Peixe é excelente fonte de proteínas e conta com gordura protetora do cérebro e do coração
O salmão é um peixe gordo, com uma concentração de gordura alto em relação aos demais. O grande diferencial é a qualidade dessa gordura, que faz bem para o organismo — explica a nutricionista Priscilla Primi, colunista do GLOBO.
Nutricionalmente falando, a carne do salmão é uma excelente fonte de proteínas de alta qualidade, com vitaminas, minerais e antioxidantes importantes para o bom funcionamento do corpo. Há algumas diferenças entre os peixes, a depender da origem. E cuidados para que o consumo desse alimento seja sempre seguro. Veja a seguir as principais dúvidas sobre o pescado:
De onde vem o salmão?
O salmão é um peixe que vive nas águas geladas do Atlântico Norte e Pacífico — principalmente, Alasca, Canadá e Noruega. Nasce na água doce, migra para o mar e volta aos rios em época de reprodução.
Desde que se popularizou no mundo, a demanda cresceu em um ritmo impossível de se acompanhar só com a pesca do peixe selvagem. Aí surgiram as versões de cativeiro, geralmente criados em extensos viveiros aquáticos, confinado em espaços com redes instaladas.
Nesses locais, a alimentação natural do peixe é substituída por ração, e os animais são monitorados para evitar doenças, e ocasionalmente antibióticos são administrados. Entre os exportadores do pescado de viveiro, estão Canadá, Estados Unidos e o Chile, fonte de grande parte do salmão encontrado no Brasil.
Por que o Brasil não tem sua própria produção?
O Brasil não tem condições adequadas para sobrevivência do salmão, que são águas abaixo de 15 °C. Alguns países de clima quente usam tanques com controle de temperatura para garantir o ambiente ideal para a criação, mas isso exige tecnologia refinada e investimentos altos em infraestrutura.
O salmão faz bem afinal?
O peixe de águas geladas é uma excelente fonte de nutrientes. Contém bastante proteína (22 a 25 gramas em uma porção de 100g), vitaminas como a B12 e a D, e diversos minerais, sendo o principal deles o selênio.
— Trata-se de um mineral importante, que participa de processos antioxidantes e anti-inflamatórios do corpo — afirma a nutricionista Adaliene Versiani, professora do departamento de Nutrição da UFMG.
Um dos mais festejados nutrientes do salmão, no entanto, é o ácido graxo ômega-3, um tipo de gordura poli-insaturada com uma extensa lista de benefícios para o organismo. Protege o cérebro e a memória, reduz o risco de câncer e a inflamação.
— O ômega-3 é um dos nutrientes mais estudados até hoje. Já foi apontada influência na saúde mental, como redução de transtornos como depressão. Cada vez mais a ciência descobre benefícios — diz Primi.
A inclusão dessa gordura boa na dieta é especialmente importante para balancear o alto consumo de ômega-6 na alimentação ocidental de hoje, com a ingestão excessiva de óleos vegetais como o de soja. O ômega-3 é considerado um “neutralizador” de efeitos pró-inflamatórios dessas gorduras. Quando os “dois ômegas” estão equilibrados, há menos riscos cardíacos.
Além disso, os tipos de ômega-3 do salmão são o EPA e o DHA, que o corpo consegue aproveitar melhor do que o da linhaça, por exemplo, o ALA, que precisa ser convertido.
De onde vem a cor rosada? É verdade que o peixe de cativeiro tem a carne colorida artificialmente?
A carne do salmão tem variações de cor entre o rosa claro e o laranja intenso, a depender de como se alimentou aquele animal. Os peixes selvagens costumam comer krill, um minúsculo camarão que é fonte de um pigmento carotenoide chamado astaxantina.
Em cativeiro, fontes de astaxantina são adicionadas à ração. Existem versões sintéticas e naturais, derivadas de microalgas e leveduras.
— A astaxantina é um antioxidante importante para o corpo. Por isso é importante comprar de um fornecedor confiável para saber que o pigmento vem de uma boa fonte — diz Primi.
Existem diferenças nutricionais do salmão selvagem e de cativeiro?
Sim, mas as diferenças variam muito, a depender da alimentação, seja ela natural ou ração, e da época e local da pesca do salmão.
— Geralmente, o salmão selvagem tem um pouco mais proteínas — diz Versiani.
Quanto ao teor de ômega-3, as análises têm conclusões variadas. Um estudo de 2017, do Instituto Nacional de Nutrição e Pesquisa Marinha da Noruega, encontrou quantidades equivalentes, mas o peixe de cativeiro tinha níveis maiores de ômega-6. Em termos gerais, nutricionistas consideram as duas versões boas fontes da gordura poli-insaturada.
Outra preocupação são os contaminantes. O mesmo estudo norueguês encontrou níveis três vezes mais altos de mercúrio e poluentes orgânicos persistentes (POPs) no salmão selvagem do Atlântico na comparação com animais de viveiros. Essas substâncias vêm da contaminação dos mares por pesticidas e produtos industriais e tendem a se bioacumular em seres vivos.
Em entrevista recente ao jornal New York Times, o diretor do instituto Food is Medicine da Universidade de Tufts, nos Estados Unidos, Dariush Mozaffarian, afirmou que essas toxinas foram encontradas em níveis seguros para consumo.
Reportagem de Gustavo Leitão n'O Globo
https://oglobo.globo.com/saude/bem-estar/noticia/2024/04/21/cor-rosa-fake-contaminacao-por-metais-confira-os-principais-mitos-e-verdades-sobre-o-salmao.ghtml
domingo, 21 de abril de 2024
segunda-feira, 8 de abril de 2024
Cracolândia, uma solução não utópica
Em casos graves, internação compulsória é medida humanitária de saúde pública
A cracolândia paulistana existe há mais de 30 anos —uma chaga aberta no coração da cidade de São Paulo.
Por quê? Nunca foi feito o correto: tratar os seus frequentadores como doentes mentais gravíssimos. E doentes dessa natureza têm que ser internados compulsoriamente em hospitais psiquiátricos por período de tempo longo.
O problema é que a psiquiatria parece "terra de ninguém" e muitos querem dar pitaco. Em razão disso, várias pessoas posicionam-se contra a internação compulsória. Um dos argumentos mais evocados é o de que os pacientes têm o direito de escolher o próprio tratamento. Simplesmente impossível, pois estão dominados pelo vício, consequentemente sem livre-arbítrio; ou seja, sem possibilidade de decisão.
Aglomeração da cracolândia na rua dos Protestantes, no centro de São Paulo - Danilo Verpa - 15.ago.2023/Folhapress - Folhapress
Caso sofressem processos de interdição, todos, sem exceção, seriam interditados por moléstia psíquica grave e incapacitante. E, acima disso, é preciso lembrar que antes do direito vem o dever: "Cumpras o teu dever". Se todos cumprissem o dever, não precisaria do direito individual, que nasce do débito do que não foi realizado. A internação compulsória é medida humanitária de saúde pública. São doentes, desesperados que já nada mais têm a não ser a tentação do vício por todos os lados e a fatalidade trágica pela frente.
Para acabar, sem utopias, com a cracolândia e dar uma chance de vida digna aos seus frequentadores é preciso pulso firme e implantar os dez seguintes passos.
Primeiro: tirar os dependentes das ruas, compulsoriamente, encaminhando-os a lugar previamente preparado, com características hospitalares, com médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais etc. O antigo Hospital do Juquery já abrigou mais de 10 mil pacientes, mas hoje está ocioso e poderia ser adaptado para receber os cerca de mil viciados que habitam, atualmente, a cracolândia paulistana.
Segundo: triagem médica e jurídica; ou seja, quem de fato é doente, permanece, quem não é volta para a rua, enquanto os traficantes devem ser encaminhados à polícia.
Terceiro: promover a higiene física, com roupas limpas, alimentação adequada, hidratação, administrar vitamínicos, combater infecções e aplicar sedativos ditos menores (ansiolíticos e miorrelaxantes) para combater a fissura.
Quarto: inseri-los na laborterapia de cunho profissionalizante: ensinar a cozinhar, carpintaria, cerâmica etc., mesclando com lazer —jogos, pintura e música. Esse período precisa ser longo; caso contrário, recaem rapidamente.
Quinto: o serviço social se incumbirá de procurar parentes do dependente químico, formando grupos de terapia para ajudar no relacionamento paciente-família.
Sexto: à medida que os benefícios terapêuticos físicos e mentais se solidificam, inicia-se o processo de alta progressiva, passando do regime de internação fechado para o semiaberto, que é a residência terapêutica, com saídas programadas e monitoradas pelos chamados atendentes terapêuticos.
Sétimo: passagem do regime semiaberto ao aberto, por meio do hospital-dia; ou seja, durante o dia frequenta a residência terapêutica, participa de reuniões coletivas, laborterapia, recreação e, no fim da tarde, volta para casa.
Oitavo: alta médica com segmento ambulatorial para ex-viciados nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), já existentes. Em caso de recidiva, volta ao regime de internação.
Nono: as entidades religiosas e os movimentos caritativos ajudariam na reintegração social do paciente ao criar oportunidades de trabalho e circunstâncias positivas, as quais são fundamentais nesse momento em que se visa a reinserção de doentes estigmatizados em uma sociedade preconceituosa.
Décimo: ação positiva dos governos com a indústria que empregar ex-pacientes, desonerando-a de certos tributos fiscais, por exemplo.
E, finalmente, dizer que "paciente psiquiátrico tem o direito de escolher se quer ou não ser tratado" equivale a estar diante de um humano debruçado na janela do 10º andar de um edifício, pronto para se suicidar, e não tentar agarrá-lo pelas pernas, pela camisa, pelos cabelos —um ato obrigatório em virtude de ordem moral. Tu deves fazê-lo.
Texto de Guido Palomba, psiquiatra forense, membro emérito e ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, na Folha de São Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/04/cracolandia-uma-solucao-nao-utopica.shtml
A cracolândia paulistana existe há mais de 30 anos —uma chaga aberta no coração da cidade de São Paulo.
Por quê? Nunca foi feito o correto: tratar os seus frequentadores como doentes mentais gravíssimos. E doentes dessa natureza têm que ser internados compulsoriamente em hospitais psiquiátricos por período de tempo longo.
O problema é que a psiquiatria parece "terra de ninguém" e muitos querem dar pitaco. Em razão disso, várias pessoas posicionam-se contra a internação compulsória. Um dos argumentos mais evocados é o de que os pacientes têm o direito de escolher o próprio tratamento. Simplesmente impossível, pois estão dominados pelo vício, consequentemente sem livre-arbítrio; ou seja, sem possibilidade de decisão.
Aglomeração da cracolândia na rua dos Protestantes, no centro de São Paulo - Danilo Verpa - 15.ago.2023/Folhapress - Folhapress
Caso sofressem processos de interdição, todos, sem exceção, seriam interditados por moléstia psíquica grave e incapacitante. E, acima disso, é preciso lembrar que antes do direito vem o dever: "Cumpras o teu dever". Se todos cumprissem o dever, não precisaria do direito individual, que nasce do débito do que não foi realizado. A internação compulsória é medida humanitária de saúde pública. São doentes, desesperados que já nada mais têm a não ser a tentação do vício por todos os lados e a fatalidade trágica pela frente.
Para acabar, sem utopias, com a cracolândia e dar uma chance de vida digna aos seus frequentadores é preciso pulso firme e implantar os dez seguintes passos.
Primeiro: tirar os dependentes das ruas, compulsoriamente, encaminhando-os a lugar previamente preparado, com características hospitalares, com médicos, psicólogos, assistentes sociais, terapeutas ocupacionais etc. O antigo Hospital do Juquery já abrigou mais de 10 mil pacientes, mas hoje está ocioso e poderia ser adaptado para receber os cerca de mil viciados que habitam, atualmente, a cracolândia paulistana.
Segundo: triagem médica e jurídica; ou seja, quem de fato é doente, permanece, quem não é volta para a rua, enquanto os traficantes devem ser encaminhados à polícia.
Terceiro: promover a higiene física, com roupas limpas, alimentação adequada, hidratação, administrar vitamínicos, combater infecções e aplicar sedativos ditos menores (ansiolíticos e miorrelaxantes) para combater a fissura.
Quarto: inseri-los na laborterapia de cunho profissionalizante: ensinar a cozinhar, carpintaria, cerâmica etc., mesclando com lazer —jogos, pintura e música. Esse período precisa ser longo; caso contrário, recaem rapidamente.
Quinto: o serviço social se incumbirá de procurar parentes do dependente químico, formando grupos de terapia para ajudar no relacionamento paciente-família.
Sexto: à medida que os benefícios terapêuticos físicos e mentais se solidificam, inicia-se o processo de alta progressiva, passando do regime de internação fechado para o semiaberto, que é a residência terapêutica, com saídas programadas e monitoradas pelos chamados atendentes terapêuticos.
Sétimo: passagem do regime semiaberto ao aberto, por meio do hospital-dia; ou seja, durante o dia frequenta a residência terapêutica, participa de reuniões coletivas, laborterapia, recreação e, no fim da tarde, volta para casa.
Oitavo: alta médica com segmento ambulatorial para ex-viciados nos Centros de Atenção Psicossocial (Caps), já existentes. Em caso de recidiva, volta ao regime de internação.
Nono: as entidades religiosas e os movimentos caritativos ajudariam na reintegração social do paciente ao criar oportunidades de trabalho e circunstâncias positivas, as quais são fundamentais nesse momento em que se visa a reinserção de doentes estigmatizados em uma sociedade preconceituosa.
Décimo: ação positiva dos governos com a indústria que empregar ex-pacientes, desonerando-a de certos tributos fiscais, por exemplo.
E, finalmente, dizer que "paciente psiquiátrico tem o direito de escolher se quer ou não ser tratado" equivale a estar diante de um humano debruçado na janela do 10º andar de um edifício, pronto para se suicidar, e não tentar agarrá-lo pelas pernas, pela camisa, pelos cabelos —um ato obrigatório em virtude de ordem moral. Tu deves fazê-lo.
Texto de Guido Palomba, psiquiatra forense, membro emérito e ex-presidente da Academia de Medicina de São Paulo, na Folha de São Paulo
https://www1.folha.uol.com.br/opiniao/2024/04/cracolandia-uma-solucao-nao-utopica.shtml
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