quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Consequências de uma burrice

O nível generalizado de desconfiança que dissolveu instantaneamente a relação de simpatia entre a sociedade e o governo Dilma, foi a descoberta que todo o custoso marketing feito durante a campanha eleitoral era apenas um nevoeiro para esconder uma triste realidade.
A decepção se apossou dos seus eleitores, um pouco mais de um terço do total, ainda que maioria no segundo turno. Hoje estão reduzidos a menos de 10% do total.
E, pior, aparentemente confinados ao gueto do ONGoismo, dos movimentos sociais domesticados e de sindicatos, todos beneficiados ou financiados pelo governo federal. A verdade é que um pouco menos de dois terços dos eleitores já eram contra ela no dia da eleição.
Parte da rejeição ao governo é devida ao conhecimento que a presidente, para reeleger-se, acelerou a crise fiscal anunciada há pelo menos 20 anos. Esta assumiu, agora, o status superior de "estrutural", uma vez que o crescimento da receita (mesmo com os aumentos de impostos de mais de 10% do PIB no período) vão continuar a crescer menos do que a despesa, que é determinada endogenamente, pela vinculação de 90% dos gastos!
Dilma tem dificuldades de lidar com o problema, uma vez que, em 9 de novembro de 2005 –quando era chefe da Casa Civil–, chamou o plano de ajuste fiscal de longo prazo que estava sendo preparado de "rudimentar" e acrescentou que "o tal debate é absolutamente desqualificado e não há autorização do governo para ele ocorrer".
O surpreendente é que todos sabiam que ele estava sendo estimulado por Lula, por sugestão dos ministros Antonio Palocci e Paulo Bernardo.
Para sentir a gravidade da situação atual, em dezembro de 2013 o deficit nominal do governo foi de 3%, contra 6,2% em dezembro de 2014 e estima-se que terminaremos 2015, com um deficit nominal de 7% e, que a relação dívida bruta que era de 53,3% em dezembro de 2014, atingiu 58,9% em 2015 e deve beirar 62% ao final de 2015, um aumento de quase 10% do PIB em apenas dois anos!
Outra parte significativa da rejeição expressa nas "passeatas cívicas", nos "panelaços" etc. parece vir da impressão generalizada que Dilma ignorou a realidade talvez, inconscientemente, como revelou em entrevista. 
Como disse Nietzsche, "as mentiras mais comuns são as que contamos para nós mesmos; as outras são, relativamente, exceções".
É preciso muita sorte e muita arte e engenho para desfazer tal impressão. Restabelecer a confiança da sociedade, é condição preliminar (ainda que não suficiente) para a volta do crescimento econômico que corrigirá todas as coisas.

Texto de Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo de 26/08/2015
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/230804-consequencias.shtml 

O texto acima se completa com outra publicação que fiz aqui, sobre o possível "ajuste de contas" que poderia ter sido feito ainda em 2005, acessem e vejam
http://amorordemeprogresso.blogspot.com.br/2015/08/o-pt-que-perdeu.html


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