terça-feira, 31 de março de 2020

Gilson Rodrigues tenta impedir que o coronavírus devaste Paraisópolis

Como presidente da UNIÃO "associação dos moradores de Paraisópolis, ele tenta frear o avanço da covid-19 em uma favela com 100 mil habitantes, onde o trunfo do isolamento – eficaz para conter o vírus – encara a desigualdade brasileira
Gilson RodriguesEm dez anos, Gilson viabilizou mais de R$ 1 bilhão em investimentos em Paraisópolis junto ao poder público. Teve CEU, Etec, um pouco mais de educação, de saúde, de habitação. Conheceu 14 países.

Com a chegada do coronavírus, arregaçou as mangas mais uma vez e montou o “fluxo”. Nas duas últimas semanas, encontrou 840 moradores. Eles se tornaram presidentes e vice-presidentes de rua. Cada dupla cuida de 50 famílias. A ação abrange as 21 mil famílias da ‘cidade’. Cada presidente tem quatro responsabilidades diárias. Manter todos em casa, distribuir as doações que chegam em número insuficiente e, principalmente, acionar as ambulâncias em caso de suspeita de covid-19.
Gilson alugou três ambulâncias. Duas normais e uma UTI. Alugou ao custo de R$ 5 mil por dia. Alugou, mas ainda não pagou. Em um mês, terá gasto R$ 150 mil. Gilson gostaria de ajuda para arcar com esse custo.

A quarta responsabilidade dos presidentes e vice-presidentes de rua é combater fake news. Tem gente em Paraisópolis dizendo que o coronavírus é doença de rico. E Gilson sabe que não é. O organizador de Paraisópolis ainda viabiliza em duas escolas da região uma espécie de centro de acolhimento para as pessoas, da comunidade, que apresentarem os sintomas. Uma maneira de evitar a propagação da doença. Como a China fez. O protocolo de ações está sendo usado em outras comunidades. Gilson menciona a Rocinha no Rio de Janeiro e uma favela em Belo Horizonte.

Ao citar as medidas que adotou, Gilson é duro como a vida o fez. “A favela está se organizando e a classe média vai viver uma experiência que a gente sempre viveu. Vai pegar fila no hospital. E vai morrer. A classe média tem que se organizar também”. Mas ele também sonha. “O que eu quero fazer é ajudar as favelas para que elas sejam agentes de sua transformação. As favelas do Brasil e do mundo”. Seria um belo final feliz.

Reportagem de Daniel Fernandes n'O Estado de S. Paulo de 30 de março de 2020

https://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,gilson-rodrigues-tenta-impedir-que-o-coronavirus-devaste-paraisopolis,70003252692

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