domingo, 29 de maio de 2016

Os grampos dos oligarcas e a Lava Jato

Quem se lembrar do que estava fazendo na manhã de 11 de março poderá entender melhor as conversas do doutor Sérgio Machado com os magnatas de Brasília. Era uma sexta-feira. No domingo, 3,6 milhões de brasileiros iriam às ruas pedindo a saída de Dilma e festejando o juiz Sergio Moro.
Enquanto acontecia a maior manifestação popular da história do país, algumas dúzias de maganos, quatro deles grampeados, armavam esquemas para "delimitar" a Lava Jato. Nas longas conversas com Sérgio Machado, Dilma deveria ir embora para que se pudesse construir um "acordão". Segundo Romero Jucá, "tem que mudar o governo para estancar essa sangria". Costuravam fantasias de palhaço para quem fosse para a rua com bonecos ou cartazes saudando o juiz Sergio Moro.
Nenhum dos notáveis grampeados foi capaz de dizer que as ladroeiras deveriam ser investigadas.
Pelo contrário. O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foi chamado de "mau caráter" por Renan. Deixando-se de lado as referências de Machado à mãe do procurador-geral, Jucá chamou o juiz Moro de "torre de Londres", para onde se "mandava o coitado para confessar". Segundo Sarney, ele persegue "por besteira".
Na véspera do primeiro grampo, num jantar em Brasília, Renan expusera as vantagens do "semipresidencialismo", uma arapuca tucana onde prenderam o pé do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Para a turma do grampo, o desastroso governo petista deveria ir embora, levando consigo o alcance da Lava Jato.
Naqueles dias eram dois os países. No das conversas de Brasília, armava-se o "acordão". No das ruas, selou-se o destino de Dilma Rousseff. Falta apenas que o Senado baixe a lâmina.
Quem foi para a rua tem todos os motivos para se sentir atendido. Os grampos de Sérgio Machado mostram que, por motivos opostos, Renan, Sarney e Jucá também foram atendidos. Jucá tornou-se ministro.
Como a Lava Jato não foi estancada, Machado tornou-se um grampo ambulante, agravando o pesadelo da oligarquia ferida pela mesma Lava Jato.

De Elio Gaspari na Folha de São Paulo de 29/05/2016
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/eliogaspari/2016/05/1775959-os-grampos-dos-oligarcas-e-a-lava-jato.shtml

O lado b da fita de Lula

Naquela tarde, São Paulo reagiu e rugiu como em dia de futebol

A cronologia das primeiras conversas entre Sérgio Machado, Jucá, Renan e Sarney é esclarecedora

A cronologia das primeiras conversas entre Sérgio Machado, Jucá, Renan e Sarney, divulgadas esta semana, é esclarecedora. Mais do que a defesa do fim da delação premiada para presos, vê-se, dia a dia, que o grampo escancara o planejamento de um acordão para um “golpe”, ensaiado desde a demissão do ministro da Justiça no final de fevereiro. Mas não contra Lula e Dilma — e sim contra a Lava-Jato. E com a inédita participação, num primeiro momento, do PT e do PMDB unidos, se dependesse exclusivamente de Renan Calheiros.

As impactantes gravações de Machado ocorreram por volta de 10 e 11 de março, uma semana após a condução coercitiva de Lula para depor na Lava-Jato. Às vésperas, no dia 8, Lula, em sua versão jararaca, se refugiara em Brasília, onde janta com Dilma e vai no dia 9 à casa de Renan, de quem, ironicamente, ganha um exemplar da Constituição. No dia 10, o MP de São Paulo se antecipa a Curitiba e pede a prisão preventiva de Lula (até hoje no STF). No domingo, 13, o Brasil realiza a maior onda de protestos de sua História — contra Dilma, Lula, o PT e a favor da Lava-Jato e do juiz Sérgio Moro.

Esse primeiro bloco de fatos se fecha na terça-feira, 15, quando, em plenário, Renan desiste, por imposição do DEM e do PSDB, de instalar a comissão especial que ele havia criado para discutir a adoção de um parlamentarismo tupiniquim. Fica evidente nas fitas que fortalecer o Legislativo — e a si mesmo, como presidente do Senado — com um parlamentarismo brando ou branco era o plano A de Renan. Não só na hipótese sem Dilma e Lula, ideia com que a oposição simpatizara, mas até mesmo com os dois. A dobradinha Lula-Dilma contou, muito mais do que se imaginava, com a articulação de Renan. Entregar o poder presidencialista ao correligionário Temer era o plano B. É por isso que o PT, ao ouvir agora as fitas de Machado, preserva Renan, enquanto faz um carnaval contra as declarações de Jucá, aliado de Temer desde a primeira hora do impeachment, já expelido do governo pela Lava-Jato.

Com o contundente recado das ruas, Renan perde de vez espaço no PMDB para Cunha, a quem cabe prosseguir com o impeachment na Câmara. O PT, em desespero, busca uma solução própria. Dilma, que não aceitou licença ou renúncia, peça-chave do jogo “parlamentarista” com a oposição, anuncia no dia 16 que Lula, com prisão pendente, será ministro da Casa Civil, assumindo o risco de obstrução da Justiça. Acusação que ficaria evidente horas depois com a divulgação, pelo juiz Moro, do grampo com as conversas recentes de Lula, inclusive com Dilma. Entre tantos outros ataques ao STF e ao MPF, o candidato a primeiro-ministro diz ao prefeito Eduardo Paes, do PMDB, que ele era a única chance que o país tinha de parar “esses meninos” da Lava-Jato. As gravações de Machado, da mesma época mas conhecidas só agora, são o lado B das fitas de Lula. No dia 17, com Lula já empossado e Moro como nunca na berlinda, procuradores e juízes divulgam manifesto alertando para o risco de atentados às investigações, “numa guerra desleal e subterrânea travada nas sombras, longe dos tribunais”.

Naquela tarde, São Paulo reagiu e rugiu como em dia de futebol. Mas, no silêncio dos palácios de Brasília, pensava-se que o Lula de 2016 ainda era o de 2003. Que o poder dos políticos era maior do que o do povo. E que o aperfeiçoamento da democracia contra a corrupção era o mesmo que “ditadura da Justiça”. Ainda assim, concluiu-se, em 17 de abril, o afastamento de Dilma, que o PT espertamente chama de golpe para destruir conquistas e abafar a Lava-Jato. A Temer, herdeiro constitucional da crise, resta torcer pela economia e rezar para que seu nome não apareça de forma irrefutável na boca dos delatores.

De Luiz Antônio Novaes e Laura Bergamaschi n'O Globo de 29/05/2016 http://oglobo.globo.com/brasil/o-lado-da-fita-de-lula-19388881

domingo, 15 de maio de 2016

Grupos pró-impeachment vigiarão Temer

Tâmo de olho

Por Lava Jato, grupos pró-impeachment vigiarão Temer

Com o afastamento da presidente Dilma Rousseff, os movimentos que levaram milhões de manifestantes anti-PT às ruas pretendem manter-se ativos mesmo agora que Michel Temer assumiu como presidente interino.
Os grupos ouvidos pela Folha dizem estar atentos, por exemplo, para ver como será a atuação de Temer em relação à Operação Lava Jato.
O presidente interino demorou para declarar apoio às investigações e quase nomeou o advogado Antonio Claudio Mariz de Oliveira, critico da delação premiada, ao Ministério da Justiça.
"Estaremos totalmente atentos a isso e os pontos de combate a corrupção são inegociáveis", disse Rogério Chequer, líder do Vem Pra Rua.
"A gente está alerta, mas, ao mesmo tempo, ele [Temer] parece ter cedido bem à pressão", afirmou Kim Kataguiri, um dos líderes do MBL (Movimento Vem Pra Rua). "Primeiro, por ter recuado no Mariz e, segundo, no próprio discurso ele falou de [apoio à] Lava Jato."
Kim argumenta que o MBL criticou a nomeação dos ministros Romero Jucá (Planejamento), Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) e Henrique Alves (Turismo). Jucá responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal, e Alves é alvo de dois pedidos de inquérito. Geddel é citado nas investigações.
Carla Zambelli, do Nas Ruas, segue a mesma linha. "Se houver qualquer movimentação de indiciamento, pediremos o afastamento imediato [dos ministros]." Nos atos pelo impeachment, a ativista agiu como porta-voz de uma aliança de 43 movimentos menores.

ELEIÇÕES

Na esfera política, o MBL quer abrigar seus membros em legendas existentes para lançar candidatos neste ano.
O movimento já chegou a criar um comitê em parceria com partidos de oposição a Dilma e recebeu políticos nos atos contra a petista. Eles agora querem se direcionar a pautas municipais, como a regulamentação do Uber.
Já o Vem Pra Rua segue restringindo seu contato com partidos. Os ativistas terão que se afastar do movimento caso optem por disputar eleições. Chequer repete que não tem, por ora, "nenhum interesse" em ser candidato.
O grupo pretende aproveitar a estrutura criada em torno da saída de Dilma –como um site que mostrava a posição de cada parlamentar– para acompanhar outras pautas no Congresso.
Também divulgará listas de candidatos que reprova, como congressistas que não divulgaram sua posição sobre o impeachment antes da votação. "Os que foram contrários eu até respeito, pois deram satisfação para seu eleitor", disse Chequer.
Entre outros temas, o Vem Pra Rua defende voto distrital misto, fim de coligações e limitação de reeleições. O MBL defende voto distrital misto,parlamentarismo e simplificação tributária.

Da Folha de São Paulo de 15/05/2016

http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/05/1771364-por-lava-jato-grupos-pro-impeachment-vigiarao-temer.shtml

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Ordem e Progresso


Slogan do governo Temer será 'Ordem e progresso
O slogan do governo Michel Temer (PMDB) será "Ordem e progresso", numa referência direta ao lema da bandeira brasileira.
A marca, criada pelo publicitário Elsinho Mouco, é azul e tem a esfera da bandeira no centro.
Michel Temer deve assumir a Presidência da República nesta quinta (12), após o afastamento de Dilma Rousseff, decidido no início da manhã pelo Senado.
Segundo um dos interlocutores do presidente interino, a ideia é lembrar a necessidade de "recuperar o país da desorganização política, econômica e social e retomar o crescimento econômico. Essa é a tradução do conceito 'Ordem e progresso'".
O lema "Ordem e progresso", inscrito na bandeira do Brasil, tem origem no positivismo –escola filosófica e religiosa fundada por Auguste Comte (1798-1857).
A fórmula sagrada do movimento positivista, descrita pelo filósofo francês, é: "O amor por princípio, a ordem por base, e o progresso por fim". A bandeira atual, que contém a expressão, foi adotada em 1889, pouco depois da proclamação da República.

De Mônica Bergamo na Folha de São Paulo 
http://www1.folha.uol.com.br/colunas/monicabergamo/2016/05/1770509-slogan-do-governo-temer-sera-ordem-e-progresso.shtml