compartilha com Lula de preocupações sociais, da necessidade de políticas públicas mais ativas.

***

É esse o receio maior de FHC. Um eventual pacto entre duas forças progressistas exporia ainda mais as fraquezas de seu governo.

Bicadas

Nos últimos dias, aumentaram substancialmente as bicadas entre tucanos, mostrando claramente que a manutenção da disputa em banho maria liquidará com o partido, e permitirá aos carbonários, com ajuda de parte da mídia, a queimar as pontes de uma aproximação política, além de prejudicar substancialmente o trabalho dos governadores, que perderão verbas com a reprovação da CPMF. Vai começar a guerra no PSDB.


Coluna Econômica de 17/12/2007 de Luis Nassif
http://www.projetobr.com.br/blog/6.html

domingo, 16 de dezembro de 2007

Agronegócio, a oportunidade

A comida ficará mais cara na maior parte do mundo, em 2008, e essa tendência poderá manter-se por alguns anos, se a China, a Índia, a Rússia e outras grandes economias emergentes continuarem a crescer com rapidez. O uso de milho para a produção de álcool nos Estados Unidos também contribui para inflar os preços e o governo americano promete continuar subsidiando essa atividade. O cenário pode ser preocupante para alguns analistas, mas o Brasil pode estar diante de uma oportunidade preciosa de bons negócios. Nenhum outro país tem condições tão favoráveis para lucrar com a demanda crescente de alimentos, principalmente se as cotações continuarem pressionadas pela fabricação de etanol de milho.

O Brasil bateu mais um recorde nacional na produção de grãos e oleaginosas, na temporada 2006-2007, e repetirá a façanha na safra 2007-2008, segundo as projeções oficiais.

A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima para a nova temporada uma produção de 134,8 milhões de toneladas de algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo e demais cereais de inverno. O IBGE calcula 137,3 milhões. A divergência deve-se a diferenças de metodologia, mas qualquer desses números corresponderá a um recorde. O resultado vai depender, naturalmente, das condições do tempo, e os técnicos da Conab já levam em conta, nas suas projeções, o efeito do fenômeno La Niña.

Muitos agricultores do Centro-Sul ainda se recuperam financeiramente de alguns anos difíceis, mas a reação do setor tem sido notável e já se refletiu, na última temporada, nas vendas de máquinas e equipamentos agrícolas. Também os fabricantes de caminhões tiveram grandes encomendas neste ano e os compradores tiveram de aceitar demoras nas entregas. Os problemas das montadoras, nesse caso, foram o prenúncio de uma nova fase de prosperidade no agronegócio.

O setor faturou nos 12 meses terminados em novembro US$ 57,9 bilhões com a exportação, 18,3% mais que no período imediatamente anterior. O aumento da receita foi proporcionado principalmente pela boa evolução dos negócios com carnes, cereais, soja e derivados, fumo e sucos de frutas. A alta dos preços das carnes foi um fator crucial para o bom desempenho do agronegócio no comércio mundial.

O governo federal, no entanto, parece menos atento do que deveria às grandes oportunidades abertas pela evolução do mercado internacional. O setor privado tem procurado levar em conta as novas condições da demanda. Os produtores mais modernos vêm tentando atender às crescentes cobranças de qualidade sanitária e de padrões ambientais e sociais apresentadas pelos compradores do mundo industrializado. Mas o governo tem reagido lentamente e a sua política sanitária continua sendo criticada pelas autoridades da União Européia. Se as autoridades federais não mostrarem maior empenho em relação a esse quesito, excelentes oportunidades poderão ser desperdiçadas, porque as pressões protecionistas são crescentes em alguns dos principais mercados.

No plano interno, as condições de transporte continuam também precárias, tanto nas estradas quanto nos portos, e permanece o risco de gargalos importantes na fase de escoamento da produção. O País continua, claramente, sem uma política de produção e de comercialização para o agronegócio. Os agricultores, criadores e industriais ligados ao setor podem fazer e têm feito muito para modernizar sua atividade, mas o governo não tem acompanhado esse esforço.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Itamaraty continuam absorvidos em planos mirabolantes de exportação de etanol, cuja produção mal dá para atender à demanda nacional, mas não demonstram preocupação quanto à produção e comercialização dos alimentos, cuja demanda crescente em mercados de todo o mundo temos todas as condições para atender.

Não teria sentido, naturalmente, reeditar as políticas seguidas até o final dos anos 80 ou começo dos 90. Mas também é um erro, e dos mais graves, concentrar a atenção num item - os biocombustíveis, cuja importância tem sido exagerada - e negligenciar uma política de longo prazo para uma das áreas mais pujantes da economia brasileira, o agronegócio.

Fonte: O Estado de São Paulo de 16/12/07
http://www.estado.com.br/editorias/2007/12/16/edi-1.93.5.20071216.3.1.xml

Educação: O Estado tolhe a economia

Embora não tenha por que surpreender, a notícia de que a Companhia Vale do Rio Doce decidiu procurar mão-de-obra qualificada no exterior, divulgada segunda-feira pelo jornal Valor Econômico, dá idéia da escala do problema com que se defronta o empresariado brasileiro em conseqüência do crescente desnível entre as suas necessidades de quadros aptos a desempenhar funções profissionais no âmbito da atividade econômica, regida mais do que nunca pelo conhecimento, e o que têm a oferecer as levas que batem às suas portas em busca de emprego, egressas de um sistema educacional que vai de mal a pior. Tradicionalmente, os empresários brasileiros se consideravam, em geral, abastecidos em matéria de pessoal para as vagas na base e no topo da estrutura produtiva: o problema, diziam, era a relativa escassez de funcionários habilitados para os escalões médios. Bons tempos aqueles, é o caso de comparar.

Hoje, com exceção das tarefas mais rudimentares, a escassez se espraia - e não poderia ser diferente. Com uma agilidade reconhecida por todos aqueles familiarizados com a questão, no País e no exterior, a empresa brasileira incorporou, em muito menos tempo do que se imaginaria, as transformações tecnológicas, de métodos e procedimentos, que revolucionaram o mundo do trabalho desde as últimas décadas do século passado. Além disso, a abertura dos mercados foi decisiva para estimular a iniciativa privada a buscar os ganhos de produtividade sem os quais estaria fadada a submergir na atual ordem global.

Mas, num cruel paradoxo, a cada passo esboçado para a modernização dos processos, mais a inadequação do fator humano, por falta de preparo, fazia sentir o seu peso, travando a caminhada. Agora, o que se espera sejam os primeiros anos de um círculo virtuoso de desenvolvimento dá proporções de crise ao hiato entre demanda e oferta de profissionais habilitados.

O problema é duplo: pouca escola e má escola. Dos 96 milhões de brasileiros que formam a população economicamente ativa (PEA), a metade só tem o primeiro grau completo. E avaliação depois de avaliação demonstram que isso e nada é praticamente a mesma coisa. Nos níveis subseqüentes, como também se sabe, a expansão da matrícula contrasta violentamente com o retrocesso da qualidade do ensino em relação aos tempos em que era pequeno o acesso aos colégios e faculdades. Somem-se a isso as distorções da composição do contingente com curso superior completo (7% da PEA). No total de trabalhadores, a proporção de engenheiros é de 0,5%, uma insignificância perto da média mundial.

No Leste Europeu, um dos alvos da Vale para suprir suas deficiências de pessoal, “há mão-de-obra educada, fluente em duas, três línguas”, observa Cíntia Magno, da diretoria de Recursos Humanos da empresa. De quantos brasileiros diplomados por faculdades se pode dizer o mesmo?

“A economia está demandando gente com mais escolaridade e há um déficit nessa questão”, constata o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto. “Estamos diante de um quadro difícil.” É mais grave do que isso. Para o crescimento econômico, a tragédia de há muito anunciada da educação brasileira é um obstáculo pior do que, por exemplo, a obsolescência da infra-estrutura física do País. Esta poderia ser superada com relativa rapidez se os governos fizessem as coisas certas.

Mas os resultados dos sucessivos testes de conhecimentos a que é submetida a população escolar indicam que a atual geração de alunos, em todos os níveis, não será melhor do que essas que estão aquém, de longe, dos requisitos da empresa nacional, a começar das suas áreas de ponta. Se não se tivesse permitido que essa barreira chegasse aonde chegou, sabe-se lá a que patamares se alçaria a capacidade de inovação da iniciativa privada brasileira.

Segundo um estudo do Fórum Econômico Mundial, citado pelo ex-ministro Delfim Netto em sua coluna no Valor, a produtividade do setor privado supera com folga a dos seus equivalentes russos e chineses, perdendo apenas, entre os Brics, para os indianos. Já na produtividade do Estado, o que inclui, evidentemente, a qualidade da educação pública, o Brasil oscila entre a 112ª e a 125ª posição - de uma lista de 125 países analisados.

Fonte: editorial do Estado de São Paulo de 16/12/07
http://www.estado.com.br/editorias/2007/12/16/edi-1.93.5.20071216.1.1.xml

Diabo inventou o casamento

O que esperar do casamento

A igreja estava lotada e todos esperavam na fila, para cumprimentar os noivos. Na minha frente, duas velhinhas conversavam, quando uma delas, se referindo à noiva, disse baixinho: 'Coitada, hoje começa a cruz dela.' Aí, não pude deixar de lembrar da avó da minha amiga, que na década de 1970 tinha 89 anos e muita sabedoria. Um dia, no meio de um papo qualquer, ela declarou em tom solene para a neta: “Minha filha, se demônio existe mesmo, pode ter certeza de que foi ele que inventou o casamento.” As mulheres quando casavam, até meados do século 20, sabiam o pesado fardo que dali para frente teriam que carregar. Mas como o sofrimento sempre foi considerado uma virtude na nossa cultura judaico-cristã, havia compensações. Quanto mais difícil a vida e mais problemas tivessem, se suportassem tudo com resignação, adquiriam valor social. A idéia de felicidade conjugal depende da expectativa que se tem do casamento. Durante muito tempo, a mulher não pôde reclamar se seu marido fosse bom chefe de família, não deixando faltar nada em casa. Para o homem, a boa esposa seria aquela que cuidasse bem da casa, dos filhos e dele próprio. E, claro, mais do que tudo, não deixasse aflorar o menor sinal de sua sexualidade. Como não havia pretensão de romance nem de prazer sexual, ninguém se decepcionava e, portanto, não havia separações.

O amor romântico, que durante tanto tempo ficou excluído, mudou toda a história do casamento, depois que, por volta da década de 1940, foi introduzido na relação do casal. Todos passaram a acreditar que só é possível estar bem vivendo uma relação amorosa, e o casamento por amor começou a ser visto como sinônimo de felicidade. Aí as coisas se complicaram. Novos anseios trouxeram expectativas impossíveis de ser satisfeitas. Ao escolher seu parceiro por amor, as pessoas esperam que esse amor e o desejo sexual que o acompanha sejam recíprocos e para a vida toda. Além disso, imagina-se que no casamento se alcançará uma complementação total. Com a convivência e intimidade excessiva, se percebe que não é bem assim. As frustrações se acumulam e inúmeras concessões começam a ser feitas.

Bem que todos se esforçam para corresponder às esperanças depositadas no casamento. Entretanto, por mais que se adie uma decisão, quando se chega ao limite, quando não se suporta mais fazer concessões, não tem jeito: a separação acontece. Em muitos casos, a dependência emocional que se tem do outro pode levar a uma atitude de resignação. As pessoas continuam juntas, acomodadas, dando a impressão de estarem anestesiadas. No entanto, de uns tempos para cá, vem diminuindo muito a disposição para sacrifícios. Muitos estão percebendo que a idéia de complementação com o outro não passa de um grande equívoco. Talvez só seja possível um casamento funcionar bem e durar muito, se for como sempre foi: uma união por interesses políticos e econômicos. Essa novidade de se misturar romance e expectativa de satisfação sexual com casamento dificilmente vai dar certo. São ingredientes totalmente incompatíveis com a união estável, e durante séculos não se duvidou disso.

Regina Navarro Lins, psicanalista e sexóloga

Fonte Jornal da Tarde de 16/12/07
http://txt4.jt.com.br/suplementos/catv/2007/12/16/catv-1.94.1.20071216.5.1.xml

Meu comentário
Esta é a primeira vez que leio alguém concordando com um velho pensamento meu:

Deus inventou o AMOR e o diabo inventou o casamento, apesar da igreja dizer o contrário.

ADOÇÃO. Cresce a adoção de crianças com mais de 5 anos

À espera dos novos pais

Crianças maiores de 5 anos representam apenas 11% do total de menores adotados no Estado


“A mãe da Ana chegou! A mãe da Ana chegou!” Foi o que gritaram as crianças quando viram um carro entrar no abrigo na última quarta-feira. Ana, de 8 anos, e o irmão Pedro, de 4, iriam, enfim, para casa. Com um vestido lilás, a menina caminhou com passos lentos, desviando dos amiguinhos que estavam em seu caminho. De mãos dadas com o irmão, foi ao encontro do casal que até alguns meses atrás chamava tios. Quando chegaram pertinho, Ana e Pedro pularam no colo dos novos pais, mostrando o quanto esperaram por aquele momento.

A felicidade dos irmãos só foi possível porque o consultor de informática Antônio, de 47 anos, e a economista Carla, 38 , optaram pela adoção tardia. E eles personificam uma tendência: a escolha de crianças com mais de 5 anos tem aumentado no Estado. Entre 2005 e 2006, o número desse tipo de adoção cresceu 71,8%, passando de 160 para 275.

Porém, as adoções tardias representam só 11% do total de pessoas autorizadas - 2.516 - pela Justiça, no ano passado, a adotar crianças no Estado. A maioria (57%) prefere bebês com no máximo 2 anos. Crianças com essa faixa etária, brancas e sem irmãos não “esquentam” lugar nos abrigos.

Quem está fora dessas características tem que entrar na fila, como Ana e Pedro. Ela foi abandonada pela mãe, aos 2 anos, num abrigo da Zona Norte. Depois chegou o irmão, recém-nascido. Eles foram as primeiras crianças a serem apresentadas a Carla e Antônio, casados há 12 anos. Foi amor à primeira vista.

Atualmente, 6.706 brasileiros e 385 estrangeiros esperam sua vez para adotar um filho no Estado. Do outro lado, 1.113 crianças disponíveis não conseguem encontrar uma família. “Esses são casos em que tentamos a adoção e ninguém quis”, disse o juiz responsável pela área de infância e juventude da Corregedoria do Tribunal de Justiça de São Paulo, Reinaldo Cintra. Segundo ele, isso ocorre por dois motivos: as pessoas querem exercer a paternidade como se tivessem gerado o filho; e não conseguem vencer os mitos que cercam a adoção tardia. “Cicatrizes todas as crianças têm. A diferença está no preparo dos pais.”

O casal de publicitários Rui, 49 anos e Ena Barbosa, 48, não tem dúvidas. “É preciso estar tranqüilo e seguro para fazer a opção”, disse Ena. E assim eles se sentiam quando, em 2004, adotaram Luiza, de 2 anos, Isabela, de 3 e Felipe, de 7. No Fórum, eles haviam pedido dois irmãos, saudáveis e com mais de 1 ano.

O processo levou o tempo de uma gestação. “Mesmo que tivessem saído da minha barriga eu já não poderia escolher”, disse Ena, que não tem filhos biológicos. Ela e o marido decidiram fazer uma adoção tardia porque temiam que um bebê aparentemente saudável manifestasse alguma doença depois. “Só me deixa triste pensar que alguém teve coragem de abandonar os meus filhos.”

O primeiro ano para a nova família Barbosa foi o mais difícil. As crianças chegaram com piolhos e micose. A mais jovem só queria comer salsicha e bolacha de água e sal. No final do primeiro ano, Felipe mal sabia escrever seu nome. Agora, eles já comem brócolis e couve-flor e o menino já leu seu primeiro livro sozinho: “Capitão Cueca”. “Eles chegaram com sentimento de autopiedade, mas agora já aprenderam que são é sortudos”, disse a mãe.

Desde 2004, quando o Tribunal de Justiça começou a coletar e a organizar as informações sobre adoção no Estado, o perfil dos candidatos a pais adotivos pouco mudou. Em 2006, 50% deles tinham entre 31 e 40 anos, 44% cursaram ensino superior, 66% não tinham filhos e 85% são casais.

Se não fosse solteiro, o jornalista Christian Heinlikl, 35, estaria perfeitamente dentro desse perfil. Ele conseguiu a autorização para entrar na fila de adoção em abril deste ano. Em poucos dias, recebeu por e-mail uma lista com o nome das crianças disponíveis e a idade, entre eles, Vinícius, de 8 anos. “Bati os olhos e tive a certeza de que era o meu filho. Esperei oito anos para encontrá-lo.”

Heinlikl sempre quis ser pai. A decisão de adotar uma criança mais velha veio dos encontros num grupo de apoio que começou a freqüentar. “Eu tinha uma série de fantasias que não eram o meu desejo”, disse. Foi quando ele percebeu que não queria um bebê, mas uma criança com quem pudesse conversar. “Eu não troco fraldas do meu filho, tá doendo ele me explica o que é. A gente conversa, ri, chora. É uma delícia.”

Outro aspecto da adoção tardia que fascina Heinlikl é o direito de escolha da criança. O pai novato lembra bem o dia em que Vinícius fez a dele. Uns meses depois da chegada, o menino aprontou e levou uma bronca. A resposta veio de pronto: “Você não é meu pai. Quero voltar pro abrigo.” Com segurança, Heinlikl retrucou: “Se é sua vontade, vou levar você de volta. Mas fique sabendo que sou seu pai pra sempre.” No dia seguinte, o jornalista ligou para o abrigo e passou o telefone para Vinícius conversar com a assistente social. Rapidinho ele desfez o nó: “Tia, eu fiz pirraça pro meu pai, disse que ia embora, mas não vou porque aqui é minha casa. Tchau.”

Com exceção de Heinlikl, os pais pediram para que as crianças não fossem identificadas, temendo problemas com a famílias biológicas.


'Só me deixa triste pensar que alguém teve coragem de abandonar os meus filhos.”
ENA BARBOSA,
48 ANOS, PUBLICITÁRIA

'Bati os olhos (em Vinícius) e tive certeza de que era o meu filho. Esperei oito anos
para encontrá-lo.”
CHRISTIAN HEINLIKL,
35 ANOS, JORNALISTA


EM NÚMEROS

6.706
pessoas esperam sua vez para adotar um filho no Estado

1.113
menores não conseguem ser adotados em São Paulo

50%
dos pais que adotaram em 2006 tinham entre 31 e 40 anos

275
crianças maiores de 5 anos foram adotadas em SP em 2006

2.516
novos cadastros para adoção foram feitos no ano passado no Estado

57%
dos cadastrados preferem bebês brancos com no máximo 2 anos


Texto de Naiana Oscar, naiana.oscar@grupoestado.com.br
Fonte: Jornal da Tarde de 16/12/07
http://txt4.jt.com.br/editorias/2007/12/16/ger-1.94.4.20071216.3.1.xml

sábado, 15 de dezembro de 2007

Rio São Francisco: De Cabrobó a Sobradinho, por Dom Tomás Balduino

O jejum de dom Luís Flávio Cappio, tanto o de Cabrobó como este de Sobradinho, na Bahia, veio revelar a profunda divisão que se instalou em nosso país a propósito da transposição das águas do Rio São Francisco. Não foi o bispo de Barra (BA) que provocou esta divisão. Ele simplesmente a desnudou diante de todo o mundo. O verdadeiro autor desta divisão é o próprio presidente Lula. Ele cometeu a histórica façanha de dividir a sociedade brasileira. Dividiu também o Nordeste e até a Igreja.

Hoje podemos traçar um nítido quadro sinótico de quem está de um lado ou de outro desta divisão, de quem está pró ou contra a transposição do São Francisco. A favor está, em geral, a população nordestina, eventual receptora das águas. Contra, a população do semi-árido baiano e mineiro. A favor, o empresariado beneficiário e as empreiteiras. Contra, as organizações populares, os indígenas, os quilombolas, os camponeses reunidos na grande articulação da Via Campesina. A favor, o governo federal e seus representantes do norte e do sul do semi-árido, por intermédio do programado comando dos governadores, incluindo o ministro da Integração Nacional, cuja autoridade moral para pontificar sobre o assunto tem sido fortemente contestada. Os cientistas também se dividiram. A mídia está, ao mesmo tempo, num curioso pacto de silêncio ou pela transposição.

E a Igreja? Com relação à transposição do rio, nada menos do que 112 bispos católicos e evangélicos se pronunciaram em 30 de março de 2006 nestes termos: “Reafirmamos nossa posição contrária à transposição das águas do Rio São Francisco” ( in Os Pobres Possuirão a Terra, Cebi, Sinodal, Paulinas). Mas o mesmo número ou, quem sabe, até um número maior pode se achar do outro lado. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em nota, cobrou do governo a revitalização do rio e o respeito pelos povos da região. Quanto à transposição, reconhece que não há unanimidade na Igreja e acha isso perfeitamente compreensível. A posição fria de dom Geraldo Lyrio Rocha após a audiência com o Lula, no dia 12 deste mês, naturalmente decepcionou a muitos. Nem defendeu o irmão contra a colocação do Lula de ser a greve de fome um caso individual. Entretanto, esperar mais do que isso da direção da CNBB é sonho. Aí o cuidado é preservar a instituição eclesiástica, mesmo com perda da profecia. A presidência do Conselho Episcopal Regional Bahia e Sergipe, juntamente com o cardeal dom Geraldo Magella, foi a Sobradinho, no avião do governador Jaques Wagner (PT-BA), visitar dom Luís Cappio e propor-lhe a troca daquele jejum radical por outra penitência alimentar. O núncio apostólico, logo no início, arriscou uma intervenção, proibindo o bispo de Juazeiro (BA), dom José Geraldo da Cruz, de receber dom Luís Cappio em qualquer igreja ou capela da Diocese. Não funcionou. Na realidade, há uma dupla divisão na Igreja: uma com relação à transposição e outra com relação ao jejum do bispo. É mais comum se ouvir da parte dos bispos um posicionamento sobre a forma radical de jejum de dom Luís, o que envolve um juízo moral, do que sobre a transposição do rio, que é uma questão política. Mas por trás da argumentação contra o jejum pode estar oculta a posição a favor da transposição.

A família de sangue de dom Luís, de todos, sem dúvida, a mais apegada à vida dele, está lá em Sobradinho, ao seu lado, numa atitude de profundo respeito pelo gesto do irmão e contando esperançosamente com a vitória de sua luta.

A maior divisão, porém, é a que existe entre os dois projetos ligados ao São Francisco. O primeiro é este da transposição, que o Lula diz e repete que “não pode retirar”. Na propaganda oficial, atenderia a 12 milhões de nordestinos e custará R$ 6,6 bilhões. O segundo projeto, que o governo vem abafando sistematicamente, atenderia satisfatoriamente a 44 milhões de nordestinos, pela metade do preço, sem precisar de transposição do rio. Consta este projeto do Atlas do Semi-Árido, trabalhado pela Agência Nacional de Águas, (ANA), em ligação com a Articulação do Semi-Árido (ASA). Na verdade, há água suficiente no Nordeste, a falha grave é no agenciamento do uso. Esta proposta alternativa, ao contrário da transposição, respeita o meio ambiente e orienta a população para a salutar convivência com o semi-árido. Por que não abrir para toda a sociedade o diálogo na busca da solução para o semi-árido brasileiro? Por que impor a transposição com militarização das obras, protegidas por tanques de guerra?

No meio de todas estas divisões há uma belíssima união, que se vai criando e crescendo como uma bola de neve a partir daquelas margens ventiladas do São Francisco. Trata-se da população pobre e devota que se está dirigindo, pressurosa, à capela de São Francisco a fim de tomar a bênção de frei Luís Cappio. Juntamente com esta religiosidade natural daqueles herdeiros do padre Cícero e do Conselheiro está nascendo uma nova consciência por meio de falas, de caminhadas, de atos públicos e de romarias em torno daquele santuário. Ali ouvi reflexões ligando a transposição à maldição. Lembrei-me da reflexão de Leonardo Boff, coirmão de frei Luís: “Transposição da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico” (JB, 26/6).

É dispensável, finalmente, que o presidente Lula dê preferência a 12 milhões, em lugar de atender individualmente ao bispo, como vem declarando, pois o bispo já fez o dom de sua vida pelos 44 milhões de nordestinos e pela vida do Velho Chico.

Dom Tomás Balduino, bispo emérito da cidade de Goiás, é conselheiro permanente da Comissão Pastoral da Terra

Rio São Francisco: Sede de votos

Bispo em greve de fome repõe a transposição do São Francisco em pauta; interesse eleitoral parece vencer as fortes objeções

A PROPAGANDA do governo Lula quer fazer crer que o projeto de transposição do rio São Francisco vai transformar o sertão semi-árido num mar de água doce encanada. Uma população de 12 milhões de pessoas seria beneficiada, ao custo total de R$ 4,5 bilhões. Apesar das dúvidas perenes sobre sua real necessidade, o programa de óbvio apelo eleitoral parece mesmo fadado a sair das pranchetas.
As obras, ao menos, já começaram. Em junho, batalhões do Exército iniciaram escavações preliminares em Cabrobó (PE). Ali será feita a captação de água para os canais de um de seus dois eixos, o Norte, no qual bombas poderosas terão de vencer 180 m de altitude para alcançar as bacias-alvo, como a do Jaguaribe. No Leste, o desafio de engenharia é maior: desnível de 300 m. Serão beneficiados Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. O plano é ter os primeiros canais e açudes em dois anos, a tempo para a eleição de 2010.
Adversários da transposição, diante do fato consumado, recorrem a medidas extremas, como a retomada da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, bispo de Barra (BA). Alegam, com apoio de vários especialistas, que o projeto não equaciona os verdadeiros problemas do rio e da população que dele depende, como a poluição da água. Afirmam, ainda, que ela não chegará às pessoas que mais precisam, mas servirá de modo preferencial aos grandes projetos de irrigação -o agronegócio demonizado por movimentos sociais com apoio da Igreja Católica.
Com efeito, a própria Agência Nacional de Águas (ANA) alertou em seu "Atlas Nordeste", um ano atrás, que 41 milhões de nordestinos poderão enfrentar insegurança hídrica se não forem realizadas obras adicionais -ao custo de R$ 3,6 bilhões- para distribuir de fato a água. Parece também exagero a cifra de 12 milhões de beneficiários, em realidade toda a população urbana na área das bacias receptoras.
Mesmo onde já existe infra-estrutura para irrigação no Nordeste, metade do potencial deixa de ser aproveitado por agricultores, por falta de capital e crédito. Por fim, diante do descaso tradicional com saneamento básico, parece pouco provável que se cumpram as promessas de expandir a rede de coleta de esgotos ao longo do Velho Chico.
O governo de Lula (que só se converteu à transposição depois de se tornar presidente e então a incluiu no programa para a reeleição) não conseguiu ainda responder de modo satisfatório a todas essas objeções. Por outro lado, tem sido bem-sucedido na superação das barreiras institucionais que poderiam se contrapor à obra, aprovando no Congresso recursos orçamentários para tocá-la e obtendo do Ibama, em março deste ano, a licença de instalação do empreendimento.
Diante do fato a consumar-se, parece mais pragmático, agora, vigiar de perto a empreitada para que não enseje dois outros resultados deletérios mais que previsíveis no Brasil: o desvio de verbas e o risco usual de que a obra bilionária termine abandonada quando Lula deixar o cargo.

Fonte: Editorial da Folha de São Paulo de 15/12/07

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Rio São Francisco, D. Cappio e o mito da falta d'água

D. Cappio é um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição
D. Luiz Flávio Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento


JOÃO ALVES FILHO escreve

Com a retomada da greve de fome de dom Luiz Flávio Cappio, o presidente Lula e seus áulicos tentam passar a imagem de que ele é um fanático religioso. O ministro da Integração, Geddel Vieira Lima, ousa desrespeitosamente associar a imagem do bispo a uma espécie de fundamentalista islâmico.
Na realidade, d. Cappio é um líder religioso profundamente comprometido com sua principal missão, que é divulgar a fé aos sertanejos e levar a eles os eternos ensinamentos de Deus, mas sem desconectá-los do mundo injusto em que habitam.
Daí por que, convencido de que quem convive com a miséria não tem serenidade para cultivar dignamente a religião, se empenha em extirpar a miséria, defendendo os sertanejos daqueles que tentam legitimá-la com demagogia e promessas enganosas.
Trata-se de um sábio, culto, avesso à demagogia, conhecedor do sertão nas suas entranhas e, em especial, do Velho Chico, cujas margens percorreu a pé denunciando sua degradação bem antes de se falar em transposição. Um estudioso das técnicas de convivência com as secas e equacionamento dos recursos hídricos locais -tão simples e baratas que os chineses e os indianos as praticam com sucesso há milênios em regiões de climas bem mais hostis do que o nosso.
D. Cappio tem consciência também de quatro fatos dos quais a nação precisa tomar conhecimento.
Primeiro, a transposição não é destinada a salvar os nordestinos da seca, pois apenas uma minoria irrelevante do semi-árido receberá água na porta, mas se destina ao agronegócio, que utilizará uma água caríssima, levada a 700 km, que terá que ser subsidiada a vida inteira. Porém, temos milhões de hectares de terras à beira do rio cuja irrigação, sem subsídio, proporcionaria alimentos baratos e geraria 1 milhão de empregos.

Segundo, o governo, maquiavelicamente, esconde uma realidade que surpreenderia a nação: não há falta de água no Nordeste setentrional, mas, isto sim, ela existe em abundância tal que, teoricamente, daria para abastecer 100% dos nordestinos.
Terceiro, o rio São Francisco está na UTI e a transposição ameaça provocar sua morte, gerando o maior desastre ecológico e socioeconômico da história brasileira.
Quarto, Lula mentiu para conseguir a interrupção da primeira greve de fome de d. Cappio, certamente com receio das conseqüências para a reeleição, com promessas enganosas de que iria parar a obra da transposição para discutir com ele, com membros da sociedade civil e ecologistas que têm propostas alternativas, demonstrando tecnicamente projetos racionais para levar água na porta pela metade dos custos para a totalidade dos dez Estados do semi-árido nordestino e mineiro. Por dois anos, o bispo esperou pacientemente a abertura do prometido diálogo, mas a resposta de Lula foi ameaçadoramente mandar o Exército iniciar a obra.

Por falta de espaço, não posso aqui detalhar o gigantesco manancial de água disponível nos Estados do Ceará, do Rio Grande do Norte e da Paraíba, explicando a simplicidade do supracitado projeto alternativo. Faço, contudo, um convite ao ministro Geddel, que executa a obra que tanto combateu, para um debate aberto, para que a nação saiba de toda a verdade sobre essa obra freneticamente aplaudida pelos empreiteiros, seus felizes apaniguados, pelo agronegócio retrógrado, que pleiteia água subsidiada, e pela indústria da seca, que, após sua conclusão, continuaria abastecendo os famigerados carros-pipas e as latas d'água na cabeça da pobre gente dos próprios quatro Estados "beneficiários" da obra da transposição, que, tardiamente, compreenderia que foi a principal enganada pelo governo Lula, que fomenta a cizânia entre irmãos nordestinos.
Finalmente, uma ponderação final para que o presidente Lula, que, do alto de sua autolouvação, costuma ser infenso a conselhos, avalie melhor o artigo de frei Leonardo Boff, que, com a autoridade de ex-professor do então seminarista dom Cappio, com quem ele já se destacava por "uma aura de simplicidade e santidade", advertiu: "Entre o povo que não quer a transposição e as pressões de autoridades civis e eclesiásticas, dom Luiz ficará do lado do povo. Irá até o fim. Então a transposição será aquela da maldição, feita à custa da vida de um bispo santo e evangélico. Estará o governo disposto a carregar essa pecha pelo futuro afora?".

Artigo de JOÃO ALVES FILHO, 66, é engenheiro civil. Foi governador de Sergipe por três mandatos (1983-87, 1990-94 e 2003-06) e ministro do Interior (gestão Sarney). É autor de, entre outros livros, "Transposição de Águas do São Francisco: Agressão à Natureza vs. Solução Ecológica".
jafsergipe@gmail.com

Fonte: Folha de São Paulo de 07/12/07
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz0712200709.htm

Etanol provoca alta de alimentos

'Economist': subsídios dos EUA a etanol provocam alta de alimentos

A revista britânica "Economist" traz na sua última edição um editorial em que faz duras críticas à política de subsídios ao etanol à base de milho, que seria um dos principais responsáveis pela alta de preço dos alimentos no mundo.

Neste ano, nos EUA, "biocombustíveis vão tomar um nível recorde de um terço da colheita de milho nos EUA", diz a revista.

"Isso afeta os mercados mundiais de alimentos diretamente: encha o tanque de um carro utilitário esportivo com etanol e você terá gasto milho suficiente para alimentar uma pessoa por um ano inteiro".

"As 30 milhões de toneladas de milho extra dirigido à produção de etanol nos EUA neste ano representam metade da queda nos estoques globais de grãos".

Ainda por cima, com essa política, os EUA "apóiam uma versão relativamente suja do etanol". Seria "muito melhor importar o etanol brasileiro, feito à base de cana-de-acúcar", diz a publicação.

Segundo a "Economist", há mais de 200 subsídios diferentes ao etanol americano, assim como uma tarifa de importação de US$ 0,54 por galão de etanol, o que limita a entrada do produto brasileiro.

Fazendeiros pobres
Outro impacto do programa de etanol dos Estados Unidos enumerado pela publicação é que esses subsídios ao álcool combustível também estão sendo mais vantajosos em relação a subsídios mais antigos de cereais, encorajando fazendeiros a produzir apenas milho.

E a postura americana tem implicações globais. "A maioria dos subsídios e de barreiras comerciais vieram com um enorme custo. Trilhões de dólares gastos apoiando os agricultores de países ricos levaram a impostos mais altos, comida de pior qualidade, monoculturas de cultivo intensivo, superprodução e preços mundiais que destroem o modo de vida de fazendeiros pobres em mercados emergentes", diz o editorial.

A revista diz que esse aumento do preço dos alimentos ameaça especialmente os mais pobres, mas também apresenta uma enorme oportunidade para uma revisão de políticas.

"Três quartos dos pobres do mundo vivem em áreas rurais", diz o editorial. Os preços mais baixos dos alimentos criados por políticas agrícolas das últimas décadas levaram a uma diminuição do investimento em agricultura e infra-estrutura, como irrigação.

"A parcela de dinheiro público com a agricultura em países em desenvolvimento caiu pela metade desde 1980. Países que costumavam exportar alimentos agora importam."

"A redução de subsídios no Ocidente ajudaria a reverter esse quadro. O Banco Mundial calcula que se você liberar o comércio agrícola, os preços de produtos em que os países mais pobres se especializam (como algodão) vai aumentar, e os países em desenvolvimento vão obter ganhos com o aumento da exportação."

Isso aumentaria a produtividade agrícola nesses países e, no longo prazo, asseguraria o suprimento de alimentos, diz a "Economist".

O extenso artigo volta a citar o Brasil como um dos países onde estariam disponíveis terras para se arar futuramente (ao lado de Rússia, Cazaquistão, Congo e Sudão), mas destaca que esse desenvolvimento exigiria grandes investimentos em estradas e outra infra-estrutura, o que pode levar décadas, além de provocar outros riscos, como a destruição de florestas.

Da BBC Brasil no UOL
http://economia.uol.com.br/ultnot/bbc/2007/12/07/ult2283u1098.jhtm

Meu comentário:
No iníco de 2006 eu escrevi que encher o tanque dos automóveis com alimentos é loucura, alguns dias depois o Fidel Castro também alertou, mais tarde a ONU também alertou e agora que os preços dos alimentos subiram, podemos já sentir o início da crise nos alimentos que esta loucura ainda vai provocar.

JGS

Os nomes da criança

A sociedade brasileira, em sua maldita apartação, foi obrigada a criar palavras que distinguem cada criança conforme sua classe, sua função, sua casta, seu crime.

O português falado no Brasil é talvez o mais rico e o mais imoral dos idiomas no que se refere à definição de infância

Cristovam Buarque

Os esquimós têm diversos nomes para indicar a neve. Para eles, cada tipo de neve é uma coisa diferente de outro tipo. Para os povos da floresta, cada mato tem um nome específico. Os habitantes dos desertos têm nomes diferentes para dizer "areia", conforme as características específicas que ela apresenta. Para conviver com seu meio ambiente, cada povo desenvolve sua cultura com palavras distintas para diferenciar as sutilezas do seu mundo. Quanto mais palavras distinguindo as coisas que as rodeiam, mais rica é a cultura de uma população.

Os brasileiros urbanos desenvolveram sua cultura criando nomes especiais para diferenciar o que, para outros povos, seria apenas uma criança.

Para poder circular com segurança nas ruas de suas cidades, os brasileiros do começo de século 21 têm maneiras diferentes para dizer "criança". Não se trata dos sinônimos de antigamente para indicar a mesma coisa, como "menino", "guri", "pirralho". Agora, cada nome indica uma sutil diferença no tipo de criança. O português falado no Brasil é certamente o mais rico e o mais imoral dos idiomas do mundo atual no que se refere à definição de criança. É um rico vocabulário que mostra a degradação moral de uma sociedade que trata suas crianças como se não fossem apenas crianças.

Menino-de-rua significa aquele que fica na rua em lugar de estar na escola, em casa, brincando ou estudando, mas tem uma casa para onde ir - diferenciado sutilmente dos meninos-de-rua, aqueles que não apenas estão na rua, mas moram nela, sem uma casa para onde voltar. Ao vê-los, um habitante das nossas cidades os distingue das demais crianças que ali estão apenas passeando.

Flanelinha é aquele que, nos estacionamentos ou nas esquinas, dribla os carros dos ricos com um frasco de água em uma mão e um pedaço de pano na outra, na tarefa de convencer o motorista a dar-lhe uma esmola em troca da rápida limpeza no vidro do veículo. São diferentes dos esquineiros, que tentam vender algum produto ou apenas pedem esmolas aos passageiros dos carros parados nos engarrafamentos. Ou dos meninos-de-água-na-boca, milhares de pobres crianças que carregam uma pequena caixa com chocolates, tentando vendê-los mas sem o direito de sentir o gosto do que carregam para outros.

Sutis diferenças

Prostituta-infantil já seria um genérico maldito para uma cultura que sentisse vergonha da realidade que retrata. Como se não bastasse, ainda tem suas sutis diferenças. Pode ser bezerrinha, ninfeta-de-praia, nina-da-noite, menino ou menina-de-programa ou michê, conforme o local onde faz ponto ou gosto sexual do freguês que atende. E tem a palavra menina-paraguai, para indicar crianças que se prostituem por apenas um real e noventa e nove centavos, o mesmo preço das bugigangas que a globalização trouxe de contrabando, quase sempre daquele país. Ou menina-boneca, de tão jovem que é quando começa a se prostituir, ou porque seu primeiro pagamento é para comprar a primeira boneca que nunca ganhou de presente.

Delinqüente, infrator, avião, pivete, trombadinha, menor, pixote: sete palavras para o conjunto da relação de nossas crianças com o crime. Cada qual com sua maldita sutileza, conforme o artigo do código penal que cabe, a maneira como aborda suas vítimas, o crime ao qual se dedica...

Podem também, no lugar de crianças, serem boys, engraxates, meninos-do-lixo, recicladores-infantis, de acordo com o trabalho que cada uma delas faz.

Ainda tem filhos-da-safra, para indicar crianças deixadas para trás por pais que emigram todos os anos em busca de trabalho nos lugares onde há empregos por bóias-fria, nome que indica também a riqueza cultural do sutil vocabulário da realidade social brasileira. Ou os pagãos-civis, vivendo sem registro que lhes indique a cidadania de suas curtas passagens pelo mundo, em um país que lhes nega não apenas o nome de criança, mas também a existência legal.

Criança-triste

Como resumo de todos estes tristes verbetes, há também criança-triste: não se refere à tristeza que nasce de um brinquedo quebrado, de uma palmada ou reprimenda recebida, ou mesmo da perda de um ente querido. No Brasil há um tipo de criança que não apenas fica ou está triste, mas nasce e vive triste - seu primeiro choro mais parece um lamento pelo futuro que ainda não prevê do que um respiro no novo ar em que vai viver, quando pela primeira vez o recebe em seus diminutos pulmões.

Criança-triste, substantivo e não adjetivo, como um estado permanente de vida: esta talvez seja a maior das vergonhas do vocabulário da realidade social brasileira. Assim como a maior vergonha da realidade política é a falta de tristeza no coração de nossas autoridades diante da tristeza das crianças brasileiras, com as sutis diversidades refletidas no vocabulário que indica os nomes da criança.

A sociedade brasileira, em sua maldita apartação, foi obrigada a criar palavras que distinguem cada criança conforme sua classe, sua função, sua casta, seu crime. A cultura brasileira, medida pela riqueza de seu vocabulário, enriqueceu perversamente ao aumentar as palavras que indicam criança. Um dia, esta cultura vai se enriquecer criando nomes para os presidentes, governadores, prefeitos, políticos em geral que não sofrem, não ficam tristes, não percebem a vergonhosa tragédia de nosso vocabulário.

Quem sabe não será preciso que um dia chegue ao governo uma das crianças-tristes de hoje, para que o Brasil torne arcaicas as palavras que hoje enriquecem o triste vocabulário brasileiro e construa um dicionário onde criança... seja apenas criança.

Cristovam Buarque é professor da UnB e senador (PDT/DF)

Fonte: Revista Língua Portuguesa
http://revistalingua.uol.com.br/textos.asp?codigo=11423

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Alunos brasileiros ficam entre os últimos em ciências

Brasil ficou em 52º lugar entre 57 países em ranking que compara qualidade de ensino

País ficou à frente apenas de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão; Finlândia teve o melhor desempenho

Uma comparação da qualidade da educação em 57 países mostrou que o desempenho médio dos estudantes brasileiros de 15 anos é suficiente apenas para colocar o país na 52ª posição do ranking que mede o aprendizado em ciências.
O resultado foi divulgado ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), que, de três em três anos, aplica o Pisa (sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos) com o objetivo de comparar a qualidade da educação em diversos países. No ano passado, a ênfase da prova -que já focalizou as áreas de leitura e matemática em anos anteriores- foi em ciências.
O relatório completo do Pisa só será conhecido na terça-feira, mas ontem a OCDE divulgou os primeiros rankings, que mostram a Finlândia com o melhor desempenho, seguida de Hong Kong e Canadá. O Brasil ficou à frente apenas de Colômbia, Tunísia, Azerbaijão, Qatar e Quirguistão, o pior.
No entanto, como há um coeficiente de variação das médias em cada país, a posição brasileira pode variar entre a 50ª, no cenário mais positivo, e a 54ª, no mais negativo. Por causa disso, o Brasil está tecnicamente empatado com Indonésia, Argentina, Colômbia e Tunísia.
Apenas seis países da América Latina fazem parte do Pisa. O mais bem colocado na lista foi o Chile (40ª posição), seguido de Uruguai (43ª) e México (49º). Todos, no entanto, ficaram abaixo da média dos membros da OCDE (que congrega 30 países, em sua maioria europeus e da América do Norte).
Como o programa é de livre adesão, Índia, China e quase todos os países africanos, por exemplo, não participam.
Para o presidente do Inep (instituto de avaliação do Ministério da Educação), Reynaldo Fernandes, a posição do Brasil "não é boa", mas era esperada, já que os outros países, na maioria, são desenvolvidos e porque outras avaliações já haviam apontado baixo desempenho dos estudantes brasileiros em outras áreas. "Não é um caso específico de ciência."
Jorge Werthein, diretor-executivo da Rede de Informação Tecnológica Latino-Americana e ex-representante da Unesco no Brasil, diz que os resultados expõem a necessidade de investir no ensino de ciências desde cedo nas escolas públicas.
"A imensa maioria das escolas públicas de ensino fundamental no Brasil não tem ensino de ciências, nem professor capacitado para isso. É por isso que poucos alunos chegam ao ensino médio interessados e com bom desempenho nas disciplinas dessa área", afirma.
Para ele, o resultado não pode ser considerado aceitável. "Lamentavelmente, mais uma vez aparecemos atrás de países da América Latina e muito defasados em relação aos países desenvolvidos. Ontem, ao ler [o jornal espanhol] "El País", vi que eles consideram inaceitável a 31ª posição da Espanha. Se é inaceitável para eles, tem de ser para nós também."
O presidente da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência), Marco Antonio Raupp, afirma que há uma disparidade entre o desempenho dos estudantes jovens e os rankings mundiais de produção científica.
No último, produzido pela Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), o Brasil ficou na 15ª posição -a lista, porém, tem apenas 30 países. "Foi feito um grande esforço [do governo federal], com agências voltadas à pós-graduação, mas nada comparável foi realizado em relação ao ensino fundamental."
Ele apontou como um dos problemas a falta de professores qualificados para o ensino de ciência -relatório recente do Conselho Nacional de Educação apontou que apenas 9% dos docentes de física da rede pública têm formação específica; em química, apenas 13%.


Reportagem de ANTÔNIO GOIS e ANGELA PINHO na Folha de São Paulo de 30/11/2007

Brasil é reprovado, de novo, em matemática e leitura

Exames realizados em 57 países colocam os alunos brasileiros entre os piores

Comparando o desempenho no exame de 2003, que já era ruim, com o de 2006, as notas pioraram em leitura e melhoraram em matemática

A péssima posição do Brasil no ranking de aprendizado em ciências se repetiu nas provas de matemática e leitura.
Os resultados do Pisa (sigla, em inglês, para Programa Internacional de Avaliação de Alunos), divulgados ontem pela OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), mostram que os alunos brasileiros obtiveram em 2006 médias que os colocam na 53ª posição em matemática (entre 57 países) e na 48ª em leitura (entre 56).
O objetivo do Pisa é comparar o desempenho dos países na educação. Para isso, são aplicados de três em três anos testes a alunos de 15 anos em nações que participam do programa. O ranking de ciências, divulgado na semana passada, colocava o Brasil na 52ª posição.
Além de estarem entre os piores nas três provas nessa lista de países, a maioria dos estudantes brasileiros atinge, no máximo, o menor nível de aprendizado nas disciplinas.
O pior resultado aparece em matemática. Numa escala que vai até seis, 73% dos brasileiros estão situados no nível um ou abaixo disso. Significa, por exemplo, que só conseguem responder questões com contextos familiares e perguntas definidas de forma clara.
Em leitura, 56% dos jovens estão apenas no nível um ou abaixo dele. Na escala, que vai até cinco nessa prova, significa que são capazes apenas de localizar informações explícitas no texto e fazer conexões simples.
Em ciências, 61% tiveram desempenho que os colocam abaixo ou somente no nível um de uma escala que vai até seis. Isso significa que seu conhecimento científico é limitado e aplicado somente a poucas situações familiares.
Nos três casos, a proporção de alunos nos níveis mais baixos é muito maior do que a média da OCDE, que congrega, em sua maioria, países ricos.
Comparando o desempenho do Brasil no exame 2003 (que já era ruim) com o de 2006, as notas pioraram em leitura, ficaram estáveis em ciências e melhoraram em matemática.
Uma melhoria insuficiente, porém, para tirar o país das últimas posições, já que foi em matemática que o país se saiu pior em 2006, com médias superiores apenas às de Quirguistão, Qatar e Tunísia e semelhantes às da Colômbia.
Como há uma margem de erro para cada país, a colocação brasileira pode variar da 53ª, no melhor cenário, para a 55ª, no pior. O mesmo ocorre para as provas de leitura e ciências. No de leitura, varia da 46ª à 51ª. Em ciência, da 50ª à 54ª.
A secretária de Educação do governo José Serra (PSDB-SP), Maria Helena de Castro, diz que o resultado em leitura é lamentável. "Essa é uma macrocompetência, básica para que os alunos desenvolvam as outras, como matemática, raciocínio crítico." Nos exames, São Paulo ficou abaixo da média nacional nas três áreas avaliadas.
Suely Druck, da Sociedade Brasileira de Matemática, diz que, em geral, os alunos de outros países, assim como os do Brasil, tiveram desempenho pior em matemática na comparação com as outras disciplinas.
"A matemática se distingue das outras porque desde cedo a criança já tem que ter conhecimento teórico e é um aprendizado seqüencial, ou seja, antes de aprender a multiplicar, tem que saber somar." Por isso, defende que se exija um conteúdo mínimo em matemática para o professor dos primeiros anos do ensino fundamental, quando todas as matérias são ainda ensinadas pela mesma pessoa.
O Pisa permite também comparar meninos e meninas. Em matemática e ciências, no Brasil, eles se saíram melhor. Em leitura, elas foram melhor.

Reportagem de ANTÔNIO GOIS e ANGELA PINHO na Folha de São Paulo de 05/12/07

Educação: Perdemos em qualidade

Sempre que uma avaliação do ensino escancara o nosso atraso, os saudosistas lamentam o fato lembrando que, no passado, a escola pública era de qualidade.
Ainda que o Brasil só tenha começado a comparar o desempenho de seus estudantes em 1995, essa afirmação, muito provavelmente, é verdadeira.
O que nem sempre é levado em conta é que aquela escola pública era para poucos. Em 1940, apenas 31% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola. Não é difícil imaginar o perfil de quem estava fora dela.
Em 2000, essa proporção chegou a 95%. Ganhamos em quantidade, perdemos em qualidade.
A chegada dos mais pobres à escola pública foi acompanhada da migração gradativa da elite para o ensino privado. Para um país que se esmerou como poucos na construção de uma sociedade desigual, a convivência dessas duas classes num mesmo espaço -no caso, a escola- não fazia sentido.
Esse modelo funcionou bem para aquele projeto de país. Os mais ricos eram educados em escolas privadas e, com isso, asseguravam seu futuro profissional, já que os melhores postos de trabalho não estavam ao alcance de quem tinha como única opção a escola pública.
Os resultados do Pisa evidenciam que esse projeto não serve mais nem mesmo para quem sempre se beneficiou dele. Numa economia cada vez mais globalizada, ganham mais empregos e investimentos os países que têm sua mão-de-obra mais qualificada.
As nações que conseguiram as melhores posições foram justamente aquelas onde a desigualdade de notas entre seus melhores e piores alunos foi a menor: Finlândia e Hong Kong.
Na Finlândia, sequer existe ensino particular (98% estão em escolas públicas). Em Hong Kong, a maioria (91%) está no ensino privado, mas em escolas que dependem de financiamento público.
Não por acaso, os Estados do Brasil que se saíram melhor no Pisa foram os da região Sul. É lá que, como mostra o Exame Nacional do Ensino Médio, a distância entre a rede pública e a privada é menor no Brasil.
O que Finlândia e Hong Kong fizeram foi equalizar as oportunidades. Por isso, ficam entre os primeiros mesmo quando se compara apenas os mais pobres ou somente os mais ricos.
Com uma educação de qualidade e para todos, os melhores, para se sobressair, têm de ser ainda melhores.

Texto de ANTÔNIO GOIS na Folha de São Paulo de 05/12/07

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

O governo perdeu a vergonha se é que algum dia teve!

Nos últimos dias estive de férias e viajei até Belo Horizonte e o interior de Minas.
Na viagem de ida até BH em 20 de novembro percorri centenas de quilômetros de buracos, pois não se pode chamar de estrada aquele pouco asfalto jogado sobre as terras paulistas e mineiras, principalmente paulistas pois o trecho paulista por ser o mais movimentado e ter que suportar maior carga de trânsito se deteriora antes que o trecho mineiro.
Tenho comigo as lembranças do malabarismo que fiz e que todos motoristas são obrigados a fazer para evitar estourar um ou vários pneus, quebrar a suspensão do carro e sabe Deus o que mais.
Tenho gravado na memória um trecho específico, de menos de 50 metros de extensão, em que vi 03(três) caminhões quebrados no acostamento devido aos pneus furados, suspensão, rodas, etc.
Como pode o governo ficar defendendo aumento de impostos se ele não faz o MINIMO insdispensável com o dinheiro que arrecada dos brasileiros?
Como pode defender a CIDE e a CPMF?
A confissão de que o governo é imconPeTente é a DOAÇÃO das estradas brasilieras para uma multinaçional espanhola cuidar.

Sabe o que penso a respeito:


QUE VENHAM OS ESPANHÓIS, pois de governos incomPeTentes eu tô de saco cheio.


JGS

Eu estava pensando neste artigo quando ví o anúncio do Jornal Nacional de hoje 04/12/07 e escrevi este artigo antes que a reportagem do Jornal Naciobal fosse exibida, para evitar problemas de plágio.
Plágio não existe na FERNÃO DIAS, existem pneus e carros quebrados.
04/12/07 19:42