quinta-feira, 22 de novembro de 2018

9 EXEMPLOS DE COMO É BOM SER PRÓXIMO A LULA



Um dos maiores indicadores de poder político é a influência para indicação a cargos e obter benefícios destinados a seus protegidos  – e isso diz muito sobre a aptidão de Luiz Inácio Lula da Silva. Condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, ele é réu em outras 7 ações e investigado em outras 2. Mesmo assim, teve sua candidatura lançada pelo Partido dos Trabalhadores e figurou acima de um terço das intenções de voto em algumas pesquisas para a presidência da República. Foi impedido por força da Ficha-Limpa, apenas. Em outras palavras, mesmo que em decadência, ele continua extremamente influente.
Desde que ascendeu à Presidência da República em 2003, estar próximo a ele tornou-se a chave para conseguir cargos de prestígio e com altos salários (muitos sem precisar trabalhar). O contato com o ex-presidente possibilitou ainda patrocínios de eventos sem viabilidade econômica, aportes financeiros para empresas, enriquecimento por causas suspeitas, entre outros privilégios.
Imediatamente ao assumir o planalto, em 2003, esposas, maridos, primos e irmãos de pessoas ligadas a Lula passaram a ser nomeadas para funções de confiança no Executivo e Legislativo – muitas sem nunca ter tido qualquer experiência que justificasse tecnicamente as indicações.
Entre os exemplos de quem ingressou em cargos comissionados de segundo escalão com a ascensão de Lula estão a mulher de José Dirceu, a esposa e o irmão de Antonio Palocci, o primo de Luis Fernando Furlan, o marido de Marina Silva (que veio a deixar o partido apenas em 2009) e as esposas de Nilmário Miranda e de José Fritsch – políticos influentes dentro do PT. Aliados que tinham pedido eleições em seus estados também foram alocados em pastas ministeriais.
Os anos seguintes vieram a mostrar que isso era apenas o início. O uso de influência política a fim de beneficiar familiares e amigos não é exclusividade do petista, mas nunca antes na história deste país tantas pessoas próximas a um presidente se beneficiaram profissionalmente por isso. Relacionei abaixo diversos casos que demonstram como Lula se utilizou de sua posição com finalidade de favorecer quem quis, e entender a forma como cada caso procedeu diz muito sobre como as coisas funcionam no Brasil, especialmente no Partido dos Trabalhadores.
1) Os cargos comissionados e a ONG milionária de Lurian Lula da Silva
Desde novembro de 2017, Lurian Cordeiro Lula da Silva é assessora parlamentar da deputada estadual Rosângela Zeidan na Assembleia Legislativa do Rio, reeleita em 2018. Recebe a modesta quantia de R$ 7.326,64 mensais.
À época, ao responder as críticas por nomear Lurian apenas por ela ser filha do ex-presidente, a deputada petista afirmou que “resumir [a nomeação] a uma relação de parentesco ou é desconhecimento ou é misoginia.”
Rosângela é casada com Washington Quaquá, presidente do PT fluminense e um dos principais defensores de Lula, com quem mantém amizade há décadas. Um exemplo ocorreu em junho de 2017, pouco antes da primeira condenação na Lava Jato, em que ele divulgou nota sustentando um “confronto popular aberto nas ruas” caso o ex-presidente fosse condenado. Não há dúvidas de que nomear a filha de Lula é uma tentativa de agradá-lo.
Embora Lurian afirme que teve apenas ônus em sua vida por ser filha de Lula, sua trajetória demonstra o contrário. Dentre os inúmeros escândalos dos dois governos de seu pai, ela protagonizou um deles ao ser responsável pela organização Rede 13. A ONG foi acusada por um ex-integrante de fechar as portas logo após receber um repasse do governo federal de 7,5 milhões de reais. Ouvido na a CPI das ONGs, Jorge Lorenzetti, o churrasqueiro de Lula e que auxiliou no fechamento da corporação, afirmou que, na verdade, ela “foi extinta sem realizar nenhum convênio(com o governo federal)”. A história nunca ficou bem esclarecida, pois a base governista era maioria na CPI e conseguiu vetar maiores apurações sobre a ONG em questão. O argumento para restringir o trabalho da comissão e deixar de fora eventuais investigações sobre a ONG de Lurian foi estapafúrdio: a possibilidade de elas atingirem o então presidente. Era o período em que o PT era hegemônico no Congresso e na opinião pública e declarações como essas vindo de um parlamentar não geravam tanta repercussão social.
Após o episódio, Lurian passou a acumular cargos de indicações políticas. Ela foi secretária de Ação Social da prefeitura de São José e Chefe de gabinete do prefeito Djalma Berger, além de assessora parlamentar do então deputado federal Gabriel Chalita, ganhando sempre salários razoavelmente altos.
2) O genro de Lula que fazia lobby no governo para empresários condenados por formação de quadrilha
Esposo de Lurian, Marcelo Sato protagonizou escândalos quando Lula ainda sentava na cadeira presidencial. Ele foi assessor parlamentar nos mandatos de Ana Paula Lima, Deputada Estadual pelo PT em Santa Catarina, que é casada com Décio Lima, Deputado Federal em exercício.
O empresário Chico Ramos, sócio-controlador da Agrenco do Brasil S/A, mantinha relações bastante próximas a Sato e Décio. À época, relatório da Polícia Federal mostrou troca de mais de 100 ligações e e-mails entre eles, com Ramos pedindo e obtendo facilitações no desenrolar de questões pendentes em órgãos públicos. Não deve ser difícil imaginar quantas portas um lobista do convívio familiar do, a época, homem mais poderoso do país, deve conseguir abrir.
Em troca dos auxílios, segundo as declarações à Justiça Eleitoral, a Agrenco doou mais de um terço dos cerca de R$ 450 mil da campanha eleitoral que levou Décio Lima à Brasília, em 2006.
Marcelo foi ainda investigado na Operação Influenza, movida pela Polícia Federal, após ser flagrado em gravações com uma quadrilha de empresários de Santa Catarina e de São Paulo, apontados como responsáveis por desfalques milionários contra os cofres públicos.
As conversas telefônicas indicavam o mesmo padrão: ele atuando como lobista junto a órgãos públicos federais. O genro do petista fazia tráfico de influência e atuava até mesmo agendando reuniões entre autoridades governamentais e os empresários, posteriormente condenados criminalmente. Em uma das conversas, Sato negociou o recebimento de 10 mil reais com o empresário João Quimio Nojiri, que chegou a ser preso.
Ao final de tudo, o genro de Lula foi absolvido porque todas as provas reunidas pelo Ministério Público contra ele foram consideradas nulas, isto é, não puderam ser levadas em conta judicialmente. Tudo isso aconteceu por um mero detalhe processual: a juíza do caso considerou os grampos ilegais por terem sido autorizados apenas pela Justiça Estadual, onde as investigações iniciaram. Como ao longo da ação penal – em virtude das matérias envolvidas – o processo passou a ser de competência da Justiça Federal e não houve novas autorizações de gravações, elas foram anuladas do processo. Sem essas gravações, ele acabou sendo inocentado.
3) A peça de teatro da neta de Lula que conseguiu patrocínio da Oi
Filha de Lurian e Marcelo, Maria Beatriz da Silva Sato Rosa é a neta mais velha do ex-presidente. Conhecida como Bia Lula, atualmente é secretária da Juventude do Partido dos Trabalhadores de Maricá. Era a aposta do partido para eleger-se em 2018, mas acabou desistindo de concorrer em virtude do receio de hostilidades.
Quando adolescente, Bia foi protagonista de um caso, no mínimo, fora da curva. Por um ano e três meses uma produtora de teatro carioca buscou junto a grandes empresas privadas e estatais, sem sucesso, patrocínio para a realização da peça A Megera Domada, de William Shakespeare.
Tamanha demora na captação de recursos indica que o evento era inviável economicamente. Apesar disso, bastou uma mudança no elenco, que passou a ser estrelado pela neta do ex-sindicalista, que a Oi decidiu patrocinar o espetáculo em R$ 300 mil. O detalhe é que Beatriz não era uma grande atriz: tratava-se, na verdade, de sua peça de estreia.
4) Os empregos fantasmas da nora de Lula e seus amigos
Casada com o quarto filho de Lula, Sandro Luís Lula da Silva, Marlene Araújo Lula da Silva recebe um salário de R$ 13.500,00 mensais para atuar no Conselho Nacional do Serviço Social da Indústria, o Sesi, em São Paulo.
Ela usava o nome de solteira, Araújo, a fim de evitar despertar atenção da imprensa, o que funcionou por alguns anos. Em 2014, no entanto, sua atuação passou a ser questionada. Embora estivesse já há 7 anos na corporação, não soube informar quais atividades exercia à reportagem da Época, além de ser constatado que ela raramente aparecia ao local de serviço. A Controladoria-Geral da União abriu processo contra Marlene e outros funcionários identificados como fantasmas nos quadros da entidade, sendo todos indicados por Lula e pelo PT, além de reberem altas remunerações.
Entre eles está o amigo do ex-presidente e, em tese, colega de trabalho de Marlene, Rogério Aurélio Pimentel, que ganhava 10 mil reais por mês sem ir ao escritório. Ele trabalhou no gabinete pessoal da presidência nos oito anos de mandato de Luiz Inácio e, após Dilma Rousseff chegar ao Palácio do Planalto, ele foi alocado neste sindicato.
O Sesi era utilizado ainda para empregar outros empregados fantasmas ligados ao PT. Entre eles Márcia Regina Cunha (esposa do ex-deputado João Paulo Cunha, condenado no mensalão), que recebe R$ 22 mil por mês desde 2003; Osvaldo Bargas, ex-diretor da CUT, que embolsa 23 mil; Douglas Martins de Souza, ex-secretário adjunto da Secretaria de Igualdade Racial no início do governo Lula, com vencimentos de 36 mil reais, o mesmo valor da sindicalista Sandra Cabral, amiga de Delúbio Soares.
5) O filho de Lula que recebia dinheiro do PT para ficar em casa
Sandro Luís também já teve seu emprego fantasma para contar história. Entre 2002 e 2005, ele era registrado como funcionário do PT paulista, sem nunca ter aparecido no partido. Ao serem questionados sobre a atuação de Sandro, os empregados que atuavam no local demonstraram não conhecê-lo e, segundo apuração da Folha de São Paulo, entraram em contradições sobre sua função e tempo de trabalho.
À época, Sandro ainda estava na faculdade, mas seu salário era de R$ 1.522 mensais. Corrigida pela inflação, a importância monetária corresponderia hoje a mais de R$ 4.500,00. Nada mau para um estagiário que, segundo o partido, “prestava serviços de informática à distância”.
6) A empresa dos filhos e da nora de Lula que mesmo sem funcionários faturou mais de 200 mil reais em um ano
O mesmo Sandro possui, junto com Marlene e seu irmão, Marcos Claudio, a FlexBR, empresa de consultoria em tecnologia da informação. Embora em 2014 tenha recolhido repasses do Instituto Lula de 114 mil reais e mais de 72 mil reais da L.I.L.S. Palestras, Eventos e Publicações (pessoa jurídica de palestras do ex-presidente), a FlexBR sequer site tem, tampouco funcionário registrado.
Atualmente, a Operação Lava Jato está investigando essas transferênciassob suspeita de serem, na verdade, ocultação de propina. O presidente do instituto, Paulo Okamotto, foi intimado em 2017 para apresentar comprovantes da prestação de serviços que justificassem esses valores.
7) A empresa do filho de Lula que quadruplicou o faturamento reduzindo seus funcionários
Da mesma forma que a FlexBR, a sociedade empresária G4 Entretenimento, em que outro filho de Lula é sócio majoritário, está sob investigação da Lava Jato por suspeita de ter sido utilizada para ocultar pagamentos de propina. A contestação se dá pela sociedade empresária ter recebido mais de 1,3 milhões de reais em repasses do Instituto Lula. Esse montante representa mais recursos que todas as demais empresas destinatárias de valores do instituto ao longo de sua atuação.
A organização presta atividades de suporte técnico, manutenção e outros serviços em tecnologia da informação. Chamou atenção dos investigadores da Lava Jato o fato de a distribuição dos lucros da G4 não observar em alguns anos a composição societária da empresa. Fabio Luis Lula da Silva, também conhecido como Lulinha, detém metade das ações da corporação, mas recebeu 100% dos lucros dela em 2012, 96% em 2013 e 62% em 2014, um indicativo de negócios ilegais.
Ademais, a despeito do vultuoso faturamento, entre 2009 e 2010 a firma sequer tinha funcionários. Em 2012 tinha três, no ano seguinte oito e, embora tenha reduzido para seis funcionários em 2014, os recebimentos da G4 vindos do Instituto saltaram de R$ 263 mil reais para mais de um milhão de reais. Por determinação judicial o instituto também precisará comprovar a prestação de serviços da empresa à organização.
8) O trabalho copiado da internet do filho de Lula que valeu 4 milhões de reais
Caçula de Lula, Luís Cláudio é dono da LFT Marketing Esportivo, negócio de consultoria desportiva. A quebra do sigilo bancário dele revelou que eles receberam quase 10 milhões de reais desde 2009. A despeito dos valores significativos, a organização não possui nenhum funcionário.
A capacidade técnica demonstrada às autoridades não parece justificar tamanho faturamento. O trabalho entregue para comprovar a prestação de serviço à empresa de diplomacia Marcondes & Mautoni foi copiado da internet. Pelo trabalho receberam 4 milhões de reais. Dessa forma, ao que tudo indica, a organização nem sequer transmite expertise em consultoria.
A Marcondes é investigada pela Operação Zelotes e é acusada de comprar medidas provisórias durante o Governo Lula e Dilma Rousseff. A pessoa jurídica de Luís Cláudio teria intermediado essas transações. Atualmente seus bens estão bloqueados judicialmente.
9) O sobrinho que enriqueceu por influência de Lula
Taiguara Rodrigues era até 2009 um pequeno empresário da cidade de Santos, sendo sócio de uma empresa que fazia fechamentos de varandas em apartamentos. Isso mudou quando ele decidiu abrir empresas e utilizar-se da influência de seu tio, à época presidente da República, para fechar contratos no exterior.
A vida modesta que levava – vivia em uma casa com quarto e sala e um carro velho na garagem – mudou. Fechou contratos no exterior e passou a ostentar viagens em várias capitais do mundo, viver em uma cobertura duplex em Santos e andar de Land Rover, um veículo avaliado em mais de 200 mil reais.
A reviravolta na vida de Taiguara ficou mais fácil de ser entendida a partir de delação de Marcelo Odebrecht à Lava Jato. Foi revelado que Lula pediu que a empreiteira contratasse a empresa de Taiguara para obras realizadas na Angola.
A criação da empresa nada mais foi que um meio de usufruir da influência de seu tio, Lula. Taiguara chegou a levar para reuniões fotos autografadas por Lula para facilitar negociação de contratos.
O valor recebido pela empresa entre 2009 e 2015 foi de R$ 20 milhões.Esses contratos envolviam ainda financiamento do BNDES, isto é, você pagou por eles. O caso é mais um em que o ex-presidente é réu e responde por tráfico de influência.

Texto de Luan Sperandio, publicado pelo Instituto Liberal na Gazeta do Povo 
https://www.gazetadopovo.com.br/rodrigo-constantino/artigos/9-exemplos-de-como-e-bom-ser-proximo-lula

quarta-feira, 21 de novembro de 2018

Privatizar é solução para crescimento de 5%

Carlos da Costa, ex-diretor do BNDES e integrante da equipe da transição de Bolsonaro, afirmou que as privatizações tendem a aumentar o PIB potencial do país. Aliado a outras medidas que ampliem a eficiência da economia, o país poderia crescer 5% em 2020, em sua previsão.Resultado de imagem para bolsonaro e paulo guedes
“Estatais reduzem a produtividade dos países, com decisões que não necessariamente estão em linha com os consumidores, acionistas, com a sociedade como um todo. Então é natural que privatizações aumentem nosso PIB potencial, um dos principais objetivos do nosso governo”, afirmou.

Segundo ele, uma das equipes do grupo de transição está avaliando quais ativos devem ser privatizados.

“Isso gera emprego, prosperidade, riqueza que o Brasil merece depois de tantos anos de recessão”, afirmou.

Reportagem de Laís Alegretti na FSP de 21/11/2018

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2018/11/governo-bolsonaro-vai-criar-secretaria-de-privatizacoes.shtml

domingo, 4 de novembro de 2018

Hora de reformar o RH do Estado

Texto de Ana Carla Abrão Costa, Armínio Fraga e Carlos Ari Sunfeld escrevem
É preciso avaliar o desempenho dos servidores, cobrar resultados concretos, dispensar quem não cumpre as obrigações de forma satisfatória e investir em capacitação
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Um complexo sistema deu margem para que privilégios se tornassem regra 
Já passou da hora de promover a reforma da administração pública brasileira. Desde 2013, a população clama por mais eficiência dessa máquina e por mais qualidade em seus serviços. Dentre as demandas legítimas, incluem-se melhorias em educação, saúde e segurança, cruciais em um país tão desigual. O Brasil ostenta a terceira pior distribuição de renda do mundo. Mais da metade da população depende do Estado para acessar condições melhores de vida. Só a educação de qualidade pode permitir que os filhos de famílias pobres atinjam níveis de renda superiores aos dos seus pais. Só o atendimento de saúde gratuito e adequado garantirá dignidade aos cidadãos que não possam pagar por planos privados de saúde. São também os mais pobres que dependem de um sistema eficiente de segurança pública, para evitar que os filhos sejam cooptados, ou mortos, pelo crime.

Afora motivações de caráter distributivo, a reforma da máquina pública se justifica pela urgência em melhorar a produtividade da economia, estagnada há 20 anos, tendo inclusive caído recentemente. Não haverá como o Brasil crescer e gerar empregos sem elevar a produtividade do próprio setor público. As oportunidades nessa área são enormes e evidentes. A máquina, inchada e cara, falha em entregar serviços adequados em áreas cruciais como educação básica, SUS (apesar do avanço que representou), logística, mobilidade urbana e segurança. De acordo com a OCDE, os índices de satisfação com serviços públicos no Brasil situam-se entre os mais baixos do mundo, principalmente em educação e saúde, onde vêm declinando de forma contínua.
Na tentativa de enfrentar as deficiências, são constantes em todas essas áreas as demandas por mais recursos. Isso se reflete em gastos públicos crescentes há décadas (como proporção do PIB). Os dados são surpreendentes e sugerem uma elevada ineficiência. As despesas com pessoal do Estado brasileiro (em todas as esferas) é alta na comparação com nossos pares na América Latina. De acordo com a OCDE, essas despesas, incluindo benefícios, atingem cerca de 13,3% do PIB (2% mais do que há 10 anos). Na Colômbia e no Chile, estão na faixa de 8,5%, no México, em 9%. Países avançados gastam em média 10,4%. A falta de recursos não parece ser, portanto, nosso maior problema.

Mas chegamos ao limite. O colapso fiscal que vivemos impede que se mantenha a trajetória de crescimento de gastos. A racionalização das despesas é necessária, em especial as obrigatórias, que hoje chegam a 98% do orçamento.

O Estado brasileiro tem sido incapaz de justificar suas políticas públicas e de avaliar seus resultados. No âmbito da gestão de recursos humanos, cabe destacar que muitas categorias de servidores públicos ganham mais do que seus equivalentes na iniciativa privada. Faltam avaliações adequadas de desempenho desses servidores e também investimentos em capacitação, duas ferramentas básicas para valorizar quem presta bons serviços. E falta cobrar resultados concretos e dispensar quem, por anos seguidos, não tem desempenho satisfatório.

Sem projeto.
O Estado abre vagas sem planejamento e seleciona sem testar competências adequadas à função. Depois promove por critérios formais, de forma automática, e remunera sem vínculo com a produtividade. Em muitos casos, as condições de trabalho são péssimas. Com tudo isso, não há incentivos à oferta de serviços de qualidade. Ou seja, o atual modelo de funcionamento da máquina pública colapsou pelo elevado custo, pela ineficiência e, acima de tudo, pela incapacidade de garantir uma boa gestão de pessoas, principal requisito para a prestação de melhores serviços.

Uma parte dos problemas está na Constituição de 1988, que adotou o regime estatutário como base do serviço público, fazendo com que a estabilidade nos cargos se tornasse a regra. Mas não é só. A competência legislativa em matéria funcional ficou pulverizada no Brasil pelos três níveis da federação. Assim, milhares de leis federais, estaduais e municipais foram multiplicando os problemas. Esse complexo sistema infraconstitucional, incontrolável, deu margem a que, ao longo do tempo, privilégios, proteções e garantias se tornassem regra. Essas leis – mais até do que a garantia constitucional de estabilidade – são responsáveis por boa parte dos atuais problemas e distorções.

Tal sistema vem comprometendo os resultados, reduzindo a produtividade e influenciando no crescimento desordenado e vegetativo dos gastos com pessoal. Esse conjunto de leis – piorado pela captura corporativista dos processos internos – fez com que, na prática, o regime dos servidores conferisse proteção e benefícios em excesso, impedindo o uso efetivo de ferramentas de gestão de pessoas. Só no executivo federal, são 309 carreiras distintas, representadas por 267 associações. Em cada Estado esse número ultrapassa uma centena. Basta multiplicar por 27 e somar as carreiras dos 5.570 municípios para se compreender o tamanho do desafio.

A revisão desse conjunto pulverizado de leis tem de ser, portanto, a chave de uma ampla reforma administrativa brasileira. Sem mexer nisso, será inútil mudar mais uma vez as regras constitucionais da estabilidade, o que já foi feito em 1998, sem resultado prático.

Dada a autonomia federativa constitucional, essa revisão tem de ser feita nos três níveis da federação. Uma proposta objetiva seria começar pelo governo federal, tendo como primeiro pilar um projeto de lei complementar que estabeleça como regras gerais: 1) a exigência de planejamento global, formal e consistente da força de trabalho como condição para novos concursos públicos e novas admissões; 2) a obrigação de avaliação no mínimo anual do desempenho absoluto e relativo de todos os servidores públicos; 3) a proibição das promoções e progressões automáticas; 4) promoções vinculadas exclusivamente ao desempenho e no interesse do serviço público; 5) promoções condicionadas à existência de vagas no nível superior, as quais têm de ser em número muito limitado.

Adicionalmente, como segundo pilar, há que se reduzir a complexidade e corrigir de forma definitiva os vícios e a excessiva pulverização de carreiras. Para isso, propõe-se criar nova carreira, de caráter generalista, no serviço público federal, nos moldes de estudos elaborados no Ministério do Planejamento.

Todas as novas contratações deveriam se dar nessa nova carreira, que paulatinamente assumiria as funções das atuais carreiras, terminando por substituí-las. Isso é capaz de corrigir as distorções de remuneração no setor público, alinhando os salários iniciais aos do setor privado e ampliando as distâncias entre estes e os vencimentos finais da carreira. O caráter generalista da nova carreira impediria que argumentos de desvio de função limitassem, como ocorre hoje, a mobilidade dos servidores entre diferentes órgãos ou funções. Nessa nova carreira, também não podem existir progressões e promoções automáticas.

O terceiro pilar da proposta seria a extensão das soluções acima para os Estados e municípios, que são os principais provedores de serviços básicos e onde os potenciais ganhos de eficiência são ainda mais relevantes. Este é um capítulo bastante desafiador, dada a autonomia desses entes federativos. Essas reformas poderiam ser estimuladas por uma revisão da Lei de Responsabilidade Fiscal.

Esta lei precisa de urgente ajuste quanto aos conceitos de despesa de pessoal, de forma a incorporar rubricas atualmente ignoradas nos cálculos. Um efeito imediato desse ajuste será tornar clara a realidade: a grande maioria dos entes subnacionais já não cumpre os limites previstos pela LRF.

Nesse contexto seria razoável a criação de disposição transitória que autorize um período de reenquadramento de 10 anos, autorização essa que poderia ser condicionada à adesão à reforma da função pública segundo os pilares referidos. Como no caso federal, as inúmeras leis estatuais e municipais sobre a função pública teriam de incorporar a avaliação de desempenho, os impedimentos a promoções e progressões automáticas e a sua vinculação ao desempenho, além da obrigatoriedade de estudos de planejamento da força de trabalho como condição da abertura de novas vagas. Da mesma forma, também nesses Estados e municípios, as diversas carreiras seriam substituídas por carreira única, segundo os conceitos expostos acima.

Finalmente, como quarto pilar, propõe-se uma ampla revisão e fortalecimento dos processos internos de gestão de pessoas, em particular quanto à instauração de processos administrativos disciplinares que, juntamente com as avaliações de performance, deveriam seguir modelos, critérios e obedecer a prazos que garantiriam a efetiva implantação das novas exigências legais. Além disso, dever-se-ia promover ampla transparência para que os resultados pudessem ser acompanhados e também avaliados.

Esforço inicial.Essas são as bases de uma reforma administrativa que poderia alterar de forma estrutural o funcionamento do Estado no Brasil. Embora complexa, dadas a amplitude e a pulverização das leis que ela visa a atingir, a reforma pode ser iniciada antes de qualquer alteração constitucional. De qualquer modo, ela exigirá do governo federal grande esforço de coordenação, sem o que sua implantação no nível subnacional, onde é mais necessária, jamais ocorrerá.

Se o governo eleito não for capaz de, com clareza e consistência, iniciar a reforma do regime da gestão pública, estará comprometendo o possível sucesso de outras reformas, também urgentes, de que o país precisa para encontrar um caminho sustentável para o desenvolvimento social e econômico.

Texto de Ana Carla Abrão Costa*, Armínio Fraga** e Carlos Ari Sunfeld***
n'O Estado de S.Paulo de 04/11/2018

*ECONOMISTA, SÓCIA DA OLIVER WYMAN CONSULTORIA

**ECONOMISTA, SÓCIO DA GÁVEA INVESTIMENTOS

***ADVOGADO, PROFESSOR TITULAR DA FGV DIREITO SP

https://economia.estadao.com.br/noticias/geral,hora-de-reformar-o-rh-do-estado,70002583603