Caem a foto e a máscara
Sarney mandou tirar as fotos do impeachment de Collor do "túnel do tempo", corredor do Senado que resume a história brasileira em textos e imagens. Já não era sem tempo. Collor, que já foi o inimigo número um, agora é só mais um na paisagem.
Como disse Lula, com uma risada marota, o vale-tudo contra Collor é coisa do passado e foi jogo político. A garotada que foi às ruas? Cresceu, endureceu e há os que defendem piamente que não tem nada demais petista palaciano multiplicar patrimônio por 20 em quatro anos e comprar apartamento de R$ 6,6 milhões. Sem dizer como...
O Brasil reescreve a história, apaga vestígios de moralismo, recria pessoas e maquia ou apaga fotos ao velho jeitão stalinista. Os que acham tudo isso bacana dirão que o país está "amadurecendo". Outros, que se trata de um deslavado cinismo. Impera o que mais se temia desde a redemocratização: a sensação de que são todos iguais.
Além dos políticos, até seus governos parecem iguais. Vejamos agora. Com Dilma, como foi com Collor, a(o) presidente não tem traquejo político e parece engolida(o) pelos aliados, antes que pelos adversários. Com Dilma, como foi com Sarney, tudo corre solto e a(o) presidente parece à sombra de quem de fato manda. Com todo o respeito ao dr. Ulysses, Palocci é o Ulysses de Dilma. Enquanto isso, ministros e líderes fazem o que bem entendem -e batem cabeça.
Ao excluir Collor do "túnel do tempo", Sarney vai receber uma crítica daqui, outra dali, mas finalmente fez justiça. O impeachment não foi por um país melhor e mais ético, mas por pura falha técnica: a falta de sustentação política.
Collor era um autoritário autossuficiente; PC Farias não passava de um jeca deslumbrado; o Fiat Elba foi pretexto; nós, os jornalistas, caímos no conto da ética; os caras-pintadas eram só massa de manobra. Nada disso se repetirá. Os novos Collor podem ficar sossegados.
De Eliane Cantanhêde na Folha de São Paulo de 31/05/2011
terça-feira, 31 de maio de 2011
domingo, 29 de maio de 2011
Colégios criam espaço e estimulam pais a almoçar com filhos
Escolas resgatam o almoço em família
Colégios criam espaço e estimulam pais a fazer refeições com filhos durante a semana, algo cada vez mais raro
Objetivo é aproximar a família do ambiente escolar e fornecer aos "pais apressados" um tempo com seus filhos
Oanalista de sistemas Marco Antonio Chaves almoça com o filho, João Pedro, 6, no colégio São Luís, centro de São Paulo
Como quem não quer nada, João Pedro, 6, contou ao pai, o analista de sistemas Marco Antonio Chaves, 37, que alguns colegas almoçavam com os pais na escola.
Foi a deixa para a estreia de Marco Antonio no refeitório do colégio São Luís, na capital, na quinta-feira.
Diante de casais cada vez mais ocupados com o trabalho, colégios particulares de São Paulo e outros Estados têm oferecido a opção de os pais "fugirem" do escritório para almoçar com os filhos que fazem atividades extracurriculares durante a tarde.
Ao menos 20 colégios ouvidos pela Folha (na capital, interior e outros Estados) aderiram à iniciativa. Além de observar como o filho se alimenta, é uma tentativa de resgatar o almoço em família.
O encontro é aberto a pais de alunos de todas as idades, mas acaba funcionando mais com crianças de até dez anos, dizem as escolas.
"Ele já cobrou quando vou vir de novo. Eu disse: "Quando tiver macarrão". Agora, ele não vai parar de procurar no cardápio", brinca Chaves.
No São Luís, o pai estreante sentou-se atrás de uma veterana, a advogada Dolores Cabana de Carvalho, 46.
Duas vezes por semana, há três anos, ela sai do escritório na Paulista para matar a saudade de Matheus, 7. "Não tem remédio melhor que ganhar um beijo no meio do expediente", afirma.
DE OLHO
A refeição é cobrada como num restaurante normal e também acontece nos colégios Humboldt, Santa Cruz, Porto Seguro e Pio 12, na capital, Auxiliadora (Ribeirão Preto) e D'Incao (Bauru).
No Miguel de Cervantes, os pais podem agendar um almoço mensal. No Sidarta, acontece às sextas e, esporadicamente, no Liceu Pasteur (capital) e no Carlos Chagas Filho (São José do Rio Preto).
A rede Marista oferece o almoço com os pais em nove escolas do grupo -em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal.
No Colégio Marista Arquidiocesano, na capital, de 30 a 40 pais almoçam por dia na unidade, de 4.200 alunos.
"Para a família, é um espaço de compensação na vida tão corrida", diz o diretor educacional, Chico Sedrez.
No Marista de Ribeirão Preto, no interior paulista, três vezes por semana, o administrador de empresas Eduardo Stefanelli, 44, e a médica Renata Fedatto, 41, almoçam com os filhos Vitória, 12, e Leonardo, 11.
"Além da praticidade, posso observar o que acontece na escola, os coleguinhas, funcionários, coisas rotineiras da escola", diz Renata.
Rede pública deveria fazer o mesmo, diz pedagoga
Especialistas apoiam almoço na escola como forma de interação
Colégios, no entanto, devem dar suporte aos alunos cujos pais não podem fazer o mesmo, afirmam educadores
Especialistas ouvidos pela Folha apoiam o almoço de pais nas escolas como uma forma de interação com seus filhos. As instituições de ensino devem, no entanto, segundo eles, dar suporte àqueles cujos pais não podem fazer o mesmo.
O almoço em família deveria ser replicado inclusive nas escolas públicas, na opinião de Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Lamentavelmente, é uma opção excelente que não está posta na escola pública", afirma a pedagoga.
Segundo a docente, o almoço é uma forma de interagir com os filhos e seus colegas, além dos professores.
"O que mais se fala é em participação dos pais na vida escolar, que não deve ser só ao buscar o boletim ou ir à festa junina", disse.
Deixar de oferecer a opção do almoço com os pais porque outras crianças podem se frustar não é correto, diz a especialista -assim não haveria festa do Dia das Mães, por exemplo.
"O ideal é encontrar alternativas, como os tios ou avós, ou mesmo o pai do coleguinha envolvê-lo."
"As crianças hoje em dia sabem quando os pais não podem ficar, eles entendem melhor", diz Ilse Sparovek, do Colégio Humboldt.
Proteger outras crianças cujo pai não pode almoçar na escola não é saudável, diz Lino Macedo, do Instituto de Psicologia da USP.
"As comparações são inevitáveis. "É uma bom motivo para uma roda de discussão, de que não é porque o pai não foi que ele não gosta de mim", diz Lino.
Segundo o professor, o horário de almoço é uma boa hora de conviver com o filho, em comparação ao início da noite. "À noite a criança já está sonolenta ou cansada para conversar."
Texto de Juliana Coissi na Folha de São Paulo de 29/05/2011
Colégios criam espaço e estimulam pais a fazer refeições com filhos durante a semana, algo cada vez mais raro
Objetivo é aproximar a família do ambiente escolar e fornecer aos "pais apressados" um tempo com seus filhos
Eduardo Knapp/Folhapress |
Como quem não quer nada, João Pedro, 6, contou ao pai, o analista de sistemas Marco Antonio Chaves, 37, que alguns colegas almoçavam com os pais na escola.
Foi a deixa para a estreia de Marco Antonio no refeitório do colégio São Luís, na capital, na quinta-feira.
Diante de casais cada vez mais ocupados com o trabalho, colégios particulares de São Paulo e outros Estados têm oferecido a opção de os pais "fugirem" do escritório para almoçar com os filhos que fazem atividades extracurriculares durante a tarde.
Ao menos 20 colégios ouvidos pela Folha (na capital, interior e outros Estados) aderiram à iniciativa. Além de observar como o filho se alimenta, é uma tentativa de resgatar o almoço em família.
O encontro é aberto a pais de alunos de todas as idades, mas acaba funcionando mais com crianças de até dez anos, dizem as escolas.
"Ele já cobrou quando vou vir de novo. Eu disse: "Quando tiver macarrão". Agora, ele não vai parar de procurar no cardápio", brinca Chaves.
No São Luís, o pai estreante sentou-se atrás de uma veterana, a advogada Dolores Cabana de Carvalho, 46.
Duas vezes por semana, há três anos, ela sai do escritório na Paulista para matar a saudade de Matheus, 7. "Não tem remédio melhor que ganhar um beijo no meio do expediente", afirma.
DE OLHO
A refeição é cobrada como num restaurante normal e também acontece nos colégios Humboldt, Santa Cruz, Porto Seguro e Pio 12, na capital, Auxiliadora (Ribeirão Preto) e D'Incao (Bauru).
No Miguel de Cervantes, os pais podem agendar um almoço mensal. No Sidarta, acontece às sextas e, esporadicamente, no Liceu Pasteur (capital) e no Carlos Chagas Filho (São José do Rio Preto).
A rede Marista oferece o almoço com os pais em nove escolas do grupo -em São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Distrito Federal.
No Colégio Marista Arquidiocesano, na capital, de 30 a 40 pais almoçam por dia na unidade, de 4.200 alunos.
"Para a família, é um espaço de compensação na vida tão corrida", diz o diretor educacional, Chico Sedrez.
No Marista de Ribeirão Preto, no interior paulista, três vezes por semana, o administrador de empresas Eduardo Stefanelli, 44, e a médica Renata Fedatto, 41, almoçam com os filhos Vitória, 12, e Leonardo, 11.
"Além da praticidade, posso observar o que acontece na escola, os coleguinhas, funcionários, coisas rotineiras da escola", diz Renata.
Rede pública deveria fazer o mesmo, diz pedagoga
Especialistas apoiam almoço na escola como forma de interação
Colégios, no entanto, devem dar suporte aos alunos cujos pais não podem fazer o mesmo, afirmam educadores
Especialistas ouvidos pela Folha apoiam o almoço de pais nas escolas como uma forma de interação com seus filhos. As instituições de ensino devem, no entanto, segundo eles, dar suporte àqueles cujos pais não podem fazer o mesmo.
O almoço em família deveria ser replicado inclusive nas escolas públicas, na opinião de Maria Márcia Sigrist Malavasi, coordenadora do curso de pedagogia da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas).
"Lamentavelmente, é uma opção excelente que não está posta na escola pública", afirma a pedagoga.
Segundo a docente, o almoço é uma forma de interagir com os filhos e seus colegas, além dos professores.
"O que mais se fala é em participação dos pais na vida escolar, que não deve ser só ao buscar o boletim ou ir à festa junina", disse.
Deixar de oferecer a opção do almoço com os pais porque outras crianças podem se frustar não é correto, diz a especialista -assim não haveria festa do Dia das Mães, por exemplo.
"O ideal é encontrar alternativas, como os tios ou avós, ou mesmo o pai do coleguinha envolvê-lo."
"As crianças hoje em dia sabem quando os pais não podem ficar, eles entendem melhor", diz Ilse Sparovek, do Colégio Humboldt.
Proteger outras crianças cujo pai não pode almoçar na escola não é saudável, diz Lino Macedo, do Instituto de Psicologia da USP.
"As comparações são inevitáveis. "É uma bom motivo para uma roda de discussão, de que não é porque o pai não foi que ele não gosta de mim", diz Lino.
Segundo o professor, o horário de almoço é uma boa hora de conviver com o filho, em comparação ao início da noite. "À noite a criança já está sonolenta ou cansada para conversar."
Texto de Juliana Coissi na Folha de São Paulo de 29/05/2011
quarta-feira, 25 de maio de 2011
Anestesia geral
Apatia nacional diante dos pequenos e grandes escândalos envolvendo políticos e dinheiro suado de impostos
O projeto de poder do PT foi sistemático e abrangente na cooptação de vozes e partidos que poderiam vir a ser obstáculos para o seu estilo de governo e ambições.
Ele também blindou seus integrantes contra os escândalos da era Lula. O governo Dilma começa beneficiado por essa configuração.
Com impostos recolhidos pelo Estado, o PT reforçou o caixa das poucas estruturas minimamente organizadas, populares e midiáticas que já fizeram uma real e barulhenta oposição no Brasil.
De resto, CUT, MST, Força Sindical e demais sindicatos já eram ramificações do partido ou simpáticos a ele. O trabalho aqui foi fácil.
O "abril vermelho", temporada de invasões de sem-terra, tornou-se apenas um bom slogan. Já as centrais e sindicatos hoje se refastelam com recursos públicos para programas suspeitos; ou com o dinheiro das estatais que patrocinam as festas do 1º de Maio.
A "paz dos cemitérios" reinante, mesmo diante de escândalos de simples compreensão como o atual (o repentino enriquecimento de Antonio Palocci), foi reforçada pela apropriação de uma carga tributária crescente.
As classes médias e mais abastadas foram obrigadas a transferir, com a intermediação do Estado, parte da sua riqueza para os mais pobres. A expansão do Bolsa Família, a disseminação de aposentadorias rurais e demais benefícios da Previdência, assim como o financiamento de programas como ProUni e Pronaf (para universitários de baixa renda e agricultura familiar), são o resultado dessa troca.
Essa transferência de renda de poucos para muitos explica bastante a queda na desigualdade e o atual dinamismo da economia. O país pegou no tranco, e todos ganharam.
Por último, há o paradoxo de o Brasil ter sido beneficiado por uma crise de enormes proporções nas economias ricas.
E pela subsequente inundação de dinheiro barato e público no hemisfério Norte para tentar resgatar seus mercados.
Parte desse capital veio parar aqui e justifica a abundância e a facilidade atuais para tomar crédito; e a coragem renovada da conservadora banca nacional em assumir um pouco mais de risco.
É plausível que a apatia nacional diante dos pequenos e grandes escândalos envolvendo políticos e dinheiro suado de impostos venha da combinação de tudo isso.
As atuais manifestações na Espanha, com praças tomadas contra a corrupção política, são a outra face dessa mesma moeda. Com o desemprego acima de 20% e sem nenhuma perspectiva no horizonte, não custa muito ir reclamar na rua.
No Brasil, ao contrário, a proliferação de bolsas, empregos, bens importados e crédito faz parecer quase natural o clima de abobalhação e deslumbre novo-rico entre nós, financiadores disso tudo.
De Fernando Canzian na Folha de São Paulo de 25/11/2011
O projeto de poder do PT foi sistemático e abrangente na cooptação de vozes e partidos que poderiam vir a ser obstáculos para o seu estilo de governo e ambições.
Ele também blindou seus integrantes contra os escândalos da era Lula. O governo Dilma começa beneficiado por essa configuração.
Com impostos recolhidos pelo Estado, o PT reforçou o caixa das poucas estruturas minimamente organizadas, populares e midiáticas que já fizeram uma real e barulhenta oposição no Brasil.
De resto, CUT, MST, Força Sindical e demais sindicatos já eram ramificações do partido ou simpáticos a ele. O trabalho aqui foi fácil.
O "abril vermelho", temporada de invasões de sem-terra, tornou-se apenas um bom slogan. Já as centrais e sindicatos hoje se refastelam com recursos públicos para programas suspeitos; ou com o dinheiro das estatais que patrocinam as festas do 1º de Maio.
A "paz dos cemitérios" reinante, mesmo diante de escândalos de simples compreensão como o atual (o repentino enriquecimento de Antonio Palocci), foi reforçada pela apropriação de uma carga tributária crescente.
As classes médias e mais abastadas foram obrigadas a transferir, com a intermediação do Estado, parte da sua riqueza para os mais pobres. A expansão do Bolsa Família, a disseminação de aposentadorias rurais e demais benefícios da Previdência, assim como o financiamento de programas como ProUni e Pronaf (para universitários de baixa renda e agricultura familiar), são o resultado dessa troca.
Essa transferência de renda de poucos para muitos explica bastante a queda na desigualdade e o atual dinamismo da economia. O país pegou no tranco, e todos ganharam.
Por último, há o paradoxo de o Brasil ter sido beneficiado por uma crise de enormes proporções nas economias ricas.
E pela subsequente inundação de dinheiro barato e público no hemisfério Norte para tentar resgatar seus mercados.
Parte desse capital veio parar aqui e justifica a abundância e a facilidade atuais para tomar crédito; e a coragem renovada da conservadora banca nacional em assumir um pouco mais de risco.
É plausível que a apatia nacional diante dos pequenos e grandes escândalos envolvendo políticos e dinheiro suado de impostos venha da combinação de tudo isso.
As atuais manifestações na Espanha, com praças tomadas contra a corrupção política, são a outra face dessa mesma moeda. Com o desemprego acima de 20% e sem nenhuma perspectiva no horizonte, não custa muito ir reclamar na rua.
No Brasil, ao contrário, a proliferação de bolsas, empregos, bens importados e crédito faz parecer quase natural o clima de abobalhação e deslumbre novo-rico entre nós, financiadores disso tudo.
De Fernando Canzian na Folha de São Paulo de 25/11/2011
Câncer de boca causado por sexo oral avança no Brasil
Responsável é o vírus HPV, também ligado a tumores de colo do útero
Na última década, perfil do paciente mudou de homem fumante mais velho para jovem que faz sexo sem proteção
Em uma década, dispararam no país os casos de câncer de boca e orofaringe relacionados à infecção por HPV (papilomavírus humano), transmitidos por sexo oral.
O índice de tumores provocados pelo vírus é três vezes superior ao registrado no fim da década de 1990. Não há um aumento do número total de casos, mas sim uma mudança no perfil da doença.
Antes, cânceres de boca e da orofaringe (região atrás da língua, o palato e as amígdalas) afetavam homens acima de 50 anos, tabagistas e/ou alcoólatras.
Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
Uma recente análise publicada no periódico "International Journal of Epidemiology" mostra que, quanto maior o número de parceiras com as quais pratica sexo oral e quanto mais precoce for o início da vida sexual, mais risco o homem terá de desenvolver câncer causado pelo HPV.
MAIS CASOS
No Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, 80% dos tumores de orofaringe têm associação com o papilomavírus. Há dez anos, essa associação existia em 25% dos casos.
O HPV já está presente em 32% dos tumores de boca em pacientes abaixo dos 45 anos ""antes, o índice era de 5%. Por ano, o hospital atende 160 casos desses tumores.
"O aumento dos tumores por HPV é real, e não porque houve melhora do diagnóstico. Os casos relacionados ao tabaco vêm caindo, mas o HPV está ocupando o lugar", diz o cirurgião Luiz Paulo Kowalski, do A.C. Camargo.
No Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), 60% dos 96 casos de câncer de orofaringe atendidos em 2010 tinham relação com o HPV. As mulheres respondem por 20% dos casos.
"Começa-se a notar um maior número de mulheres com esse câncer, por causa do sexo oral desprotegido", diz o oncologista Gilberto de Castro Júnior, do Icesp.
No Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista, casos ligados ao HPV respondem por 30% dos cânceres da orofaringe, um aumento de 50% em relação à década passada, segundo o cirurgião André Lopes Carvalho.
"A maioria dos nossos pacientes tem o perfil clássico, de homens mais velhos que bebem e fumam. Mas estamos percebendo uma virada." O Inca (Instituto Nacional de Câncer) desenvolve seu primeiro estudo sobre o impacto do HPV nos tumores orais. Segundo o cirurgião Fernando Dias, coordenador da área de cabeça e pescoço do instituto, o HPV de subtipo 16 é o que mais provoca câncer da orofaringe.
"O HPV está criando um novo grupo de pacientes. Por isso, é preciso reforçar a necessidade de fazer sexo oral com preservativo." O Inca estima que, por ano, o país registre 14 mil novos casos de câncer de boca.
Segundo os especialistas, a boa notícia é que os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo.
Paulo Kowalski afirma que eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia.
VACINA
A vacina contra o HPV não é aprovada para homens no Brasil. Nos EUA, onde foi liberada, a imunização masculina não protege contra o HPV 16, o tipo que mais causa câncer de boca e de orofaringe.
No Brasil, só mulheres entre 9 e 26 anos têm indicação para a vacina contra quatro tipos de HPV, entre eles o 16. Mas a imunização só existe na rede privada, ao custo médio de R$ 900.
Texto de Claúdia Collucci na Folha de São Paulo de 25/05/2011
Na última década, perfil do paciente mudou de homem fumante mais velho para jovem que faz sexo sem proteção
Em uma década, dispararam no país os casos de câncer de boca e orofaringe relacionados à infecção por HPV (papilomavírus humano), transmitidos por sexo oral.
O índice de tumores provocados pelo vírus é três vezes superior ao registrado no fim da década de 1990. Não há um aumento do número total de casos, mas sim uma mudança no perfil da doença.
Antes, cânceres de boca e da orofaringe (região atrás da língua, o palato e as amígdalas) afetavam homens acima de 50 anos, tabagistas e/ou alcoólatras.
Hoje, atingem os mais jovens (entre 30 e 45 anos), que não fumam e nem bebem em excesso, mas praticam sexo oral desprotegido.
Uma recente análise publicada no periódico "International Journal of Epidemiology" mostra que, quanto maior o número de parceiras com as quais pratica sexo oral e quanto mais precoce for o início da vida sexual, mais risco o homem terá de desenvolver câncer causado pelo HPV.
MAIS CASOS
No Hospital A.C. Camargo, em São Paulo, 80% dos tumores de orofaringe têm associação com o papilomavírus. Há dez anos, essa associação existia em 25% dos casos.
O HPV já está presente em 32% dos tumores de boca em pacientes abaixo dos 45 anos ""antes, o índice era de 5%. Por ano, o hospital atende 160 casos desses tumores.
"O aumento dos tumores por HPV é real, e não porque houve melhora do diagnóstico. Os casos relacionados ao tabaco vêm caindo, mas o HPV está ocupando o lugar", diz o cirurgião Luiz Paulo Kowalski, do A.C. Camargo.
No Icesp (Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira), 60% dos 96 casos de câncer de orofaringe atendidos em 2010 tinham relação com o HPV. As mulheres respondem por 20% dos casos.
"Começa-se a notar um maior número de mulheres com esse câncer, por causa do sexo oral desprotegido", diz o oncologista Gilberto de Castro Júnior, do Icesp.
No Hospital de Câncer de Barretos, no interior paulista, casos ligados ao HPV respondem por 30% dos cânceres da orofaringe, um aumento de 50% em relação à década passada, segundo o cirurgião André Lopes Carvalho.
"A maioria dos nossos pacientes tem o perfil clássico, de homens mais velhos que bebem e fumam. Mas estamos percebendo uma virada." O Inca (Instituto Nacional de Câncer) desenvolve seu primeiro estudo sobre o impacto do HPV nos tumores orais. Segundo o cirurgião Fernando Dias, coordenador da área de cabeça e pescoço do instituto, o HPV de subtipo 16 é o que mais provoca câncer da orofaringe.
"O HPV está criando um novo grupo de pacientes. Por isso, é preciso reforçar a necessidade de fazer sexo oral com preservativo." O Inca estima que, por ano, o país registre 14 mil novos casos de câncer de boca.
Segundo os especialistas, a boa notícia é que os tumores de orofaringe relacionados ao HPV têm um melhor prognóstico em relação àqueles provocados pelo fumo.
Paulo Kowalski afirma que eles respondem melhor à quimioterapia e à radioterapia e, muitas vezes, não há necessidade de cirurgia.
VACINA
A vacina contra o HPV não é aprovada para homens no Brasil. Nos EUA, onde foi liberada, a imunização masculina não protege contra o HPV 16, o tipo que mais causa câncer de boca e de orofaringe.
No Brasil, só mulheres entre 9 e 26 anos têm indicação para a vacina contra quatro tipos de HPV, entre eles o 16. Mas a imunização só existe na rede privada, ao custo médio de R$ 900.
Texto de Claúdia Collucci na Folha de São Paulo de 25/05/2011
terça-feira, 24 de maio de 2011
O mérito, as cotas e o racismo
Em audiência no STF, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem dela precisa: os pobres de todas as cores
O reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, José Vicente, me acusa de um delito, o racismo, que teria sido cometido em audiência no Supremo Tribunal Federal, em 2010.
Nela, defendi as cotas sociais, em vez das raciais, para a ação afirmativa atender a quem realmente precisa: os pobres de todas as cores.
Em nenhum trecho falei o que Vicente alega em artigo publicado na Folha no dia 19 de abril ("É o racismo, estúpidos!", "Tendências/Debates").
Naquele e em outros debates sobre cotas me vali das ciências, como a biologia e a história. Citei dados para embasar afirmações como a de que só existe uma raça, a humana. Nas vagas de cotas, qual critério usar? A cor da pele?
Pesquisa do projeto Raízes Afro-brasileiras mostrou que os genes do sambista Neguinho da Beija-Flor são 67,1% europeus e 31,5% africanos. O país inteiro é assim. O sangue é tão misturado que um laboratório é incapaz de identificar a coloração da epiderme que picou para extraí-lo. Só sabe que foi bombeado por um coração brasileiro.
Há filhos do mesmo pai, da mesma mãe, em que um é negro e o outro é branco. Gêmeos idênticos, cor de pele igual, foram divididos por universidade cotista: "Esse é negro, esse é branco". É a diversidade de um país que celebra Pelé e Clarice Lispector, Machado de Assis e Patrícia Pillar. Isso acabou evitando, no texto de que fui relator e do qual resultou o Estatuto da Igualdade Racial, a implantação de uma guerra que o povo nunca travou.
Ao contrário. A legislação, ao longo dos anos, tem sido implacável com o racismo. No artigo, Vicente me acusa de "destilar em praça pública os venenos que reservava para ambientes privados". Membros de ONGs acreditaram na matéria e a distribuíram via e-mail e em sites, blogs e perfis nas redes sociais. Começou com premissa não checada por um reitor, e o efeito viral tornou um parlamentar o racista da vez.
Quem, então, "destila veneno"?
O rosário vai do jogador Roberto Carlos aos brutamontes que brigam em estacionamento.
O propósito da colagem de manchetes é dar a impressão de que a apologia ao mérito tem o efeito de formar gangues. E sou eu o acusado de usar "retórica dissimulada".
Ao abrir, do alto do prestígio do jornal e da massificação da internet, o travesseiro com as penas das inverdades, Vicente me obriga a recolhê-las, uma a uma, como no tradicional exemplo dos crimes contra a honra. E sou eu quem "faz mau uso do direito de expressão pra fins pessoais inconfessáveis".
Nos comentários dos leitores virtuais, sobraram xingamentos raivosos. E sou eu quem "fomenta, de modo irresponsável, o ódio racial".
Os dados sem checagem o fizeram errar nome de congressista (confunde o deputado Júlio Campos com o senador Jayme Campos) e enxergar ligação entre a defesa do mérito e a "perseguição, a agressão e a eliminação de negros, de judeus e de homossexuais". Não há qualquer relação com esses absurdos. O que celebrei foi o painel multicor que torna tão belo e rico este Brasil heterogêneo.
A intolerância se disfarça dos mais nobres sentimentos, nutre-se do senso comum e, espalhando-se pelo politicamente correto, "tateia sutilmente pelas frestas e se mistura sinuosamente com naturalidade cotidiana". A saída é a educação.
Inclusive na Zumbi, mas quando se trabalhar para tirá-la do 1.568º lugar entre as faculdades e da nota 2 no índice de cursos.
Melhorar dá trabalho, mas é mais eficiente que achincalhar honra, crime que devemos "repudiar e combater sem trégua e sem piedade, sem diminuí-lo e sem ignorá-lo", exatamente como agimos nos casos de racismo.
Texto de Dempsotenes Torres, procurador de Justiça, senador da República pelo DEM-GO.
segunda-feira, 23 de maio de 2011
Em SP, "apagão" de oficiais de justiça atrasa decisões
Dos 8.801 postos no Estado, 3.357 estão vagos; desde 1999 ninguém é contratado
Direção do Judiciário diz que 200 oficiais tomam posse neste mês e que não houve contratação em razão dos cortes
Com um deficit de 40% no seu quadro de oficiais de Justiça, o Judiciário paulista enfrenta uma grave situação de atraso no cumprimento de decisões e atos judiciais.
Desde o concurso para o cargo realizado em 1999, nenhum novo oficial de Justiça foi contratado pelo TJ (Tribunal de Justiça) paulista. Com isso, 3.357 dos 8.801 postos da categoria estão vagos nas comarcas do Estado.
A partir daquele ano, o número de processos na primeira instância de São Paulo subiu de cerca de 10 milhões para mais de 18 milhões.
Em 2009, o TJ fez seleção para 500 vagas na função, mas ninguém foi contratado.
A direção do Judiciário paulista diz que o preenchimento de mil postos já é suficiente para suprir as necessidades nas varas e que ainda não houve novas contratações por conta de cortes orçamentários realizados pelo Executivo estadual.
Nos últimos meses, o "Diário Oficial" do Estado está repleto de despachos de juízes reclamando da situação.
Em 1º de março, por exemplo, há desabafo de juiz de Bananal: "Esta comarca conta com apenas dois oficiais de Justiça, os quais possuem, cada um, em média, 800 mandados para cumprimento de diligências em atraso".
O problema é mais grave no interior. A Justiça é dividida em comarcas, e estas muitas vezes abrangem vários municípios. A insuficiência de oficiais faz com que alguns deles trabalhem para mais de uma comarca.
O presidente da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), Paulo Dimas, disse que a falta de servidores é dos principais problemas do Judiciário paulista.
Já o presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Henrique Nelson Calandra, diz que o problema com servidores não é exclusividade de São Paulo.
"São Paulo tem problemas. Fora daqui, já não são mais problemas. Nós vivemos dilemas ou trilemas. Coisas terríveis", afirmou ele.
Uma forma de reduzir os problemas seria a informatização. "Enfrentamos desafios do século 21 com ferramentas do século 20."
De Flávio Ferreira e Rogério Pagnan na Folha de São Paulo de 23/05/2011
Direção do Judiciário diz que 200 oficiais tomam posse neste mês e que não houve contratação em razão dos cortes
Com um deficit de 40% no seu quadro de oficiais de Justiça, o Judiciário paulista enfrenta uma grave situação de atraso no cumprimento de decisões e atos judiciais.
Desde o concurso para o cargo realizado em 1999, nenhum novo oficial de Justiça foi contratado pelo TJ (Tribunal de Justiça) paulista. Com isso, 3.357 dos 8.801 postos da categoria estão vagos nas comarcas do Estado.
A partir daquele ano, o número de processos na primeira instância de São Paulo subiu de cerca de 10 milhões para mais de 18 milhões.
Em 2009, o TJ fez seleção para 500 vagas na função, mas ninguém foi contratado.
A direção do Judiciário paulista diz que o preenchimento de mil postos já é suficiente para suprir as necessidades nas varas e que ainda não houve novas contratações por conta de cortes orçamentários realizados pelo Executivo estadual.
Nos últimos meses, o "Diário Oficial" do Estado está repleto de despachos de juízes reclamando da situação.
Em 1º de março, por exemplo, há desabafo de juiz de Bananal: "Esta comarca conta com apenas dois oficiais de Justiça, os quais possuem, cada um, em média, 800 mandados para cumprimento de diligências em atraso".
O problema é mais grave no interior. A Justiça é dividida em comarcas, e estas muitas vezes abrangem vários municípios. A insuficiência de oficiais faz com que alguns deles trabalhem para mais de uma comarca.
O presidente da Apamagis (Associação Paulista de Magistrados), Paulo Dimas, disse que a falta de servidores é dos principais problemas do Judiciário paulista.
Já o presidente da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros), Henrique Nelson Calandra, diz que o problema com servidores não é exclusividade de São Paulo.
"São Paulo tem problemas. Fora daqui, já não são mais problemas. Nós vivemos dilemas ou trilemas. Coisas terríveis", afirmou ele.
Uma forma de reduzir os problemas seria a informatização. "Enfrentamos desafios do século 21 com ferramentas do século 20."
De Flávio Ferreira e Rogério Pagnan na Folha de São Paulo de 23/05/2011
sábado, 21 de maio de 2011
Perito confirma que Beatriz Abagge, acusada de "bruxaria", foi torturada
Jorge Paulete Vanrell é perito da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República. Examinou na semana passada Beatriz Abagge, acusada de matar no Paraná o garoto Evandro Caetano. Ela diz que é inocente e foi torturada. Vanrell constatou marcas no polegar esquerdo “produzidas por fiação utilizada para aplicação de choque elétrico em sessão de tortura”.
.
Reportagem de Antonio Carlos Prado e Juliana Dal Piva na revista Istoé de 20/05/2011
.
Essas são as imagens após a TORTURA , filmadas pela própria polícia...
Nenhuma confissão obtida sob tortura pode ser considerada como verdadeira
.
http://www.youtube.com/watch? v=_45iwLVIS6I
Leia a reportagem inicial sobre as Abbage em http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2011/04/abagge-as-bruxas-de-guaratuba.html
.
Reportagem de Antonio Carlos Prado e Juliana Dal Piva na revista Istoé de 20/05/2011
.
Essas são as imagens após a TORTURA , filmadas pela própria polícia...
Nenhuma confissão obtida sob tortura pode ser considerada como verdadeira
.
http://www.youtube.com/watch?
Leia a reportagem inicial sobre as Abbage em http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2011/04/abagge-as-bruxas-de-guaratuba.html
A elegância segura do terno
ISTOÉ consultou estilistas, recolheu recomendações e montou um guia de como se deve usar esse traje indispensável ao vestuário masculino
No trabalho, em um evento solene ou em situação informal, o fato é que não há ocasião em que o terno não traduza um modo correto de se trajar. E não existe tipo físico para o qual não haja um modelo adequado e confortável – ou seja, além de preencher o quesito do bem vestir, o terno combina elegância com, diga-se claramente, pequenos truques que valorizam ou melhoram o corpo. Há, entretanto, regras essenciais em seu uso. Por exemplo: gravatas, camisas e meias pedem atenção especial como complementos; calças e paletós exigem medidas, cortes e modelos específicos para as mais diversas ocasiões – ninguém irá de jaquetão a uma festa numa hípica no meio da tarde, assim como ninguém irá de blazer e sem gravata em um evento altamente social marcado para a noite. ISTOÉ ouviu estilistas e recolheu recomendações – até para os mais ousados que misturam cores, padrões e modelos, há determinadas normas – que asseguram a elegância. Afinal pequenos detalhes como, por exemplo, lapelas e botões, sempre fazem a diferença.
Texto de Monique Oliveira na revista Istoé de 13/Maio/2011
quarta-feira, 18 de maio de 2011
Ignorando o choro das crianças
Realengo e a infância desprotegida
Até que você termine de ler o artigo, ou seja, em menos de dez minutos, pelo menos mais um adolescente ou criança terá sofrido violência
A morte de uma criança representa um pedaço do futuro que se vai, rouba-nos a esperança. E, especialmente, o massacre de Realengo, no Rio, nos deixou chocados pela forma, pela frieza, pela mídia, pelo espetáculo. Porém, crianças e adolescentes têm morrido dia a dia, vítimas dos múltiplos tipos de violência que uma sociedade indiferente e desatenta pratica cotidianamente contra eles.
Há milhões de meninos e meninas, em salas de aula, nas ruas das cidades ou nas próprias casas, gritando por socorro neste momento, sem serem ouvidas ou vistas por microfones ou câmeras de TV.
Até que você termine de ler este artigo, ou seja, em menos de dez minutos, pelo menos mais uma criança ou adolescente terá sofrido violência, segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.
O massacre de Realengo nos deixou muitas interrogações.
Quem era Wellington Menezes de Oliveira, o ex-aluno que matou 12 crianças? Houve vários possíveis diagnósticos dados por especialistas -vítima de bullying, esquizofrênico, psicótico. O que me pareceu unânime até aqui foi nomeado pela linguagem popular: monstruosidade. Mas foi o tempo vivido numa sociedade que abusa que distorceu sua personalidade.
Como disse o intelectual alemão Bertolt Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem".
Quando vejo uma tragédia tão assustadora, penso no tipo de opressão que pode causá-la. Sabemos que vítimas de violência, dependendo de suas constituições emocionais, podem se tornar abusadores quando adultos. Retornar à escola, para Wellington, foi voltar à infância em que sofreu abusos.
Se essa for a resposta, de nada valerá o desarmamento -nem que seja mais do que bem-vindo- ou a instalação de patéticos detectores de metal na porta das escolas.
Enfrentei dilema parecido à frente da CPI da Pedofilia, na Câmara Municipal de São Paulo: o de optar entre medidas "espetaculosas" (mas de pouco impacto) ou estudar a fundo a máquina pública organizada para proteção da infância.
Ao escolher a segunda opção, acertamos no alvo. Crianças vítimas de abusos não têm a quem recorrer, não encontram profissionais capacitados. Elas dependem de políticas precárias, estão alijadas de seus direitos.
Certamente, Wellington também não teve condições de se defender da infância violenta, assim como não ofereceu defesa a quem matou.
Mesmo que o argumento vencedor para explicar sua monstruosidade seja o da esquizofrenia, também faltou preparo aos profissionais de educação e de saúde que acompanharam o seu desenvolvimento para identificá-la e tratá-la.
Hoje é Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; ainda continuamos a oferecer um ambiente fraco para o desenvolvimento intelectual e hostil para o amadurecimento psicológico das crianças.
Mas, pior do que isso, seguimos ignorando seu choro.
Da Folha de São Paulo de 18/05/2011
CARLOS BEZERRA JR., 43, deputado estadual de São Paulo pelo PSDB e criador do 1º Observatório da Infância de São Paulo. Foi vereador da cidade de São Paulo e relator da CPI da Pedofilia na Câmara.
Da Agência Brasil n'O Estado de São Paulo
Até que você termine de ler o artigo, ou seja, em menos de dez minutos, pelo menos mais um adolescente ou criança terá sofrido violência
A morte de uma criança representa um pedaço do futuro que se vai, rouba-nos a esperança. E, especialmente, o massacre de Realengo, no Rio, nos deixou chocados pela forma, pela frieza, pela mídia, pelo espetáculo. Porém, crianças e adolescentes têm morrido dia a dia, vítimas dos múltiplos tipos de violência que uma sociedade indiferente e desatenta pratica cotidianamente contra eles.
Há milhões de meninos e meninas, em salas de aula, nas ruas das cidades ou nas próprias casas, gritando por socorro neste momento, sem serem ouvidas ou vistas por microfones ou câmeras de TV.
Até que você termine de ler este artigo, ou seja, em menos de dez minutos, pelo menos mais uma criança ou adolescente terá sofrido violência, segundo dados da Secretaria Especial de Direitos Humanos da Presidência da República.
O massacre de Realengo nos deixou muitas interrogações.
Quem era Wellington Menezes de Oliveira, o ex-aluno que matou 12 crianças? Houve vários possíveis diagnósticos dados por especialistas -vítima de bullying, esquizofrênico, psicótico. O que me pareceu unânime até aqui foi nomeado pela linguagem popular: monstruosidade. Mas foi o tempo vivido numa sociedade que abusa que distorceu sua personalidade.
Como disse o intelectual alemão Bertolt Brecht: "Do rio que tudo arrasta, diz-se que é violento. Mas ninguém chama violentas as margens que o comprimem".
Quando vejo uma tragédia tão assustadora, penso no tipo de opressão que pode causá-la. Sabemos que vítimas de violência, dependendo de suas constituições emocionais, podem se tornar abusadores quando adultos. Retornar à escola, para Wellington, foi voltar à infância em que sofreu abusos.
Se essa for a resposta, de nada valerá o desarmamento -nem que seja mais do que bem-vindo- ou a instalação de patéticos detectores de metal na porta das escolas.
Enfrentei dilema parecido à frente da CPI da Pedofilia, na Câmara Municipal de São Paulo: o de optar entre medidas "espetaculosas" (mas de pouco impacto) ou estudar a fundo a máquina pública organizada para proteção da infância.
Ao escolher a segunda opção, acertamos no alvo. Crianças vítimas de abusos não têm a quem recorrer, não encontram profissionais capacitados. Elas dependem de políticas precárias, estão alijadas de seus direitos.
Certamente, Wellington também não teve condições de se defender da infância violenta, assim como não ofereceu defesa a quem matou.
Mesmo que o argumento vencedor para explicar sua monstruosidade seja o da esquizofrenia, também faltou preparo aos profissionais de educação e de saúde que acompanharam o seu desenvolvimento para identificá-la e tratá-la.
Hoje é Dia Nacional de Combate ao Abuso e Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes; ainda continuamos a oferecer um ambiente fraco para o desenvolvimento intelectual e hostil para o amadurecimento psicológico das crianças.
Mas, pior do que isso, seguimos ignorando seu choro.
Da Folha de São Paulo de 18/05/2011
CARLOS BEZERRA JR., 43, deputado estadual de São Paulo pelo PSDB e criador do 1º Observatório da Infância de São Paulo. Foi vereador da cidade de São Paulo e relator da CPI da Pedofilia na Câmara.
Quase 40% das crianças violentadas são vítimas do próprio pai, diz pesquisa
Em 88% dos casos de abuso infantil, agressor faz parte do círculo de convivência da criança
Uma pesquisa realizada no Hospital das Clínicas (HC) da Universidade de São Paulo (USP) revela que o combate e a prevenção de abusos sexuais a crianças precisam ser feitos, principalmente, dentro de casa. Segundo o estudo, quase quatro de cada dez crianças vítimas de abuso sexual foram agredidas pelo próprio pai e três, pelo padrasto.
Os resultados foram obtidos após a análise de 205 casos de abusos a crianças ocorridos de 2005 a 2009. As vítimas dessas agressões receberam acompanhamento psicológico no HC e tiveram seu perfil analisado pelo Programa de Psiquiatria e Psicologia Forense (Nufor) do hospital.
Segundo Antonio de Pádua Serafim, psicólogo e coordenador da pesquisa sobre as agressões, em 88% dos casos de abuso infantil, o agressor faz parte do círculo de convivência da criança. O pai (38% dos casos) é o agressor mais comum, seguido do padrasto (29%). O tio (15%) é o terceiro agressor mais comum, antes de algum primo (6%). Os vizinhos são 9% dos agressores e os desconhecidos são a minoria, representando 3% dos casos.
"É gritante o fato de o pai ser o maior agressor. Ele é justamente quem deveria proteger", afirmou Serafim, sobre os dados da pesquisa, que ainda serão publicados na Revista de Psiquiatria Clínica da Faculdade de Medicina da USP. "As crianças são vítimas dentro de casa."
A pesquisa coordenada pelo psicólogo mostra também que 63,4% das vítimas de abuso são meninas. Na maioria dos casos, a criança abusada, independentemente do sexo, tem menos de 10 anos de idade.
Para Serafim, até pela pouca idade das vítimas, o monitoramento das mães é fundamental para prevenção dos abusos. Muitas crianças agredidas não denunciam os agressores. Elas, porém, dão sinais de abusos em seu comportamento, segundo Serafim. Por isso, as mães devem estar atentas às mudanças de humor das crianças. "Uma mudança brusca é a maior sinalização de abuso", disse.
http://www.estadao.com.br/noticias/cidades,quase-40-das-criancas-violentadas-sao-vitimas-do-proprio-pai-diz-pesquisa,720968,0.htm
segunda-feira, 16 de maio de 2011
Dez anos de lei da reforma psiquiátrica
Dez anos depois, reforma na saúde mental é polêmica
A lei da reforma psiquiátrica, que mudou o tratamento ao doente mental no país, completa dez anos em meio a controvérsias. Uma delas é a redução de leitos psiquiátricos. Hoje, são cerca de 20 mil a menos do que antes da reforma.
Segundo o Ministério da Saúde, foi ampliada a rede de tratamentos alternativos, como os Caps (Centros de Assistência Psicossocial).
Há 1650 Caps no país, com diferentes especialidades e horários de atendimento.
Há também 571 residências terapêuticas, que abrigam doentes que passaram por hospitais psiquiátricos.
Para a Associação Brasileira de Psiquiatria, a reforma foi negativa porque a redução nos leitos gerou "desassistência psiquiátrica".
Surto em família
Minha história por Cirlene Ornelas, 49
(...)Meu marido foi internado 30 vezes (...) Meu filho mais velho tinha 14 anos na primeira crise (...) O diagnóstico foi esquizofrenia (...) Levamos uma vida anormal o mais normal possível
A dona de casa Cirlene Ornelas, 49, em sua casa em Ipatinga, MG
RESUMO A dona de casa Cirlene Ornelas, 49, de Ipatinga (MG), conheceu um hospital psiquiátrico na adolescência, ao acompanhar o irmão. Mais tarde, internou o marido e o filho na mesma instituição e ao mesmo tempo. Hoje, ela milita na causa da reforma psiquiátrica por meio da associação Loucos por Você, que criou para apoiar famílias de doentes mentais.
(...)Depoimento a
NATÁLIA CANCIAN
Eu tinha 14 anos quando meu irmão, de 22, teve a primeira crise. Uns diziam que era coisa do demônio. Outros, que era pura malandragem. Ou droga.
Quando o levei para um hospital psiquiátrico pela primeira vez, em Belo Horizonte, fiquei assustada com a quantidade de gente perambulando. Dava medo.
Não demorou muito e eu me casei, aos 17 anos. Logo depois, meu marido teve um surto, no final dos anos 70. Passei a ter ele e meu irmão internados. Na época, não havia outra opção.
Meu marido foi internado mais de 30 vezes. Por anos, passei assim: ele melhorava, voltava para casa, depois ia para o hospital de novo. Fomos construindo nossa família em meio a essa rotina.
Tive três filhos. Achei que tudo estava calmo até que notei que o Juninho, o mais velho, ficava muito tempo parado. E depois, eufórico.
Ele tinha 14 anos na primeira crise. Pedi a Deus para que fosse neurológico, mas, para o nosso desespero, o médico o encaminhou a um psiquiatra. Sabia que era um caso sem volta.
O diagnóstico foi esquizofrenia, só que mais grave do que a do meu marido e do meu irmão.
As primeiras crises duravam horas. Depois, dias. Até que ele ficou dez meses assim. Ele dizia que ouvia vozes e se autoagredia. Chegou a introduzir pregos de 12 cm nas mãos e nos pés ""ele queria amenizar a dor de Jesus.
ELETROCHOQUE E FUGA
Internei meu filho pela primeira vez em 1997, aos 16 anos. Os enfermeiros foram buscá-lo e o seguraram com as mãos para trás. Me senti a última das mães.
Por duas vezes, internei marido e filho juntos, no mesmo hospital.
Uma vez, pediram permissão para fazer eletrochoque, e eu autorizei. Achei que poderia valer a pena. Mas, na terceira sessão, meu marido teve uma parada cardíaca com meu filho por perto.
Só soube dias depois. Eu ficava quase sem contato.
Um dia, avisaram que meu filho tinha fugido. E eu aqui, a 200 km de distância, sem saber o que fazer. Achei que ia perdê-lo para sempre.
Foram três horas de agonia, até que um homem ligou dizendo que meu filho estava ao lado dele. Ele tinha 18 anos. Eu não tinha medo de estar com meu filho, mas sim que ele se ferisse e o ferissem.
Uma vez, no carro, ele tentou me enforcar. "Filho, por que isso?", perguntei. E ele: "Ah, mãe, porque tem um bicho saindo da sua boca".
Fiquei muito triste de pensar no sofrimento dele em ver essas imagens. Eu sabia que precisava compreendê-lo.
Após duas internações, decidi que nunca mais o levaria a um hospital psiquiátrico. Então, tranquei-o em casa. Oito dias depois, ele teve uma crise e quebrou todos os vidros. Foi a pior coisa.
Aos poucos, passei a deixá-lo andar sozinho. Quanto mais eu o deixava livre, mais ele melhorava.
Meu outro irmão ficou doente há uns nove anos. Numa crise, fui a São Paulo tirá-lo do hospital psiquiátrico. Aqui, ele melhorou.
CONSTRUIR FAMÍLIA
Sempre me perguntam como é construir uma família em meio a tantas crises. Eu digo que nós levamos uma vida anormal o mais normal possível. É claro que a família sofre, e muito. Mas quem tem a doença sofre ainda mais.
O Juninho morreu com 29 anos. Eu estava em casa e ele disse que ia sair. Ele encontrou uns amigos e achamos que estava tudo bem.
Mas, em alguns momentos, ele falava que "vozes" mandavam ele fazer certas coisas. Nesse dia, ele se pendurou de uma altura de uns 18 metros e caiu.
Quando cheguei para socorrê-lo, ele desabou nos meus braços. Dizia que me amava e não queria morrer.
Eu faria tudo novamente. Meu filho morreu, mas morreu livre e comigo ciente do que estava acontecendo. Eu não me perdoaria se ele morresse em um hospício.
Às vezes, é difícil conseguir atendimento.
Precisamos de serviços que substituam o hospital psiquiátrico. Aqui, temos Caps tipo 2, mas não são suficientes. É preciso transformá-los em tipo 3, que abrem 24 horas.
Outra dificuldade é ter um serviço aberto e profissionais com postura manicomial. Temos que mostrar que os doentes mentais são capazes. E fazer a reforma psiquiátrica acontecer.
Da Folha de São Paulo de 16/05/2011
A lei da reforma psiquiátrica, que mudou o tratamento ao doente mental no país, completa dez anos em meio a controvérsias. Uma delas é a redução de leitos psiquiátricos. Hoje, são cerca de 20 mil a menos do que antes da reforma.
Segundo o Ministério da Saúde, foi ampliada a rede de tratamentos alternativos, como os Caps (Centros de Assistência Psicossocial).
Há 1650 Caps no país, com diferentes especialidades e horários de atendimento.
Há também 571 residências terapêuticas, que abrigam doentes que passaram por hospitais psiquiátricos.
Para a Associação Brasileira de Psiquiatria, a reforma foi negativa porque a redução nos leitos gerou "desassistência psiquiátrica".
Surto em família
Minha história por Cirlene Ornelas, 49
(...)Meu marido foi internado 30 vezes (...) Meu filho mais velho tinha 14 anos na primeira crise (...) O diagnóstico foi esquizofrenia (...) Levamos uma vida anormal o mais normal possível
Wolmer Ezequiel/Folhapress |
RESUMO A dona de casa Cirlene Ornelas, 49, de Ipatinga (MG), conheceu um hospital psiquiátrico na adolescência, ao acompanhar o irmão. Mais tarde, internou o marido e o filho na mesma instituição e ao mesmo tempo. Hoje, ela milita na causa da reforma psiquiátrica por meio da associação Loucos por Você, que criou para apoiar famílias de doentes mentais.
(...)Depoimento a
NATÁLIA CANCIAN
Eu tinha 14 anos quando meu irmão, de 22, teve a primeira crise. Uns diziam que era coisa do demônio. Outros, que era pura malandragem. Ou droga.
Quando o levei para um hospital psiquiátrico pela primeira vez, em Belo Horizonte, fiquei assustada com a quantidade de gente perambulando. Dava medo.
Não demorou muito e eu me casei, aos 17 anos. Logo depois, meu marido teve um surto, no final dos anos 70. Passei a ter ele e meu irmão internados. Na época, não havia outra opção.
Meu marido foi internado mais de 30 vezes. Por anos, passei assim: ele melhorava, voltava para casa, depois ia para o hospital de novo. Fomos construindo nossa família em meio a essa rotina.
Tive três filhos. Achei que tudo estava calmo até que notei que o Juninho, o mais velho, ficava muito tempo parado. E depois, eufórico.
Ele tinha 14 anos na primeira crise. Pedi a Deus para que fosse neurológico, mas, para o nosso desespero, o médico o encaminhou a um psiquiatra. Sabia que era um caso sem volta.
O diagnóstico foi esquizofrenia, só que mais grave do que a do meu marido e do meu irmão.
As primeiras crises duravam horas. Depois, dias. Até que ele ficou dez meses assim. Ele dizia que ouvia vozes e se autoagredia. Chegou a introduzir pregos de 12 cm nas mãos e nos pés ""ele queria amenizar a dor de Jesus.
ELETROCHOQUE E FUGA
Internei meu filho pela primeira vez em 1997, aos 16 anos. Os enfermeiros foram buscá-lo e o seguraram com as mãos para trás. Me senti a última das mães.
Por duas vezes, internei marido e filho juntos, no mesmo hospital.
Uma vez, pediram permissão para fazer eletrochoque, e eu autorizei. Achei que poderia valer a pena. Mas, na terceira sessão, meu marido teve uma parada cardíaca com meu filho por perto.
Só soube dias depois. Eu ficava quase sem contato.
Um dia, avisaram que meu filho tinha fugido. E eu aqui, a 200 km de distância, sem saber o que fazer. Achei que ia perdê-lo para sempre.
Foram três horas de agonia, até que um homem ligou dizendo que meu filho estava ao lado dele. Ele tinha 18 anos. Eu não tinha medo de estar com meu filho, mas sim que ele se ferisse e o ferissem.
Uma vez, no carro, ele tentou me enforcar. "Filho, por que isso?", perguntei. E ele: "Ah, mãe, porque tem um bicho saindo da sua boca".
Fiquei muito triste de pensar no sofrimento dele em ver essas imagens. Eu sabia que precisava compreendê-lo.
Após duas internações, decidi que nunca mais o levaria a um hospital psiquiátrico. Então, tranquei-o em casa. Oito dias depois, ele teve uma crise e quebrou todos os vidros. Foi a pior coisa.
Aos poucos, passei a deixá-lo andar sozinho. Quanto mais eu o deixava livre, mais ele melhorava.
Meu outro irmão ficou doente há uns nove anos. Numa crise, fui a São Paulo tirá-lo do hospital psiquiátrico. Aqui, ele melhorou.
CONSTRUIR FAMÍLIA
Sempre me perguntam como é construir uma família em meio a tantas crises. Eu digo que nós levamos uma vida anormal o mais normal possível. É claro que a família sofre, e muito. Mas quem tem a doença sofre ainda mais.
O Juninho morreu com 29 anos. Eu estava em casa e ele disse que ia sair. Ele encontrou uns amigos e achamos que estava tudo bem.
Mas, em alguns momentos, ele falava que "vozes" mandavam ele fazer certas coisas. Nesse dia, ele se pendurou de uma altura de uns 18 metros e caiu.
Quando cheguei para socorrê-lo, ele desabou nos meus braços. Dizia que me amava e não queria morrer.
Eu faria tudo novamente. Meu filho morreu, mas morreu livre e comigo ciente do que estava acontecendo. Eu não me perdoaria se ele morresse em um hospício.
Às vezes, é difícil conseguir atendimento.
Precisamos de serviços que substituam o hospital psiquiátrico. Aqui, temos Caps tipo 2, mas não são suficientes. É preciso transformá-los em tipo 3, que abrem 24 horas.
Outra dificuldade é ter um serviço aberto e profissionais com postura manicomial. Temos que mostrar que os doentes mentais são capazes. E fazer a reforma psiquiátrica acontecer.
Da Folha de São Paulo de 16/05/2011
domingo, 15 de maio de 2011
Nóis pega o peixe
“O ALUNO NÃO VAI PARA A ESCOLA PARA APRENDER ‘NÓS PEGA O PEIXE’”
Imortal da Academia Brasileira de Letras diz que língua familiar é aceita do ponto de vista linguístico, mas não deve ser ensinada
Para o gramático Evanildo Bechara, autor da Moderna Gramática Portuguesa, o aluno não vai para a escola “para viver na mesmice” e continuar falando a “língua familiar, a língua do contexto doméstico”.Leia também:
Em entrevista ao iG, Bechara, que ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras e é autoridade máxima no Brasil quando o assunto é novo acordo ortográfico, afirma que a proposta do livro didático de português que dedica um capítulo ao uso popular da língua Por uma vida melhor, da coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC) para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), está perfeita do ponto de vista do técnico. Mas do ponto de vista do professor de português, segundo ele, é como se dissesse: “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”.
Segundo Bechara, neste caso, está se tirando do aluno o que ele considera o elemento fundamental na educação: o interesse para aprender mais. Mas, para o acadêmico, o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor. .
Evanildo Bechara: Em primeiro lugar, o aluno não vai para a escola para aprender “nós pega o peixe”. Isso ele já diz de casa, já é aquilo que nós chamamos de língua familiar, a língua do contexto doméstico. O grande problema é uma confusão que se faz, e que o livro também faz, entre a tarefa de um cientista, de um linguista e a tarefa de um professor de português. Um linguista estuda com o mesmo interesse e cuidado todas as manifestações linguísticas de todas as variantes de uma língua. A tarefa do linguista é examinar a língua sem se preocupar com o tipo de variedade, se é variedade regional, se variedade familiar, se é variedade culta. Ele estuda a língua como a língua se apresenta. Já o professor de português, não. O professor de português tem outra tarefa. Se o aluno vem para a escola, é porque ele pretende uma ascensão social. Se ele pretende essa ascensão social, ele precisa levar nessa ascensão um novo tipo de variante. Não é uma variante que seja melhor, nem pior. Mas é a variante que lhe vai ser exigida neste momento de ascensão social.
iG: Para o MEC, o papel da escola não é só ensinar a forma culta da língua, mas também o de combate ao preconceito contra os alunos que falam “errado”. Como o senhor avalia essa orientação?Evanildo Bechara: Ninguém vai para a escola para viver na mesmice. Eu chamaria de mesmice idiomática. O aluno vai para a escola, mas acaba saindo dela com a mesma língua com a qual entrou. Portanto, perdeu seu tempo. Na verdade, sempre se vai para a escola para se ascender numa posição melhor. A própria palavra educar, que é formada pelo prefixo latino edu, quer dizer conduzir. Então, o papel da educação é justamente tirar a pessoa do ambiente estreito em que vive para alcançar uma situação melhor na sociedade. Essa ascensão social não vai exigir só um novo padrão de língua, vai exigir também um novo padrão de comportamento social. Essa mudança não é só na língua. Portanto, não é um problema de preconceito. E, para esses livros, parece que o preconceito é uma atitude de mão única. Mas o preconceito não é só da classe culta para a classe inculta, mas também da classe inculta para a classe culta.
iG: Segundo a autora do livro, Heloísa Ramos, a proposta da obra é que se aceite dentro da sala de aula todo tipo de linguagem, ao invés de reprimir aqueles que usam a linguagem popular...
Evanildo Bechara: Acho que do ponto de vista do técnico em língua, está perfeito. Mas do ponto de vista do professor de português, é como se você dissesse “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”. Então, qual estímulo você dá a esse aluno para ele ascender socialmente? Você está tirando dele o elemento fundamental que funciona na educação: que é o interesse para aprender mais.
iG: Ao defender o uso do livro didático com linguagem popular, o senhor acredita que seria função do MEC preparar o professor para usar esse material?
Evanildo Bechara: Eu acho que não é função do MEC preparar o professor. A função do MEC é dar as condições necessárias para o bom desempenho do professor. E o bom desempenho do professor começa com um bom salário. A função do Ministério não é uma função pedagógica. A função pedagógica é das instituições universitárias, das faculdades de pedagogia, das faculdades de letras. O que o Ministério faz, com muita justiça, é distribuir livros. Mas ele não tem que tomar conta do preparo do professor. O professor tem que ser preparado pelas instituições adequadas. O ministério faz bem em comprar bons livros e distribuí-los para as escolas. Isso é uma coisa perfeitamente digna de elogio. Mas modelar o professor e, por exemplo, comprar livros que falem muito bem de um governante e muito mal de outro governante, num enfoque político dirigido, isso já não é tarefa do Ministério da Educação.
iG: O senhor vê algum problema na utilização desse livro em sala de aula?
Evanildo Bechara: Eu não vejo problema pelo seguinte: porque o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor. Um bom professor pode trabalhar muito bem com um mau livro, assim como um professor sem preparo não consegue tirar tudo de bom do aluno com um bom livro. Porque ele está mal preparado e não sabe aproveitar o livro. O sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Mesmo porque o bom professor não é aquele que ensina. O bom professor é aquele que desperta no aluno o gosto pelo aprender. A sala de aula, o período de escola do aluno, é um período muito pequeno para o universo de informações que ele deve ter para ter sucesso na vida. Pelo menos teoricamente. No meu tempo de aluno, nós tínhamos apenas dois livros: durante quatro, cinco anos, tínhamos a mesma antologia e a mesma gramática. Mas, embora os professores não tivessem tirado o proveito das universidades, eles levavam para a escola uma cultura geral muito boa. E era essa cultura geral do professor de matemática, de física, de química, de português, era o grande atrativo para o aluno. Mas o professor que se limita ao programa estabelecido pelo livro didático, é um professor que é conduzido, é um professor que não tem conhecimento suficiente para sair dos trilhos oferecidos pelo livro didático.
“Sempre se vai para a escola para se ascender a posição melhor. A própria palavra educar, que é formada pelo prefixo latino edu, quer dizer conduzir. O papel da educação é justamente tirar a pessoa do ambiente estreito em que vive para alcançar uma situação melhor na sociedade”.
Em entrevista ao iG, Bechara, que ocupa a cadeira 33 da Academia Brasileira de Letras e é autoridade máxima no Brasil quando o assunto é novo acordo ortográfico, afirma que a proposta do livro didático de português que dedica um capítulo ao uso popular da língua Por uma vida melhor, da coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC) para a Educação de Jovens e Adultos (EJA), está perfeita do ponto de vista do técnico. Mas do ponto de vista do professor de português, segundo ele, é como se dissesse: “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”.
Segundo Bechara, neste caso, está se tirando do aluno o que ele considera o elemento fundamental na educação: o interesse para aprender mais. Mas, para o acadêmico, o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor. .
Foto: Divulgação
“O bom professor é aquele que desperta no aluno o gosto pelo aprender”, diz gramático Evanildo Bechara
O livro didático de língua portuguesa Por uma vida melhor, da coleção Viver, Aprender, adotado pelo Ministério da Educação (MEC), dedica um capítulo ao uso popular da língua. Qual é a opinião do senhor? “O bom professor é aquele que desperta no aluno o gosto pelo aprender”, diz gramático Evanildo Bechara
Evanildo Bechara: Em primeiro lugar, o aluno não vai para a escola para aprender “nós pega o peixe”. Isso ele já diz de casa, já é aquilo que nós chamamos de língua familiar, a língua do contexto doméstico. O grande problema é uma confusão que se faz, e que o livro também faz, entre a tarefa de um cientista, de um linguista e a tarefa de um professor de português. Um linguista estuda com o mesmo interesse e cuidado todas as manifestações linguísticas de todas as variantes de uma língua. A tarefa do linguista é examinar a língua sem se preocupar com o tipo de variedade, se é variedade regional, se variedade familiar, se é variedade culta. Ele estuda a língua como a língua se apresenta. Já o professor de português, não. O professor de português tem outra tarefa. Se o aluno vem para a escola, é porque ele pretende uma ascensão social. Se ele pretende essa ascensão social, ele precisa levar nessa ascensão um novo tipo de variante. Não é uma variante que seja melhor, nem pior. Mas é a variante que lhe vai ser exigida neste momento de ascensão social.
iG: Para o MEC, o papel da escola não é só ensinar a forma culta da língua, mas também o de combate ao preconceito contra os alunos que falam “errado”. Como o senhor avalia essa orientação?Evanildo Bechara: Ninguém vai para a escola para viver na mesmice. Eu chamaria de mesmice idiomática. O aluno vai para a escola, mas acaba saindo dela com a mesma língua com a qual entrou. Portanto, perdeu seu tempo. Na verdade, sempre se vai para a escola para se ascender numa posição melhor. A própria palavra educar, que é formada pelo prefixo latino edu, quer dizer conduzir. Então, o papel da educação é justamente tirar a pessoa do ambiente estreito em que vive para alcançar uma situação melhor na sociedade. Essa ascensão social não vai exigir só um novo padrão de língua, vai exigir também um novo padrão de comportamento social. Essa mudança não é só na língua. Portanto, não é um problema de preconceito. E, para esses livros, parece que o preconceito é uma atitude de mão única. Mas o preconceito não é só da classe culta para a classe inculta, mas também da classe inculta para a classe culta.
iG: Segundo a autora do livro, Heloísa Ramos, a proposta da obra é que se aceite dentro da sala de aula todo tipo de linguagem, ao invés de reprimir aqueles que usam a linguagem popular...
Evanildo Bechara: Acho que do ponto de vista do técnico em língua, está perfeito. Mas do ponto de vista do professor de português, é como se você dissesse “eu vou ensinar o que é correto, mas se você quiser continuar usando o menos correto, você pode continuar”. Então, qual estímulo você dá a esse aluno para ele ascender socialmente? Você está tirando dele o elemento fundamental que funciona na educação: que é o interesse para aprender mais.
iG: Ao defender o uso do livro didático com linguagem popular, o senhor acredita que seria função do MEC preparar o professor para usar esse material?
Evanildo Bechara: Eu acho que não é função do MEC preparar o professor. A função do MEC é dar as condições necessárias para o bom desempenho do professor. E o bom desempenho do professor começa com um bom salário. A função do Ministério não é uma função pedagógica. A função pedagógica é das instituições universitárias, das faculdades de pedagogia, das faculdades de letras. O que o Ministério faz, com muita justiça, é distribuir livros. Mas ele não tem que tomar conta do preparo do professor. O professor tem que ser preparado pelas instituições adequadas. O ministério faz bem em comprar bons livros e distribuí-los para as escolas. Isso é uma coisa perfeitamente digna de elogio. Mas modelar o professor e, por exemplo, comprar livros que falem muito bem de um governante e muito mal de outro governante, num enfoque político dirigido, isso já não é tarefa do Ministério da Educação.
iG: O senhor vê algum problema na utilização desse livro em sala de aula?
Evanildo Bechara: Eu não vejo problema pelo seguinte: porque o sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Depende da técnica e do preparo do professor. Um bom professor pode trabalhar muito bem com um mau livro, assim como um professor sem preparo não consegue tirar tudo de bom do aluno com um bom livro. Porque ele está mal preparado e não sabe aproveitar o livro. O sucesso da sala de aula não depende do livro adotado. Mesmo porque o bom professor não é aquele que ensina. O bom professor é aquele que desperta no aluno o gosto pelo aprender. A sala de aula, o período de escola do aluno, é um período muito pequeno para o universo de informações que ele deve ter para ter sucesso na vida. Pelo menos teoricamente. No meu tempo de aluno, nós tínhamos apenas dois livros: durante quatro, cinco anos, tínhamos a mesma antologia e a mesma gramática. Mas, embora os professores não tivessem tirado o proveito das universidades, eles levavam para a escola uma cultura geral muito boa. E era essa cultura geral do professor de matemática, de física, de química, de português, era o grande atrativo para o aluno. Mas o professor que se limita ao programa estabelecido pelo livro didático, é um professor que é conduzido, é um professor que não tem conhecimento suficiente para sair dos trilhos oferecidos pelo livro didático.
http://ultimosegundo.ig.com.br/educacao/o+aluno+nao+vai+para+a+escola+para+aprender+nos+pega+o+peixe/n1596951472448.html
Sabedoria
Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere -porque sempre passa
SE ALGUÉM perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? Detalhe: dinheiro não tem nada a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não. Então o que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada um.
Todos nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar realizada". E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm tudo -por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem-, mas vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o significado da vida?
Temos todos -quase todos- excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?
É difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa privilegiada, outras vezes uma pobre coitada. Depende de quais valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles também mudam.
Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso sim, seria a felicidade -só que também não foi.
Aí achou que o importante seria a realização pessoal, independente da vida sentimental -ou melhor, de um homem. Isso sim, seria a verdadeira felicidade. Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada. Hoje, se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um fracasso, continuaria sem saber responder.
Foram muitos os bons momentos, tão felizes e tão inesquecíveis, que prefere até esquecer. Quanto aos maus momentos, foram também tantos, que faz tudo para não lembrar, e às vezes até consegue.
Se houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não lembrar nem do bom nem do ruim, zerar -é, zerar tudo, como seria bom.
Agora, pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida. Já no dia seguinte acorda péssima, um amigo telefona e fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de repente, deliciosa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica difícil.
Quando as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou.
Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabem que vai passar -porque sempre passa.
A essa resignação se pode chamar sabedoria ou experiência -o que, no final, é mais ou menos a mesma coisa.
De Danuza Leão na Folha de São Paulo de 15/05/2011
SE ALGUÉM perguntar se sua vida foi, até agora, um sucesso ou um fracasso, o que você vai responder? Detalhe: dinheiro não tem nada a ver, ser famosa e ter aparecido em capas de revista também não. Então o que é ter tido uma vida de sucesso? Bem, depende de cada um.
Todos nós já ouvimos, da boca de uma mulher modesta, a frase "criei meus filhos, estão todos encaminhados, posso me considerar realizada". E quem nunca ouviu, de pessoas que aparentemente têm tudo -por tudo entenda-se família, saúde, dinheiro, amor, mesmo que não seja verdadeiro, e não necessariamente nessa ordem-, mas vivem eternamente infelizes, tentando, inutilmente, entender o significado da vida?
Temos todos -quase todos- excelentes razões para achar que nossa vida foi gloriosa ou um vale de lágrimas. Você, por exemplo, já deve ter passado por ótimos e por péssimos momentos; quais ficaram na sua cabeça, ou melhor, no seu coração? Os melhores ou os piores?
É difícil fazer essa avaliação; às vezes a gente se acha uma pessoa privilegiada, outras vezes uma pobre coitada. Depende de quais valores naquele momento são os seus, pois dependendo da hora, eles também mudam.
Houve um tempo em que seus sonhos se resumiam a passar a vida viajando pelo mundo, num turbilhão que não deixasse tempo nem para pensar; isso sim, seria a felicidade -só que não foi.
Depois houve um outro momento em que tudo que quis foi encontrar um bom marido, mesmo meio sem graça, mas que tivesse hora certa de chegar em casa, e um bando de crianças em volta perturbando bastante o seu juízo para não ter tempo de pensar se era feliz ou infeliz. Isso sim, seria a felicidade -só que também não foi.
Aí achou que o importante seria a realização pessoal, independente da vida sentimental -ou melhor, de um homem. Isso sim, seria a verdadeira felicidade. Também não foi, mas conseguiu o que parecia impossível: viver sem ter que estar permanentemente apaixonada, ou melhor, sem inventar que estava apaixonada. Hoje, se alguém perguntar se sua vida foi -até agora- um sucesso ou um fracasso, continuaria sem saber responder.
Foram muitos os bons momentos, tão felizes e tão inesquecíveis, que prefere até esquecer. Quanto aos maus momentos, foram também tantos, que faz tudo para não lembrar, e às vezes até consegue.
Se houvesse uma maneira de apagar tudo, passar uma borracha, não lembrar nem do bom nem do ruim, zerar -é, zerar tudo, como seria bom.
Agora, pelo menos, já sabe; às vezes acorda feliz, sem nem saber por que, sai de casa, na primeira esquina tropeça e fica no pior humor da vida. Já no dia seguinte acorda péssima, um amigo telefona e fala de maneira carinhosa, e a vida se torna, de repente, deliciosa de ser vivida. É essa certeza de que tudo pode mudar em minutos, segundos, que nos ajuda a segurar, quando tudo fica difícil.
Quando as coisas estiverem indo mal, pense em quantas outras vezes elas estiveram tão mal quanto, às vezes até pior -e depois passou.
Não se queixe, não reclame, não chore, não se descabele, apenas espere; apenas espere, com aquela quase resignação que parece até indiferença, que vê tantas vezes nos olhos dos mais velhos, que sabem que vai passar -porque sempre passa.
A essa resignação se pode chamar sabedoria ou experiência -o que, no final, é mais ou menos a mesma coisa.
De Danuza Leão na Folha de São Paulo de 15/05/2011
Tráfico de seres humanos: desafios no Brasil
O tráfico de pessoas é um dos grandes problemas a serem enfrentados pelas autoridades globais, pois afronta de forma direta a condição humana
O Senado acaba de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil, em especial suas causas, consequências, rotas e responsáveis.
O tráfico de pessoas é um dos grandes problemas a serem enfrentados pelas autoridades em todo o mundo, não somente pelos métodos cruéis e pela complexidade do crime, mas pelo fato de afrontar diretamente a condição humana.
As vítimas, sejam elas mulheres, crianças, adolescentes ou homens, invariavelmente são transformadas em objetos e são privadas de liberdade, de autonomia e também de seus projetos de vida.
Trata-se de um drama de dimensão transnacional. O Brasil é um país de origem, de destino e de passagem para as rotas de tráfico internacional de pessoas. No âmbito nacional, a exploração é feita contra concidadãos. Esquemas criminosos são montados para alcançar pessoas em situação de vulnerabilidade com a finalidade de prestarem serviços forçados, de servidão, de exploração sexual ou para fins de remoção e circulação de órgãos e células humanas.
Para se viabilizar, o crime organizado globalizado apropria-se dos avanços tecnológicos, da ampliação dos fluxos migratórios, da miséria social, da vulnerabilidade das fronteiras e da precarização das relações de trabalho.
Ainda em 2001, o Brasil iniciou seu trajeto no combate a esse tipo de crime ao efetivar uma cooperação técnica internacional, assinada entre a Secretaria Nacional de Justiça e o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime.
A ratificação do Protocolo de Palermo, instrumento internacional de combate a esse crime, cuidou da inclusão e da previsão de ações e políticas públicas focadas em três eixos: a prevenção, a repressão e a proteção às vítimas.
Uma Política Nacional e um Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas estão vigentes e têm exigido uma ação integrada entre os ministérios da Justiça, da Saúde, do Trabalho e Emprego e as secretarias de Direitos Humanos e de Proteção à Mulher.
No âmbito do Ministério da Justiça, esforços são envidados pelos profissionais de segurança pública no aperfeiçoamento de técnicas de investigação, na capacitação de profissionais e na realização de operações de inteligência.
Recentemente, firmou-se um protocolo para ações prioritárias e conjuntas entre os ministros da Justiça do Brasil, da Argentina, da Espanha e de Portugal, que já estão sendo implementadas.
Os núcleos estaduais e os postos avançados de enfrentamento ao tráfico de pessoas, fruto de parcerias federativas entre Estados e municípios, atuam estratégica e diretamente na esfera de conscientização, mobilização, monitoramento, repressão ao crime e atenção às vítimas por meio de medidas articuladas com a sociedade civil.
Ainda assim, a barbárie se expande. Estimativas globais da ONU indicam que, a cada ano, cerca de 30 bilhões de dólares são movimentados e que mais de 2 milhões de pessoas são traficadas. Dessas, metade tem menos de 18 anos e 80% são exploradas sexualmente. Por esses motivos, a iniciativa do Senado é muito bem-vinda.
Neste momento, em ambiente investigativo republicano, a CPI é uma oportunidade privilegiada para gerar a necessária visibilidade a uma das piores lesões contra a humanidade, para alertar a sociedade e para ampliar reformas legais e o aperfeiçoamento das atuais políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Da Folha de São Paulo de 15/05/2011
Texto de José Eduardo Cardozo, 52, ministro da Justiça e Paulo Abrão, 35, secretário nacional de Justiça.
O Senado acaba de instalar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para investigar o tráfico nacional e internacional de pessoas no Brasil, em especial suas causas, consequências, rotas e responsáveis.
O tráfico de pessoas é um dos grandes problemas a serem enfrentados pelas autoridades em todo o mundo, não somente pelos métodos cruéis e pela complexidade do crime, mas pelo fato de afrontar diretamente a condição humana.
As vítimas, sejam elas mulheres, crianças, adolescentes ou homens, invariavelmente são transformadas em objetos e são privadas de liberdade, de autonomia e também de seus projetos de vida.
Trata-se de um drama de dimensão transnacional. O Brasil é um país de origem, de destino e de passagem para as rotas de tráfico internacional de pessoas. No âmbito nacional, a exploração é feita contra concidadãos. Esquemas criminosos são montados para alcançar pessoas em situação de vulnerabilidade com a finalidade de prestarem serviços forçados, de servidão, de exploração sexual ou para fins de remoção e circulação de órgãos e células humanas.
Para se viabilizar, o crime organizado globalizado apropria-se dos avanços tecnológicos, da ampliação dos fluxos migratórios, da miséria social, da vulnerabilidade das fronteiras e da precarização das relações de trabalho.
Ainda em 2001, o Brasil iniciou seu trajeto no combate a esse tipo de crime ao efetivar uma cooperação técnica internacional, assinada entre a Secretaria Nacional de Justiça e o Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime.
A ratificação do Protocolo de Palermo, instrumento internacional de combate a esse crime, cuidou da inclusão e da previsão de ações e políticas públicas focadas em três eixos: a prevenção, a repressão e a proteção às vítimas.
Uma Política Nacional e um Plano Nacional de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas estão vigentes e têm exigido uma ação integrada entre os ministérios da Justiça, da Saúde, do Trabalho e Emprego e as secretarias de Direitos Humanos e de Proteção à Mulher.
No âmbito do Ministério da Justiça, esforços são envidados pelos profissionais de segurança pública no aperfeiçoamento de técnicas de investigação, na capacitação de profissionais e na realização de operações de inteligência.
Recentemente, firmou-se um protocolo para ações prioritárias e conjuntas entre os ministros da Justiça do Brasil, da Argentina, da Espanha e de Portugal, que já estão sendo implementadas.
Os núcleos estaduais e os postos avançados de enfrentamento ao tráfico de pessoas, fruto de parcerias federativas entre Estados e municípios, atuam estratégica e diretamente na esfera de conscientização, mobilização, monitoramento, repressão ao crime e atenção às vítimas por meio de medidas articuladas com a sociedade civil.
Ainda assim, a barbárie se expande. Estimativas globais da ONU indicam que, a cada ano, cerca de 30 bilhões de dólares são movimentados e que mais de 2 milhões de pessoas são traficadas. Dessas, metade tem menos de 18 anos e 80% são exploradas sexualmente. Por esses motivos, a iniciativa do Senado é muito bem-vinda.
Neste momento, em ambiente investigativo republicano, a CPI é uma oportunidade privilegiada para gerar a necessária visibilidade a uma das piores lesões contra a humanidade, para alertar a sociedade e para ampliar reformas legais e o aperfeiçoamento das atuais políticas públicas de enfrentamento ao tráfico de pessoas.
Da Folha de São Paulo de 15/05/2011
Texto de José Eduardo Cardozo, 52, ministro da Justiça e Paulo Abrão, 35, secretário nacional de Justiça.
sábado, 14 de maio de 2011
18 de Maio dia de lembrar de ARACELI, o símbolo contra a pedofilia
DIA 18 DE MAIO é o dia Nacional de Combate ao Abuso Sexual e à Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, instituído pela Lei Federal nº 9970/00, em decorrência do “Crime Araceli”: uma criança capixaba, violentada e morta aos oito anos.
Leiam os textos sobre o dia 18 de Maio
ARACELI, o símbolo contra a pedofilia
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/araceli-o-smbolo-contra-pedofilia.html
“Em Defesa Da Infância” 2009 - Segunda blogagem coletiva em defesa da infância
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2009/04/segunda-blogagem-coletiva-em-defesa-da.html
O estandarte 18 de maio
Apesar dos avanços, ainda há muito em que trabalhar para que alcancemos a plena proteção da infância e adolescência no país
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2010/05/o-estandarte-18-de-maio.html
Leiam os textos sobre o dia 18 de Maio
ARACELI, o símbolo contra a pedofilia
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/araceli-o-smbolo-contra-pedofilia.html
“Em Defesa Da Infância” 2009 - Segunda blogagem coletiva em defesa da infância
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2009/04/segunda-blogagem-coletiva-em-defesa-da.html
O estandarte 18 de maio
Apesar dos avanços, ainda há muito em que trabalhar para que alcancemos a plena proteção da infância e adolescência no país
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2010/05/o-estandarte-18-de-maio.html
segunda-feira, 9 de maio de 2011
Procurador gaúcho responsabiliza Lula por mensalão
No último dia 17 de abril, o procurador da República Manoel Pastana encaminhou ao procurador geral da República representação em que responsabiliza o ex-presidente pela existência do mensalão
Exclusivo: procurador Manoel Pastana entra com representação responsabilizando Lula pelo mensalão |
Para Pastana, há provas da responsabilidade do ex-presidente na montagem do esquema de captação e distribuição de recursos para aliados que ficou conhecido como mensalão. A assessoria de Lula foi procurada, mas não prestou nenhum esclarecimento à reportagem do Congresso em Foco.
As provas, segundo Pastana, vêm de um conjunto de acontecimentos e atos do governo Lula iniciados em setembro de 2003, que se estenderam até setembro de 2004. Nesse período, o governo criou as condições para o BMG – banco por onde circulou o dinheiro do mensalão, pelas contas do publicitário Marcos Valério de Souza – administrar crédito consignado para aposentados da Previdência, faturando R$ 3 bilhões.
O procurador baseia-se no conteúdo de duas tomadas de contas do Tribunal de Contas da União (TC nº 012.633/2005-8 e TC nº 014.276/2005-2) e do Inquérito Civil Público nº 1.16.000.001672/2004-59, da Procuradoria da República no Distrito Federal. Esses documentos deram origem, no dia 15 de janeiro de 2011, a uma ação de improbidade administrativa ajuizada contra Lula e o ex-ministro da Previdência Amir Lando.
“O objetivo da presente representação é instar a promoção da responsabilidade criminal do Sr. Luiz Inácio Lula da Silva, uma vez que as responsabilidades civil e administrativa são objeto da ação de improbidade há pouco ajuizada”, diz Pastana, na representação.
Para ele, os dados constantes dos documentos do Tribunal de Contas e do Inquérito Civil Público trazem “fatos gravíssimos” ligados ao mensalão. “Foi o ex-Presidente Lula quem praticou atos materiais que fomentaram esse gigantesco esquema criminoso, e sem a presença dele na ação penal, o STF não terá elementos para condenar os líderes, mormente os autores intelectuais do esquema criminoso, pois estes não praticaram atos materiais e não deixaram rastros. Do jeito que está, apenas os integrantes braçais da “sofisticada organização criminosa” (o mensalão no dizer da denúncia levada ao STF) serão condenados” continua.
Cartas da Previdência
De acordo com Pastana, as provas que responsabilizam Lula vêm do conjunto de atitudes do governo que culminaram com o envio, em setembro de 2004, de mais de dez milhões de cartas a aposentados do INSS. As cartas, com timbre da Presidência e assinadas pelo próprio Lula e por Amir Lando, informavam sobre a existência do sistema de crédito consignado administrado pelo BMG. Como consequência, o banco, com apenas dez agências no país, faturou mais de R$ 3 bilhões em contratos de empréstimos com os aposentados. Além do BMG, o único banco habilitado a também operar tais empréstimos era a Caixa Econômica Federal, que tem mais de duas mil agências espalhadas pelo país. Graças à carta de Lula, o BMG obteve lucro maior que a Caixa.
O benefício ao BMG no processo já estava anotado na denúncia inicial do mensalão. “Ficou comprovado que o Banco BMG foi flagrantemente beneficiado por ações do núcleo político-partidário, que lhe garantiram lucros bilionários na operacionalização de empréstimos consignados de servidores públicos, pensionistas e aposentados do INSS, partir de 2003, quando foi editada a Medida Provisória nº 130, de 17.09.03, dispondo sobre o desconto de prestações em folha de pagamento dos servidores públicos e também autorizando o INSS a regulamentar o desconto de empréstimos bancários a seus segurados”, diz a Ação 470, em trâmite no STF.
“O que a denúncia do mensalão não apontou e agora está categoricamente demonstrada, mediante provas robustas, é a participação decisiva do ex-Presidente Lula na trama arquitetada para favorecer o banco BMG com tais empréstimos”, diz Pastana agora, na representação.
Para que o BMG conseguisse operar o crédito consignado, diz o procurador gaúcho, “violaram-se regras elementares que norteiam a Administração Pública”. O primeiro ato relativo ao crédito consignado foi a Medida Provisória 130, de 17 de setembro de 2003. Ela permite a criação da modalidade de empréstimos descontados em folha de pagamento a segurados do INSS. Para Pastana, a concessão de empréstimos bancários não caberia nos critérios de urgência e relevância que devem nortear a edição de uma MP.
Parecer da Procuradoria Federal do INSS, logo depois da edição da MP 130 determinava que a concessão de empréstimos só poderia ser feita por instituições que fossem pagadoras dos benefícios. “ Tal exigência jogou por terra a pretensão do banco BMG, pois ele não é pagador de benefício”, descreve Pastana.
O presidente Lula baixa, então, o decreto nº 5.180/2004, que permitia a qualquer instituição financeira conceder o empréstimo, “independentemente de ser ou não responsável pelo pagamento do benefício”. Estava aberto o caminho para o BMC, que, logo depois, requereu a sua habilitação.
No dia 29 de setembro de 2004, é enviada aos aposentados a carta assinada por Lula e Amir Lando. Na carta, o presidente e o ministro informam que o Congresso Nacional havia aprovado a lei do empréstimo consignado e que Lula a sancionava. “Com isso, você e milhões de outros beneficiários (as) passam a ter o direito de obter empréstimos cujo valor da prestação pode ser de até 30% do seu benefício mensal. Você poderá pagar o empréstimo com juros entre 1,75% e 2,9% ao mês”, informava a correspondência.Ocorre, porém, destaca Pastana na representação, que o crédito consignado já vinha sendo concedido pela Caixa Econômica Federal desde a edição da medida provisória, um ano antes. Na prática, só havia uma diferença com relação à situação de 2003: o BMG passara a emprestar também.
A intenção inicial era enviar 17 milhões de cartas aos segurados. Efetivamente, foram postadas 10.657.233 cartas, até dezembro de 2004, quando o INSS suspendeu a operação. O custo de produção e de postagem ficou em R$ 9526.070,54. “Por considerar a conduta ilegal, pois teria a finalidade de fazer promoção pessoal do ex-Presidente da República e de favorecer o banco BMG, a Procuradoria da República no Distrito Federal aviou ação de improbidade administrativa contra o ex-Presidente Lula e o ex-Ministro da Previdência Amir Lando, objetivando a responsabilização administrativa e o ressarcimento ao erário do valor utilizado na produção e remessa das cartas”, aponta Pastana.
Banco do mensalão
O procurador gaúcho relaciona tais denúncias com o fato de ser o BMG um dos bancos por onde circulou o dinheiro do mensalão. Ele lembra que o último relatório da Polícia Federal sobre o caso mostra que o BMG não apenas fez os empréstimos ao PT, que são a base do mensalão, mas emprestou também a três empresas que também teriam envolvimento com o esquema.
Essa sequência de fatos fez com que fosse instaurado o inquérito civil público contra Lula e Amir Lando. Ele, porém, só apura a responsabilidade administrativa e civil do ex-presidente. Pastana quer também responsabilizá-lo criminalmente, daí sua representação. Para ele, o inquérito civil pública, pela primeira vez aponta oficialmente Lula “como envolvido em trama que está relacionada diretamente ao esquema do mensalão”.
“Com efeito, considerando que a ação de improbidade busca a responsabilidade civil-administrativa do ex-Presidente Lula, faz-se necessário perquirir a responsabilidade penal. Esta até com maior razão, pois, sem a presença do ex-presidente na ação penal do mensalão, fica impossível responsabilizar os líderes (autores intelectuais) do maior esquema criminoso de todos os tempos”, argumenta.
Embora Lula não seja mais Presidente da República, a atribuição é do Procurador-Geral da República (promotor natural do Presidente da República), porque os fatos estão diretamente ligados ao processo criminal do mensalão, que está em curso no Supremo Tribunal Federal, onde só o procurador-geral da República pode agir, explica Pastana.
Texto de Rudolfo Lago
Colaborou Eduardo Militão
http://congressoemfoco.uol.com.br/lula-responsavel-pelo-mensalao.html
domingo, 8 de maio de 2011
Sanguessugas da Vale
De: Roger Para: Dilma
Antes de cair, o ex-dirigente da Vale alertou a presidente sobre a estranha atuação de consultores ligados ao PT que faturam milhões com royalties. E eles continuam lá
Hudson Corrêa, de Parauapebas (PA), e Leonardo Souza
DENÚNCIA
Trechos da carta de três páginas enviada por Roger Agnelli (foto acima) a Dilma, alertanto a presidente sobre as “altas quantias” recebidas por consultores, alguns deles alvos de investigações criminais
Trechos da carta de três páginas enviada por Roger Agnelli (foto acima) a Dilma, alertanto a presidente sobre as “altas quantias” recebidas por consultores, alguns deles alvos de investigações criminais
Comandado pelo PT, o município integra um capítulo até aqui não revelado da campanha para tirar o executivo Roger Agnelli da presidência da Vale. Há nesse episódio suspeitas de desvio de milhões de reais de recursos públicos. É dinheiro pago pela mineradora, que entrou no caixa da prefeitura e que deveria ser aplicado na melhoria das condições de vida da população. De acordo com investigações de dois órgãos de fiscalização, esse dinheiro aparentemente foi parar em lugar impróprio.
Fortes indícios do caso chegaram à mesa da presidente Dilma Rousseff, numa carta assinada por Agnelli em 14 de março. No texto, Agnelli alerta que a disputa em torno dos royalties estava inserida em um “contexto político” e que havia “investigações criminais em andamento” sobre o suposto esquema da prefeitura de Parauapebas. s As assessorias da Vale e da Presidência da República confirmaram o envio e o recebimento da carta. A Vale informou, contudo, que não comentaria o teor do documento. O Palácio do Planalto afirmou que a cobrança dos royalties é feita pelas prefeituras e que a carta foi encaminhada ao Ministério de Minas e Energia.
A campanha contra Agnelli foi deflagrada no início de março por determinação de Dilma. Sem cerimônias, o Planalto despachou o ministro Guido Mantega, da Fazenda, a Osasco, em São Paulo, para convencer o Bradesco, principal sócio privado da companhia, a aceitar a substituição de Agnelli. Em outra frente, o ministro Edison Lobão, de Minas e Energia, pressionou publicamente a mineradora a pagar R$ 5 bilhões de royalties pela exploração do solo no país, soma além dos valores que a Vale recolhe regularmente todo ano. A empresa contesta o débito na Justiça.
É nesse contexto que entra Parauapebas. Do total da suposta dívida dos royalties, R$ 800 milhões caberiam ao município paraense, administrado desde 2005 pelo petista Darci José Lermen. Enquanto cobra a fatura da Vale, Lermen enfrenta o escrutínio do Tribunal de Contas dos Municípios do Pará e do Ministério Público Estadual. Os dois órgãos querem saber onde foram aplicados os R$ 700 milhões que a cidade já recebeu da mineradora nos últimos anos.
A investigação envolve um contrato mantido por Lermen, desde 2006, com o advogado Jader Alberto Pazinato, filiado ao PR, partido da base aliada do governo. O escritório de Pazinato fica em Balneário Camboriú, em Santa Catarina, a mais de 3.000 quilômetros de distância do Pará. Pelo acordo, a que ÉPOCA teve acesso, Pazinato fica com R$ 20 de cada R$ 100 depositados nos cofres da prefeitura referentes a impostos e royalties da Vale. Desde 2007, ele já embolsou cerca de R$ 9 milhões, segundo o TCM. O Tribunal apura a legalidade do contrato, assinado sem licitação.
Há interesse de terceiros envolvidos, como consultores (...) pedindo altas comissões (...) razão pela qual a disputa adquire tal contexto político
ROGER AGNELLI, ex-presidente da Vale, na carta enviada em março para a presidente Dilma
Uma das tarefas de Pazinato é atuar na Justiça contra a Vale. Além da cobrança política feita pelo Planalto, o governo federal processou a mineradora para receber o valor que considera ser seu de direito. Nessas ações, as prefeituras podem atuar como assistentes do Departamento Nacional de Mineração (DNPM), encarregado de encabeçar os processos. Foi nessa brecha que o prefeito Lermen encaixou o escritório de Pazinato. O TCM não detalha a que se referem exatamente os valores recebidos por Pazinato até agora – se aos royalties em disputa ou aos pagamentos regulares feitos pela mineradora. ROGER AGNELLI, ex-presidente da Vale, na carta enviada em março para a presidente Dilma
Como qualquer bom profissional liberal, Pazinato busca diversificar sua atuação. Para isso, conta com o apoio da Associação dos Municípios Mineradores do Brasil (Amib), cujo vice-presidente é Lermen. O presidente é outro petista, o prefeito de Congonhas, em Minas Gerais, Anderson Cabido. Pazinato presta assessoria jurídica à associação, mas não consegue oferecer seus serviços aos municípios mineiros. Lá, o Tribunal de Contas local proíbe contratos dessa natureza com municípios.
O prefeito Cabido diz acreditar que o embate pelos royalties foi “a gota d’água” para a queda de Agnelli. A cronologia dos fatos combina com a afirmação. No início de fevereiro, Lobão recebeu por escrito, da Amib, a reivindicação para que a Vale aceitasse pagar a mais pelos royalties. No fim daquele mês, a superintendência do DNPM no Pará, órgão subordinado a Lobão, abriu processo para cassar a concessão da Vale na mina de Carajás, com base nas multas lançadas em 2008 e 2009.
As penalidades haviam sido aplicadas sob o argumento de que a Vale não pagara o valor correto de royalties aos municípios. As mineradoras e o DNPM divergem sobre a forma de cálculo desses recursos. De um lado, as mineradoras entendem que, do valor a ser recolhido, podem ser descontados impostos e custos operacionais, como o transporte do minério. De outro, o DNPM afirma que não há previsão legal para esses abatimentos. No fim, a direção nacional do DNPM arquivou o processo de cassação da concessão. Mas o desgaste já estava consumado.
Na carta enviada a Dilma, Agnelli cita a “tentativa de ameaçar o direito minerário de Carajás, o que o próprio DNPM anulou por total ilegalidade”. No mesmo dia em que funcionários da Vale entregavam o documento no Planalto, Agnelli se reunia com Lobão. Gestava-se ali mais uma surpresa desagradável para ele e para a Vale: logo após o encontro, Lobão disse à imprensa que a Vale admitia finalmente a dívida.
ÉPOCA apurou que Agnelli ficou constrangido com a declaração. Ele dissera apenas que a Vale mantinha ações na Justiça contra a cobrança que considerava indevida, mas acataria eventuais decisões opostas. Agnelli entendeu que a iniciativa de Lobão era mais uma arma do governo para tirá-lo do cargo.
No fim, Agnelli caiu. Menos de 15 dias depois da carta e da reunião com Lobão, os acionistas da mineradora tornaram pública a decisão de substituí-lo. O governo interfere na gestão da mineradora por meio do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social e da Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, que, juntos, detêm 60,5% do bloco de controle da Vale.
Moradores de Parauapebas pediram um inquérito para saber onde são aplicados os royalties pagos pela Vale
Em Parauapebas, ainda resta uma ponta sem desfecho. Danyllo Pompeu Colares, promotor de justiça do Pará, diz que moradores pediram abertura de um inquérito civil para apurar onde são aplicados os royalties depositados na conta do município. Colares afirma que, cinco meses após o início da investigação, a prefeitura nada esclareceu. O investimento público que mais chama a atenção de quem chega à cidade é o prédio da prefeitura, inaugurado em dezembro de 2009. Com quatro andares, no alto de um morro, custou cerca de R$ 12 milhões, segundo o prefeito. Lermen afirma que faz investimentos maciços na infraestrutura da cidade (construção de escolas, estradas, saneamento e hospitais), mas que os recursos não são suficientes diante do crescimento populacional. “Quando assumi a prefeitura (em 2005) , a cidade tinha 90 mil habitantes. Hoje, recebi a informação de agentes comunitários de que são 200 mil pessoas”, diz. Oficialmente, de acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Parauapebas tem 154 mil moradores. Lojas comerciais, como concessionárias de veículos, se expandem na cidade, que também vai ganhar um shopping, ainda em construção.
Lermen não vê desperdício do dinheiro dos royalties e defende o contrato com Pazinato. “Precisávamos de um escritório especializado para fazer frente à Vale. Somos o único município que tem obtido vitória na Justiça para receber (os royalties) . Não é um contrato ruim para o município”, afirma. Ele nega qualquer relação política com Pazinato. Diz que os valores pagos ao escritório “são pautados pela execução dos serviços” e ganhos da prefeitura.
O advogado Carlos Alberto Pereira, que trabalha com Pazinato, diz que seu colega não tem nenhuma ligação partidária: “Ele nunca participou de reunião política. Trabalho com ele há dez anos. Ele disse nem se lembrar de ter assinado ficha de filiação”. Segundo Pereira, a forma de contratação do escritório pela prefeitura é amparada por decisão do Supremo Tribunal Federal.
A explicação não convence Wellington Alves Valente, ex-procurador de Parauapebas. Na função, Valente era responsável por defender os interesses da prefeitura na Justiça. “Pazinato pegou o bonde andando”, diz. Valente afirma ter sido o responsável por levantar os débitos atribuídos à Vale a partir de 2001. Segundo ele, Pazinato encontrou o serviço pronto. Além disso, haveria outro agravante. Parauapebas tem um quadro fixo de procuradores municipais. Eles são advogados concursados e poderiam perfeitamente tocar ações sem necessidade de contratação de um escritório particular.
Nos próximos dias, o mandato de Agnelli na Vale se encerra. Apesar da demissão, ele entra para a história da empresa como responsável por uma gestão de sucesso. Na semana passada, foram anunciados os resultados da Vale no primeiro trimestre deste ano. A mineradora lucrou R$ 11,21 bilhões, 292% acima do que ganhou no mesmo período de 2010. O recorde, influenciado pelo aumento de preço do minério de ferro, é 13% maior que o último trimestre do ano passado. Caberá agora a seu substituto, o executivo Murilo Ferreira, escolhido por Dilma, decidir como vai lidar com o governo na discussão sobre os royalties.
OUTRO CANAL
Vila sem esgoto em Parauapebas, no Pará, cidade que recebe muitos royalties, mas tem péssimos indicadores (acima). De acordo com o contrato (no alto), o advogado Pazinato (no destaque, fotografado num jatinho) fica com 20% da arrecadação.
Da revista Época de 07/05/2011
Vila sem esgoto em Parauapebas, no Pará, cidade que recebe muitos royalties, mas tem péssimos indicadores (acima). De acordo com o contrato (no alto), o advogado Pazinato (no destaque, fotografado num jatinho) fica com 20% da arrecadação.
Da revista Época de 07/05/2011
segunda-feira, 2 de maio de 2011
Indústria 'turbinou' cigarros com drogas emagrecedoras
Indústria 'turbinou' cigarros com drogas emagrecedoras, diz estudo
Pesquisa suíça mostra que a prática durou 50 anos, segundo documentos das fabricantes
Substâncias como anfetaminas já fizeram parte da composição dos produtos; empresas refutam acusação
MAGREZA QUÍMICA: Pesquisa mostra como a indústria adicionou elementos químicos para que o cigarro reduzisse o apetite
Seis das maiores fabricantes de cigarro do mundo usaram ou fizeram planos de usar aditivos químicos em seus produtos para reduzir o apetite, de acordo com uma pesquisa feita por médicos da Universidade de Lausanne, na Suíça.
Os documentos citam o uso de anfetamina, efedrina, gás do riso e ácido tartárico, entre outras substâncias.
Anfetamina e efedrina são conhecidos redutores de apetite. Gás do riso suprime a fome ao alterar o sabor dos alimentos, segundo os autores. Ácido tartárico reduz a fome ao ressecar a boca. A pesquisa foi publicada na última edição do "The European Journal of Public Health", editado pela Universidade de Oxford.
A prática durou pelo menos 50 anos, de 1949 a 1999, ainda de acordo com o grupo de pesquisadores. O levantamento foi feito em documentos da própria indústria do cigarro. Os papéis se tornaram públicos por conta de uma ação dos EUA na qual as empresas foram condenadas por terem omitido os males provocados pelo fumo por 40 anos.
A ação resultou na maior indenização da história (cerca de US$ 220 bilhões ou R$ 346 bilhões) e na abertura de todos os documentos da indústria, por ordem judicial.
MULHERES
A vantagem do supressor de apetite para a indústria é que ele amplia uma característica do cigarro: a capacidade de reduzir a fome.
A estratégia deu certo: até hoje, muitas mulheres dizem que não vão parar de fumar porque engordariam. Não dá para saber se a prática continua, segundo Semira Gonseth, uma das autoras do trabalho.
"Precisamos de mais estudos químicos sobre os ingredientes do cigarro ou de uma lei que obrigue a indústria a revelar o que ela usa", disse Gonseth à Folha.
"Essa descoberta dos moderadores de apetite mostra que a indústria nunca teve ética para nada. Ninguém sabe que efeitos colaterais esses supressores podem ter", diz a médica Vera Luísa da Costa e Silva, que dirigiu a seção mundial de controle de tabagismo da OMS (Organização Mundial da Saúde) e é uma das maiores autoridades em tabaco no mundo.
FUMAÇA E PESO
O cigarro ajuda naturalmente a controlar o peso porque a nicotina diminui a ação da insulina, reduzindo a entrada de glicose nas células.
O efeito disso é a diminuição na sensação de fome, afirma Costa e Silva. O adição do supressor de apetite potencializa essas características.
O plano de incluir aditivos que diminuem a fome, segundo os documentos, visava conquistar novos consumidores: as mulheres.
Um documento da Philip Morris de 1965 explicita essa tática: "Se fôssemos capazes de desenvolver um cigarro muito mais "seguro' do que os existentes [...] e que agisse como um supressor de apetite, descobriríamos um novo mercado de fumantes".
Projeto de desenvolvimento de um Marlboro mais fino, voltado para mulheres, cita como característica desejável a "supressão de apetite".
É da Philip Morris, líder mundial no mercado de cigarros e fabricante do Marlboro, a maior parte dos documentos com referência a moderadores de apetite encontrados pelos pesquisadores.
PIPOCA
Questionada pela Folha, a empresa diz que não usa esse tipo de aditivo, mas se recusou a comentar o passado.
Um projeto do Pall Mall, cigarro popular nos anos 70, cita como aditivos a cafeína e a efedrina. Uma molécula patenteada para reduzir o apetite, a 2-acetilpiridina, que dá um sabor de pipoca ao cigarro, foi usada pela BAT (British American Tobacco, dona da Souza Cruz), Philip Morris e outras duas fabricantes.
A empresa inglesa, que controla a Souza Cruz, também usou ácido tartárico em cigarros, de acordo com os pesquisadores. Esse ácido resseca a boca e foi proibido de ser adicionado ao tabaco pela Justiça dos Estados Unidos em 1977.
Texto de Mario Cesar Carvalho na Folha de São Paulo de 02/05/2011
Pesquisa suíça mostra que a prática durou 50 anos, segundo documentos das fabricantes
Substâncias como anfetaminas já fizeram parte da composição dos produtos; empresas refutam acusação
Shutter stock |
Seis das maiores fabricantes de cigarro do mundo usaram ou fizeram planos de usar aditivos químicos em seus produtos para reduzir o apetite, de acordo com uma pesquisa feita por médicos da Universidade de Lausanne, na Suíça.
Os documentos citam o uso de anfetamina, efedrina, gás do riso e ácido tartárico, entre outras substâncias.
Anfetamina e efedrina são conhecidos redutores de apetite. Gás do riso suprime a fome ao alterar o sabor dos alimentos, segundo os autores. Ácido tartárico reduz a fome ao ressecar a boca. A pesquisa foi publicada na última edição do "The European Journal of Public Health", editado pela Universidade de Oxford.
A prática durou pelo menos 50 anos, de 1949 a 1999, ainda de acordo com o grupo de pesquisadores. O levantamento foi feito em documentos da própria indústria do cigarro. Os papéis se tornaram públicos por conta de uma ação dos EUA na qual as empresas foram condenadas por terem omitido os males provocados pelo fumo por 40 anos.
A ação resultou na maior indenização da história (cerca de US$ 220 bilhões ou R$ 346 bilhões) e na abertura de todos os documentos da indústria, por ordem judicial.
MULHERES
A vantagem do supressor de apetite para a indústria é que ele amplia uma característica do cigarro: a capacidade de reduzir a fome.
A estratégia deu certo: até hoje, muitas mulheres dizem que não vão parar de fumar porque engordariam. Não dá para saber se a prática continua, segundo Semira Gonseth, uma das autoras do trabalho.
"Precisamos de mais estudos químicos sobre os ingredientes do cigarro ou de uma lei que obrigue a indústria a revelar o que ela usa", disse Gonseth à Folha.
"Essa descoberta dos moderadores de apetite mostra que a indústria nunca teve ética para nada. Ninguém sabe que efeitos colaterais esses supressores podem ter", diz a médica Vera Luísa da Costa e Silva, que dirigiu a seção mundial de controle de tabagismo da OMS (Organização Mundial da Saúde) e é uma das maiores autoridades em tabaco no mundo.
FUMAÇA E PESO
O cigarro ajuda naturalmente a controlar o peso porque a nicotina diminui a ação da insulina, reduzindo a entrada de glicose nas células.
O efeito disso é a diminuição na sensação de fome, afirma Costa e Silva. O adição do supressor de apetite potencializa essas características.
O plano de incluir aditivos que diminuem a fome, segundo os documentos, visava conquistar novos consumidores: as mulheres.
Um documento da Philip Morris de 1965 explicita essa tática: "Se fôssemos capazes de desenvolver um cigarro muito mais "seguro' do que os existentes [...] e que agisse como um supressor de apetite, descobriríamos um novo mercado de fumantes".
Projeto de desenvolvimento de um Marlboro mais fino, voltado para mulheres, cita como característica desejável a "supressão de apetite".
É da Philip Morris, líder mundial no mercado de cigarros e fabricante do Marlboro, a maior parte dos documentos com referência a moderadores de apetite encontrados pelos pesquisadores.
PIPOCA
Questionada pela Folha, a empresa diz que não usa esse tipo de aditivo, mas se recusou a comentar o passado.
Um projeto do Pall Mall, cigarro popular nos anos 70, cita como aditivos a cafeína e a efedrina. Uma molécula patenteada para reduzir o apetite, a 2-acetilpiridina, que dá um sabor de pipoca ao cigarro, foi usada pela BAT (British American Tobacco, dona da Souza Cruz), Philip Morris e outras duas fabricantes.
A empresa inglesa, que controla a Souza Cruz, também usou ácido tartárico em cigarros, de acordo com os pesquisadores. Esse ácido resseca a boca e foi proibido de ser adicionado ao tabaco pela Justiça dos Estados Unidos em 1977.
Texto de Mario Cesar Carvalho na Folha de São Paulo de 02/05/2011
domingo, 1 de maio de 2011
A oposição esfacelada
Lula jurou que iria massacrar a oposição, não precisou fazer nada, os partidos da oposição se suicidaram ou aderiram.
Abaixo posto alguns artigos que falam da derrota dos partidos da oposição.
Eu, continuo oposicionista, sem partido.
.
Zumbis da oposição
Gilberto Kassab acaba de criar a Secretaria Especial de Articulação de Grandes Eventos. É a 29ª da prefeitura. Marta Suplicy e José Serra governaram com 21.
A caminho do PSD, o ex-tucano Walter Feldman assumiu a pomposa pasta. Vai despachar de Londres, onde acompanhará os preparativos da Olimpíada de 2012. Será, sem dúvida, muito útil para a Olimpíada de 2016 no... Rio de Janeiro.
Este é um exemplo menor de como a máquina municipal foi posta a serviço dos interesses do partido de Kassab. É também mais um capítulo da guerra civil na oposição.
Os ataques de Kassab não fariam tanto estrago no ninho tucano se Alckmin e seus aliados, por sua vez, não estivessem agindo de olho no retrovisor, movidos por óbvio espírito de vingança.
É notável a vocação dos tucanos para destruir o próprio legado (a começar do que fizeram com FHC). Transmitem sucessivamente a ideia de que não há nada mais importante que suas brigas internas.
De maneira ainda mais determinada do que Serra havia feito com seu grupo, Alckmin está dando aval ao estrangulamento do serrismo no partido. O ressentimento da turma de Pinda está em marcha.
Na melhor das hipóteses, Alckmin se fixará como líder regional de um partido provinciano. O PSDB -com suas aspirações cosmopolitas e o desejo de ser a locomotiva da modernização brasileira- acabou. E Serra, que não é apenas vítima, mas ator desse desmanche, se vê hoje dividido: tentar sobreviver entre os despojos de um PSDB que lhe é cada vez mais hostil ou buscar uma alternativa no PSD de Kassab?
Não é uma decisão simples. Em termos práticos, o PSD é um ajuntamento de zumbis. Gente que desistiu de fazer oposição e quer se aproveitar do lusco-fusco ideológico do país para tirar algum proveito à sombra da hegemonia petista.
Mas, emparedado por Aécio Neves no país e agora por Alckmin em São Paulo, Serra, de certa forma, já é um zumbi no PSDB.
De Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo de 29/04/2011
.
PT e anti-PT em São Paulo
Conquistar a prefeitura paulistana no ano que vem talvez seja o principal objetivo estratégico do PT. A eleição do deputado estadual Rui Falcão para a presidência do partido reforça isso.
Reforça também a tendência de que o candidato petista seja um nome já conhecido e testado em outras eleições. Pela ordem: Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy. A rejeição à ex-prefeita e o "sacrifício" do ministro da Ciência e Tecnologia -que aceitou concorrer contra Alckmin depois que a operação Ciro Gomes naufragou- o colocam em vantagem na disputa interna.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, nome preferido por Lula, é visto quase como um estrangeiro pelo PT de São Paulo -alheio às preocupações e à rotina do partido. Ninguém que tem Lula como padrinho é carta fora do baralho, mas, no que depender da máquina petista, Haddad não vai emplacar.
São Paulo (a cidade e, mais ainda, o Estado) é o calcanhar de Aquiles dos petistas. Luiza Erundina venceu em 1988, quando a eleição se decidia num único turno. E, Marta, 12 anos depois, derrotou Maluf no pleito de 2000, quando a classe média, que hoje lhe é refratária, reagiu à ruína administrativa e moral da gestão Celso Pitta.
Na ocasião, o PT se beneficiou do declínio do malufismo em São Paulo, mas não teve força para conter o avanço do tucanato nas classes médias. Marta perdeu para Serra em 2004 e para Kassab em 2008.
O prefeito está bastante desgastado, mas ninguém com juízo acha que vá terminar sua gestão escorraçado, como Pitta. Os tucanos também vivem uma grande crise e começam a sentir os efeitos da chamada "fadiga de material", mas seria uma ingenuidade acreditar que terão o destino do malufismo.
Ainda assim, a guerra entre Alckmin e Kassab e a fragilização de Serra no PSDB dão ao PT uma perspectiva maior de poder na cidade. Falta apenas combinar com as classes médias paulistanas, que cultivam com muito gosto o antipetismo.
De Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo de 30/04/2011
.
Outra fusão: PSD & DEM
Pode parecer esdrúxulo. E é. Mas na micropolítica nos salões do Congresso essa é uma hipótese recorrente: a eventual aquisição hostil do DEM pelo PSD (partido novo de Gilberto Kassab).
Seria o sonho dourado dos neokassabistas. Resolveriam assim o problema incontornável de uma legenda nova nascer sem tempo de TV. A agremiação só terá amplo acesso ao horário eleitoral depois de conseguir uma bancada de deputados federais em 2014. Até lá, terá de se conformar com segundos à la "meu nome é Enéas".
A bruxaria é complexa. Funcionaria mais ou menos com a seguinte lógica política e cronológica:
1) Desidratação do DEM: dezenas de filiados continuarão a deixar, nas próximas semanas, o partido que um dia foi Arena, PDS e PFL.
2) Formalização do PSD: enquanto isso, Kassab consolidará uma bancada de deputados, senadores e governadores muito superior à do DEM pré-derrocada.
3) Infiltração: kassabistas continuam entrincheirados dentro do DEM. Esses anfíbios pretendem influir na convenção nacional marcada para 27 de setembro, quando os demistas escolhem uma nova direção nacional. Antes, farão ataques especulativos nos encontros demistas estaduais (20 de agosto) e municipais (16 de julho).
4) Aquisição hostil: em setembro, depauperado, sem bancadas relevantes no Congresso e nos Estados, o DEM será forçado a fazer uma fusão para sobreviver em eleições futuras. O PSD recém-criado se apresentará para fazer o negócio, mimetizando o cenário em que uma empresa compra a outra em estado falimentar. Ocorre uma fusão. Nasce uma nova agremiação com uma denominação ainda a ser escolhida -até porque o nome PSD está inviabilizado judicialmente.
Qual a chance desse enredo rocambolesco se tornar realidade? É pequena ou impossível de aferir. Mas a história é cada vez mais contada e ouvida aqui em Brasília.
De Fernando Rodrigues na Folha de São Paulo de 30/04/2011
.
ÓDIO TUCANO
Um conhecedor da caciquia do PSDB estarreceu-se ao constatar que as principais facções em que está dividido o partido não estão separadas só por divergências, ou mesmo rivalidades: "Há ódio, e quando o ódio entra na política, tudo pode acontecer".
De Élio Gaspari na Folha de São Paulo de 01/05/2011
Abaixo posto alguns artigos que falam da derrota dos partidos da oposição.
Eu, continuo oposicionista, sem partido.
.
Zumbis da oposição
Gilberto Kassab acaba de criar a Secretaria Especial de Articulação de Grandes Eventos. É a 29ª da prefeitura. Marta Suplicy e José Serra governaram com 21.
A caminho do PSD, o ex-tucano Walter Feldman assumiu a pomposa pasta. Vai despachar de Londres, onde acompanhará os preparativos da Olimpíada de 2012. Será, sem dúvida, muito útil para a Olimpíada de 2016 no... Rio de Janeiro.
Este é um exemplo menor de como a máquina municipal foi posta a serviço dos interesses do partido de Kassab. É também mais um capítulo da guerra civil na oposição.
Os ataques de Kassab não fariam tanto estrago no ninho tucano se Alckmin e seus aliados, por sua vez, não estivessem agindo de olho no retrovisor, movidos por óbvio espírito de vingança.
É notável a vocação dos tucanos para destruir o próprio legado (a começar do que fizeram com FHC). Transmitem sucessivamente a ideia de que não há nada mais importante que suas brigas internas.
De maneira ainda mais determinada do que Serra havia feito com seu grupo, Alckmin está dando aval ao estrangulamento do serrismo no partido. O ressentimento da turma de Pinda está em marcha.
Na melhor das hipóteses, Alckmin se fixará como líder regional de um partido provinciano. O PSDB -com suas aspirações cosmopolitas e o desejo de ser a locomotiva da modernização brasileira- acabou. E Serra, que não é apenas vítima, mas ator desse desmanche, se vê hoje dividido: tentar sobreviver entre os despojos de um PSDB que lhe é cada vez mais hostil ou buscar uma alternativa no PSD de Kassab?
Não é uma decisão simples. Em termos práticos, o PSD é um ajuntamento de zumbis. Gente que desistiu de fazer oposição e quer se aproveitar do lusco-fusco ideológico do país para tirar algum proveito à sombra da hegemonia petista.
Mas, emparedado por Aécio Neves no país e agora por Alckmin em São Paulo, Serra, de certa forma, já é um zumbi no PSDB.
De Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo de 29/04/2011
.
PT e anti-PT em São Paulo
Conquistar a prefeitura paulistana no ano que vem talvez seja o principal objetivo estratégico do PT. A eleição do deputado estadual Rui Falcão para a presidência do partido reforça isso.
Reforça também a tendência de que o candidato petista seja um nome já conhecido e testado em outras eleições. Pela ordem: Aloizio Mercadante ou Marta Suplicy. A rejeição à ex-prefeita e o "sacrifício" do ministro da Ciência e Tecnologia -que aceitou concorrer contra Alckmin depois que a operação Ciro Gomes naufragou- o colocam em vantagem na disputa interna.
O ministro da Educação, Fernando Haddad, nome preferido por Lula, é visto quase como um estrangeiro pelo PT de São Paulo -alheio às preocupações e à rotina do partido. Ninguém que tem Lula como padrinho é carta fora do baralho, mas, no que depender da máquina petista, Haddad não vai emplacar.
São Paulo (a cidade e, mais ainda, o Estado) é o calcanhar de Aquiles dos petistas. Luiza Erundina venceu em 1988, quando a eleição se decidia num único turno. E, Marta, 12 anos depois, derrotou Maluf no pleito de 2000, quando a classe média, que hoje lhe é refratária, reagiu à ruína administrativa e moral da gestão Celso Pitta.
Na ocasião, o PT se beneficiou do declínio do malufismo em São Paulo, mas não teve força para conter o avanço do tucanato nas classes médias. Marta perdeu para Serra em 2004 e para Kassab em 2008.
O prefeito está bastante desgastado, mas ninguém com juízo acha que vá terminar sua gestão escorraçado, como Pitta. Os tucanos também vivem uma grande crise e começam a sentir os efeitos da chamada "fadiga de material", mas seria uma ingenuidade acreditar que terão o destino do malufismo.
Ainda assim, a guerra entre Alckmin e Kassab e a fragilização de Serra no PSDB dão ao PT uma perspectiva maior de poder na cidade. Falta apenas combinar com as classes médias paulistanas, que cultivam com muito gosto o antipetismo.
De Fernando de Barros e Silva na Folha de São Paulo de 30/04/2011
.
Outra fusão: PSD & DEM
Pode parecer esdrúxulo. E é. Mas na micropolítica nos salões do Congresso essa é uma hipótese recorrente: a eventual aquisição hostil do DEM pelo PSD (partido novo de Gilberto Kassab).
Seria o sonho dourado dos neokassabistas. Resolveriam assim o problema incontornável de uma legenda nova nascer sem tempo de TV. A agremiação só terá amplo acesso ao horário eleitoral depois de conseguir uma bancada de deputados federais em 2014. Até lá, terá de se conformar com segundos à la "meu nome é Enéas".
A bruxaria é complexa. Funcionaria mais ou menos com a seguinte lógica política e cronológica:
1) Desidratação do DEM: dezenas de filiados continuarão a deixar, nas próximas semanas, o partido que um dia foi Arena, PDS e PFL.
2) Formalização do PSD: enquanto isso, Kassab consolidará uma bancada de deputados, senadores e governadores muito superior à do DEM pré-derrocada.
3) Infiltração: kassabistas continuam entrincheirados dentro do DEM. Esses anfíbios pretendem influir na convenção nacional marcada para 27 de setembro, quando os demistas escolhem uma nova direção nacional. Antes, farão ataques especulativos nos encontros demistas estaduais (20 de agosto) e municipais (16 de julho).
4) Aquisição hostil: em setembro, depauperado, sem bancadas relevantes no Congresso e nos Estados, o DEM será forçado a fazer uma fusão para sobreviver em eleições futuras. O PSD recém-criado se apresentará para fazer o negócio, mimetizando o cenário em que uma empresa compra a outra em estado falimentar. Ocorre uma fusão. Nasce uma nova agremiação com uma denominação ainda a ser escolhida -até porque o nome PSD está inviabilizado judicialmente.
Qual a chance desse enredo rocambolesco se tornar realidade? É pequena ou impossível de aferir. Mas a história é cada vez mais contada e ouvida aqui em Brasília.
De Fernando Rodrigues na Folha de São Paulo de 30/04/2011
.
ÓDIO TUCANO
Um conhecedor da caciquia do PSDB estarreceu-se ao constatar que as principais facções em que está dividido o partido não estão separadas só por divergências, ou mesmo rivalidades: "Há ódio, e quando o ódio entra na política, tudo pode acontecer".
De Élio Gaspari na Folha de São Paulo de 01/05/2011
Assinar:
Postagens (Atom)
$textfile ="http://geocities.yahoo.com.br/danigiscard/random1.txt";
$quotes = file("$textfile");
$quote = rand(0, sizeof($quotes)-1);
echo $quotes[$quote]; ?>?
$textfile>