quarta-feira, 31 de outubro de 2018

Capitão ameaçou explodir bomba

RECORDAR É VIVER
Na sua entrevista ao Roda Viva, o deputado Jair Bolsonaro disse o seguinte: "Fui acusado por uma jornalista de ter um plano de botar bombas na Vila Militar. O Superior Tribunal Militar arquivou o processo."

Não foi bem assim. Em 1986, numa entrevista a uma repórter da revista Veja, Bolsonaro e outro oficial falaram em explodir uma bomba na adutora do Guandu, que abastece o Rio de Janeiro. Seriam apenas palavras, mas durante o encontro Bolsonaro fez um desenho primitivo, mostrando um trecho da adutora, o local da bomba, o percurso da fiação e a localização do detonador, com um reloginho.
Bolsonaro defendeu-se apresentando dois exames grafotécnicos inconclusivos. Dois outros, um deles da Polícia Federal, concluíram que a caligrafia era dele. O Conselho de Justificação informou que ele "mentiu durante todo o processo" e considerou-o culpado.

O processo foi ao Superior Tribunal Militar. Em 1988, o empate ocorrido nas perícias deu-lhe o benefício da dúvida, e ele foi absolvido por 8 votos contra 4. O capitão Bolsonaro deixou a tropa e foi para a reserva.

Esta reportagem está em vários órgãos de mídia e fui relembrada pelo Elio Gaspari em 05/08/2018
https://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2018/08/fux-matou-no-peito-e-fez-gol-contra.shtml

sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Cidadãos no lugar de sindicalistas de toga e beca

Em vez da inspiração em cangaceiros, há que ponderar a experiência de países civilizados

É velha de mais de 500 anos a desconfiança contra os cidadãos brasileiros. No sistema de Justiça, converter a aplicação da lei em algo sempre especializado, só compreensível pelos bacharéis, com fórmulas misteriosas e formulários labirínticos, é um dos grandes estratagemas do patrimonialismo rentável.

O populismo autoritário latino-americano sempre seguiu a mesma linha. Para fazer valer a desconfiança contra os cidadãos, mas manter as aparências, a clava do controle social do Judiciário - e da imprensa, outra inimiga gramsciana. Todo poder às milícias vestidas de movimento social. Os conselhos populares de justiça dos militantes, não dos cidadãos.

No Brasil, a reforma do Judiciário de 2004 foi a aliança parlamentar inaugural entre o patrimonialismo e o populismo autoritário. A definição dos Poderes de Estado - Executivo, Legislativo e Judiciário -, núcleo central da vida em sociedade, é motivo de discordâncias inconciliáveis, em todos os tempos, em todos os países. Por aqui houve unanimidade entre situação e oposição na aprovação da reforma do Judiciário. Hoje as páginas policiais registram que a explicação pode estar no comércio ecumênico de algumas lideranças parlamentares da situação e da oposição.

Antes de chegar a essa reforma, a primeira do governo Lula, contra o último Poder de Estado ainda livre - isso diz muito sobre o desejo desmedido de “tomada do poder” -, alguns movimentos importantes foram feitos no sistema de Justiça. O governo do presidente Lula criou a Secretaria de Reforma do Judiciário dentro do Poder Executivo, órgão inconstitucional de intervenção desabrida de um Poder de Estado sobre outro.

A investida veio com o famoso discurso presidencial de abril de 2003, de denúncia da caixa-preta do Judiciário, com a citação inspiradora de um cangaceiro: “Como dizia Lampião em 1927, neste país quem tiver 30 contos de réis não vai para a cadeia. Ainda em muitos casos prevalece exatamente isso”.

Ao lado da criação inconstitucional da Secretaria da Reforma do Judiciário, outro movimento importante foi inocular o assembleísmo corporativo-sindical não apenas na Procuradoria-Geral da República, mas também nos cargos estratégicos do Ministério Público Federal, em todo Brasil. Os cargos de liderança pública da Nação - presidente da República, ministros do Supremo Tribunal Federal e procurador-geral da República, entre outros - são submetidos a requisitos estritos, segundo a liturgia cerrada da democracia.

No dia da eleição, o cidadão não pode escrever no voto que seu candidato a presidente da República, para a escolha dos ministros do Supremo Tribunal Federal, deverá exigir condições estranhas ao ritual da Constituição. Muito menos poderá fazê-lo o próprio presidente da República. Trata-se, é elementar, de questão indisponível.

Não obstante, uma entidade de classe privada, a Associação Nacional dos Procuradores da República, resolveu fazer lista tríplice censitária por meio da qual apresentaria três “eleitos” só por seus associados. Em junho de 2003 o presidente lula nomeou procurador-geral da República o “mais votado” na lista tríplice inconstitucional. Em setembro de 2003 o procurador-geral da República baixou uma portaria para regulamentar a “eleição” para os cargos estratégicos da instituição em todo Brasil.

Nos Estados, em sistema de chapas, como nos sindicatos, o procurador-chefe, o procurador eleitoral e o procurador dos Direitos do Cidadão passaram a ser eleitos sem nenhum critério. São três posições estratégicas. A primeira tem o poder administrativo organizacional. A segunda, atribuição sobre a classe política. E a terceira torna viáveis ações relevantes contra o poder econômico.

Assim foi feita a verticalização nacional do poder no Ministério Público Federal, da cúpula, em Brasília, até os cargos estratégicos nos Estados. Contra a Constituição. Contra a lei. Por uma portaria.

Quebrado o cristal da institucionalidade, com a conivência ou o adesismo das lideranças do sistema de Justiça, veio a reforma do Judiciário. Nela, o cidadão foi lembrado para pagar a conta de quatro conselhos de Justiça - o Brasil é o único país do mundo a sustentar tal estrutura.

A expansão de cargos públicos, porém, não ficou restrita a isso. O orçamento do Poder Judiciário foi direcionado para sustentar a nova elite sindical judiciária. É oportuno lembrar que o Judiciário brasileiro é um dos mais caros do mundo.

A estrutura gigantesca e dispendiosa serve ao conforto da nova elite sindical surgida com a reforma do Judiciário, mas a magistratura séria e trabalhadora continua a enfrentar o trabalho pesado, em condições adversas, sob intimidação difusa.

A sociedade precisa jogar as luzes da democracia sobre a reforma do Judiciário do patrimonialismo com o populismo autoritário. A Secretaria da Reforma do Judiciário já foi extinta, no curso da agonia do governo Dilma Rousseff.

A Procuradoria-Geral da República deve ser direcionada aos procuradores fiéis à República, não ao corporativismo sindical. Desfazer o grave prejuízo nos cargos estratégicos do Ministério Público Federal é imprescindível.

Uma emenda constitucional deve iniciar a reforma cidadã da administração da Justiça. Além de resgatar a magistratura séria e trabalhadora e acabar com o sindicalismo judiciário, o Congresso Nacional precisa dar voto de confiança ao cidadão e ampliar a instituição do júri, para matéria cível inclusive.

Em vez de buscar a inspiração em cangaceiros, devemos ponderar a experiência de outros países civilizados, onde prevaleceu a compreensão de que o júri de cidadãos é poderosa escola de civismo e instrumento de diminuição dos custos do sistema de Justiça.

O sujeito central do sistema de Justiça deve ser o cidadão, não os sindicalistas de toga e de beca.

Texto de Fávio Prieto de Souza, desembargador federal (TRF-3), diretor conselheiro internacional da
Internacional Association of Tax Judges, n'O Estado de São Paulo de 26/10/2018

https://www.blogger.com/blogger.g?blogID=4036561524199564942#editor/target=post;postID=7161094888654345538
A Erika Gorga escreveu a respeito deste texto 
SOBRE O SINDICALISMO DO PODER JUDICIÁRIO SEGUNDO O DES. FÁBIO PRIETO DE SOUZA
O Desembargador Fábio Prieto critica, no Estado de S. Paulo de hoje, o Judiciário:
1) Critica a eleição da lista tríplice do Ministério Público para Procurador Geral da República. Diz que a eleição está ocorrendo SEM CRITÉRIOS TÉCNICOS e aclamando os procuradores que ocuparam a máquina do Ministério Público, com a mesma perversão dos sindicatos. Diz que a eleição é contra a Constituição e contra a Lei.
2) Diz que o Judiciário brasileiro é um dos mais caros do mundo e diz que "o orçamento do Poder Judiciário foi direcionado para sustentar A NOVA ELITE SINDICAL JUDICIÁRIA."
3) Diz que magistratura séria e trabalhadora está refém da elite sindical judiciária e do corporativismo sindical.
4) Defende a expansão do sistema de júri em varas cíveis (prática do direito americano, ou seja de "common law") para religar a magistratura ao cidadão comum.



HADDAD E O KIT GAY

Durante os 25 anos em que tive atuação partidária, colaborei ou coordenei diversos planos de governo para eleições estaduais gaúchas e pleitos municipais de Porto Alegre. Conheço bem o volume de trabalho exigido e a seriedade com que se executam as muitas consultas, se organizam os grupos técnicos, se desenvolvem as rodadas de reunião e são elaborados os documentos finais.

O plano de governo do PT para esta eleição presidencial foi coordenado por Fernando Haddad a pedido de Lula. À época, este tentava fazer com que sua impossível candidatura descesse pelo esôfago do ordenamento jurídico e das instituições da República. Não passou. Assim, o plano que fora feito para Lula acabou sendo usado pelo seu autor, que o formalizou junto ao TSE. De Haddad para Haddad.

O atual candidato, dito “o Poste”, tem em seu currículo, além de alguns livros de cunho esquerdista sobre socialismo, marxismo, regime soviético e teoria da linguagem, uma gestão desastrosa no Ministério da Educação, marcada pelo aparelhamento de sua burocracia e das universidades federais. Poucos titulares do MEC dispuseram de tanto tempo no comando da pasta. Foram sete longos anos! E a decadência da educação brasileira é de conhecimento geral. Os subsequentes quatro anos de Haddad como prefeito de São Paulo lhe conferiram troféus de demérito, entre eles o de péssimo prefeito, certificado pelo abandono do eleitorado na tentativa de reeleição.

Devo à presidente Dilma a melhor lembrança que guardo da passagem de Haddad pelo Ministério de Educação. Foi quando ela mandou o órgão arquivar o projeto do kit gay, inteiramente desenvolvido na gestão do ministro petista. A tarefa de comandá-lo foi atribuída à sua Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização e Diversidade do MEC (creia, isso ainda existe!).

Com recursos do Fundo Nacional do Desenvolvimento da Educação e uma faina produtiva que se prolongou durante quatro anos, ao custo de R$1,9 milhão, foram elaboradas as peças que integravam o kit. Quando chegaram ao conhecimento público (há um vídeo explicativo aqui), constatou-se que seu intuito era fazer nas salas de aula o que as novelas da Globo introduzem, diariamente, em tantos lares brasileiros: promoção do homossexualismo. Isso, claro, nada tem a ver com a necessária prevenção da discriminação.

Pois o assunto votou à tela no plano de governo do ex-ministro. Ali estava com todas as letras, num eufemismo tipicamente petista, o compromisso do candidato com “políticas de promoção da orientação sexual e identidade de gênero”. Nenhum veículo da grande imprensa – ocupada em desancar o incômodo Bolsonaro – deu qualquer destaque aos vários pontos do programa de Haddad que o próprio candidato, quando tornados públicos pelas redes sociais, se apressou a modificar junto ao TSE! Entre eles, esse. Flagrado pelos leitores, Haddad correu para alterar o teor de seu compromisso e passou a falar em “políticas de combate à discriminação em função da orientação sexual e identidade de gênero”.

Mas todo mundo sabe o que o PT realmente sempre quis e continua querendo, não é mesmo?

Texto de Percival Puggina (73), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de dezenas de jornais e sites no país. Autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia; Pombas e Gaviões; A tomada do Brasil. integrante do grupo Pensar+.

Copiado do blog Diário do Poder
https://diariodopoder.com.br/haddad-e-o-kit-gay/

quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Minas e o Brasil merecem o Novo

O 'café com leite estragado' PT-PSDB precisa acabar
As urnas no primeiro turno mostraram que os brasileiros e nós, mineiros, queremos mudanças radicais na política. Se a reforma política não foi feita adequadamente no Congresso, no voto dos parlamentares, a população brasileira mostrou que quer o novo, com suas escolhas nesta eleição.

A lógica fisiológica aproximou o PSDB do PT, dois partidos que se alternaram no poder tanto em Minas como no Brasil, se aliando às outras siglas que giram em torno desse sistema em que quem paga mais leva o apoio político. O resultado dessa política do "café com leite estragado" está aí: desemprego de milhões de pessoas.

Hoje, não só a população mineira, como a de outros estados, quer novos ares na política. Todos estão fartos das mordomias dos políticos, da insegurança pública, da deterioração dos serviços de saúde e educação e da redução do poder de compra da população. Sem contar a alta carga tributária, cuja maior parte está jogada nas costas dos empreendedores e do setor produtivo, que pagam a conta da velha política.

É urgente uma nova e eficiente forma de gestão pública, que priorize o equilíbrio das contas. É fundamental reduzir gastos com responsabilidade e austeridade, cortar com rigor cargos de indicação política e otimizar a estrutura administrativa com uma reforma que enxugue o tamanho da máquina pública, sem, no entanto, reduzir o atendimento às demandas da sociedade.

Temos presenciado em Minas muitas notícias falsas sobre nossa proposta de governo. Ao contrário do que estão dizendo, nunca afirmamos que passaríamos o monopólio estatal para o privado.

Nossa proposta é estabelecer parcerias público-privadas, pois o Estado sozinho, que está quebrado, não tem como arcar com todos os investimentos que são necessários. Vamos enfrentar velhos problemas com novas soluções!

A verdade é que, antes de falarmos de privatizações, concessões e outras parcerias público-privadas, precisamos resgatar a valorização do nosso Estado. Isso começa pela recuperação desse cenário de calamidade financeira e desrespeito com o funcionalismo, que vem recebendo salários parcelados.

Precisamos renegociar a dívida de Minas Gerais com a União, e acredito que a renovação também no governo federal vá permitir que Minas --assim como outros estados em situação de falência-- tenha condições de renegociar suas dívidas em âmbito federal.

O momento exige um jeito diferente de fazer política e somente pessoas com ideias novas têm condições de fazê-lo, sem o toma lá dá cá da velha política.

Os políticos de sempre --alguns, inclusive, "demitidos" nas urnas pelos eleitores no último dia 7-- não resolverão os problemas que eles mesmos criaram. Eles são o próprio significado do problema: corrupção, ineficiência, apadrinhamento.

Somos do Novo, mas não somos novatos em gestão. Queremos um governo que jogue no time do cidadão e não contra ele. Tenho 30 anos de experiência como gestor, com formação pela Fundação Getulio Vargas.

Eu me formei numa sexta-feira e, na segunda, já estava trabalhando.

Na minha trajetória, fui cobrador, frentista, balconista, estoquista, caixa, comprador, vendedor, analista de marketing, analista comercial, gerente. Nossa equipe transformou quatro lojas em mais de 450 lojas, gerando emprego e renda para mais de 5.000 pessoas.

Temos de inovar o jeito de governar. Por isso, o Brasil e Minas merecem o Novo. Acredito que a meritocracia e a eficiência de gestão no poder público sairão vencedores nas urnas neste domingo (28). Vamos retomar o orgulho de sermos mineiros.

Texto de Romeu Zema, candidato ao governo de Minas pelo Novo; empresário, formado em administração de empresas (FGV) na Folha de São Paulo de 24/10/2018

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/10/minas-e-o-brasil-merecem-o-novo.shtml

domingo, 21 de outubro de 2018

Controles internos na Petrobras? Existiam e foram desmontados pelo PT

Controles internos?
Eles existiam e foram deliberadamente desmontados pelas lideranças da Petrobrás

Acho que como muitos brasileiros posso ser desculpado por estar irritado com a política. O período eleitoral parece ter sido desenhado para ser um desfile de platitudes, promessas e inconsistências. Mesmo consciente desse cenário, minha irritação atingiu o ápice ao ler declarações de um candidato de que nossas empresas estatais tiveram problemas porque “faltou controle interno”.
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Tive o privilégio de servir no Conselho de Administração da Petrobrás entre 2013 e 2015. Quando assumi o cargo ainda não havia sido deflagrada a Operação Lava Jato e quando saí a empresa reconhecia perdas de mais que R$ 50 bilhões em seu balanço - que nem assim contou com meu voto favorável.

Ao assumir, a primeira coisa que chamou a minha atenção foi a pletora de políticas e controles internos na companhia. Não havia uma só atividade citada nos manuais de boas práticas de governança que não estivesse documentada e controlada. Se há alguma coisa que não faltava na Petrobrás era controle interno. Mas a Petrobrás só tinha boa governança para inglês ver. A partir da gestão de José Sergio Gabrielli teve início um processo de desmonte deliberado dos gatilhos de governança, na prática tornando inócuos os controles existentes.

A companhia tinha um conselho de administração bovino. Todos os membros indicados pelo governo votavam em uníssono a favor das propostas do controlador. O comitê de auditoria, quando começou a fazer perguntas incômodas, foi obliterado para ser mais cordial, eliminando os independentes.

O modelo da diretoria executiva colegiada foi concebido na gestão Reichstul, com o objetivo de impedir a criação de feudos na companhia. Numa empresa de complexidade crescente, a instrução das matérias era de extrema importância. Para tanto existiam os chamados comitês de negócios, compostos por gerentes executivos de todas as diretorias relevantes. Assim, se eu sou o diretor da área A, posso votar o assunto da área B porque ele terá sido examinado por um grupo de executivos experientes, inclusive da minha área.

Um dos primeiros passos da destruição da governança da Petrobrás foi a eliminação prática desses comitês. Como consequência, os diretores começaram a aprovar as matérias dos seus colegas na base da confiança, criando de fato os feudos que o desenho da governança tentava impedir.

Quando entendi o sistema indaguei a um diretor como ele aprovava matérias dos seus colegas em valores bilionários sem se aprofundar nos temas. Ele respondeu: “Conselheiro, esta empresa investe 300 milhões de dólares por dia… Se formos olhar cada matéria em detalhe, vamos paralisar a companhia”. Paralisado fiquei eu. As atas da diretoria eram desprovidas de registros úteis para evidenciar qualquer debate relevante.

Outra ação proposital dizia respeito à política de alçadas. O estatuto da Petrobrás estabelecia que os limites de alçada deveriam ser determinados anualmente pelo conselho. Logo ao assumir verifiquei que a última deliberação a respeito havia sido dez anos antes!

O estatuto mandava determinar anualmente os valores dos incisos relevantes, “especialmente” cinco deles . Não constava na lista do “especialmente” o inciso que tratava de transações com partes relacionadas. E a administração considerava que, como não estavam na lista do “especialmente”, não havia necessidade de determinar limites! Em outras palavras, para incorporar uma subsidiária inoperante (e, portanto, imaterial), convocava-se o conselho. Mas para o leilão de Libra, que envolvia investimentos de bilhões, o conselho não era chamado.

No desenho da política de alçadas, estabeleceram valores para quase todas as linhas, exceto aquelas incluídas no Plano de Negócios e Gestão (PNG). Esse plano era apresentado anualmente ao conselho, após um belo PowerPoint. Como resultado, aprovava-se um plano de investimentos de US$ 50 bilhões por ano. E a diretoria ainda tinha o poder de remanejar verbas. Isto é, tratava-se de um cheque em branco de US$ 50 bilhões para a diretoria - e a partir desse momento o conselho não tinha mais ingerência alguma sobre a alocação de capital.

Tampouco era possível ao conselho enxergar os desastres que se avizinhavam nos grandes investimentos. Não havia reportes do seu andamento ao conselho. Apenas no final de 2014, depois de muito esforço, o conselho recebeu pela primeira vez um book sobre o andamento físico-financeiro dos investimentos. Mas aí já era tarde demais...

A lista de problemas continua, e seguramente não caberia neste espaço. Sempre com a mesma temática: controles formalmente existentes, mas operados de maneira proposital para não serem eficientes. Um líder sindical comandando a área de recursos humanos, desenhando acordos que produziam perdas bilionárias na justiça. Um ouvidor-geral que fora assessor de um importante ministro (hoje condenado pela Justiça), assegurando que nenhum funcionário teria coragem de utilizar o canal para fazer uma denúncia sobre corrupção. Relatórios internos que demonstravam a inviabilidade de alguns investimentos, ignorados. Demonstrações contábeis mentirosas feitas com a cumplicidade de quem deveria zelar por sua integridade. Cegueira deliberada em todas as áreas.

Fiz menção a esses problemas em depoimento à CPI da Petrobrás, em 2015. Alguns dos assuntos dormitam nos procedimentos internos do Tribunal de Contas da União e da Comissão de Valores Mobiliários, sem que tenha havido responsabilização adequada até hoje.

Por tudo isso, sr. candidato, é importante que se diga que não faltaram controles internos à Petrobrás. Eles existiam e foram deliberadamente desmontados pelas lideranças de então. Ignorar esse fato é má-fé - ou praticamente confessar que, na hipótese de retorno daquelas lideranças, o pesadelo voltará.

Texto de Mauro Rodrigues da Cunha, que foi membro do Conselho de Administração da Petrobras de Abril de 2013 a Abril de 2015 n'O Estado de São Paulo de de 20/09/2018
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,controles-internos,70002555116

Estamos ainda distantes do Brasil que queremos

Voto contra o PT, mas não em algo em que acredito
A disputa eleitoral chega ao fim no próximo domingo.


O Estado brasileiro, ao longo dos anos, foi aparelhado para atender aos interesses da classe política, e o cidadão, que paga as contas, ficou em segundo plano. Ao mesmo tempo que cresceu em gastos, na arrecadação de impostos e na interferência na vida das pessoas, o Estado apresentou um desempenho medíocre na prestação dos serviços essenciais. Nesse quadro disfuncional, a eleição do próximo presidente da República é de extrema importância para todos.

Infelizmente, o Partido dos Trabalhadores, que deveria ter seu registro no mínimo questionado, conseguiu novamente pautar o debate eleitoral. Utilizou a estratégia de sempre: dividir a sociedade brasileira para se fortalecer.

Assim, mesmo em um cenário adverso, obteve resultados importantes: manteve a maior bancada na Câmara, com 56 deputados, apresentou a menor queda na representatividade entre os seis maiores partidos e levou ao segundo turno um candidato que, há dois anos, como prefeito de São Paulo, não conseguiu esse feito nas eleições municipais. O PT se prepara, assim, para ser a principal força opositora ao provável governo de Jair Bolsonaro.

A grande maioria dos eleitores caiu na armadilha petista de polarizar a disputa eleitoral antes do tempo e discutir apenas o "Ele não" X "PT não". O resultado não poderia ser bom. Caminhamos para ter um governo cujos planos e capacidade de execução desconhecemos, mas com a sensação equivocada de que valeu a pena, pois o "PT foi derrotado".

Nossas elites, com raras exceções, junto com a mídia tradicional, mais uma vez falharam. Não assumiram qualquer protagonismo na defesa de um projeto de longo prazo para o país. Prevaleceu a postura imediatista, omissa e muitas vezes oportunista. Essa conduta explica em boa parte a situação em que nos encontramos hoje, apesar de todo o potencial que temos como nação.

O roteiro para a construção de um país próspero e sustentável, tendo como exemplo nações desenvolvidas, deve ser outro.

Obviamente, ninguém que tenha um mínimo de informação e coerência pode aceitar a existência de um partido como o PT. Uma organização que saqueou os cofres públicos, com esquemas gigantescos de corrupção, que aparelhou o Estado para sua perpetuação no poder e que, com medidas econômicas totalmente equivocadas, causou a pior recessão da nossa história. E ainda, apesar de inúmeros e relevantes membros condenados pela Justiça, se recusa a admitir os seus erros, deixando claro que estaria disposta a fazer tudo novamente.

Entretanto, a saída do PT do poder de forma consistente só acontecerá com a nossa evolução como sociedade. Para isso, é fundamental o surgimento de novas lideranças que pensem nos seus filhos e netos morando no Brasil, que assumam responsabilidades e desejem deixar um legado para o país.

Precisamos também mudar o eixo das discussões de pessoas para ideias. Deveríamos ter discutido: "socialismo não X capitalismo sim", "privilégios para políticos e partidos não X ajuda a quem mais precisa sim", "empresas e monopólios estatais não X livre mercado e concorrência sim", "intervenção estatal não X segurança do indivíduo e da sua propriedade sim". Enfim, um modelo de Estado em que o cidadão seja protagonista, que garanta educação e liberdade a todos os brasileiros para que possam trabalhar, empreender e desenvolver seu potencial.

Neste processo eleitoral, fomos, mais uma vez, guiados pelo medo em busca de um salvador da pátria. Aprendemos pouco com nossos erros e, assim, ficamos mais distantes do Brasil que queremos.

Domingo voto mais uma vez contra o PT, mas, como das vezes anteriores, não é em um projeto em que acredito e que, portanto, defenda ou apoie. Continuarei trabalhando para ajudar na construção de um país admirado, de uma sociedade sem divisões, com oportunidades para todos e onde possamos depender menos da política. Foi para isso que entrei na política.

Texto de João Amoêdo, engenheiro e administrador de empresas; um dos fundadores do partido Novo e candidato à Presidência da República pela legenda em 2018 na Folha de São Paulo de 21/10/2018

https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2018/10/estamos-ainda-distantes-do-brasil-que-queremos.shtml

sexta-feira, 19 de outubro de 2018

DESESPERO PETISTA

Desespero
Consciente de que será difícil reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL), o PT decidiu fazer campanha para deslegitimar a eventual vitória do oponente, qualificando-a como fraudulenta

Consciente de que será muito difícil reverter a vantagem de Jair Bolsonaro (PSL) na disputa pela Presidência da República, o PT decidiu partir para seu "plano B": fazer campanha para deslegitimar a eventual vitória do oponente, qualificando-a como fraudulenta. É uma especialidade lulopetista.

A ofensiva da tigrada está assentada na acusação segundo a qual a candidatura de Bolsonaro está sendo impulsionada nas redes sociais por organizações que atuam no "subterrâneo da internet", segundo denúncia feita anteontem na tribuna do Senado pela presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann, que lançou o seu J'accuse de fancaria.

"Eu acuso o senhor (Bolsonaro) de patrocinar fraude nas eleições brasileiras. O senhor é responsável por fraudar esse processo eleitoral manipulando e produzindo mentiras veiculadas no submundo da internet através de esquemas de WhatsApp pagos de fora deste país", afirmou Gleisi, que acrescentou: "O senhor está recebendo recursos ilegais, patrocínio estrangeiro ilegal, e terá que responder por isso. (...) Quer ser presidente do Brasil através desse tipo de prática, senhor deputado Jair Bolsonaro?"

Como tudo o que vem do PT, nada disso é casual. A narrativa da "fraude eleitoral" se junta ao esforço petista para que o partido se apresente ao eleitorado - e, mais do que isso, à História - como o único que defendeu a democracia e resistiu à escalada autoritária supostamente representada pela possível eleição de Bolsonaro.

Esse "plano B" foi lançado a partir do momento em que ficou claro que a patranha lulopetista da tal "frente democrática" contra Bolsonaro não enganou ninguém. Afinal, como é que uma frente política pode ser democrática tendo à testa o PT, partido que pretendia eternizar-se no poder por meio da corrupção e da demagogia? Como é que os petistas imaginavam ser possível atrair apoio de outros partidos uma vez que o PT jamais aceitou alianças nas quais Lula da Silva não ditasse os termos, submetendo os parceiros às pretensões hegemônicas do demiurgo que hoje cumpre pena em Curitiba por corrupção?

Assim, a própria ideia de formação de uma "frente democrática" é, em si, uma farsa lulopetista, destinada a dar ao partido a imagem de vanguarda da luta pela liberdade contra a "ditadura" - nada mais, nada menos - de Jair Bolsonaro. Tudo isso para tentar fazer os eleitores esquecerem que o PT foi o principal responsável pela brutal crise política, econômica e moral que o País ora atravessa - e da qual, nunca é demais dizer, a candidatura Bolsonaro é um dos frutos. Como os eleitores não esqueceram, conforme atestam as pesquisas de intenção de voto que expressam o profundo antipetismo por trás do apoio a Bolsonaro, o PT deflagrou as denúncias de fraude contra o adversário.

O preposto de Lula da Silva na campanha, o candidato Fernando Haddad, chegou até mesmo a mencionar a hipótese de "impugnação" da chapa de Bolsonaro por, segundo ele, promover "essa campanha de difamação tentando fraudar a eleição".

Mais uma vez, o PT pretende manter o País refém de suas manobras ao lançar dúvidas sobre o processo eleitoral, assim como já havia feito quando testou os limites legais e a paciência do eleitorado ao sustentar a candidatura de Lula da Silva. É bom lembrar que, até bem pouco tempo atrás, o partido denunciava, inclusive no exterior, que "eleição sem Lula é fraude".

Tudo isso reafirma, como se ainda fosse necessário, a natureza profundamente autoritária de um partido que não admite oposição, pois se julga dono da verdade e exclusivo intérprete das demandas populares. O clima eleitoral já não é dos melhores, e o PT ainda quer aprofundar essa atmosfera de rancor e medo ao lançar dúvidas sobre a lisura do pleito e da possível vitória de seu oponente.

Nenhuma surpresa: afinal, o PT sempre se fortaleceu na discórdia, sem jamais reconhecer a legitimidade dos oponentes - prepotência que se manifesta agora na presunção de que milhões de eleitores incautos só votaram no adversário do PT porque, ora vejam, foram manipulados fraudulentamente pelo "subterrâneo da internet".

Editorial d'O Estado de São Paulo de 19/10/2018
https://opiniao.estadao.com.br/noticias/geral,desespero,70002553816

domingo, 7 de outubro de 2018

Tempo gasto em frente a telas afeta desenvolvimento de criança, diz estudo

Pesquisa mostra que, independentemente do conteúdo assistido, uso de celular e televisão deve ser inferior a 2 horas por dia para não prejudicar linguagem, memória e atenção vICIO
Daniel, de 10 anos, passa no máximo uma hora e meia por dia em frente às telas da televisão ou do computador. Mas nem sempre foi assim. No ano passado, chegava a gastar oito horas diárias na TV – tempo que, segundo a mãe, o deixava agitado e desconcentrado. Quando percebeu que a situação tinha causado impacto até no desempenho escolar, a dona de casa Laís Corrêa, de 31 anos, reduziu o acesso aos equipamentos.

“Ele ficava agitado quando assistia a vídeos. Isso refletia no comportamento, diminuía a criatividade”, diz a mãe. A diminuição no horário veio acompanhada de resmungo e de “greve”. “Ele disse que não ia fazer mais nada. Mas a criança encontra alguma coisa. Agora, virou um ‘cientista maluco’, pega coisas quebradas, sai abrindo, explorando”, diz Laís, que pretende replicar as novas regras com a caçula Ananda, de 2 anos.

O tempo que as crianças passam em frente às telas nem sempre é calculado pelas famílias, mas desperta a atenção de cientistas e médicos. Uma pesquisa recente mediu o número de horas que meninos e meninas de 8 a 11 anos ficam em celular, TV e videogames. O estudo, publicado na revista Lancet Child & Adolescent Health, concluiu que só 37% das 4,5 mil crianças americanas analisadas usam os aparelhos por até duas horas diárias.

Os cientistas também mediram o desenvolvimento cognitivo das crianças em áreas como linguagem, memória e atenção – então, cruzaram com dados sobre tempo de tela. “Independentemente do conteúdo, limitar o tempo recreativo de tela de uma criança a menos de duas horas está positivamente associado à cognição”, disse ao Estado Jeremy Walsh, do Hospital Infantil do Leste de Ontário e um dos autores do estudo.

A pesquisa não estabeleceu relação de causa entre cognição e o uso das telas, mas, segundo especialistas, está cada vez mais claro o impacto do abuso dos aparelhos no desenvolvimento. “A criança precisa interagir com objetos reais (brinquedos e pessoas)”, diz a pesquisadora da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) Ana Lúcia Meneghel, que começou a estudar o tema após ver uma cena que a intrigou. “Uma criança em frente a um aquário mexia os dedinhos para o peixe aumentar.” O exagero, diz, pode causar atraso na construção de noções de localização, medida e estimativa.

Parâmetros. Se o excesso é prejudicial, os pais se perguntam: quanto e como controlar? Quando Pedro ganhou, aos 9 anos, um celular, a comerciante Fabiana Teixeira, de 39, achou que o aparelho seria um estímulo à criatividade. Com o tempo, notou mudanças no comportamento do filho. “Ele queria ficar mais recluso no quarto, ficou mais introvertido.” Agora, Fabiana evita o acesso contínuo. “Não pode ficar por mais de uma hora”, avisa.

Segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP), crianças da idade de Pedro não devem usar as telas por mais de duas horas diárias. Já para as de 2 a 5 anos, o rigor é maior: até uma hora. E bebês com menos de 2 anos não deveriam ter contato.

“Quanto mais tempo de tela, menos exposta a criança vai estar a outras experiências importantes para construir sua arquitetura cerebral”, diz Liubiana de Araújo, presidente do Departamento Científico da Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento da SBP.

Para Andréa Jotta, do Laboratório de Estudos de Psicologia e Tecnologias da Informação e Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), os equipamentos não são prejudiciais em si, mas uma “ferramenta a mais para lidar com o mundo”, que exige acompanhamento dos pais. “Eles têm de educar dentro e fora, acompanhar o crescimento da criança com as telas.”

Embora nem sempre signifique vício, o tempo de tela é um alerta para a dependência digital. Essa é uma das conclusões de um estudo realizado na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foram aplicados questionários a 6.698 usuários do Facebook com perguntas como “Com que frequência você tenta diminuir o tempo que fica na internet e não consegue?”.

O levantamento mostrou que uma em quatro pessoas faz uso abusivo da internet e 4,1% chegaram à dependência - quando trocam a realidade concreta pela virtual e passam a ter desprezo pela vida real. Entre os dependentes, a maioria passa mais de 10 horas conectada.

De acordo com Eduardo Guedes, autor do estudo e pesquisador do Instituto de Psiquiatria da UFRJ, pessoas de até 18 anos são as que mais fazem uso abusivo ou dependente, puxando para cima as estatísticas sobre vício digital. “Quanto menor a idade, maior a dependência”, diz ele, que também faz parte do Instituto Delete, especializado em detox digital.

Tratamento
Outro núcleo de tratamento, ligado ao Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), recebe adolescentes e quer expandir o atendimento às crianças. O grupo, que funciona como um Alcoólicos Anônimos da vida digital, faz reuniões de uma hora e meia por 18 semanas. “Tentamos mostrar que existem outras atividades que não a tecnologia”, diz Cristiano Nabuco, coordenador do Núcleo de Dependências Tecnológicas do HC.

Segundo Nabuco, o problema atinge todas as idades, mas preocupa ainda mais entre crianças e adolescentes. “Embora essa população possa ter consciência do que seria adequado ou ideal, não tem força biológica para exercer o controle.” Irritação, falta de paciência e frustração quando os eletrônicos são retirados, afirma, são indicativos de que o tempo saudável de uso acabou.

PRESTE ATENÇÃO

1. Tempo. Independentemente do tipo de tela, fique atento ao tempo de exposição de seu filho. “A TV abafa o pensamento consciente porque as imagens se sucedem muito rapidamente. Não dá para pensar em cada uma”, diz Valdemar Setzer, do Departamento de Ciência da Computação da USP.

2. Diretrizes. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda que crianças de até 2 anos não tenham contato com os equipamentos. Para crianças entre 2 e 5 anos, a recomendação é de uso máximo de uma hora diária e, para as maiores de 6, até duas horas. As diretrizes são semelhantes às da Associação Americana de Pediatria.

3. Horário. Mesmo dentro da cota, evite o contato pouco antes do sono ou durante as refeições. A tela dificulta que o cérebro receba estímulos sobre sabor, textura. “E a noção de saciedade fica prejudicada”, diz Liubiana Araújo, da SBP.

4.Tecnologia a seu favor. Para ajudar no controle de tempo, já existem aplicativos que conectam o celular dos pais ao equipamento dos filhos e indicam o número de horas que estão conectados.

5. Participação. Nos momentos de acesso aos equipamentos, esteja junto - o tempo nas telas não precisa ser solitário. Jogar videogame com as crianças ou comentar os filmes amplia as interações, importantes para o desenvolvimento infantil.

6. Dê o exemplo. Pais hiperconectados têm mais dificuldade em propor aos filhos que eles fiquem sem as telas. Experimente se desligar do celular por algumas horas.

7. Zonas livres. Crie em casa áreas sem aparelhos - como o quarto das crianças ou a sala de jantar - e momentos de “detox”. Há famílias que já têm caixinhas, onde deixam os celulares quando chegam do trabalho ou da escola.

8. Sinais de excesso. Caso perceba um uso abusivo, procure ajuda psicológica. Falta de concentração, irritação e impaciência podem ser sinais de excesso. Ligado à USP, o site dependenciadeinternet.com.br reúne mais informações e dicas sobre vício tecnológico.

Reportagem de Júlia Marques e Caio Faheina n'O Estado de S. Paulo

https://saude.estadao.com.br/noticias/geral,tempo-gasto-em-frente-a-telas-afeta-desenvolvimento-de-crianca-diz-estudo,70002535761

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Preservar meio ambiente pode dar lucro

Mecanismos para compensar financeiramente quem preserva, como as Cotas de Reserva Ambiental, começam a ser adotados em grande escala

Aprovado há seis anos, o novo Código Florestal começa a transformar a preservação do meio ambiente em dinheiro no bolso do produtor rural. Após um longo debate sobre a constitucionalidade e a validade de dispositivos da lei, o Supremo Tribunal Federal (STF) concluiu o julgamento em fevereiro e, agora, finalmente alguns instrumentos para compensar financeiramente quem preserva, começam a ser adotados em maior escala.
Entre os instrumentos, estão o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), as Cotas de Reserva Ambiental (CRAs) e os títulos verdes. Todos eles se tornaram possíveis graças ao Cadastro mbiental Rural (CAR), que deve ser encerrado em dezembro.
Estudo mostra que o setor produtivo “ganhou” pelo menos 41 milhões de hectares de terras há cinco anos, quando foi modificada a principal lei que rege a proteção da natureza em áreas privadas, o Código Florestal

Até o dia 8 deste mês, por exemplo, donos de reservas particulares com planos de manejo no Paraná podem se inscrever no edital do PSA e pleitear valores que vão de R$ 10 mil a R$ 50 mil por ano. “Todos os Estados passam por dificuldades e o Paraná não é diferente, mas os proprietários que voluntariamente têm o ônus da preservação merecem ser premiados”, diz Sueli Ota, coordenadora de biodiversidade e florestas da Secretaria de Meio Ambiente daquele Estado. O recurso de R$ 1,2 milhão, proveniente do Fundo Estadual do Meio Ambiente, será destinado também ao monitoramento e à orientação dos proprietários por um grupo técnico, criado especificamente para o projeto.

Apesar de a verba pública ser quase simbólica – e ainda restrita a poucos Estados e municípios –, os donos de terras beneficiados podem, ao mesmo tempo, fazer parte de outro mercado mais atraente: o das cotas de reserva. Títulos a serem negociados em Bolsa, são emitidos por quem tem mais reservas florestais do que exige a lei. Quem tem menos, compra esses papéis e compensa o passivo ambiental. “É o custo mais eficiente para quem tem déficit de áreas preservadas regularizar sua situação: não é necessário abrir mão de áreas produtivas e ainda é possível ajudar uma região a ser preservada”, diz Plínio Ribeiro, presidente da Biofílica Investimentos Ambientais, especializada na gestão e conservação de florestas. Além das cotas, os produtores com déficits de reservas podem investir em sua restauração.

Demanda
Segundo Ribeiro, o passivo ambiental das propriedades rurais hoje no País gira em torno de 20 a 25 milhões de hectares. Com o encerramento do CAR, a lei exige que os produtores rurais compensem seus déficits ambientais, e a demanda pelas cotas tem crescido. Grandes frigoríficos e usinas, por exemplo, têm tirado de sua carteira fornecedores que não ajustaram sua conduta. O mesmo acontece com os bancos, que já exigem o CAR como condicionante ao crédito rural e prometem limitá-lo a quem estiver ambientalmente irregular.

Para alguns especialistas, porém, uma decisão do STF sobre o tema pode atrapalhar o andamento desse mercado. “O tribunal entendeu que as cotas podem compensar ambientalmente áreas degradadas se forem equivalente em tamanho e estiverem no mesmo bioma, mas menciona também a necessidade de terem a mesma identidade ecológica”, afirma Rafaela Parra, advogada da VBSO e especialista no tema. Um pequeno detalhe: ninguém sabe o que é identidade ecológica. “Já foram feitos encontros de pesquisadores e estudos técnicos, mas ninguém sabe o que é isso e esse instrumento foi enfraquecido.”

Para João Adrien, diretor executivo da Sociedade Rural Brasileira, que atuou para o estabelecimento de regras da compensação ambiental, estão sendo buscadas outras alternativas para se reverter esse entendimento.

Ribeiro acredita que a identidade ecológica será encarada como o bioma, com o qual técnicos e mercado estão acostumados. Sua percepção de que o sistema continuará andando vem do fato de a Biolífica, que recebeu aporte de R$ 7 milhões de três fundos de investimento desde que foi criada, triplicou de tamanho a cada ano, nos últimos três anos. Com 2,5 milhões de hectares de floresta como lastro em seu estoque, os negócios têm crescido. A empresa publica mensalmente um boletim de quanto valem os títulos ao proprietário, em cada bioma, segundo a oferta e a demanda.

Na Mata Atlântica, um contrato de arrendamento vale em média R$ 270 por hectare por ano. Em São Paulo, chegam a R$ 400. No bioma da Amazônia, R$ 170, sendo que em Roraima vai a R$ 190. “Uma área que só significa custo ao produtor hoje vai gerar renda equivalente ao da criação de gado, por exemplo”, diz ele.

Títulos verdes. Mais consolidados no mercado agrícola, os títulos verdes, agora ligados ao meio ambiente, também têm crescido. Para ficar apenas num exemplo, no início do ano, a Fibria emitiu um título de R$ 700 milhões para a preservação de florestas nativas em torno de sua fábrica em Jacareí e no manejo sustentável de sua fazenda em São José dos Campos, bem como de resíduos, uso eficiente de água e energia sustentável.

Segundo a Climate Bonds Initiative, entidade que estimula o mercado de capitais para soluções de mudanças climáticas, entre 2015 e 2017, o Brasil emitiu nove títulos verdes, que somaram US$ 3,67 bilhões. A grande maioria era ligada a projetos de energia e não ao agronegócio.

Reportagem de Cristiane Barbieri no Estadão

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,preservar-meio-ambiente-pode-dar-lucro,70002531731

segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Duas horas é o tempo máximo que crianças de 5 a 13 anos devem passar em frente a uma tela

Estudo publicado em revista médica indica mais do que isso gera imapcto na cognição dos mais novos
Mais de duas horas na frente de eletrônicos é prejudicial para crianças Foto: Divulgação
O “dia ideal” para o desenvolvimento físico e cerebral de uma criança entre 5 e 13 anos deve ter de 9 a 11 horas de sono ininterrupto, ao menos uma hora de exercícios moderados e no máximo duas horas em frente a uma tela com fins recreativos. Mas poucas cumprem integralmente estas recomendações nos EUA — um fenômeno que especialistas acreditam se repetir no Brasil —, com o tempo de tela excessivo apresentando o maior custo em termos de desempenho cognitivo, indica estudo publicado esta semana no periódico médico “The Lancet Child & Adolescent Health”.
Tendo como base estas diretrizes de “dia ideal” para crianças e jovens apontadas em 2016 pela Sociedade Canadense para Fisiologia do Exercício (CSEP, na sigla em inglês), os cientistas liderados por Jeremy Walsh, do Instituto de Pesquisas do Hospital Infantil do Leste de Ontário (CHEO, também na sigla em inglês), aproveitaram a divulgação dos primeiros dados de outro amplo estudo envolvendo crianças nos EUA para avaliar seu impacto na cognição delas.
De acordo com o levantamento americano, intitulado Desenvolvimento Cognitivo do Cérebro Adolescente (ABCD, ainda em sigla em inglês), das 4.520 crianças com média de idade de 10 anos e todos dados disponíveis avaliados, apenas 5%, ou uma em cada 20, cumprem integralmente as diretrizes do CSEP, enquanto 29%, ou quase uma em cada três, não seguem nenhuma das recomendações no seu dia a dia. Já 41% só cumpriam uma das diretrizes, e 25% duas delas.
Comparando os desempenhos cognitivos globais destas crianças, os cientistas verificaram que quanto maior a adesão às recomendações canadenses de comportamento diário, melhor o resultado nos testes neste sentido realizados no âmbito do estudo ABCD, com as maiores diferenças a favor das que aderiam à limitação do “tempo de tela” para fins recreativos e das que cumpriam esta e a relativa ao sono.
— Descobrimos que mais de duas horas de tempo recreativo de tela das crianças estão associadas a um pior desenvolvimento cognitivo — resume Walsh. — Agora são necessárias mais pesquisas sobre a ligação entre tempo de tela e cognição, inclusive o estudo dos efeitos dos diferentes tipos de tempo de tela, seja educacional ou de entretenimento, ou se requer foco ou envolve ações multitarefas. Mas baseados em nossos achados, pediatras, pais, educadores e autoridades devem promover a limitação do tempo de tela e priorizar rotinas saudáveis de sono na infância e adolescência.
Exercícios regulares permanecem como comportamento mais importante
Os cientistas destacam ainda que, surpreendentemente, o nível de atividade física, que se sabe ter influência positiva no desenvolvimento cerebral, não pareceu ter grande impacto nesta medida de cognição global. Segundo eles, isso se deve talvez ao fato de a medida usada no estudo não ser sensível o bastante para tanto, ressaltando também que os exercícios regulares permanecem como o comportamento mais importante em termos de melhor saúde física, sem qualquer indicação de impacto negativo na cognição.
Mesmo destaque dado por Clay Brites, neuropediatra e fundador do Instituto NeuroSaber. Segundo ele, os resultados do estudo são um novo alerta para pais e comunidade científica de que mais pesquisas são necessárias para jogar luz sobre se crianças jovens podem e devem ter tanto contato e tempo dedicado a esses tipos de tecnologias.
— Estamos apenas começando a entender os efeitos do consumo excessivo de mídias digitais no cérebro em desenvolvimento — diz. — De três a quatro anos para cá, vemos cada vez mais estudos mostrando que o tempo de tela pode levar ao desenvolvimento de sintomas de transtornos como déficit de atenção e hiperatividade. Ainda não temos certeza, mas já há evidências disso.
Segundo Brites, embora não haja estudos ou estatísticas sobre o tempo de tela de crianças e jovens no Brasil, é provável que a situação aqui seja similar à observada nos EUA, com poucos cumprindo as diretrizes canadenses, que também não existem no país. Aqui, as únicas recomendações neste sentido são da Sociedade Brasileira de Pediatria, que adverte que crianças com até 2 anos não devem ter qualquer tempo dedicado a este tipo de atividades, enquanto as de 2 a 5 devem passar no máximo 40 minutos diários em frente a estes aparelhos com supervisão dos pais. Já para as acima de 5 anos não existem orientações quanto a tempo máximo, apenas que o uso de mídias digitais deve ter horários restritos, com “começo, meio e fim”.
— As tecnologias digitais têm seus momentos, contexto e espaço para consumo, mas nada em excesso — defende. — Assim, é papel dos pais ensinar seus filhos a diversificarem suas atividades, especialmente nos primeiros anos de vida, quando o cérebro está em desenvolvimento. As crianças devem ter um dia a dia mais analógico possível, e quando falo analógico quero dizer em termos de experiências presenciais, reais, concretas, de montar e construir processos, antes de terem acesso ao mundo digital. Caso contrário, como no digital tudo é mais fácil, previsível e rápido, corre-se o risco de elas virarem adultos que não vão conseguir lidar com as frustrações da vida fora do digital.
Já a psicóloga Andréa Jotta, pesquisadora do Laboratório do Estudos da Psicologia em Tecnologia, Informação e Comunicação da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP), acredita que o verdadeiro impacto do consumo excessivo de mídias digitais no desenvolvimento das crianças de hoje só será conhecido daqui a dez ou mais anos, quando elas crescerem e se tornarem jovens adultos.
- A questão é muito maior que só o tempo de tela – diz. - O desenvolvimento integral do ser humano consiste em aprender o máximo de coisas possível, e a infância é a fase da vida em que a janela está aberta para isso em todos os sentidos. Assim, se estamos expondo a criança a uma coisa só, estamos retirando dela a possibilidade de outras experiências. E sabemos que nada que é excessivo, principalmente na infância, é saudável.
Andréa, porém, destaca que a solução não deve ser demonizar a tecnologia, mas fazer bom uso dela.
- O problema não é a tecnologia em si, mas que ela se torne uma fuga quando se tem que enfrentar conflitos, atrapalhando a construção de um repertório emocional para resolução de situações do tipo – avalia. - A criança tem que ser educada fora da rede mas também dentro dela, que faz parte do mundo no qual ela vai viver, para que ela possa fazer bom uso da tecnologia. As redes são saudáveis como treinamento, mas ruins se a criança ficar parada neste momento, sem construir o repertório para enfrentar os desafios da vida face a face.
Reportagem de Cesar Baima n'O Globo

https://oglobo.globo.com/sociedade/saude/duas-horas-o-tempo-maximo-que-criancas-de-5-13-anos-devem-passar-em-frente-uma-tela-23111371