terça-feira, 28 de julho de 2009

O futuro é delas = Mulheres em início de carreira encontrarão cenário mais promissor para alcançar cargos de liderança







Elas já são maioria na população, no ensino superior e na força de trabalho. A nova geração de mulheres terá, como nenhuma outra, acesso a cargos de comando em empresas, no setor público e nas universidades brasileiras. Se a igualdade com os homens em termos de oportunidades e salário ainda é uma miragem, o número de mulheres em postos de chefia no País aumentou de forma expressiva nos últimos anos e só tende a crescer. Ou seja: meninas, preparem-se.

A pesquisa 100 Melhores Empresas para Trabalhar - Brasil, da consultoria Great Place to Work, registrou aumento na participação feminina em todos os níveis. Nos postos de liderança, de 1997 a 2008, o índice subiu de 11% para 33%. “Nos próximos cinco anos o ritmo de mudanças será dobrado. As empresas estão se tornando mais éticas. Absorvem mais mulheres e permitem que elas alcancem cargos mais altos”, diz o CEO da consultoria, Ruy Shiozawa.

Elisa Carvalho, de 19 anos, não esperou a carreira começar para assumir um posto de comando. Há dois anos no curso de Administração da Fundação Getúlio Vargas (FGV), tornou-se diretora de Relações Corporativas da Aiesec, ONG internacional que estimula o desenvolvimento de lideranças entre universitários. Ela ainda não faz ideia do rumo de sua carreira, mas sabe como construí-la. “Quando chegar à liderança, quero discutir todos os pontos, ter compromisso com resultados, fazer todos enxergarem sua importância na empresa.”

A vice-presidente do Núcleo de Estudos do Futuro da PUC-SP, Rosa Alegria, presidente da consultoria Perspektiva, acredita que o cenário para as jovens é bem mais promissor que o encontrado por suas mães. “Será um mundo mais acolhedor, porque elas terão construído ao longo da carreira um novo estilo de comando.” Rosa representa o Brasil no Millennia 2015, pesquisa colaborativa internacional que fará projeções sobre o status das mulheres em 2025 e sua atuação nas transformações globais. “A tendência é as empresas contratarem mais, mas as jovens não vão querer replicar o atual modelo patriarcal, que as impede de viver os papeis de mães, esposas e cidadãs”, afirma Rosa.


Com 26 anos de carreira, a diretora-executiva de Recursos Humanos do Banco Santander, Lilian Guimarães, acha que a visão sobre a vida profissional mudou bastante. “Os jovens hoje conseguem enxergar prioridades além do trabalho. Mais da metade quer ser dono do próprio negócio, fazer MBA no exterior.”

A participação feminina em cargos decisórios é de 53% nas 10 empresas líderes do ranking da Great Place no Brasil. Só oito são presididas por mulheres, mas a pesquisa indica que elas são mais requisitadas em tempos de crise ou mudanças. “É mais fácil para elas lidar com esses momentos, pois conseguem traduzir para o ambiente profissional a complexidade da gestão da vida pessoal”, afirma Shiozawa.

Mãe de três filhos, o caçula de 1 ano, Cláudia Santos concilia tarefas da casa com a presidência no Brasil da AMD, uma das principais indústrias mundiais de semicondutores. Há quatro anos na empresa, assumiu o cargo no fim de 2008. “As pessoas são medidas pela produtividade. A questão é fazer uma gestão inteligente do tempo e mostrar resultados.”

Há seis anos no comando da MPM Propaganda, Bia Aydar considera uma ilusão a mulher achar que conseguirá conciliar todos os papeis. “Não vi meus filhos crescerem. Doeu, mas não me arrependo. Optei por investir na carreira para ser feliz. A vida pessoal acaba sacrificada, assim como a dos homens.”

Para Rosaly Lopes, especialista em Vulcanologia do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia, os homens não precisam ser encarados como obstáculos à ascensão. “O que vale é trabalhar muito. Tive a ajuda de colegas que reconheceram meu talento, a maioria homens”, diz Rosaly, que já fez expedições a vulcões como o Etna e o Vesúvio e foi a primeira brasileira a ganhar o Wings Worldquest Women of Discovery, prêmio para mulheres que se destacam na exploração científica.

“A mulher está mudando a atitude e vendo que não é preciso competir com o homem”, acredita a vice-presidente do Instituto Claro, Carime Kanbour, que comanda uma equipe de sete funcionárias. “Ainda há atitudes preconceituosas, mas a competência será cada vez mais valorizada.”

O espaço conquistado no mercado nos últimos 30 anos ainda não levou as mulheres a ganharem salários equivalentes aos dos homens, embora a diferença de remuneração tenha caído. A pesquisadora Regina Madalozzo, do Instituto Insper, avaliou a distribuição de ocupações por gênero de 1978 a 2007, com base na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios do IBGE. Nesse período, a disparidade caiu de 33% para 15%. “Podemos reduzi-la para 10% em 2020. A partir daí, deve ficar estável. Na Europa, ela está nesse patamar há mais de 20 anos. Infelizmente não há ainda nenhum país com diferença zero.”

Para Carlos Arruda, professor da Fundação Dom Cabral, a equiparação não ocorrerá logo. “Talvez ainda demore uma geração. Não há mais discriminação, o problema é a falta de práticas para garantir a igualdade”, diz Arruda, único representante do Brasil no Conselho de Diversidade do Fórum Econômico Mundial, encontro dos principais executivos do planeta realizado anualmente em Davos, Suíça.

Há três anos, o fórum publica a pesquisa The Global Gender Gap Report, que avalia o equilíbrio entre gêneros nos países. “O presidente do fórum, Klaus Schwab, formou o conselho ao ver que 85% dos participantes dos encontros em Davos eram homens.”

A pesquisa estabelece uma escala de 0 a 1, da completa desigualdade ao total equilíbrio. No último relatório, o Brasil ficou na 73º posição entre 130 países, com índice de 0,674. No mercado brasileiro o número de mulheres corresponde a 1,08 na escala – ou seja, elas são maioria. Nos cargos de decisão, o índice cai para 0,52. “As vagas vão mais para os homens. Estamos formando uma força de trabalho que não é aproveitada”, diz Arruda.

Já que são maioria, cabe às mulheres mudar a situação. Fernanda Teixeira, presidente no Brasil da First Data, gigante no processamento de operações e pagamentos eletrônicos, percebeu isso. Criou há sete anos o grupo Executivas de São Paulo, que reúne mais de 200 lideranças femininas de empresas. O objetivo é discutir meios para as mulheres alcançarem a fatia de 50% dos cargos decisórios.

“Participar de organizações como essa é importante para as mulheres ampliarem seu networking”, diz. “A mulher é ruim no marketing pessoal. Os homens estão em várias comunidades.”

Um dos principais argumentos de Fernanda a favor da ascensão das mulheres na hierarquia corporativa é o fato de elas serem maioria entre os consumidores. “Sei o que o mercado precisa e defino melhor como a empresa deve agir para atendê-lo.”


Ana Bizzotto - Especial para O Estado de São Paulo


COLABORARAM BRUNA TIUSSU e ELIDA OLIVEIRA, ESPECIAL PARA O ESTADO

http://www.estadao.com.br/noticias/suplementos,o-futuro-e-delas,409269,0.shtm

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