quarta-feira, 20 de maio de 2015

Maioria dos assassinatos de mulheres acontece dentro de casa, diz relatório
O Brasil tem a 7ª maior taxa de morte de mulheres entre os 84 países pesquisados pelo Mapa da Violência de 2012. Dessas mortes, quase 69% ocorreram dentro da casa da vítima, ou seja, é bastante provável que boa parte desses assassinatos tenham sido cometidos por alguém muito próximo dessas mulheres, em geral, o parceiro.

De acordo com Lori Heise, 54, professora da London School of Hygiene and Tropical Medicine e especialista em violência doméstica, é quase sempre o parceiro da mulher quem a agride sexual ou fisicamente.
Anne Koerber/London School of Hygiene and Tropical Medicine
Lori Heise, 54, professora da London School of Hygiene and Tropical Medicine
Lori Heise, 54, professora da London School of Hygiene and Tropical Medicine

"Isso só não é verdade em países como a África do Sul e a Papua Nova Guiné, onde a violência é tamanha que a mulher tem mais chance de ser estuprada fora de casa", explica.

Heise já liderou estudos internacionais para a Organização Mundial da Saúde sobre o tema e está no Brasil para debater as causas e estratégias de combate à violência doméstica como uma das principais palestrantes do 1º Seminário Internacional Cultura de Violência contra a Mulher.

O evento, que ocorre nesta quarta (20) e quinta-feira (21), entre 10h e 18h, no Sesc Pinheiros, em São Paulo, é uma iniciativa do Instituto Vladimir Herzog e do Instituto Patrícia Galvão. Com inscrições esgotadas, os painéis e debates reunirão um elenco de especialistas nacionais e internacionais e poderá ser acompanhado, ao vivo, a partir das 10h, pelo site scovaw.org.

Heise explica que a violência contra a mulher pode tanto ser algo calculado —parte de um sistema de normas e crenças que justificam esse tipo de agressão— como pode ser apenas o caminho mais curto para "obter o que se quer ou colocar um ponto final em uma discussão" quando as coisas fugiram do controle.

Estudos conduzidos por ela e sua equipe em vários países do mundo questionaram mulheres e homens sobre a legitimidade da violência doméstica em casos como falta de cuidado com as crianças ou com a casa ou ainda suspeita de que a mulher tenha um amante.

"Surpreendentemente, há lugares em que o percentual de mulheres que acha legítima a agressão é maior que o de homens", conta. "Acho que isso se deve ao fato de as atitudes dos homens estarem, vagarosamente, mudando, mas as mulheres ainda não conseguiram percebê-las e elas superestimam o conservadorismo de sua comunidade."

De acordo com Heise, a violência de gênero é um tema relativamente novo na agenda internacional. "Para ter uma ideia, o primeiro tratado global sobre o tema, a Convenção sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres, de 1979, nem ao menos menciona a violência contra a mulher. Foi só no início dos anos 1990 que o tema entrou na agenda feminista internacional.

"Com isso, os estudos são todos dos últimos 10, 12 anos. É muito recente nosso entendimento desse fenômeno", diz.

Segundo ela, só muito recentemente está sendo pensada a prevenção, e não apenas o reconhecimento e a punição, desse tipo de agressão. "Hoje sabemos, por exemplo, que a educação em nível médio e superior se mostrou protetiva da mulher em relação à violência física e sexual. Ou seja, é muito bom colocar meninas nas escolas, mas, mais do que tudo, é preciso mantê-las lá por muito tempo." 

Reportagem de Mena Mena na Folha de São Paulo de 20/05/2015

http://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2015/05/1631246-maioria-dos-assassinatos-de-mulheres-acontece-dentro-de-casa-diz-relatorio.shtml

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