quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Os direitos e a realidade

Os direitos das crianças e das mães e a realidade dos menos favorecidos 

Dois pontos polêmicos, mas que comprovam a dificuldade de se separar princípios conceitualmente corretos da vã realidade (algo que ocorre muito com os economistas).

O primeiro, a proibição do trabalho infantil. No Fórum de Debates Mercado Popular, um alto executivo de uma multinacional me dizia, ao final, que se, na sia infância, essa lei que proíbe o trabalho do menor estivesse em vigor, ele teria se transformado em um marginal.

Aos 12 anos ele era ambulante. Batalhou o tempo todo, chegou onde chegou. Outros ficaram pelo caminho. Mas crianças com 12 anos, em lares sem condição financeira, tem dois caminhos: ou pedem esmola em farol; ou são cooptadas pelo crime.

Portanto não adiante defender a lei se não houver uma alternativa no mundo real. Como a Bolsa Família, por exemplo – que mereceu uma excelente apresentação no Fórum.

Outro ponto polêmico á considerar como conquista o fato das mulheres de classe D e E terem que sair para trabalhar fora.

Há uns dois anos tive uma polêmica pesada com um desses economistas “focalistas” (aqueles que julgam que os gastos sociais devem ser “focados” nos mais necessitados). Nada contra o “focalismo”, mas contra sua afirmação de que houve melhoria de renda nas classes D e E nos anos 90. Até então, o pai de família dava conta do recado e a mulher cuidava da casa e da educação dos filhos. Quando a renda caiu, ambos foram obrigados a trabalhar fora. A renda monetária da família subiu. Mas o levantamento do economista não considerava as perdas: o que a mulher deixou de trabalhar em casa e a assistência dada aos filhos, ao marido. E sua avaliação foi aceita por causa desse modismo de colocar no mesmo balaio as mães de classe média e as de classe pobre.

Uma boa pesquisa, tenho quase certeza que mostrará uma correlação grande entre mães que foram trabalhar fora e aumento da criminalidade na família. E, provavelmente, a piora na formação dos alunos, apesar do aumento da escolaridade.

Comentário

Creio que parte dos comentaristas caiu na armadilha de "a mulher pobre tem o direito de fazer o que acho melhor para ela". Perceberam o autoritarismo? É quase a mesma coisa que o Ali Kamel condenando o Bolsa Família por permitir ao pobre escolher onde gastar seu dinheiro.

Essas armadilhas são interessantes. No post, defendo o direito da mulher pobre escolher o que é melhor para ela ou para a família: trabalhar fora ou cuidar da casa e dos filhos. Para ter esse direito, obviamente o marido necessitaria ter uma renda que garantisse a família.

Os nobres amigos comentaristas, defensores dos direitos da mulher, suprimem da mulher pobre o direito de ficar em casa cuidando dos filhos. E lhes dá a "liberdade" de fazer apenas o que eles consideram melhor para a mulher: trabalhar fora.

Ontem, antes de escrever o post, conversei com uma senhora em pânico. Dois filhos caíram no crime, abandonaram a escola. Tudo isso depois que ela decidiu trabalhar fora, como doméstica. Em sua casa, ela era a barreira diária contra os métodos de cooptação do crime. E ela dizia: "Se estivesse em casa vigiando e cuidando, isso não teria acontecido".

Por Leonardo

Prezado Nassif

Este foi o melhor tema que você poderia ter colocado.

Minha esposa é psicóloga e trabalhou com adolescentes carentes dos 7 aos 16 anos.
Quando a mãe necessita trabalhar fora, por necessidade ou gosto, não importa, os filhos ficam sozinhos, muitas vezes sem almoço, com um período escolar e outro vago.

Escola em tempo integral é balela.

Qual criança quer permanecer o dia inteiro na escola?

O período vago, na periferia , será adotada por traficante ou cafetão.

Qual a solução?

Projetos de capacitação de adolescentes.

Que preencham o tempo com atividades de reforço escolar, economia doméstica, trabalhos manuais(bordados, artesanatos) , jogos, higiene, trato social, em um ambiente sadio e divertido, valorizando a auto estima desses adolescentes,diferente de uma "escola", com um ingrediente mais importante : o afeto.

Tirando esses jovens da rua, para que se ocupem de atividades produtivas.

Em uma visão liberal, não faltará pessoal capacitado para tal empreitada, remunerados pra formar nossos homens de amanhã.

Cabe à sociedade esta tarefa, com apoio e fiscalização do governo.

É fácil, basta querer e ter vontade.

Por estela

Leio sempre e gosto do espaço de discussão que encontro aqui.Trago um breve relato para contribuir ...

Sou professora de jovens e adultos , e se não tenho estatísticas, testemunho o cotidiano de mães de família pobres, na luta por mais escolaridade para aumentar sua renda. Muitas delas se definem como “mãe-pai” por serem as únicas provedoras de suas famílias, outras contam com a solidariedade do companheiro ou estão na escola, contra a sua vontade. Não é incomum, uma ou outra cochilar nas aulas pelo cansaço do dia extenuante, geralmente em empregos que não lhes trazem nenhuma satisfação. Preocupadas porque deixaram seus filhos sozinhos.

Não foram poucas as que pararam porque seus filhos crianças e adolescentes, precisavam de mais atenção, pois passavam muito tempo sozinhos e estavam fazendo bobagens, ou indo mal na escola ou mesmo com dificuldades emocionais.E elas, sempre mais as mães que os pais ( simples constatação) aflitas, procuram saídas e na dúvida, optam por seus filhos, seus sonhos podem esperar.E o trabalho continua pesado e sem perspectivas.

Há também aquelas que, donas de casa, querem ajudar seus filhos nas tarefas de casa, ou se permitem voltar a estudar depois que eles, crescidos, foram embora cuidar das suas vidas. Se ensino, muito aprendo também . O feminino se constrói de muitas maneiras e elas mais que nunca estão na luta.

Sou mãe e provedora, mas é inegável que disponho de mais recursos e alternativas que minhas alunas.

Do blog do Luis Nassif  de 08/10/08 07:00  

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