quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Avanço à vista

As incertezas que dominam o cenário mundial são tantas que, mesmo já vencidos quatro quintos do ano, as previsões ainda são precárias. Na antevéspera da reunião do G-20, a OCDE divulgou os seguintes números para 2011:



O angustiante quadro mundial revela que as hipóteses da política econômica brasileira estão a confirmar-se. Mais do que isso, ele dá razão à política monetária (apoiada numa política fiscal mais austera) que tenta antecipar-se à queda da nossa taxa de crescimento reduzindo a taxa de juros real.
A "distância" entre a nossa taxa de inflação (beirando o limite superior da tolerância da "meta") com relação aos emergentes é muito menor do que a do nosso crescimento, que andará por volta de 3% (e, na margem, pode estar correndo em torno de 2,5%). Já a taxa dos emergentes do G-20 é da ordem de 6%, sem contar a China.
Isso mostra o equívoco da crítica fácil feita ao nosso BC, com a afirmação que ele teria abandonado a política de metas inflacionárias só por ter aumentado o peso dado à "distância" entre o PIB e o seu "potencial" e diminuído o peso da "distância" entre a taxa de inflação de 12 meses e a "meta".
No fundo, a inflação aceitável é a parecida com a dos nossos parceiros internacionais, com o PIB próximo do pleno uso da capacidade produtiva.
Em condições anormais de pressão e temperatura, é melhor transigir com a "meta" (no seu limite de tolerância) do que exagerar no sacrifício para atendê-la num horizonte mais curto. É claro que isso não tem a ver com a ideia primitiva de que "um pouco mais de inflação aumenta o crescimento".
Por outro lado, é óbvio que precisamos aperfeiçoar nossas políticas macro e microeconômicas, facilitar o aumento da produtividade e usar melhor os recursos de que dispomos.
Uma boa notícia foi revelada pelo ministro da Previdência, Garibaldi Alves, consagrado como bom administrador: o governo está empenhado na aprovação do projeto que cria o Fundo de Previdência dos servidores públicos, que dorme no Congresso desde 2003.
Quem o tem bloqueado? Segundo Alves, "os sindicatos e os parlamentares ligados aos servidores. Eles, que deveriam ser de esquerda, às vezes são mais conservadores que os conservadores da direita". Bingo!


De Antonio Delfim Netto na Folha de São Paulo de 09/11/2011

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