sábado, 1 de outubro de 2011

Dilma: vamos baixar o juros

País deve aproveitar crise para baixar juro, diz Dilma

Presidente promete 'cautela' na condução da economia e defende Banco Central

Petista afirma estar 'abrindo espaço' para a taxa básica de juros cair, apesar das pressões inflacionárias


A presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que o país deve aproveitar a crise internacional para reduzir suas elevadas taxas de juros, mas prometeu cautela na condução da economia.
Em discurso para cerca de 400 empresários, em São Paulo, ela defendeu o Banco Central das críticas que ele tem recebido no mercado desde que decidiu baixar a taxa Selic para 12%, em agosto.
"Estamos abrindo espaço para que o BC, diante da crise e da ameaça de deflação e depressão em algumas economias desenvolvidas, possa iniciar um ciclo cauteloso e responsável de redução da taxa básica de juros."
"Quanto mais a deflação ameaçar a economia internacional, quanto mais a situação financeira ficar grave, desta vez nós vamos aproveitar", afirmou a presidente.
Ela voltou a dizer que o país está mais preparado para enfrentar a crise externa do que em 2008, mas "não pode errar" na avaliação de seus efeitos sobre a economia.
"O Brasil não pode desta vez errar na avaliação do que vai acontecer aqui como repercussão do que está acontecendo lá fora. Não é admissível que, se de fato se configure uma recessão e um processo deflacionário no resto do mundo, nós aqui estejamos sem levar isso em conta."
Segundo Dilma, o governo espera novas quedas da taxa Selic, mas não pretende forçar sua redução. Muitos analistas do mercado acham que o BC se precipitou ao cortar os juros em agosto, porque a inflação continua muito alta.
"Esperamos que possamos iniciar um ciclo de redução da taxa básica. Obviamente, isso só será possível dadas as condições internas e externas. Nós não somos mais aqueles que fazem a política 'Ah, tem que baixar'. Vai baixar se for possível", disse.
Depois da saída da presidente, o ministro Guido Mantega (Fazenda) afirmou que o Brasil tem "munição" para baixar os juros, mas atribuiu a decisão apenas ao BC.
"Nós temos a taxa de juros mais elevada do mundo", disse. "Se for necessário, se o BC achar que deve, nós podemos reduzir a taxa de juros."
Mantega acrescentou que essa é a resposta preferida do governo para reagir à crise, porque "não custa nada". "Ao contrário, reduz a nossa principal dívida", disse.
Dilma participou de seminário sobre competitividade promovido pela revista "Exame", em São Paulo.

EFEITOS
Analistas do mercado atribuíram às declarações de Dilma mudanças nos contratos de juros negociados no mercado futuro, que já vinham recuando devido ao pessimismo com o cenário externo.
O mercado passou a apostar num corte de 0,75 ponto percentual na próxima reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) do BC, em outubro. No dia anterior, as apostas predominantes eram de redução de 0,5 ponto.
Devido à incerteza no cenário externo, os analistas preveem que as apostas dos investidores continuarão oscilando nos próximos dias.

Bernardo Mello Franco, Mariana Carneiro e Mariana Schreiber na Folha de São Paulo de 01/10/2011

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