domingo, 13 de fevereiro de 2022

O que a ciência sabe sobre máscaras contra Covid

Tempo de proteção, melhor modelo, camadas e respirabilidade: o que a ciência sabe sobre máscaras

Balanço de diversos estudos já publicados mostra que acessório é forte aliado para prevenir contra a Covid-19

Máscaras são grandes aliadas para evitar a transmissão do vírus Foto: LLUIS GENE / AFP

Após quase dois anos de pandemia, diversos estudos comprovam a eficácia das máscaras não só contra o SARS-CoV-2, causador da Covid-19, mas também contra outros agentes infecciosos, como o vírus H3N2, que provocou recente surto de gripe em vários estados brasileiros.

Artigo da Revista Pesquisa Fapesp levanta os principais estudos sobre os diversos modelos de máscaras. O mais recente, divulgado em dezembro pelo Instituto Max Planck, na Alemanha, comprova seu papel de escudos antivírus: uma pessoa não vacinada a três metros de distância de outra com o coronavírus leva menos de cinco minutos para ser infectada. Se ambas estivessem usando máscaras PFF2 — conhecidas em outros países como N95 —, a chance de contágio após 20 minutos seria de apenas 0,1%. O estudo alemão mostra ainda que os modelos PFF2 conferem proteção 75 vezes superior às máscaras cirúrgicas.

Outro estudo citado pela revista da Fapesp é do grupo do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e do Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares, que avaliou 227 diferentes máscaras — desde as feitas com tecnologia de ponta, como PFF2/N95, até as costuradas em casa. A pesquisa verificou a capacidade de filtrar partículas (que impede o vírus de ser expelido ou respirado) e a respirabilidade das máscaras (que mede quanto elas facilitam ou dificultam a passagem do ar). Os dois valores combinados produzem um fator de qualidade para cada modelo.

Considerando somente a filtração, as máscaras que mais se destacaram foram as PFF2/N95, barrando a passagem de 98% das partículas. As máscaras cirúrgicas apresentaram 89% de capacidade de filtragem e as de TNT (tecido não tecido, material obtido por meio de uma liga de fibras e um polímero) com três camadas filtraram 78% das partículas. Máscaras de algodão apresentaram menor retenção de partículas (entre 20% e 60%) porque a trama do tecido deixa mais espaço entre os fios. Se houver costura nessas máscaras, aumenta ainda mais o risco de passagem de partículas que carregam o vírus.

Em termos de respirabilidade, o destaque ficou com as máscaras de TNT, seguidas de perto pelas cirúrgicas. As PFF2/N95 e as de algodão tiveram um índice de respirabilidade menor, mas que não chega a dificultar seu uso, mesmo por longos períodos. “Quando a respirabilidade é extremamente baixa, o ar tem dificuldade para atravessar a máscara. Isso é ruim porque a pessoa tira a máscara na primeira oportunidade”, disse à Fapesp o físico Paulo Artaxo, um dos coautores da pesquisa.

Por fim, o fator de qualidade de cada máscara foi comparado ao padrão recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS). As PFF2/N95, as cirúrgicas e as de TNT passaram pelo crivo da OMS. Já as máscaras caseiras de algodão, considerando uma média de respirabilidade de 40%, não atingiram o patamar de recomendação. Os pesquisadores reforçam, porém, que mesmo que a nota de alguma máscara seja mais baixa, qualquer máscara é melhor do que nenhuma.

Outra pesquisa, essa feita pela Fiocruz com um grupo de pessoas infectadas, mostrou que o vírus foi encontrado apenas na camada interna das máscaras, sugerindo um bloqueio na transmissão e reforçando a ideia de que como elas evitam, sobretudo, que infectados espalhem a doença. E daí a importância de múltiplas camadas da máscara para a proteção.

Para os que alegam desconforto com o uso na rotina ou em atividades físicas, mais uma pesquisa: também da USP, apoiada pela FAPESP e divulgada ainda como preprint, ela mostrou que as máscaras não interferem nos padrões de respiração e na fisiologia cardiovascular, mesmo durante a prática de exercício físico em intensidades moderadas a altas.

Os pesquisadores trabalharam com 17 homens e 18 mulheres saudáveis realizando testes ergoespirométricos em esteira – que avaliam as respostas cardiopulmonares por meio da troca de gases expirados e inspirados ao longo do exercício físico –, coleta de lactato (indicador de intensidade de esforço físico e de fadiga muscular) e monitoramento cardíaco constante, em variados graus de esforço. Os voluntários correram uma sessão com máscara de tecido de três camadas e outra sessão sem o acessório, possibilitando a comparação. Mesmo nos exercícios mais intensos, os efeitos da máscara foram mínimos, pois o organismo realiza compensações fisiológicas.

Um aspecto relevante sobre o uso de máscaras é a vedação. Para isso dois elementos contribuem para que isso ocorra: clipe nasal e elásticos para prendê-la na nuca.

Reportagem d'O Globo

https://oglobo.globo.com/saude/tempo-de-protecao-melhor-modelo-camadas-respirabilidade-que-ciencia-sabe-sobre-mascaras-25392111