"Vitamina S"
E a hipótese da higiene vem ganhando consistência teórica com a incorporação de conceitos ecológicos pela medicina. O corpo humano sempre foi considerado uma entidade à parte, mas faz mais sentido biológico pensá-lo no contexto de suas relações com o ambiente, em especial a interação com outras espécies.
Um bom exemplar dessa safra científica é o livro "The Wild Life of Our Bodies", de Rob Dunn, em que o autor sugere que, ao perseguir e destruir os germes que nos cercam, talvez tenhamos atingido microrganismos aliados, que teriam um papel importante para calibrar o funcionamento de nosso sistema de defesa.
Para apoiar sua tese, Dunn desfila uma série de pesquisas e teorias surpreendentes. Mostra, por exemplo, como alguns pacientes conseguiram controlar a doença de Crohn (inflamação intestinal crônica) ingerindo vermes. Ele também sugere que o apêndice, que aparece nos livros como órgão vestigial em processo de extinção, seja, na verdade, um berçário para as bactérias que colonizam nossos intestinos e nos auxiliam na digestão. Seguindo as pistas da biologia, é possível até especular que as cobras tenham nos auxiliado a desenvolver nossa visão em cores.
O mais interessante dessas interpretações ecológicas, porém, é que elas relativizam a mais exitosa teoria médica de todos os tempos, a noção de que doenças são causadas por germes, que resultou na antissepsia e nos antibióticos. Não se trata, é óbvio, de negar essa verdade, mas de mostrar que a ciência e o mundo são mais complicados do que parecem.
De Hélio Schwartsman na Folha de São Paulo de 25/03/2012
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