quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

A rua onde moro

A rua onde moro, a pacificação.
A rua onde moro II

A rua onde moro continua barulhenta,
Tem moradias de todos os estilos,
Olham-me, mas a dor amenizou-se.
Pontos escuros e infames diminuíram
Já não voam tão temerosos os papeis,
Os estampidos cessaram, até quando não sei...

Aos poucos os gatos vão reaparecendo
Os cães retornam, mas não ladram.
Arvore gradualmente vai se plantando
A rua onde moro já não é mais tão aterrorizante.

Nos templos já se pode ver alguém orando,
Já não há sombra a nos surpreender como antes.
Algumas luzes já se podem ver acesas
O filho continua o mesmo, em nada mudou.

Nas casas já há um tímido clarão
Os pecadores continuam, mas não há mais heróis.
Os meninos são os mesmos e tem meninas gestantes.

Já não há tanta fuga em prol da vida
Nem tantos arrependimentos,
Provocações são raras, traçantes às vezes...
No lugar da ruina ergue-se de tijolo em tijolo nova cidade.

Indefere-se apenas o que é fora da lei
A rua foi apaziguada pela as Unidades Pacificadoras,
Apesar de distantes, e a tristeza noturna deu um tempo.

Já não há tanta aflição na rua onde vivo
Os sons são agradáveis, do meu quarto a paisagem
Continua inspirando amor, não precisa fugir...
O zumbido das armas acalmou... Até quando?
É possível projetar o futuro e continuar amando.

De R J Cardoso

As poesias acima e abaixo descrevem a vida nas favelas do Rio antes e depois das UPPs
Do fundo do meu coração e de minha alma espero que o AMOR, A ORDEM E PROGRESSO
finalmente façam parte da vida do povo brasileiro e em especial do Rio Maravilhoso de Janeiro.

A rua onde moro é barulhenta
Tem moradia de todos os estilos
E olham-me quando minha dor
Ao ponto culminante passa.

Tem pontos sem luz vergonhosos,
De onde voam papeis temerosos
Ao vento e estampidos que matam.

Na rua onde moro os gatos morreram
Os cães que ladravam desapareceram,
As arvores secaram devido à ação
Dos homens, a rua onde moro é pavorosa...

No templo não há ninguém de joelhos,
Temendo a sombra que surpreende.
A rua onde moro tem refletores
Que não acendem; lá o filho desrespeita
O pai porque não quer ser seu filho.

Na escuridão da moradia nada brilha.
Na rua onde moro não há pecado,
Só pecadores, os homens são heróis.
Os meninos são grandes e tem meninas grávidas,

Os felinos não miam mais...
Há fuga para manter a vida, arrependimentos,
Provocação e “traçantes" cortando o céu,
Aniquilamento e negação; trata-se de uma rua
Como as demais, com os mesmo problemas
Do cotidiano e muita angústia noturna.

Na rua onde moro não há eco vindo
Das cavernas como no passado, olhando
Do meu quarto inspira amor, vontade de fugir
Do zumbido das amas de fogo. Por fim,
Não há nem saudade do tempo que se foi...

De R J Cardoso

domingo, 19 de fevereiro de 2012

Pesquisa investiga por que mulheres preferem cesárea


Para especialistas, fatores culturais somados à falta de leitos nas rede pública e privada afastam mulher do parto normal
Medo de sentir muita dor e preocupação com sexualidade também aumentam preferência por cesáreas
Marisa Cauduro/Folhapress
A bióloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um mês após o nascimento por parto normal
A bióloga Hana Masuda, 34, com a filha Alice, um mês após o nascimento por parto normal
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO
Fatores culturais e falta de informação são alguns dos motivos que levam à preferência nacional pelo parto com data marcada.
Hoje, o Brasil é um dos recordistas mundiais em partos cesarianos. Em 2010, o número de nascimentos cirúrgicos chegou a 52%, passando os partos normais.
A preocupação com a quantidade de cirurgias no nascimento é tanta que o Ministério da Saúde vai fazer uma pesquisa com 24 mil mulheres para entender o que leva à escolha da cirurgia com data marcada para dar à luz.
O trabalho vai verificar qual é a indicação médica e os motivos que levaram a mulher a escolher um determinado tipo de parto -normal, cesárea ou até em casa.
A hipótese é que fatores culturais contem muito nesse tipo de decisão.
"A mulher brasileira se preocupa com a sexualidade e teme que o parto altere o períneo, o que é é um mito", diz Vera Fonseca, diretora da Febrasgo (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) e do Conselho Federal de Medicina.
MEDO DA DOR
O medo da dor também afasta a mulher do parto normal. "Temos uma imagem de parto normal como se vê no cinema, com dor e sofrimento. Isso afasta as mulheres da opção natural", analisa a historiadora da ciência Germana Barata, da Unicamp.
De acordo com a ginecologista da USP, Sonia Penteado, alguma mulheres que tentam enfrentar a dor do parto não aguentam.
"Já tive pacientes que chegaram a ter dilatação completa no parto, mas não toleraram a dor e pediram para que fosse feita a cesárea", conta.
Esse tipo de intervenção é possível no sistema privado. "No público, a mulher tem de aguentar a dor porque faltam cirurgiões", diz Penteado.
A proporção de quantidade de cesáreas no SUS gira em torno de 37% dos nascimentos. Na rede privada, o percentual sobe para 82%.
DECISÃO DO MÉDICO
Mas, além da cultura, a opinião dos médicos também conta -e muito- na decisão.
"Nunca chegou uma paciente no meu consultório dizendo 'quero cesárea e pronto'", diz Penteado.
Segundo ela, a maioria das mulheres decide com seu médico o tipo de parto.
Ela recomenda parto normal a suas pacientes desde que não existam fatores de risco, como hipertensão. Hoje, a doença é a principal causa de morte de mulheres no parto no Brasil (na Europa e nos EUA é a hemorragia).
Para Fonseca, muitos médicos incentivam a cesárea por receio de falta de leitos, inclusive na rede privada.
O Brasil tem 0,28 leito para cada mil usuários do SUS (Sistema Único de Saúde) -o que, de acordo com o Ministério de Saúde, atende a demanda. Mas países desenvolvidos têm o dobro disso.
"Se a paciente entra em trabalho de parto de maneira inesperada, corre risco de não ter vaga. Isso dá insegurança para o médico."
"Fiquei exausta, mas valeu a pena; foi emocionante"
Além da dificuldade para encontrar um médico disposto a fazer parto normal, as brasileiras que decidem pelo nascimento natural enfrentam outra barreira: encontrar orientações adequadas para a hora de dar à luz.
"Procurei algum lugar que preparasse grávidas para o parto normal em São Paulo, mas não encontrei", conta a bióloga Hana Masuda.
Ela deu à luz sua filha Alice há cerca de um mês. "Nasci nos EUA quando minha mãe fazia pós-doutorado. Lá, ela fez um curso na universidade sobre parto normal. Aqui não achei nada disso."
Mesmo assim, o parto de Masuda foi tranquilo. "Senti dores como de cólicas menstruais, só que mais fortes."
A psicóloga Natália Amaral Hildebrand não teve a mesma sorte. Depois de cerca de dez horas de trabalho de parto com dores fortes, ela teve de fazer cesárea.
"Tive um edema [lesão] no colo do útero porque a bebê tinha a cabeça muito grande e não passava", conta.
"Pelo menos eu tentei e a Sofia nasceu no tempo dela."
De acordo com Hildbrand, o médico dela orientou o parto normal. "Já ouvi muitas grávidas dizerem que o médico escolhe pela paciente."
A advogada Julia Rodrigues Coimbra também optou pelo parto natural para dar à luz Francisco. Ela começou a sentir contrações em um sábado e entrou em trabalho de parto na quinta-feira. "Já estava exausta. Mas valeu a pena, foi emocionante."
(SR)Reportagem da Folha de São Paulo de 19/02/2012

Meu depoimento:
Boa parte das mães são convencidas por médicos que não querem "estragar" o "Final de Semana" ou a madrugada atendendo mães cujos bebês chegam em horas impróprias.
Estive em um hospital maternidade, acompanhando um período de internação de uma pessoa da família, curioso em ver os bebês recém-nascidos que são muito lindos, fui até o andar do berçário e não havia nenhum bebê, só então me dei conta que era DOMINGO e que a cegonha também merece descansar no "Final de Semana", acredito que a cegonha deveria estar curtindo um churrasco no sítio, golfe ou piscina no clube e por que não se torrando na praia, afinal de contas "cegonha" também é gente.

Fui conferir na Segunda, Terça e Quarta e "bingo" o berçário estava lotado destas criaturinhas lindas, os bebês. 

Carnavais

A autêntica, pura e legítima expressão "Carnaval carioca" não tem mais sentido; o desfile das escolas de samba não é Carnaval, simplesmente

GRANDE E duradouro sucesso de público e de crítica, a expressão "Carnaval carioca" passou um período sumida, de raro em raro alguém a visitava no asilo da história. De uns tempos para cá, voltou ao cardápio dos assuntos frequentes, e é cada vez mais usada. Mas posso garantir, e o faço com palavra da moda para não deixar dúvida: a expressão que está aí é um clone. Preferiria dizer, por natural rejeição a modas, ainda mais se vocabulares, que é uma contrafação. Posso até admitir, no entanto, em benefício da compreensão, que é cópia pirata. E não paraguaia, não.

A autêntica, a pura e legítima expressão "Carnaval carioca" não tem mais sentido. Não o perdeu no de desuso, não, muito ao contrário. Ali, entre as velharias do asilo, a maioria deformada por falta de rigor histórico ou excesso de fraude interesseira, "Carnaval carioca" foi sempre o repositório zeloso de originalidades encantadoras. Guardiã de tanta criação que nasceu para ser popular e se elevou a clássico, guardiã de uma criatividade livre e libertária, espontânea e feliz.

A reanimação, recente e crescente, dos dias reservados a Carnaval tem no Rio, como centro de tudo que então se passa, o desfile das escolas de samba: "a maior festa do mundo", dizem, pelo planeta afora, um de seus slogans no comércio internacional de turismo e os meios de comunicação lá e cá. Festa de quem ou para quem? Carnaval é, por definição, festa popular, o povo em festa.

No sambódromo, pesadão, um maciço de concreto, feio e óbvio, "povo" exige nova definição. No mês passado, por mais de uma vez a imprensa do Rio noticiou a procura de negros por algumas escolas de samba para participar dos seus desfiles. Isso, na pista.

Na assistência, o preço das arquibancadas e a reserva para os pacotes turísticos sugerem onde foi parar o povo mesmo. Aliás, o afastamento intransponível do "povo" em relação ao que se passa na pista, tal como se assistisse a um balé no Municipal, e os numerosos e vastos salões chamados de camarotes já diriam o suficiente sobre a relação do sambódromo com festa popular.

O desfile das escolas de samba deve ser posto à parte do Carnaval. Não é Carnaval, simplesmente. Pode ser o mesmo em qualquer dia do ano, sem necessidade de qualquer coisa nele ou fora. Seria até mais um evento turístico. Escola, como se denominaram as agremiações de samba mais populares, não há ali. Samba, idem.

O objetivo de desfilar e seus diferentes canais de dinheiro apropriaram-se das agremiações ("escolas" porque o mero dançar ali ensinava o samba no pé, como as artes da bateria).

Repórter iniciante no "Diário Carioca", fui muito, com um colega já grande repórter, Mário Ribeiro, à Império Serrano. O belo nome desse Grêmio Recreativo Escola de Samba me fascinou, e quis conhecer sua razão de ser. Ficava em um recanto do subúrbio de Madureira, quase ao final da escadaria impiedosa que escarpava uma colina, também graciosa no nome, chamada Serrinha. Preliminares atraentes demais.

E a hospitalidade franca, a bateria diabólica, e sobretudo as músicas (muitas, grandes sucessos dez e mais anos depois, com Nara, Clara Nunes, Beth Carvalho, mais e mais) faziam o resto, naquele galpão improvisado para a alegria semanal de poucas dezenas de pessoas.

Assim e ali, fizeram-se os títulos conquistados pela Império na avenida Rio Branco e depois na Presidente Vargas, com o povaréu se somando aos figurantes vestidos de barões e marquesas que, por mais uma distração da obra divina, tivessem o samba no pé e a alma do povo. Carnaval Carioca.
Do Vassourinhas, de tempos que não conheci, ao Bafo da Onça, de meado do século passado, e ao antigo Cordão do Bola Preta, blocos incontáveis fundiram-se à história do Carnaval carioca. Tinham umas quantas centenas de componentes, às vezes uns poucos milhares.

Mas sua fama nunca intimidou ninguém. Era comum ruas, empresas, clubes terem seus próprios blocos, nos quais iam entrando e saindo aderentes eventuais. E dando sentido às ruas, em todos os bairros, a cidade toda eram um só Carnaval. Seu e à sua maneira.

As estimativas dos blocos atuais dão-lhes 300 mil integrantes, 500 mil, 1 milhão e até 2,5 milhões no Bola Preta. Quando ouço estes números, penso nos 200 mil que superlotaram o Maracanã, uma multidão tão espantosa que, mesmo tendo-a visto de dentro, dela só se pode lembrar vagamente. Pois, lê-se e ouve-se, ficou fácil haver blocos com vários Maracanãs superlotados. O Bola Preta viria, nos 2,5 milhões, com mais de 12 Maracanãs, apesar de inexistir onde os por a desfilar. Ou como desfilar.

Divida-se cada uma de tais cifras pelo número que se quiser, os meios de comunicação não se importam. Nem importa mesmo: esses blocos não são blocos cariocas. Com os seus milhões ou trilhões, as pessoas apenas se apertam e, como velhinhos de últimos cansaços, arrastam os pés. Na forma, tais blocos são uma importação mal adaptada do Carnaval de Recife. Nada a ver com o Carnaval carioca.

E agora começou no Rio o Carnaval à maneira de Salvador, em que cantores têm camarotes e palanques de onde conduzem o Carnaval, uma espécie de show aberto. Nada a ver com o Carnaval carioca.

Nesse quesito das marchas, não se pode esquecer a força do grotesco: o que seria o samba do desfile das escolas de samba é um ritmo inidentificável, horrendo, com as "celebridades" e as modelos (seja lá do que forem, mas a variedade não é grande) arrastando os pés e, diante de alguma câmera, dando uns pulinhos como se o chão estivesse pelando -é o seu samba no pé.
E aos lados da correnteza, atrás, por toda parte, uns sujeitos gritando "corre!", "acelera!", "corre mais!", "correeendo! mais depreeessa!".

Com o tempo e com outras mudanças, haveria de mudar. Mas não desse jeito. Não precisava, ao menos, deixar de ser o Carnaval carioca.

De Jânio de Freitas na Folha de São Paulo de 19/02/2012

quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

Sucessão paulistana e o samba do crioulo doido

Geleia geral

Serra dá sinais de que pode tornar-se candidato e embaralha mais o já confuso vale-tudo da sucessão na prefeitura paulistana

Décadas atrás, circulava a expressão "geleia geral brasileira", usada para designar a falta de conteúdo ideológico da política nacional. Desde então, essa característica se acentuou a ponto de dominar quase por completo nossa desoladora paisagem partidária.

O melhor exemplo está na disputa pela prefeitura da cidade mais desenvolvida do país, São Paulo. O ex-ministro Fernando Haddad, candidato do PT -partido de esquerda, ainda que moderada-, parece prestes a selar aliança com o prefeito Gilberto Kassab, conservador egresso do DEM, partido situado à direita no espectro ideológico.
No centrista PSDB a confusão não é menor. Como o ex-governador José Serra, visto como o melhor candidato na agremiação tucana, não se dispunha a concorrer, organizaram-se prévias, previstas para 4 de março, a fim de escolher um entre quatro postulantes de menor expressão eleitoral.
A disputa interna seria um caminho legítimo para revitalizar o PSDB paulista, que sofre o desgaste decorrente do longo predomínio na política local. Mas eis que, na undécima hora, José Serra emite sinais de que quer ser o candidato.
Para complicar o que já era confuso, o prefeito Kassab, líder do recém-criado PSD, declara-se apoiador de Serra caso este venha a ser o candidato do PSDB. Já o governador tucano Geraldo Alckmin prefere Serra, até para afastar um possível concorrente na sua planejada reeleição, em 2014.
Consta, porém, que o governador nutre simpatias por outro pretendente, o deputado Gabriel Chalita, ex-peessedebista hoje abrigado no PMDB, a quem poderia apoiar caso o candidato tucano, seja quem for, não chegue ao segundo turno nas eleições deste ano.
Não seria de esperar, talvez nem de desejar, que os partidos brasileiros tivessem a nitidez ideológica que é comum nos partidos europeus ou mesmo nas duas maiores agremiações norte-americanas. Nossa cultura política é outra.
Mas não é demais exigir que se respeite um mínimo de identidade programática. No âmbito nacional, tucanos e petistas -variações de centro e de centro-esquerda da vertente social-democrata- vinham mantendo certa coerência em suas trajetórias, por mais que convergissem nos últimos dez anos.
Agora, sob o pretexto de que esta é uma era "pós-ideológica", parece instalar-se o vale-tudo em escala inédita. Partidos, discursos, programas -tudo se torna mero instrumento a serviço do carreirismo de cada político, numa desfaçatez que dispensa até mesmo a hipocrisia das aparências.
De degradação em degradação, o risco é que todos os partidos -e não apenas a maioria dos 29 em atuação no país- acabem convertidos em legendas de aluguel.

Editorial da Folha de São Paulo de 15/02/2012

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Oposição emparedada
Se consolidada, a aliança entre o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, e o PT na disputa pelo comando da capital paulista será mais um prego no caixão da agonizante oposição.
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva está aos poucos interditando todo o espectro político para quem não apoia o projeto do PT em nível nacional. Sem ter com quem se aliar, PSDB, DEM e PPS ficam cada vez mais sem perspectiva de poder e com um futuro desolador.
Há várias formas de fazer política. Montar coalizões é uma necessidade inescapável. Num país com 29 partidos, quem não se alia fica com chance reduzida de vitória em disputas locais ou nacionais.
Lula já desfrutava da mais ampla aliança partidária quando ocupou o Palácio do Planalto nos seus últimos anos de poder. Agora, a presidente Dilma Rousseff ampliou o escopo de influência do PT.
Na Câmara, há hoje 23 partidos representados. A rigor, só quatro são, de fato, oposição orgânica ao Planalto: PSDB, DEM, PPS e PSOL.
Egresso de siglas conservadoras e admirador do tucano José Serra, o prefeito de São Paulo seria o aliado natural do PSDB na eleição paulistana de outubro. Só que Kassab ficou emparedado pela incapacidade de seus parceiros mais óbvios se decidirem sobre qual rumo seguir.
Ainda falta muito tempo até a eleição, neste ano em 7 de outubro. Reviravoltas podem ocorrer. Mas, a ser mantida a tendência atual, com o PT conquistando a Prefeitura de São Paulo bancado por uma aliança de amplo espectro, a oposição enfrentará uma agudização de sua crise atual -por ser incapaz de sair do seu estado de catatonia.
As eleições municipais não determinarão o que acontecerá em 2014, nas escolhas de governadores e do presidente da República. Mas são um termômetro do que virá por aí. Sobretudo para a oposição, cada vez mais depauperada e sem norte.

De Fernando Rodrigues na Folha de São Paulo de 15/02/2012

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http://www.youtube.com/watch?v=P-5LLSWkf-A

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

O PT tucanou a privataria

Categoria: Politicalha

Já tem mais de 15 anos que o Brasil não consegue superar o tema (ou seria trauma?) das privatizações. Por todo esse tempo, petistas pintaram as privatizações como o grande mal desse país, enquanto tucanos as praticaram, lucraram com elas e depois se envergonharam delas. Em meio a tantos discursos, faltou a verdade: a privatização não é solução definitiva para nada, nem tampouco é o mal absoluto. Em alguns casos ela serve, porque presta serviços importantes à população (se forem bem fiscalizados e regulados pelo estado), como no setor de telecom e nos aeroportos. Em outros casos, não servem, porque são setores estratégicos, como foi o fatídico caso da Vale do Rio Doce. E tem os três setores em que a privatização não pode nem ser levada em consideração: saúde, educação e segurança. O real problema da questão é a formacomo as privatizações foram feitas por aqui, com empresários agindo em conluio com autoridades do governo, mediante farta distribuição de propinas.
Antes, o argumento anti-privatização dos petistas era de que “não se pode entregar um bem público ao capital estrangeiro”. Agora, adequaram o discurso tentando mostrar que as suas privatizações são melhores do que a dos tucanos. Acontece que, bom ou ruim, esse modelo adotado pelo governo petista nos aeroportos é o mesmo adotado pelos tucanos nas estradas do estado de São Paulo, o que elevou enormemente os preços dos pedágios. E, querendo ou não, o governo está abraçando a iniciativa privada — seja via concessões, PPPs (parcerias público-privadas) ou o leilão com participação do BNDES e dos fundos de pensão. A concessão dos aeroportos aconteceu porque há um gargalo terrível no setor e o governo sabe que não conseguirá expandi-lo e modernizá-lo sozinho até a copa.
Enfim, com tudo isso, esperamos que 1) essa privatização dos aeroportos traga os benefícios desejados pela população; 2) que se encerre de uma vez por todas essa briga tola dos militantes anti e pró privatizações; e 3) que no futuro não apareçam  novas denúncias em forma de livro, tipo um A Privataria Petista

Jornal da Tarde 9 de fevereiro de 2012http://blogs.estadao.com.br/tragico-e-comico/2012/02/09/o-pt-tucanou-a-privataria/

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

É a indústria... ou a falta dela, ou a falta dos empregos que ela produz

É a indústria
Em relação à política industrial ("Brasil Maior"), acreditamos que é razoável exigir cuidado sobre como executá-la num ambiente globalizado em que os produtos devem ser "mundiais" e cada país tenta criar uma plataforma de exportação. O que não é razoável é condenar, "a priori", qualquer política industrial apoiada na "teoria do equilíbrio geral", da qual não se pode extrair conclusões normativas.
Há um estado de guerra econômica entre três parceiros importantes, os EUA, a eurolândia e a China. Cada um deles usa como arma políticas industriais explícitas ou veladas, apoiadas na manipulação de suas taxas de câmbio.
Os EUA e a eurolândia utilizam suas políticas monetárias, e a China surfa uma espécie de "dollar standard", arbitrando a fixação de sua taxa à americana. Isso acabará num massacre do setor industrial dos países emergentes pela consequente tendência à valorização das suas moedas.
Quem ainda tem dúvida sobre o estado de guerra não deve deixar de ler o capítulo referente à política industrial dos EUA, contido no "State of the Union Address", que, todos os anos, o presidente americano apresenta ao Congresso no fim de janeiro.
"Pense -nos diz ele nas preliminares- na América que está ao nosso alcance. Um país que lidera o mundo na educação do seu povo. Uma América que atrai uma nova geração de indústrias de alta tecnologia e empregos bem remunerados. Num futuro no qual nós estaremos no controle de nossa própria energia, de nossa segurança, de nossa prosperidade e (sic) relativamente independentes das instabilidades do mundo. Uma economia construída para ficar, onde o trabalho duro vale o sacrifício e a responsabilidade é recompensada."
E continua: "Essa nova América começa com o setor industrial... Apostamos nos trabalhadores americanos. Apostamos na sua engenhosidade. Nesta noite, nossa indústria automobilística está de volta. Podemos trazer de volta também os empregos que foram exportados (para a China)".
A seguir explica como vai fazê-lo: 1º) modificar o sistema tributário que estimula a fuga industrial; 2º) aumentar os impostos das multinacionais que produzem no exterior; 3º) reduzir a tributação do setor de alta tecnologia; 4º) investigar as práticas comerciais de países como a China e 5º) reafirmar o projeto, que vai muito bem, de dobrar as exportações nos próximos cinco anos.
A mensagem é simples: "É tempo de pararmos de beneficiar quem produz no exterior e exporta emprego e de estimular os que criam emprego aqui na América". Não importa a avaliação dos economistas sobre esse programa. O que interessa é o que Obama vai fazer com ele...

Texto de 
ANTONIO DELFIM NETTO na Folha de São Paulo de 08/02/2012

A PRESIDENTA, com A

O gênero que muda a linguagem
Não há nada de errado com o uso do termo presidenta, ele já é reconhecido pelos dicionários da língua portuguesa há muitos anos
Há poucos dias, recebi uma mensagem via internet contendo um comentário assinado por uma pessoa que eu desconheço. Ela criticava as feministas e o governo em geral. A razão era o fato de Dilma Rousseff preferir ser chamada de presidenta.
Dizia o e-mail que a palavra presidenta não existe, assim como não existem estudanta, adolescenta, pacienta e sorridenta. Por essa razão, Dilma não teria o direito de "violentar o nosso pobre português apenas para ficar contenta" (sic).
Esse comentário infeliz vem sendo secundado por alguns incautos, que, por não conhecerem o vernáculo ou acharem engraçado o texto, repassam o seu conteúdo aos seus amigos e amigas.
Mas é bom deixar claro que nada há de errado no termo presidenta, assim como são corretas as palavras governanta e parenta, dentre outras que fazem o feminino de substantivos com o sufixo "ente"ou "ante" usando "a".
O Aurélio define presidenta como "a mulher que preside". Além desse, outros dicionários da língua portuguesa consignam o verbete, acrescentando que também pode significar "a mulher do presidente".
Dicionários à parte, é preciso lembrar que os postos de poder sempre primaram pela nomenclatura no masculino. É claro. Se mulheres não podiam assumir cargos de comando por imposição patriarcal, a linguagem secundava essa exclusão, eliminando as designações desses postos no feminino.
Não faz muito tempo, as magistradas pioneiras em suas carreiras assinavam seus nomes e acrescentavam embaixo "juiz de direito".
Da mesma forma, algumas pioneiras do Ministério Público também registravam seus cargos apenas no masculino. Embora o nome fosse de mulher, abaixo dele constava "promotor de Justiça". A justificativa, que não mais se sustenta, era que esses cargos haviam sido criados por lei apenas no masculino.
É incrível a dificuldade que certas pessoas têm para perceber o sistema de dominação embutido na linguagem. As regras gramaticais não brotaram do nada, elas têm um histórico secular que pretendeu tornar a mulher irrelevante, a ponto de deixá-la invisível.
Assim, em português e em outras línguas europeias, o masculino é sempre dominante. Por exemplo: "o leitor", representando todos os leitores e leitoras; e "o homem", representando toda a humanidade.
Mas o mundo mudou, e a linguagem precisa acompanhar essa mudança. É nesse particular que Dilma incomoda os conservadores: ela torna evidente que seu cargo é ocupado por uma mulher.
O linguajar se presta a definir quem é superior e quem é subalterno, quem é importante e quem é irrelevante, quem deve ser ouvido e quem merece ser ignorado, quem tem autonomia e quem precisa obedecer. Dessa forma, ele molda a nossa maneira de ser e de pensar.
É intrigante a resistência em atender à vontade de Dilma de ser chamada de presidenta, sabendo-se que o termo no feminino já se encontra reconhecido nos dicionários da língua portuguesa há longos anos, portanto muito antes de termos a primeira mulher a comandar o Brasil.
Para nós, é da maior importância termos a presidenta que temos. Ela não é apenas mulher, ela valoriza a condição feminina.

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Criança que come papinha de colher tem maior chance de ser obesa

Bebê que come papinha dada com colher fica mais gordo

Deixar a criança comer alimentos sólidos com as próprias mãos leva à preferência por cardápio saudável, diz estudo feito na Inglaterra
Petrenko Andriy/Shutterstock


Mamães, seu bebê é mais esperto do que você pensa quando se trata de aprender a comer comidas sólidas. Aliás, ele é até mais esperto do que você mesma na hora de ser desamamentado.
O bebê que escolhe sua própria comida com as mãos tem menos chance de virar uma criança obesa do que aquele que ficou recebendo papinha de colher da mãe, revela uma pesquisa britânica.
O estudo foi publicado na revista científica "BMJ Open" por Ellen Townsend e Nicola Pitchford, da Universidade de Nottingham, Reino Unido. A "BMJ Open" é uma revista de acesso público do grupo que edita a prestigiosa "BMJ" ("British Medical Journal").
Foram estudadas 155 crianças entre vinte meses e seis anos e meio de idade; seus pais responderam a um questionário sobre os hábitos de alimentação dos petizes.
Desse grupo, 92 eram bebês cujos pais deixavam a seu critério a alimentação.
O bebê tinha uma escolha de alimentos na sua frente e pegava o que queria comer. Isso costuma acontecer aos seis meses de idade. A princípio, o bebê apenas lambe a comida, antes de decidir por mastigá-la.
Os outros 63 bebês não tinham escolha. Era a mãe que enfiava a comida pastosa, as papinhas de vários tipos de alimento, nas suas bocas, com colher, o método do "olha o aviãozinho".


PREFERÊNCIAS
Os bebês que se alimentavam sozinhos, revelou o estudo, comiam mais carboidratos e alimentos saudáveis que os seus colegas que recebiam comida de colher.
Eles também gostavam mais de proteínas e de alimentos integrais do que as crianças que comiam papinha amassada.
Já a turma da colher curtia mais alimentos doces -apesar de as mães oferecerem a eles mais opções de alimentos como carboidratos, frutas, vegetais e proteínas do que a turma que pegava a comida sozinha.
Não deu outra: a turma da colher teve maior índice de crianças obesas do que a que pegava a comida com as próprias mãos.
"Apresentar os carboidratos às crianças em seu formato completo de alimento, como torradas, em vez de em forma de purê, pode ampliar a percepção de características tais como a textura, que é mascarada quando o alimento está na forma de papinha", escreveram os autores.
Segundo eles, pesquisas anteriores já mostraram que a apresentação da comida influencia significativamente as preferências alimentares.
Eles também afirmam que os carboidratos podem ter tido destaque na preferência dos bebês por serem mais fáceis de mastigar do que alimentos como a carne.
"Nossos resultados sugerem que o desmame liderado pelo bebê promove preferências por comida saudável no começo da infância que podem proteger contra a obesidade. Essa descoberta é importante dados os problemas sérios com obesidade infantil que afetam muitas sociedades modernas", escreveram os pesquisadores.


MÃE NERVOSA
A "ansiedade" da mãe em ter um filho em boas condições de saúde pode levar a exageros na alimentação do bebê, segundo Ary Lopes Cardoso, chefe da Unidade de Nutrologia do Instituto da Criança da Faculdade de Medicina da USP.
"A mãe quer ver o filho gordinho. As crianças ficam obesas pela proteção excessiva."
A orientação que ele e outros profissionais de saúde dão às mães é semelhante à que o novo estudo sugere: a criança tem que mostrar a vontade de comer e ser alimentada adequadamente, sem exageros motivados pela ansiedade.

Ricardo Bonalume Neto na 
Folha de São Paulo de 07/02/2012

Fernando Haddad foi demitido do Ministério da Educação e agora vem assombrar São Paulo

Agora a capital, depois o Estado

Se ainda restasse alguma sombra de dúvida, a apoteose armada pelo lulopetismo para a despedida de Fernando Haddad do Ministério da Educação escancarou o óbvio: o projeto de poder, com inegável competência idealizado e até agora executado por Luiz Inácio Lula da Silva, passa, necessariamente, pela imposição da hegemonia do Partido dos Trabalhadores no Estado de São Paulo, a começar pela reconquista da Prefeitura da capital. Assim, a solenidade de transmissão de cargo realizada na última terça-feira no Palácio do Planalto, com a arrebatadora presença de um Lula que as circunstâncias elevaram à condição de quase divindade, não foi convocada para assinalar uma despedida, mas para glorificar o retumbante advento de mais uma figura ungida pelo Grande Chefe, desta vez com a missão estratégica de fincar em solo bandeirante a flâmula com a estrela do PT. E ganhar a Prefeitura em outubro é apenas o primeiro passo, o trampolim para a conquista inédita sem a qual a hegemonia política dos petistas no País continuará tendo um travo amargo: não controlar o governo do mais importante Estado da Federação.

A candidatura do ex-ministro da Educação à chefia do Executivo paulistano emerge estimulada por circunstâncias favoráveis. É claro que Haddad ainda terá que comprovar um mínimo de competência numa área de atuação em que é neófito. Mas se vocação para o palanque fosse indispensável, Lula não teria feito sua sucessora em 2010. O que importa é que, repetindo o que deu certo em 2010 em escala muito mais ampla, o novo escolhido pelo Grande Chefe se apresentará na campanha municipal exatamente com essa credencial: ser o candidato de Lula, e com toda a liderança - mesmo que em alguns casos sob certo constrangimento - e a aguerrida militância do PT empenhadas numa questão que para eles já se tornou ponto de honra - vencer em São Paulo.

Por outro lado, o ex-ministro da Educação terá que se haver, durante a campanha eleitoral, com as cobranças a respeito dos notórios pontos negativos de sua gestão no Ministério, em particular as reiteradas lambanças do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais na administração do Enem. Mas essas são questões concretas, objetivas, que exigirão um mínimo de racionalidade no trato. Nada que não possa ser facilmente obscurecido e suplantado pelo enorme componente emocional que o forte e revigorado carisma de Lula colocará a serviço de seu candidato. Favorece ainda os planos petistas o fato de a candidatura de Haddad ser talvez a única que poderá se apresentar com uma credencial inequívoca de oposição ao poder municipal. E oposição é algo que, historicamente, o PT sabe fazer muito bem.

Por outro lado, o maior adversário do PT em São Paulo, o PSDB, não apenas demonstra enorme dificuldade para articular uma candidatura competitiva, como enfrenta o problema adicional de permanecer numa posição ambígua, sem um discurso claro, em relação à Prefeitura: não é exatamente situação nem oposição, embora tenha o rabo preso com a gestão Kassab. A rigor, o partido situacionista no Município de São Paulo é o partido do prefeito, o novo PSD, hoje a terceira maior bancada no Congresso Nacional, mas que ainda não passou pelo teste das urnas. E, correndo por fora, sabendo que não tem nada a perder, o PMDB manifesta até agora intenção de permanecer na disputa com o candidato que recrutou exatamente para esse fim.

Para embaralhar ainda mais o quadro, torna-se cada vez mais concreta a possibilidade de Gilberto Kassab fazer algum tipo de aliança do seu PSD com o PT - por paradoxal que isso seja. Segundo o prefeito tem confidenciado a seus interlocutores, essa é uma opção a que ele está sendo praticamente impelido por aqueles que seriam seus aliados naturais.

De qualquer modo, o que importa é que na disputa pela Prefeitura de São Paulo está em jogo muito mais do que o poder municipal. Um dos fundamentos do regime democrático é a possibilidade de alternância no poder no âmbito federal, que está ameaçado pela perspectiva de o lulopetismo estender seus domínios ao que de mais politicamente significativo ainda lhe falta: a cidade e o Estado de São Paulo. Se existe uma oposição no País, está na hora de seus líderes pensarem seriamente nisso. E agir.

Editorial d'O Estado de S.Paulo de 29 de Janeiro de 2012

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