segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Incêndios criminosos em São Paulo

A PF (Polícia Federal) abriu dois inquéritos neste domingo (25) para investigar suspeita de ação criminosa nos incêndios que afetam o estado de São Paulo.




Segundo a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o fato de os incêndios no interior paulista se intensificarem em dois dias, a partir da quinta (22), é sinal de ação humana. A suspeita de atuação criminosa também foi compartilhada pelo presidente Lula (PT).

Nas redes sociais, ele afirmou que o Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) não registrou nenhum incêndio por causas naturais em São Paulo. "Significa que tem gente colocando fogo de maneira ilegal, uma vez que todos os estados do país já estão avisados e proibiram uso de fogo de manejo", disse.

Em reunião em Brasília neste domingo, Lula afirmou: "Ali é tudo propriedade privada, é canavial, é fazenda", em referência a São Paulo e a suspeita de incêndios criminosos.



O diretor-geral da PF, Andrei Rodrigues, anunciou que as 15 delegacias da instituição no interior de São Paulo e a superintendência regional estão mobilizadas para a investigação.

Mais cedo, também neste domingo, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) já havia dito que a Polícia Civil de São Paulo investiga casos de possíveis incêndios criminosos. A corporação diz apurar vídeos e imagens mostrando o que seriam autores das queimadas. Os registros circulam nas redes sociais.

Dois homens foram presos neste fim de semana em São Paulo suspeitos de atear fogo, em São José do Rio Preto e Batatais. O primeiro caso, no sábado, foi de um idoso de 76 anos suspeito de incendiar lixo em mata no bairro Jardim Maracanã, em São José do Rio Preto.


No domingo, em Batatais, um homem de 41 anos foi detido após ser flagrado por um morador, no bairro Jardim Celeste, colocando fogo em uma mata. Ele portava um isqueiro e uma garrafa com gasolina.
De acordo com policiais, o telefone celular do suspeito tinha vídeos de incêndios armazenados na galeria de imagens —inclusive dele comemorando outras queimadas.

Tarcísio, em visita a Ribeirão Preto, cidade que concentra grande parte dos focos de calor, disse que o detido em Batatais tem histórico de crimes. "Criminoso, com passagem pela polícia, com gasolina, ateando fogo, quer dizer, querendo agravar a situação", disse o governador.

Produtores rurais de São Paulo ouvidos pela reportagem compartilham da hipótese de que os incêndios têm origem criminosa. Eles afirmam acreditar que o fogo dos últimos dias foi provocado por ação humana. Representantes do setor disseram à Folha que a forma como as queimadas começaram aponta para uma ação coordenada.

Almir Torcato, diretor-executivo da Canaoeste (Associação dos Plantadores de Cana do Oeste do Estado de São Paulo), afirma que, embora as condições climáticas fossem favoráveis a incêndios (calor acima de 30°C, ventos fortes e baixa umidade), o fogo começou de pontos separados, o que pode indicar ação humana.

"Nós, como instituição, não temos prova suficiente para falar que foi algo coordenado. Mas os fatos por si só não são coerentes para ter sido exclusivamente natural, considerando as imagens de satélite e tudo mais", diz Torcato.

Torcato afirma que há décadas o setor já não usa queimadas na produção —atividade que, segundo ele, era comum quando a cana era colhida sem mecanização.

A visão é compartilhada pelo produtor Marco Guidi. Segundo ele, o setor nunca viu um incêndio ocorrer dessa forma.

"Os focos iniciaram simultaneamente, em pontos distantes um do outro, dificultando a presença das brigadas", afirma Guidi. "Tudo leva a crer que foi uma ação criminosa e bem articulada."

Segundo a Abag (Associação Brasileira do Agronegócio), essa é uma luta antiga do setor. A entidade diz que, em 2022, entregou um ofício à Secretaria de Segurança do Estado no qual pedia que os casos de suspeita de incêndios criminosos fossem levados adiante e investigados.

Empresas do setor também dizem que suspeitam de queimadas provocadas por ação humana. A Raízen diz acreditar que os incêndios são de natureza criminosa, agravados por estiagem, baixa umidade do ar, ação dos ventos e altas temperaturas.



Empresa do setor agrícola, o Grupo Moreno chegou a oferecer recompensa de R$ 30 mil por informações de incêndios criminosos.

O fogo no interior de São Paulo nos últimos dias já queimou 59 mil hectares de lavouras de cana-de-açúcar, causando um prejuízo aos produtores rurais de R$ 350 milhões.

Os dados são da Orplana (Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil) e contemplam áreas a serem colhidas e também de rebrota de cana pulverizadas em várias regiões agrícolas paulistas. Só entre sexta e sábado, foram 2.105 focos de incêndio no estado, 1.800 no primeiro dia e 305, no dia seguinte.

"O sábado começou melhor, mas os fortes ventos atrapalharam muito no fim do dia", afirmou o CEO da Orplana, José Guilherme Nogueira.

Reportagem de Bruno Lucca , Cézar Feitoza , Marcelo Toledo e Paulo Ricardo Martins na Folha de São Paulo

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2024/08/governos-e-produtores-veem-indicios-de-crime-e-pf-e-sp-investigam-incendios.shtml

domingo, 18 de agosto de 2024

Maioria dos brasileiros está gorda

6 em cada 10 brasileiros estão acima do peso, diz Datafolha

Apenas 11% dos entrevistados têm diagnóstico médico; 4% consideram utilizar medicamentos para emagrecer

A maioria dos brasileiros (59%) está acima do peso, mas só 11% têm diagnóstico médico, segundo pesquisa do Datafolha encomendada pela Novo Nordisk e divulgada neste domingo (18). Aqueles com obesidade são 24%, enquanto os com sobrepeso, 35%.

O levantamento calculou o IMC (índice de massa corpórea) de 2.012 entrevistados com idade média de 43 anos e encontrou contradições na percepção de saúde dos brasileiros em relação ao excesso de peso. Segundo especialistas, o método ainda é usado como base para análises, apesar de ser considerado insuficiente por novas pesquisas.


Aqueles que dizem apresentar uma saúde boa ou muito boa são 64%. Os que afirmam não apresentar condições de saúde como pressão alta, problemas nos ossos ou articulações, colesterol alto e excesso de peso representam 51% da amostra.

A obesidade é uma doença crônica definida pela OMS (Organização Mundial da Saúde) como o acúmulo anormal ou excessivo de gordura corporal. Segundo especialistas, ela está associada a mais de 200 condições, incluindo diabetes tipo 2, doenças cardiovasculares, apneia do sono, problemas hepáticos e de circulação e câncer.

No público com sobrepeso e obesidade, 61% afirmam ter uma boa saúde, e 42% declaram não ter ao menos uma doença relacionada ao excesso de peso.

Além disso, 72% dos brasileiros dizem estar satisfeitos com o próprio peso, mas 63% dizem que gostaria de mudá-lo —17% querem ganhar mais e 46%, perder.


A população ainda encara a obesidade como um fator estético, incluindo os próprios profissionais de saúde, diz a endocrinologista Cynthia Valério. Segundo ela, isso acontece por causa do estigma e porque o diagnóstico da obesidade como doença pela OMS é recente.

"A pesquisa indica exatamente o que a gente já costuma ver, que é resultado do preconceito de enxergar o excesso de peso como uma doença. Obesidade por si só é uma doença e o sobrepeso associado a condições de saúde, também", diz a médica da Sbem (Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia) e diretora da Abeso (Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica).

"Nós temos muito ainda a fazer em relação à conscientização das pessoas. Há um percentual muito baixo de pessoas que têm o diagnóstico da doença e um percentual grande que já entra na classificação", afirma. A OMS separou o dia 4 de março como o Dia Mundial da Obesidade para aumentar a conscientização sobre a doença crônica não transmissível.



O presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica em Alagoas, Luiz Guilherme de Almeida, afirma que desde os anos 1980 os brasileiros passaram a aumentar de peso culturalmente. "Passamos a comer mais carboidratos e ultraprocessados", diz. "Com o aumento de peso na sociedade ocidental, falta a percepção da população sobre ele."

Um estudo nacional divulgado no Congresso Internacional sobre Obesidade no último mês de junho afirma que quase metade da população brasileira será obesa nos próximos vinte anos se forem mantidos os padrões atuais.


"É alarmante", diz Almeida. "Isso já implica em aumento de risco cardiovascular —a gente está assistindo eventos cardiovasculares cada vez mais cedo. Esse percentual de quase 60% da população tem maior risco de diabetes; doença pulmonar; refluxo; câncer de cólon, esôfago, mama e rim. É um impacto que já existe na saúde brasileira", afirma.

O excesso de peso começa a preocupar as pessoas principalmente quando ele causa outros problemas de saúde (57%), segundo a pesquisa, e quando impede a realização de atividades, como trabalhar e serviços domésticos (45%). O IMC é alerta apenas para 37% dos entrevistados.

Como forma de tratamento, a principal alternativa considerada pelos brasileiros é a atividade física (71%), seguido pela mudança na dieta (56%). Apesar da popularização recente de medicamentos usados na perda de peso, como Ozempic e Mounjaro, o uso de remédios é considerado apenas por 4%, mesmo percentual da cirurgia bariátrica.

Reportagem de Geovana Oliveira na Folha de São Paulo

https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2024/08/6-em-cada-10-brasileiros-estao-acima-do-peso-diz-datafolha.shtml

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Entenda como funciona o golpe do Pix errado e veja como se proteger

Criminosos convencem a fazer transferência para uma conta diferente e acionam mecanismo antifraude 

Criminosos criaram mais uma forma de desviar dinheiro dos brasileiros: o 'golpe do Pix errado'. Os bandidos se aproveitam de um recurso do Banco Central criado para recuperar o dinheiro quando é constatada fraude, chamado de MED (Mecanismo Especial de Devolução).

Segundo a Febraban (Federação Brasileira de Bancos), que fez um alerta sobre a fraude, os bandidos descobrem o número do celular da vítima, que muitas vezes também é sua chave do Pix, e fazem uma transferência para essa pessoa. Eles conseguem esses dados por meio de cadastros preenchidos na internet ou em pesquisas em redes sociais.

Em seguida, ligam ou enviam uma mensagem dizendo que foi feito um Pix errado e pedindo para mandar o dinheiro de volta. A vítima, ao conferir seu extrato, vê que de fato entrou o dinheiro em sua conta.

Porém, em vez de dar a mesma chave Pix que foi usada para transferir o dinheiro, o golpista fornece uma chave Pix de uma terceira conta, e então o bandido aciona o MED, alegando ter sido vítima de um golpe. Por meio deste mecanismo, os bancos envolvidos irão analisar a transação.

Como o Pix devolvido foi feito para uma terceira conta, diferente da conta original da transferência, as instituições entendem que esta ação é típica de golpe e, daí, podem fazer a retirada do dinheiro do saldo da conta da pessoa enganada. Se tiver êxito, além de receber o dinheiro devolvido espontaneamente, o bandido também recebe o valor pelo MED e a vítima fica no prejuízo.

A Febraban alerta que, ao receber um pedido de estorno de Pix por qualquer motivo, o cliente sempre deve fazer a transação para a conta original que o Pix foi feito. "Para isso, o cliente deve entrar em seu aplicativo bancário e dentro das funcionalidades do Pix, utilizar a opção de devolução da transação recebida, que automaticamente envia o valor para a conta de origem. Nunca, em hipótese alguma, faça um estorno para uma terceira conta. Se tiver qualquer dúvida, ligue para seu banco", afirma José Gomes, diretor do Comitê de Prevenção a Fraudes da Febraban.

Como devolver um Pix errado?
Entre na área Pix do banco;
Vá em Extratos, clique em "Devolver";
Desta forma, o dinheiro será devolvido diretamente para quem originalmente mandou o Pix.


Sempre faça a operação de devolução dentro da ferramenta do aplicativo oficial do banco. Nunca faça o estorno para uma nova chave Pix.


A Febraban também recomenda que os clientes tomem muito cuidado com a exposição de dados pessoais em redes sociais, com emails de supostas promoções que tenham cadastros e com mensagens recebidas em aplicativos de mensagens.

Reportagem de Laryssa Toratti na Folha de São Paulo 

https://www1.folha.uol.com.br/mercado/2024/08/entenda-como-funciona-o-golpe-do-pix-errado-e-veja-como-se-proteger.shtml