Obesidade: conheça os novos medicamentos para combater a doença
Novos medicamentos ajudam a controlar doença, mas não podem ser o único tratamento
A obesidade e sobrepeso afetam 60% da população brasileira, com um em cada cinco indivíduos classificável como obeso (IMC maior ou igual a 30 kg/m²). A obesidade também eleva a prevalência de outras comorbidades, como diabetes, esteatose hepática, hipertensão e doenças cardiovasculares.
Por ser uma doença crônica, a obesidade não tem prazo definido para o fim do tratamento. Existe controle, não cura. É uma patologia multifatorial, com o desafio de encontrar uma medicação que atue em todas as etiologias, ajudando o paciente de forma eficaz. Há fatores genéticos, ambientais, metabólicos, nutricionais e psicológicos envolvidos no ganho de peso. O tratamento dificilmente se resumirá em tomar uma medicação.
As diretrizes mais modernas enfatizam que para se considerar um obeso “saudável” — um termo bastante discutido —, é necessário um conjunto de resultados: redução de um percentual do peso basal, com estabilidade nos últimos anos, estilo de vida não sedentário, qualidade alimentar e exames normais.
Apesar do impacto da obesidade na saúde, o arsenal terapêutico para doença ainda é limitado. No Brasil, as medicações liberadas pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) são: Orlistat, Sibutramina, Liraglutida e associação de Bupropiona com Naltrenoxa, sendo que esta última ainda não é comercializada no Brasil.
A boa notícia é que os estudos na área têm se multiplicado, e temos novas medicações, algumas já aprovadas pela Food and Drug Administration (FDA), órgão regulatório dos Estados Unidos. As terapias vêm com o propósito de facilitar o indivíduo a atingir as metas para bom controle da doença.
Em meados de 2011, foi lançada uma medicação injetável subcutânea, chamada liraglutida. Trata-se de uma substância que mimetiza um hormônio produzido pelas células intestinais (análogo GLP-1), que age reduzindo a fome por mecanismos de aumento da saciedade e retardo do trânsito gástrico. Apesar da boa resposta terapêutica para alguns pacientes, há o inconveniente de as injeções serem diárias e do alto custo.
A Semaglutida veio em seguida, sendo aprovada nos EUA para o tratamento da obesidade no ano passado. A medicação também é um análogo de GLP-1, que age de forma semelhante à liraglutida, com a vantagem de ser aplicada semanalmente. Os estudos evidenciaram uma perda média de 14,9% do peso basal (associado à dieta e mudanças do estilo de vida). Ela é comercializada no Brasil desde 2018, mas com aval apenas para pacientes com diabetes tipo 2.
A Tirzepatida é uma nova molécula, que tem ação dupla nos receptores de GLP-1 e GIP (outro hormônio intestinal) e ajuda na redução do apetite. O seu uso também é subcutâneo, uma vez na semana. Até o momento, foi aprovada nos EUA apenas para pacientes com diabetes tipo 2. Porém, há estudos que apontaram perda média de 20,9% do peso basal com dose máxima, sendo que 57% dos pacientes emagreceram mais que 20%.
O Bimagrumab é um anticorpo monoclonal que age reduzindo a gordura corporal e aumentando massa muscular. A nova molécula traz perspectivas promissoras no combate à obesidade. Um estudo fase 2 em 75 pacientes portadores de diabetes tipo 2 mostrou perda média de massa gorda de 20,5% (7,5 kg), com ganho médio de massa magra de 3,6% (1,7 kg). Mais estudos são necessários para determinar segurança da medicação.
Apesar de quase 16 anos sem nenhuma perspectiva terapêutica nova, os últimos dez vêm oferecendo novas possibilidades medicamentosas, que prometem ajudar no combate à perda de peso sem muitos efeitos colaterais sobre o sistema nervoso central e cardiovascular. As medicações não devem ser usadas sem orientação médica ou mudança de estilo de vida. Apesar dos estudos e da liberação da comercialização, as substâncias requerem acompanhamento de uso.
Reportagem de Claudia Cozer no blog Receita de Médico d'O Globo
https://oglobo.globo.com/blogs/receita-de-medico/coluna/2022/12/obesidade-o-que-temos-de-novo.ghtml
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