Falta de perspectivas, pressão por desempenho e a violência cotidiana alimentam o esvaziamento da vida entre adolescentes. A consequência? Aumento de autolesões e suicídios
Falta de perspectivas, pressão por desempenho e a violência cotidiana alimentam o esvaziamento da vida entre adolescentes. A consequência? Aumento de autolesões e suicídios
Alerta de conteúdo sensível: este texto contém informações relacionadas a problemas de saúde mental e suicídio. Se estiver precisando de ajuda ou conhecer alguém que esteja, ligue CVV 188
Conectados, pressionados e expostos a um mundo de crises múltiplas, adolescentes têm demonstrado sinais alarmantes de esvaziamento do valor da vida. O resultado aparece no aumento de casos de autolesão e tentativas de suicídio -- um grito silencioso que adultos, famílias e escolas muitas vezes não conseguem escutar. Eles estão online o tempo todo, mas se sentem sozinhos. Precisam performar na escola e nas redes, enquanto enxergam um horizonte fraturado por desigualdade, violência e um planeta em risco.
Por trás dos números, há uma geração que questiona o sentido de viver em idade cada vez mais precoce. "Qual é o sentido de estudar se nem sei se vou ter trabalho?" "Se o mundo está acabando, por que planejar o futuro?" "Não quero morrer, só queria que a dor parasse." Esses enunciados se repetem em consultórios, corredores de escola e rodas de conversa -- e não é exagero. No mundo, a Organização Mundial da Saúde estima mais de 720 mil mortes por suicídio a cada ano; em 2021, foi a terceira principal causa de morte entre jovens de 15 a 29 anos. Em países de baixa e média renda concentram-se quase três quartos desses óbitos. No Brasil, a fotografia acompanha a tendência: foram 15.507 mortes por suicídio em 2021, 77,8% entre homens. Entre adolescentes, o impacto é particularmente duro: o suicídio já figura como a terceira causa de morte entre 15 e 19 anos e a quarta entre 20 e 29.
E antes das mortes há o que raramente vira manchete: as autolesões e as tentativas. Só em 2021, o Sinan registrou 114.159 notificações de violências autoprovocadas, 70,3% em mulheres; entre adolescentes, 21,5% tinham de 15 a 19 anos e 9,3% estavam entre 5 e 14. No período de 2011 a 2022, estudo da Fiocruz mostra que a taxa de suicídio entre jovens de 10 a 24 anos cresceu em média 6% ao ano, enquanto as notificações de automutilação dispararam 29% ao ano -- um avanço muito acima da média da população geral.
Esse esvaziamento do sentido de viver tem muitas faces. Para parte dos jovens, o futuro simplesmente não lhes pertence: medo crônico de não encontrar trabalho, violência no território em que vivem, a percepção de que o mundo caminha para um colapso climático, político e social. A combinação produz desesperança e fragiliza o valor atribuído à própria vida. Em meio à pressão estética e de produtividade, à comparação permanente nas redes e à precariedade econômica, a autolesão aparece como tentativa de dar forma física a uma dor sem linguagem.
Embora a intoxicação por medicamentos seja o meio mais frequente de tentativa, seguida por objetos cortantes, a letalidade é maior entre meninos, que tendem a recorrer a métodos mais violentos. Dizer que "é só para chamar atenção" é não compreender a dimensão do sofrimento.
"Do ponto de vista cognitivo, a incerteza constante é um fator de risco para ansiedade e para a percepção de que não há sentido", explica dr. Guilherme Polanczyk, psiquiatra da infância e adolescência e professor da USP. Ele lembra que megatendências como mudanças climáticas, tensões políticas e tecnologias disruptivas reforçam a instabilidade para todas as gerações, mas atingem os adolescentes de forma mais aguda.
Estilos parentais mais ansiosos e a parentalidade intensiva -- a tentativa constante de evitar frustrações -- também interferem na formação emocional. Crises familiares, rupturas, falências e a exposição à violência funcionam como gatilhos adicionais. A tecnologia, aqui, é parte do problema e da solução. A exposição contínua a narrativas de violência e autoagressão nas redes pode banalizar comportamentos de risco e criar efeitos de identificação em grupo. Há ainda novos perigos relacionados ao uso indiscriminado de ferramentas de inteligência artificial, já envolvidas em episódios de incentivo a suicídio.
O consumo excessivo de telas -- muitas vezes acima de sete horas diárias -- amplia a exposição a conteúdos como pornografia, jogos de aposta e dietas extremas, com impactos documentados sobre um cérebro ainda em desenvolvimento. Esses riscos se somam a velhos conhecidos, como álcool e cigarro, agora acompanhados de novas drogas e dispositivos, num cenário em que as ações preventivas em curso não conseguem conter os efeitos.
A literatura científica aponta que cerca de 90% das pessoas que morrem por suicídio apresentam algum transtorno mental, como depressão, bipolaridade ou esquizofrenia, ou uso problemático de álcool e outras drogas. Entre adolescentes, somam-se fatores sociais e relacionais: abuso físico, psicológico ou sexual; isolamento; discriminação; perdas familiares; violência doméstica; bullying; impulsividade; baixa autoestima; desesperança.
"Os jovens percebem que valores como solidariedade e gratidão foram corroídos. Sentem-se invisíveis em uma sociedade movida pelo poder econômico e pela indiferença", observa a Ana Cecília Petta Roselli Marques, médica psiquiatra, especialista em Saúde Coletiva e Saúde Mental pela UNESP e doutora em Neurociências pela UNIFESP. Para ela, a prevenção começa em casa e se sustenta em rede: família, escola, atenção básica e serviços especializados; só uma política robusta, integral e baseada em evidências altera o quadro.
O que fazer diante dos sinais? Adolescência saudável não significa ausência de turbulência, mas quando a dor persiste e desmonta a vida cotidiana é preciso acender o alerta. Mudanças bruscas de humor, tristeza profunda, perda de interesse por atividades antes prazerosas, isolamento, irritabilidade, alterações de sono e apetite, queda acentuada no rendimento escolar, conflitos recorrentes com colegas e familiares e doenças frequentes compõem um quadro de atenção.
Perguntar diretamente sobre sofrimento, pensamentos de morte ou de se ferir não aumenta o risco; ao contrário, abre portas para acolher e encaminhar. Na escola, protocolos claros de identificação e acolhimento, formação continuada de educadores e educação socioemocional baseada em evidências são indispensáveis, com foco em pertencimento, regulação emocional, projetos de vida e comunicação responsável (sem romantização).
Em casa e na comunidade, escuta ativa antes de aconselhar, validação da dor, discussão franca sobre masculinidades (vulnerabilidade não é fraqueza), elaboração de planos de segurança que incluam pessoas de referência e a redução do acesso a meios letais são medidas práticas. Persistindo sinais, é fundamental buscar ajuda profissional -- CAPSij, rede SUS, psicoterapia e, quando indicado, acompanhamento psiquiátrico.
No campo das políticas públicas, o caminho passa por fortalecer a Rede de Atenção Psicossocial e os CAPS (com equipes completas e orçamento estável), integrar vigilância epidemiológica e atenção básica para que dados em tempo oportuno orientem ações locais, fiscalizar ambientes digitais e reduzir a disponibilidade de meios letais.
Cultura, esporte e projetos comunitários funcionam como fatores de proteção: onde há vínculo, há saída. Cada adolescente que corta a própria pele ou tenta se matar é uma denúncia viva de que a sociedade falhou em oferecer cuidado e pertencimento. Não é "problema deles": é o espelho de um país que cobra demais, oferece pouco e se ausenta nos momentos mais críticos.
Prevenir o suicídio na adolescência não é tarefa de especialistas isolados; é responsabilidade coletiva. E começa por algo simples, mas radical: escutar de verdade os jovens e reconhecer que a dor deles também nos atravessa.
Onde buscar ajuda: CVV - 188 (24h, gratuito; telefone, chat, e-mail). Em risco imediato, acione o SAMU - 192
Reportagem de Carolina Delboni no Estadão
https://www.estadao.com.br/emais/carolina-delboni/por-que-a-vida-tem-perdido-o-sentido-para-tantos-adolescentes/
quinta-feira, 18 de setembro de 2025
quarta-feira, 17 de setembro de 2025
Mãe processa jogo Roblox após filho autista cometer suicídio
Por meio do jogo considerado infantil, criminoso de 37 anos conquistou confiança de adolescente e o explorava sexualmente
Alerta: a reportagem abaixo trata de temas como suicídio e transtornos mentais. Se você está passando por problemas, veja ao final do texto onde buscar ajuda.
Em dezembro de 2023, Ethan Dallas enviou uma mensagem de texto para sua mãe, Becca Dallas, dizendo que algo estava pesando em sua mente.
“Desculpe. Me sinto muito mal comigo mesmo. Sinto que não tenho valor”, escreveu o jovem de 15 anos. “Prometa que não ficará brava se eu contar?”
Dallas levou Ethan, que era autista, a um restaurante Denny’s perto de sua casa em San Diego, na Califórnia (EUA). Lá, ele fez uma confissão sobre Roblox, seu videogame favorito, que jogava desde os 7 anos.
Anos antes, um jogador do Roblox que dizia ser uma criança chamada Nate havia enviado uma mensagem para Ethan. Eles se tornaram amigos íntimos, jogando o jogo online juntos todos os dias depois da escola e conversando até tarde da noite.
Nate acabou mostrando a Ethan como desativar alguns dos controles parentais do Roblox. Suas conversas se tornaram sexuais e passaram para o aplicativo de mensagens Discord, onde Nate exigiu que Ethan enviasse fotos explícitas de si mesmo. Ethan obedeceu depois que Nate ameaçou compartilhar publicamente suas conversas.
Ethan começou a ter acessos de raiva, disse Dallas. As explosões eram tão intensas que, em 2022, ela e o marido o colocaram em um centro de tratamento residencial por um ano. Em abril de 2024, quatro meses depois de contar à mãe sobre Nate, Ethan se matou.
Em abril, Dallas soube pelas autoridades da Flórida que Nate provavelmente era Timothy O’Connor, um homem de 37 anos. Ele havia sido preso por acusações separadas de posse de pornografia infantil e transmissão de material prejudicial a menores. As autoridades policiais da Flórida trabalharam com o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, que Dallas havia contatado sobre a situação de Ethan, e conectaram o caso dele a O’Connor.
“Eu não conseguia acreditar”, disse Dallas, 47, que achava que o Roblox era um jogo infantil.
Na sexta-feira, Dallas processou a Roblox, acusando-a de homicídio culposo. No processo, orovavelmente o primeiro desse tipo contra a empresa do jogo popular entre jovens, destaca os perigos potenciais de uma plataforma voltada para crianças de até 13 anos, mas onde adultos podem entrar e sair livremente. O documento relata com detalhes dolorosos a experiência de Ethan jogando o jogo.
No Roblox, os jogadores entram em um “metaverso”, um mundo virtual onde podem jogar e conversar por meio de personagens digitais que podem construir pistas de obstáculos e resolver quebra-cabeças. Cerca de 40 milhões de usuários da plataforma — mais de um terço — têm menos de 13 anos, tornando o Roblox o principal ponto de encontro para crianças online. O Facebook e o Instagram exigem que os usuários tenham pelo menos 13 anos para abrir uma conta.
Qualquer pessoa pode criar uma conta no Roblox e jogar gratuitamente. Os adultos podem usar os recursos de comunicação da plataforma, como chats privados e conversas de voz, para conversar com crianças, disseram especialistas em segurança.
O grande número de crianças no Roblox tornou-o um alvo para predadores online, disse Ron Kerbs, fundador da Kidas, uma empresa de software de segurança digital. O Roblox tomou medidas para mitigar os riscos, incluindo a introdução, em julho, de medidas para verificar a idade dos jogadores, como a digitalização de vídeos de seus rostos, observou ele. Mas esses recursos podem ser contornados, como quando um usuário joga na conta de outra pessoa, disse ele.
“É uma questão séria”, disse Kerbs. “Quando você tem tantos usuários, essas coisas vão acontecer sem uma moderação rigorosa.”
As ações judiciais contra a Roblox começaram a se intensificar. Em abril, o procurador-geral da Flórida, James Uthmeier, abriu uma investigação sobre segurança infantil na empresa. No mês passado, a procuradora-geral da Louisiana, Liz Murrill, processou a Roblox por questões relacionadas a predadores no jogo, chamando-o de “o lugar perfeito para pedófilos”.
Mais de 20 ações judiciais acusando a Roblox de permitir a exploração sexual, que é quando os usuários são coagidos ou manipulados a compartilhar material sexualmente explícito ou realizar atos sexuais, foram movidas em tribunais federais este ano, de acordo com uma análise do New York Times de registros públicos.
Cerca de uma dúzia de escritórios de advocacia especializados em danos pessoais estão coordenando ações judiciais de segurança infantil contra a Roblox, disse Alexandra Walsh, sócia da Anapol Weiss, o escritório que está lidando com o caso de Dallas. O objetivo é estabelecer um precedente legal que possa responsabilizar a Roblox e empresas de mídia social como Meta e Snap pelos predadores em suas plataformas, disse ela.
O objetivo, segundo Walsh, é estabelecer um caminho que não seja bloqueado pela Seção 230 da Lei de Decência nas Comunicações, uma lei de 1996 que protege as empresas da responsabilidade por postagens feitas por usuários em seus sites.
A ação de Dallas alega que o design da Roblox e a falta de barreiras de segurança, e não o conteúdo do jogo em si, são o que permitiu a predação.
Dallas, que está processando na Corte Superior do Condado de São Francisco, perto da sede da Roblox, também processou a Discord. Ela está buscando uma indenização financeira não especificada pelo sofrimento emocional causado pela morte de Ethan.
“Estamos profundamente tristes com esta perda trágica e inimaginável”, disse um porta-voz da Roblox. As questões de segurança infantil são um problema em toda a indústria, disse ele, acrescentando que a empresa está trabalhando para desenvolver novos recursos de segurança e coopera com as autoridades policiais.
A Discord está “profundamente comprometida com a segurança” e exige que os usuários tenham pelo menos 13 anos, disse um porta-voz da empresa. A plataforma de mensagens diz que usa “tecnologia avançada e equipes de segurança treinadas para encontrar e remover proativamente conteúdos que violam nossas políticas”.
‘Nunca vi nada impróprio acontecendo’
Ethan, que tinha quatro irmãos mais velhos e era melhor amigo de suas duas sobrinhas mais novas, era conhecido como o palhaço da turma, disse Lisa Kogan, sua professora de educação especial de 2021 até sua morte. Ele costumava aparecer com um avental e um chapéu de chef para fazer lanches para seus colegas de classe, disse ela, e aos 9 anos já havia aprendido sozinho a programar e tocar piano. Ele também era o arremessador estrela de um time de beisebol para jovens com deficiência.
Por causa de suas dificuldades de aprendizagem, Ethan era intimidado por alguns jovens da vizinhança, conta Dallas. Ele recorreu a videogames como Roblox como uma fuga, muitas vezes achando os personagens virtuais mais fáceis de socializar do que outras pessoas da sua idade.
Em 2015, o jovem começou a jogar Roblox com a permissão de seus pais, que configuraram controles parentais em sua conta. Esses controles permitiam que eles restringissem o tempo que Ethan passava no jogo e aprovassem solicitações de amizade, mas não impediam a comunicação entre ele e adultos.
Ethan passava horas por dia em seu computador, onde também jogava jogos como Minecraft e Rocket League. Ele transmitia seus jogos no YouTube e no Twitch, onde tinha uma pequena comunidade de seguidores. Dallas se sentia confortável com o fato de o Roblox monitorar as conversas de Ethan, disse ela, porque algumas vezes ele foi temporariamente banido por usar expressões como “idiota”.
“Nunca ouvi falar de nada impróprio acontecendo, ou eu teria invadido a sala”, disse ela.
Quando Ethan lhe contou sobre Nate, Dallas ficou horrorizada. Ela imediatamente entrou em contato com o Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, que acabou colocando-a em contato com a equipe de crimes cibernéticos do Departamento de Polícia da Flórida. Mas ela deixou Ethan continuar jogando Roblox enquanto ela e o marido vigiavam de perto a conta dele, incluindo verificar suas mensagens, porque ele era “viciado” no jogo, disse ela.
O Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas se recusou a comentar o caso de Ethan.
Naquela época, Ethan já não tinha mais contato com Nate. Eles haviam parado de se comunicar em 2021, disse Dallas, mas seu filho continuava com medo de Nate.
Sem o conhecimento da família Dallas, O’Connor havia sido acusado separadamente na Flórida em 2021 por posse de pornografia infantil e transmissão de material prejudicial a menores. Em dezembro de 2023, ele foi considerado mentalmente incapaz de ser julgado, segundo registros públicos. Os advogados de O’Connor se recusaram a comentar.
Semanas antes de sua morte, Ethan parecia normal, disse Dallas. Ele tinha tido dificuldades para concluir os trabalhos escolares depois de voltar do centro de tratamento residencial, mas seu desempenho tinha melhorado. Ele estava aprendendo a dirigir e queria comprar o carro do pai e pintá-lo de roxo.
Certa noite, Ethan a acordou batendo na porta do quarto. “Ele simplesmente veio, deitou a cabeça no meu colo e ficou dizendo ‘eu te amo’”, disse Dallas. “E eu disse ‘eu também te amo’”.
Na manhã seguinte, seu marido encontrou Ethan sem vida em seu quarto.
Dallas disse que esperava que seu processo judicial levasse a mudanças que tornassem o Roblox mais seguro. Este mês, ela criou uma fundação em nome de Ethan para ajudar crianças que lutam contra problemas de saúde mental.
“Quero que sua história seja compartilhada”, disse ela. “Para assustar os pais e que eles saibam que eu achava que meu filho estava seguro e que isso não iria acontecer comigo.”
Reportagem de Eli Tan em The New York Times
O conteúdo foi traduzido com o auxílio de ferramentas de Inteligência Artificial e revisado por nossa equipe editorial. Saiba mais em nossa Política de IA.
Onde buscar ajuda
Se você está passando por sofrimento psíquico ou conhece alguém nessa situação, veja abaixo onde encontrar ajuda:
Centro de Valorização da Vida (CVV)
Se estiver precisando de ajuda imediata, entre em contato com o Centro de Valorização da Vida (CVV), serviço gratuito de apoio emocional que disponibiliza atendimento 24 horas por dia. O contato pode ser feito por e-mail, pelo chat no site ou pelo telefone 188.
Canal Pode Falar
Iniciativa criada pelo Unicef para oferecer escuta para adolescentes e jovens de 13 a 24 anos. O contato pode ser feito pelo WhatsApp, de segunda a sexta-feira, das 8h às 22h.
SUS
Os Centros de Atenção Psicossocial (Caps) são unidades do Sistema Único de Saúde (SUS) voltadas para o atendimento de pacientes com transtornos mentais. Há unidades específicas para crianças e adolescentes. Na cidade de São Paulo, são 33 Caps Infantojuventis e é possível buscar os endereços das unidades nesta página.
Mapa da Saúde Mental
O site traz mapas com unidades de saúde e iniciativas gratuitas de atendimento psicológico presencial e online. Disponibiliza ainda materiais de orientação sobre transtornos mentais.
NOTA DA REDAÇÃO: Suicídios são um problema de saúde pública. Antes, o Estadão, assim como boa parte da mídia profissional, evitava publicar reportagens sobre o tema pelo receio de que isso servisse de incentivo. Mas, diante da alta de mortes e tentativas de suicídio nos últimos anos, inclusive de crianças e adolescentes, o Estadão passa a discutir mais o assunto. Segundo especialistas, é preciso colocar a pauta em debate, mas de modo cuidadoso, para auxiliar na prevenção. O trabalho jornalístico sobre suicídios pode oferecer esperança a pessoas em risco, assim como para suas famílias, além de reduzir estigmas e inspirar diálogos abertos e positivos. O Estadão segue as recomendações de manuais e especialistas ao relatar os casos e as explicações para o fenômeno.
https://www.estadao.com.br/educacao/mae-processa-jogo-roblox-apos-filho-autista-cometer-suicidio/
Os 12 mitos sobre alimentação que mais aborrecem os nutricionistas
O campo da nutrição é um terreno especialmente fértil para o surgimento de modismos que não são corroborados pela ciência
De água quente com limão em jejum a comer de três em três horas para acelerar o metabolismo, não faltam mitos quando o assunto é alimentação. Muitos desses hábitos se popularizam por modismos ou promessas de resultados rápidos, mas carecem de base científica. A crença em informações distorcidas pode não só frustrar quem busca emagrecer ou melhorar a saúde, como também criar uma relação confusa e ansiosa com a comida.
Por isso, o acompanhamento nutricional individualizado é fundamental. Um nutricionista qualificado ajuda com orientações práticas, respeitando as necessidades, a rotina e a história de cada pessoa. Mais do que seguir regras rígidas ou dietas da moda, comer bem envolve conhecimento e apoio profissional para construir hábitos sustentáveis a longo prazo.
Veja abaixo quais são os principais mitos envolvendo alimentação que chegam aos consultórios de nutricionistas.
1- ‘Leite é inflamatório’ A crença de que o leite é um alimento inflamatório se espalhou nos últimos anos, especialmente nas redes sociais, mas não encontra respaldo na ciência. A nutricionista Lara Natacci, diretora clínica da Dietnet e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban), esclarece que, ao contrário do que se imagina, o leite tem efeito anti-inflamatório comprovado em estudos recentes – exceto em casos específicos, como alergia à proteína do leite de vaca, condição rara que pode, de fato, provocar reações inflamatórias no organismo.
Outra situação que leva as pessoas a acreditarem que o leite inflama é a intolerância à lactose, mas, segundo Lara, ela não está relacionada à inflamação sistêmica. Nesse caso, há deficiência de uma enzima que digere a lactose, o açúcar natural da bebida. Por causa disso, ocorrem desconfortos intestinais como gases, inchaço e diarreia.
A nutricionista ressalta que a generalização de que o leite faz mal à saúde não apenas desinforma, como também pode levar à exclusão desnecessária de um alimento rico em nutrientes importantes, como cálcio, proteínas e vitaminas do complexo B.
2- ‘Glúten engorda e inflama’
A ideia de que o glúten engorda ou causa inflamação tornou-se um dos mitos mais comuns sobre alimentação. No entanto, essa crença também não encontra respaldo científico. O glúten é uma proteína naturalmente presente no trigo, na cevada e no centeio, e seu consumo é seguro para a maioria das pessoas.
Quem realmente precisa evitar o glúten são os portadores de doença celíaca, uma condição autoimune em que essa proteína provoca inflamação no intestino, além de indivíduos com alergia ao trigo ou sensibilidade ao glúten, que podem apresentar desconfortos gastrointestinais. Fora esses casos específicos, não há evidências de que o glúten cause inflamação generalizada ou esteja associado ao ganho de peso.
“Para quem não tem doença celíaca ou sensibilidade diagnosticada pelo médico, não existe nenhum potencial inflamatório do glúten”, afirma Lara. A nutricionista Tarcila Campos, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reforça: “Esse é um mito comum. Fora os casos específicos, o glúten não causa prejuízo à saúde.”
O problema, segundo Tarcila, é que ao excluir o glúten sem necessidade, a pessoa pode reduzir o consumo de alimentos ricos em fibras e vitaminas do complexo B, nutrientes presentes em cereais como trigo. Isso pode levar a uma alimentação menos variada e nutricionalmente empobrecida.
Como explica Lara, “o ganho de peso está muito mais relacionado ao excesso calórico e ao consumo exagerado de alimentos ricos em açúcar e gordura do que à presença do glúten em si. Não há razão para cortá-lo da dieta sem diagnóstico médico. Manter uma alimentação equilibrada e variada é sempre a melhor escolha”, afirma.
3- ‘Para emagrecer é preciso passar fome’
Outro mito bastante difundido quando se trata de perda de peso. Segundo a nutricionista Desire Coelho, colunista do Estadão, é muito comum que algumas pessoas cheguem ao consultório achando que precisam se privar da comida para alcançar resultados, quando, na verdade, a fome é um sinal essencial de que o corpo precisa de nutrientes.
“Emagrecer comendo é totalmente possível, desde que a alimentação seja equilibrada e adaptada à rotina da pessoa”, informa.
Ela explica que o corpo possui diferentes apetites – por proteínas, fibras, micronutrientes – e, quando não são supridos, o organismo intensifica a fome como uma forma de compensação. Por isso, acrescenta a nutricionista, dietas monótonas, muito restritivas e pobres em variedade podem, paradoxalmente, levar ao ganho de peso, justamente porque o corpo continua “procurando” os nutrientes ausentes.
Além disso, passar fome ativa mecanismos compensatórios que, com o tempo, dificultam ainda mais o emagrecimento. A chave está em identificar alimentos que proporcionam saciedade, como os ricos em fibras e proteínas, manter uma boa hidratação e respeitar as necessidades individuais. O emagrecimento saudável vem do equilíbrio, e não da privação.
4- ‘Carboidrato é inimigo’
Por muito tempo, os carboidratos carregaram a fama de inimigos das dietas, especialmente em estratégias voltadas ao emagrecimento. No entanto, a ciência nutricional mostra que essa má reputação é infundada. De acordo com Lara, o nutriente é fonte essencial de energia, principalmente para o cérebro. “O carboidrato precisa ser consumido na quantidade adequada para a saúde do indivíduo”, observa.
Eliminar completamente os carboidratos da alimentação pode causar sintomas como falta de energia, fadiga e dificuldade de concentração. Ou seja, o problema não está no nutriente em si, mas no consumo desequilibrado.
Outro ponto importante diz respeito ao tipo escolhido. Os especialistas indicam priorizar os chamados carboidratos complexos, representados por alimentos como cereais integrais, frutas, legumes, verduras e leguminosas, por exemplo. É que eles concentram fibras e possuem baixo índice glicêmico, ou seja, favorecem a liberação gradual da glicose no sangue. O alto teor de fibras ainda ajuda na manutenção dos bons níveis de colesterol. Também apresentam vitaminas, minerais e compostos bioativos benéficos.
Já os carbodiratos simples, encontrados em bebidas açucaradas, doces e muitos itens ultraprocessados, tendem a causar flutuações rápidas da glicose no sangue e levar a desequilíbrios metabólicos.
A nutricionista Tarcila Campos, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reforça que dietas com menor teor de carboidratos podem funcionar para algumas pessoas, mas não são a única estratégia eficaz para perda de peso. “O mais importante é o equilíbrio calórico, a qualidade dos alimentos e a adesão ao plano alimentar individualizado”, ressalta.
5- ‘Bebida destilada não engorda’
A ideia de que bebidas destiladas, como vodca, gim ou uísque, não engordam é balela. Embora essas opções tenham menos carboidratos do que uma cerveja ou caipirinha com açúcar, isso não significa que sejam isentas de calorias, muito pelo contrário.
“É verdade que bebidas destiladas têm menos carboidratos, mas elas ainda são calóricas. O álcool tem 7 kcal por grama”, descreve Tarcila. Além disso, o consumo de álcool pode aumentar o apetite, dificultar o controle alimentar e impactar negativamente o metabolismo e a saúde como um todo.
Outro ponto importante levantado pela especialista é que não existe bebida alcoólica ou dosagem que traga benefícios à saúde. Ou seja, nenhum tipo de álcool deve ser considerado inofensivo, mesmo em pequenas quantidades. Para Tarcila, “na nutrição, o contexto importa, e personalizar a orientação faz toda a diferença”.
6- ‘Dietas restritivas sempre funcionam’
A ideia de que fazer dieta é sempre eficaz para emagrecer ainda é amplamente difundida, mas está longe de refletir a realidade da maioria das pessoas. Desire alerta que um dos maiores mitos é acreditar que, se alguém não consegue emagrecer ou manter o peso com uma dieta, o problema está na falta de força de vontade.
“A gente vive numa era em que as pessoas acham que fazer dieta é a solução para perda de peso. E, sim, há indivíduos que conseguem manter o peso perdido depois, mas é uma minoria”, observa. “Muitos estudos mostram que, entre um a cinco anos após o início da dieta, apenas 10% a 20% das pessoas conseguem sustentar o peso perdido, ou seja, de 80% a 90% recuperam tudo, e muitas ainda ganham mais”, adiciona.
Se fosse para considerar um medicamento com esse nível de eficácia, provavelmente ele nem seria indicado. Mesmo assim, o discurso em torno das dietas continua forte, alimentado por redes sociais que exaltam casos de sucesso isolados e os transformam em referência.
Desire também destaca que o peso corporal é fortemente influenciado pela genética, com o IMC (Índice de Massa Corporal) sendo determinado de 60% a 80% por fatores genéticos. Isso mostra que emagrecimento vai muito além de “força de vontade” e que estratégias sustentáveis precisam respeitar a biologia e a individualidade de cada pessoa.
7- ‘Sucos detox limpam o organismo’
Muito populares nas redes sociais e em dietas da moda, os chamados sucos detox são vendidos como soluções rápidas para “limpar o organismo”. Mas, ao contrário do que prometem, nenhum alimento tem poder de desintoxicação. Segundo Lara, quem realmente faz esse trabalho é o próprio organismo, especialmente o fígado, além dos rins, intestino e até a pele. “Não tem nenhum alimento que tenha esse poder mágico detox”, afirma.
Isso não significa que os sucos à base de vegetais não tenham seu valor – eles podem ser fontes importantes de vitaminas, minerais e antioxidantes. Mas não corrigem excessos. O que realmente contribui para um organismo saudável, segundo a especialista, é uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes e muita água.
8- ‘Todo alimento industrializado é ruim’
Essa crença é comum, mas nem sempre corresponde à realidade. O simples fato de um alimento passar por um processo industrial não o torna automaticamente ruim ou sem valor nutricional.
Há vários alimentos industrializados que oferecem substâncias importantes para o corpo, além de garantirem segurança alimentar, acessibilidade e praticidade para a população. Iogurtes, vegetais congelados, leguminosas enlatadas, pães e cereais integrais, por exemplo, podem fazer parte de uma rotina saudável.
O segredo, segundo Lara, está em avaliar a qualidade do alimento, sua composição, ingredientes e função dentro de uma dieta equilibrada. “A melhor escolha depende do contexto, da quantidade, da frequência de consumo, das necessidades individuais e da leitura atenta dos rótulos”, pontua.
9- ‘Comer de três em três horas acelera o metabolismo’
Durante anos, esse hábito foi promovido como uma estratégia para ajudar no emagrecimento. No entanto, segundo a nutricionista Marcela Kotait, coordenadora do ambulatório de anorexia nervosa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), essa ideia não tem base científica.
Ela explica que seguir um cronograma rígido de alimentação pode, inclusive, ser prejudicial: “O que a gente sabe, por outro lado, é que esse hábito de comer a cada três horas numa tentativa pré-definida, com a intenção de emagrecer, faz com que o indivíduo se desconecte dos sinais internos de fome e saciedade.”
Além disso, Marcela reforça que não existe comprovação de que o simples ato de comer em intervalos curtos acelere o metabolismo. “Esse número meio mágico, de três em três horas, não se sustenta. Quando se pensa em emagrecimento ou manutenção do peso, o que importa mesmo é a ingestão calórica total ao longo do dia, e não como ela é fracionada”, conclui.
10- ‘Água com limão em jejum emagrece’
Segundo Marcela, esse é mais um conselho sem sentido. “Não existe comprovação de que a água com limão em jejum ajude a perder peso. Isso faz parte de uma série de modismos que tentam oferecer soluções mágicas, muitas vezes ligadas à ideia de alterar o pH do estômago ou do corpo”, explica a especialista.
Marcela alerta que esse tipo de crença se baseia em pseudociência e pode desviar o foco do que realmente importa para o emagrecimento: alimentação equilibrada, consciência corporal e hábitos sustentáveis.
11- ‘Comer gordura engorda’
Marcela aponta que essa ideia é simplista e equivocada. “Na verdade, tudo engorda e nada engorda. O grande ponto é que, quando se come em excesso, tudo pode se transformar em depósito de energia que o nosso corpo vai armazenar em forma de gordura. E o que leva ao ganho de peso é o excesso, independentemente do nutriente”, afirma.
Marcela explica que tanto gorduras como proteínas e carboidratos podem ser convertidos em gordura corporal.
Segundo ela, o mais importante é considerar a quantidade, a frequência e o comportamento alimentar como um todo. “É mais relevante entender como o indivíduo se relaciona com a comida do que demonizar um nutriente específico”, resume.
12- ‘Ovo aumenta o colesterol’
Essa associação já foi desmentida há tempos pela ciência. “O ovo é o grande exemplo do que uma informação mal embasada pode causar: terrorismo nutricional”, destaca Marcela.
De acordo com a nutricionista, o ovo, assim como outros itens demonizados ao longo do tempo, como a manteiga, foi vítima de modismos alimentares. “São alimentos ricos em determinados nutrientes, mas isso precisa ser analisado com equilíbrio, considerando quantidade e frequência de consumo.”
Ela alerta também para o problema de reduzir a comida aos seus nutrientes, um comportamento comum no discurso atual sobre alimentação. “As pessoas não comem mais pão, comem carboidrato; não comem mais carne, comem proteína. Essa codificação afasta o indivíduo de uma relação saudável com a comida”, alerta.
Para a especialista, uma alimentação verdadeiramente equilibrada envolve escuta do corpo, respeito à fome e à saciedade, e escolhas conscientes. “Comer bem não é cortar nutrientes, é construir um hábito alimentar pacífico e sustentável a longo prazo”, conclui.
Reportagem de Fernanda Bassette no Estadão
https://www.estadao.com.br/saude/os-12-mitos-sobre-alimentacao-que-mais-aborrecem-os-nutricionistas/
De água quente com limão em jejum a comer de três em três horas para acelerar o metabolismo, não faltam mitos quando o assunto é alimentação. Muitos desses hábitos se popularizam por modismos ou promessas de resultados rápidos, mas carecem de base científica. A crença em informações distorcidas pode não só frustrar quem busca emagrecer ou melhorar a saúde, como também criar uma relação confusa e ansiosa com a comida.
Por isso, o acompanhamento nutricional individualizado é fundamental. Um nutricionista qualificado ajuda com orientações práticas, respeitando as necessidades, a rotina e a história de cada pessoa. Mais do que seguir regras rígidas ou dietas da moda, comer bem envolve conhecimento e apoio profissional para construir hábitos sustentáveis a longo prazo.
Veja abaixo quais são os principais mitos envolvendo alimentação que chegam aos consultórios de nutricionistas.
1- ‘Leite é inflamatório’ A crença de que o leite é um alimento inflamatório se espalhou nos últimos anos, especialmente nas redes sociais, mas não encontra respaldo na ciência. A nutricionista Lara Natacci, diretora clínica da Dietnet e vice-presidente da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição (Sban), esclarece que, ao contrário do que se imagina, o leite tem efeito anti-inflamatório comprovado em estudos recentes – exceto em casos específicos, como alergia à proteína do leite de vaca, condição rara que pode, de fato, provocar reações inflamatórias no organismo.
Outra situação que leva as pessoas a acreditarem que o leite inflama é a intolerância à lactose, mas, segundo Lara, ela não está relacionada à inflamação sistêmica. Nesse caso, há deficiência de uma enzima que digere a lactose, o açúcar natural da bebida. Por causa disso, ocorrem desconfortos intestinais como gases, inchaço e diarreia.
A nutricionista ressalta que a generalização de que o leite faz mal à saúde não apenas desinforma, como também pode levar à exclusão desnecessária de um alimento rico em nutrientes importantes, como cálcio, proteínas e vitaminas do complexo B.
2- ‘Glúten engorda e inflama’
A ideia de que o glúten engorda ou causa inflamação tornou-se um dos mitos mais comuns sobre alimentação. No entanto, essa crença também não encontra respaldo científico. O glúten é uma proteína naturalmente presente no trigo, na cevada e no centeio, e seu consumo é seguro para a maioria das pessoas.
Quem realmente precisa evitar o glúten são os portadores de doença celíaca, uma condição autoimune em que essa proteína provoca inflamação no intestino, além de indivíduos com alergia ao trigo ou sensibilidade ao glúten, que podem apresentar desconfortos gastrointestinais. Fora esses casos específicos, não há evidências de que o glúten cause inflamação generalizada ou esteja associado ao ganho de peso.
“Para quem não tem doença celíaca ou sensibilidade diagnosticada pelo médico, não existe nenhum potencial inflamatório do glúten”, afirma Lara. A nutricionista Tarcila Campos, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reforça: “Esse é um mito comum. Fora os casos específicos, o glúten não causa prejuízo à saúde.”
O problema, segundo Tarcila, é que ao excluir o glúten sem necessidade, a pessoa pode reduzir o consumo de alimentos ricos em fibras e vitaminas do complexo B, nutrientes presentes em cereais como trigo. Isso pode levar a uma alimentação menos variada e nutricionalmente empobrecida.
Como explica Lara, “o ganho de peso está muito mais relacionado ao excesso calórico e ao consumo exagerado de alimentos ricos em açúcar e gordura do que à presença do glúten em si. Não há razão para cortá-lo da dieta sem diagnóstico médico. Manter uma alimentação equilibrada e variada é sempre a melhor escolha”, afirma.
3- ‘Para emagrecer é preciso passar fome’
Outro mito bastante difundido quando se trata de perda de peso. Segundo a nutricionista Desire Coelho, colunista do Estadão, é muito comum que algumas pessoas cheguem ao consultório achando que precisam se privar da comida para alcançar resultados, quando, na verdade, a fome é um sinal essencial de que o corpo precisa de nutrientes.
“Emagrecer comendo é totalmente possível, desde que a alimentação seja equilibrada e adaptada à rotina da pessoa”, informa.
Ela explica que o corpo possui diferentes apetites – por proteínas, fibras, micronutrientes – e, quando não são supridos, o organismo intensifica a fome como uma forma de compensação. Por isso, acrescenta a nutricionista, dietas monótonas, muito restritivas e pobres em variedade podem, paradoxalmente, levar ao ganho de peso, justamente porque o corpo continua “procurando” os nutrientes ausentes.
Além disso, passar fome ativa mecanismos compensatórios que, com o tempo, dificultam ainda mais o emagrecimento. A chave está em identificar alimentos que proporcionam saciedade, como os ricos em fibras e proteínas, manter uma boa hidratação e respeitar as necessidades individuais. O emagrecimento saudável vem do equilíbrio, e não da privação.
4- ‘Carboidrato é inimigo’
Por muito tempo, os carboidratos carregaram a fama de inimigos das dietas, especialmente em estratégias voltadas ao emagrecimento. No entanto, a ciência nutricional mostra que essa má reputação é infundada. De acordo com Lara, o nutriente é fonte essencial de energia, principalmente para o cérebro. “O carboidrato precisa ser consumido na quantidade adequada para a saúde do indivíduo”, observa.
Eliminar completamente os carboidratos da alimentação pode causar sintomas como falta de energia, fadiga e dificuldade de concentração. Ou seja, o problema não está no nutriente em si, mas no consumo desequilibrado.
Outro ponto importante diz respeito ao tipo escolhido. Os especialistas indicam priorizar os chamados carboidratos complexos, representados por alimentos como cereais integrais, frutas, legumes, verduras e leguminosas, por exemplo. É que eles concentram fibras e possuem baixo índice glicêmico, ou seja, favorecem a liberação gradual da glicose no sangue. O alto teor de fibras ainda ajuda na manutenção dos bons níveis de colesterol. Também apresentam vitaminas, minerais e compostos bioativos benéficos.
Já os carbodiratos simples, encontrados em bebidas açucaradas, doces e muitos itens ultraprocessados, tendem a causar flutuações rápidas da glicose no sangue e levar a desequilíbrios metabólicos.
A nutricionista Tarcila Campos, do Centro Especializado em Obesidade e Diabetes do Hospital Alemão Oswaldo Cruz, reforça que dietas com menor teor de carboidratos podem funcionar para algumas pessoas, mas não são a única estratégia eficaz para perda de peso. “O mais importante é o equilíbrio calórico, a qualidade dos alimentos e a adesão ao plano alimentar individualizado”, ressalta.
5- ‘Bebida destilada não engorda’
A ideia de que bebidas destiladas, como vodca, gim ou uísque, não engordam é balela. Embora essas opções tenham menos carboidratos do que uma cerveja ou caipirinha com açúcar, isso não significa que sejam isentas de calorias, muito pelo contrário.
“É verdade que bebidas destiladas têm menos carboidratos, mas elas ainda são calóricas. O álcool tem 7 kcal por grama”, descreve Tarcila. Além disso, o consumo de álcool pode aumentar o apetite, dificultar o controle alimentar e impactar negativamente o metabolismo e a saúde como um todo.
Outro ponto importante levantado pela especialista é que não existe bebida alcoólica ou dosagem que traga benefícios à saúde. Ou seja, nenhum tipo de álcool deve ser considerado inofensivo, mesmo em pequenas quantidades. Para Tarcila, “na nutrição, o contexto importa, e personalizar a orientação faz toda a diferença”.
6- ‘Dietas restritivas sempre funcionam’
A ideia de que fazer dieta é sempre eficaz para emagrecer ainda é amplamente difundida, mas está longe de refletir a realidade da maioria das pessoas. Desire alerta que um dos maiores mitos é acreditar que, se alguém não consegue emagrecer ou manter o peso com uma dieta, o problema está na falta de força de vontade.
“A gente vive numa era em que as pessoas acham que fazer dieta é a solução para perda de peso. E, sim, há indivíduos que conseguem manter o peso perdido depois, mas é uma minoria”, observa. “Muitos estudos mostram que, entre um a cinco anos após o início da dieta, apenas 10% a 20% das pessoas conseguem sustentar o peso perdido, ou seja, de 80% a 90% recuperam tudo, e muitas ainda ganham mais”, adiciona.
Se fosse para considerar um medicamento com esse nível de eficácia, provavelmente ele nem seria indicado. Mesmo assim, o discurso em torno das dietas continua forte, alimentado por redes sociais que exaltam casos de sucesso isolados e os transformam em referência.
Desire também destaca que o peso corporal é fortemente influenciado pela genética, com o IMC (Índice de Massa Corporal) sendo determinado de 60% a 80% por fatores genéticos. Isso mostra que emagrecimento vai muito além de “força de vontade” e que estratégias sustentáveis precisam respeitar a biologia e a individualidade de cada pessoa.
7- ‘Sucos detox limpam o organismo’
Muito populares nas redes sociais e em dietas da moda, os chamados sucos detox são vendidos como soluções rápidas para “limpar o organismo”. Mas, ao contrário do que prometem, nenhum alimento tem poder de desintoxicação. Segundo Lara, quem realmente faz esse trabalho é o próprio organismo, especialmente o fígado, além dos rins, intestino e até a pele. “Não tem nenhum alimento que tenha esse poder mágico detox”, afirma.
Isso não significa que os sucos à base de vegetais não tenham seu valor – eles podem ser fontes importantes de vitaminas, minerais e antioxidantes. Mas não corrigem excessos. O que realmente contribui para um organismo saudável, segundo a especialista, é uma alimentação equilibrada, rica em frutas, verduras, legumes e muita água.
8- ‘Todo alimento industrializado é ruim’
Essa crença é comum, mas nem sempre corresponde à realidade. O simples fato de um alimento passar por um processo industrial não o torna automaticamente ruim ou sem valor nutricional.
Há vários alimentos industrializados que oferecem substâncias importantes para o corpo, além de garantirem segurança alimentar, acessibilidade e praticidade para a população. Iogurtes, vegetais congelados, leguminosas enlatadas, pães e cereais integrais, por exemplo, podem fazer parte de uma rotina saudável.
O segredo, segundo Lara, está em avaliar a qualidade do alimento, sua composição, ingredientes e função dentro de uma dieta equilibrada. “A melhor escolha depende do contexto, da quantidade, da frequência de consumo, das necessidades individuais e da leitura atenta dos rótulos”, pontua.
9- ‘Comer de três em três horas acelera o metabolismo’
Durante anos, esse hábito foi promovido como uma estratégia para ajudar no emagrecimento. No entanto, segundo a nutricionista Marcela Kotait, coordenadora do ambulatório de anorexia nervosa do Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP), essa ideia não tem base científica.
Ela explica que seguir um cronograma rígido de alimentação pode, inclusive, ser prejudicial: “O que a gente sabe, por outro lado, é que esse hábito de comer a cada três horas numa tentativa pré-definida, com a intenção de emagrecer, faz com que o indivíduo se desconecte dos sinais internos de fome e saciedade.”
Além disso, Marcela reforça que não existe comprovação de que o simples ato de comer em intervalos curtos acelere o metabolismo. “Esse número meio mágico, de três em três horas, não se sustenta. Quando se pensa em emagrecimento ou manutenção do peso, o que importa mesmo é a ingestão calórica total ao longo do dia, e não como ela é fracionada”, conclui.
10- ‘Água com limão em jejum emagrece’
Segundo Marcela, esse é mais um conselho sem sentido. “Não existe comprovação de que a água com limão em jejum ajude a perder peso. Isso faz parte de uma série de modismos que tentam oferecer soluções mágicas, muitas vezes ligadas à ideia de alterar o pH do estômago ou do corpo”, explica a especialista.
Marcela alerta que esse tipo de crença se baseia em pseudociência e pode desviar o foco do que realmente importa para o emagrecimento: alimentação equilibrada, consciência corporal e hábitos sustentáveis.
11- ‘Comer gordura engorda’
Marcela aponta que essa ideia é simplista e equivocada. “Na verdade, tudo engorda e nada engorda. O grande ponto é que, quando se come em excesso, tudo pode se transformar em depósito de energia que o nosso corpo vai armazenar em forma de gordura. E o que leva ao ganho de peso é o excesso, independentemente do nutriente”, afirma.
Marcela explica que tanto gorduras como proteínas e carboidratos podem ser convertidos em gordura corporal.
Segundo ela, o mais importante é considerar a quantidade, a frequência e o comportamento alimentar como um todo. “É mais relevante entender como o indivíduo se relaciona com a comida do que demonizar um nutriente específico”, resume.
12- ‘Ovo aumenta o colesterol’
Essa associação já foi desmentida há tempos pela ciência. “O ovo é o grande exemplo do que uma informação mal embasada pode causar: terrorismo nutricional”, destaca Marcela.
De acordo com a nutricionista, o ovo, assim como outros itens demonizados ao longo do tempo, como a manteiga, foi vítima de modismos alimentares. “São alimentos ricos em determinados nutrientes, mas isso precisa ser analisado com equilíbrio, considerando quantidade e frequência de consumo.”
Ela alerta também para o problema de reduzir a comida aos seus nutrientes, um comportamento comum no discurso atual sobre alimentação. “As pessoas não comem mais pão, comem carboidrato; não comem mais carne, comem proteína. Essa codificação afasta o indivíduo de uma relação saudável com a comida”, alerta.
Para a especialista, uma alimentação verdadeiramente equilibrada envolve escuta do corpo, respeito à fome e à saciedade, e escolhas conscientes. “Comer bem não é cortar nutrientes, é construir um hábito alimentar pacífico e sustentável a longo prazo”, conclui.
Reportagem de Fernanda Bassette no Estadão
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