Bullying motivou 87% de ataques em escolas, diz estudo
Governo americano analisou 66 casos no mundo, entre 1966 e 2011; matador de Realengo também alegou ter sido perseguido por colegas
O psiquiatra americano Timothy Brewerton, que tratou de alguns dos estudantes sobreviventes do massacre de Columbine, que deixou 13 mortos em 1999, apresentou ontem no Rio estudo realizado pelo serviço secreto americano cujo resultado apontou que nos 66 ataques em escolas que ocorreram no mundo, de 1966 até 2011, 87% dos atiradores sofriam bullying e foram movidos pelo desejo de vingança.
Trata-se da mesma motivação alegada pelo atirador Wellington Menezes de Oliveira. "O bullying pode ser considerado a chave para entender o problema e um enorme fator de risco, mas outras características são importantes, como tendências suicidas, problemas mentais e acessos de ira. Não acredito em um estereótipo ou perfil para um assassino potencial nas escolas."
A pesquisa apontou que em 76% dos ataques no mundo os assassinos eram adolescentes e tinham fácil acesso às armas de parentes. "Além do controle ao acesso às armas, recomendamos também que os pais fiquem atentos a alguns comportamentos, como maus-tratos contra animais, alternância de estados de humor, tendências incendiárias, isolamento e indiferença", disse Brewerton. Segundo ele, 70% dos ataques registrados em escolas no mundo aconteceram nos Estados Unidos. O levantamento apontou que naquele país 160 mil alunos faltam diariamente no colégio por medo de sofrer humilhações, surras ou agressões verbais.
Prevenção. O americano acredita que é possível prevenir os ataques e defendeu que cabe aos educadores identificar na escola crianças com problemas mentais que podem resultar em comportamentos violentos desse tipo. Ele afirmou que muitas vezes um transtorno mental não identificado pelos pais causa falta de comunicação com os colegas, isolamento social e, algumas vezes, o bullying . "Os problemas psicológicos associados com violência, como a esquizofrenia e o distúrbio bipolar, manifestam-se pela primeira vez na infância. É o momento de interferir e tratar. Mais adiante, essa atitude vai fazer uma imensa diferença no processo de crescimento dessa pessoa", disse.
Ele deu uma palestras para psiquiatras da Santa Casa do Rio e alertou que as crianças são mais vulneráveis aos traumas psicológicos e podem desenvolver o transtorno de estresse pós-traumático, depois de presenciarem eventos violentos, como o massacre na Escola Tasso da Silveira. "Elas passam a generalizar e pensar que o mundo é apenas um lugar perigoso e a escola não é segura", afirmou.
Trauma. Segundo o pesquisador, o transtorno aparece dois meses depois do trauma sofrido pelo paciente e os sintomas vão do isolamento social ao desenvolvimento de distúrbios físicos e mentais. Brewerton recomendou paciência aos pais. O psiquiatra disse que a boa notícia é que geralmente as crianças são mais fáceis de tratar do que os adultos, pois não possuem outros traumas em seu passado.
De Pedro Dantas em O Estado de S.Paulo de 16 de Abril de 2011
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