sábado, 19 de maio de 2012

Empreiteira ganha 1.957% a mais que no 1º ano de Lula


Maior recebedora de recursos federais em 2009, Delta alçou voo na atual gestão

Em sete anos, União pagou R$ 2 bilhões à companhia, que também tem negócios diversos (e questionados) em vários municípios


Uma empreiteira que até o fim da década de 90 era desconhecida virou, no ano passado, a maior recebedora de recursos do governo federal. Trata-se da Delta Construções, que recebeu em 2009 R$ 720,1 milhões, quase o dobro de 2008 e 1.957% a mais do que no primeiro ano do governo Lula, 2003.
Seu faturamento passou de R$ 251,7 milhões, em 2002 (último ano do governo FHC), para R$ 1,3 bilhão em 2008.
Nos últimos três anos, a Delta já era a empresa privada que mais havia recebido recursos do governo. Ficava atrás apenas das financiadores de pesquisa e colheita de café, que foram ultrapassadas neste ano. Em sete anos, já são R$ 2 bilhões pagos a esta empresa só pela União. Os dados são do Siafi (Sistema de Administração Financeira) e foram obtidos pela ONG Contas Abertas.
Fora do governo federal, a companhia tem negócios diversos em vários municípios -de recolhimento de lixo à implantação de lombadas eletrônicas.
O crescimento da pernambucana Delta, que migrou para o Rio no governo de Anthony Garotinho em 1999, seguiu o estreitamento de sua relação com políticos de vários partidos.
Mesmo assim, ela ainda está longe das gigantes do setor: não chega a 5% do faturamento do Grupo Odebrecht, por exemplo, cuja construtora faturou quatro vezes mais que a Delta.
O aumento do volume de pagamentos no governo federal aconteceu após 2004, quando ela foi a sétima maior empresa doadora da campanha de Marta Suplicy (PT) à Prefeitura de São Paulo (R$ 415 mil ao comitê partidário) -a empresa já era fornecedora do governo. Também doou mais R$ 1,2 milhão a candidatos do PMDB e PL (hoje PR) e R$ 120 mil a um candidato do PSDB.
Dois anos depois, o maior salto. Ela foi a principal beneficiada por contratos emergenciais (sem licitação) na Operação Tapa-Buraco realizada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes) para melhorar o asfaltamento das rodovias federais.
A direção do órgão é indicada por PT e PR. É de lá que vieram mais de 80% dos recursos recebidos em 2009 do governo federal, quase todos para serviço de manutenção de estradas.
O contato com políticos fluminenses ajudou. Em 2002, a Delta doou recursos (R$ 20 mil) só para dois candidatos: o deputado federal Eduardo Cunha (então no PPB e depois PMDB) e Fábio Silva, que concorreu a deputado estadual.
Após a eleição, Cunha, hoje um dos deputados mais influentes do PMDB, indicou a direção da companhia de água e esgoto do Estado, a Cedae. De nenhum recurso recebido em 2002, a Delta pulou para R$ 133 milhões em 2005.
As relações com o grupo de Garotinho continuaram. Em 2004, Geraldo Pudim, candidato do ex-governador à Prefeitura de Campos, recebeu R$ 300 mil de recursos da empresa.
A partir de 2006, a empresa parou de fazer doações legais, mas intensificou o contato com novos administradores.
Isso ocorreu em Goiânia, desde a posse de Iris Rezende (PMDB) na prefeitura, em 2005. De acordo com o vereador Elias Vaz (PSOL), os contratos iniciais, na maioria, eram para asfaltamento (e sem licitação). Depois houve contratos de recolhimento de lixo, administração de aterro sanitário, obras de viaduto e implantação de lombadas eletrônicas.
"Eles nunca fizeram lombadas eletrônicas. Entramos com uma representação e o governo cancelou esta", afirmou Vaz.
O lixo tem sido alvo das ações da empresa fora do governo federal, que a partir da administração de Gilberto Kassab (DEM) em São Paulo ganhou uma parte do contrato de varrição da cidade. No DF, ganhou contrato relacionado a lixo na administração de José Roberto Arruda (sem partido, então no DEM), pelo qual faturou R$ 20,1 milhões em 2009.
Em 2007, na administração petista iniciada dois anos antes em Palmas, capital do Tocantins, a Delta venceu concorrência para o recolhimento do lixo da cidade de 200 mil habitantes num contrato de 24 meses em que receberia R$ 11,5 milhões.
De acordo com o vereador Waldemar Júnior (DEM), no meio do contrato o prazo caiu para 570 dias, e o valor pulou para R$ 14,7 milhões. O contrato venceu e a companhia foi contratada emergencialmente.
"Colocaram coisas como recolher lixo em ilhas. Palmas só tem uma, e o dono traz o lixo ao continente", disse o vereador.
No Rio, durante a gestão de Cesar Maia (DEM), a empresa fez uma proposta muito abaixo de suas concorrentes e venceu a licitação para construir o Estádio João Havelange. Não chegou a terminar a obra: dez meses antes do prazo de conclusão (junho de 2007), a empresa exigiu mais recursos, e OAS e Odebrecht assumiram.

Dimmi Amora na Folha de São Paulo de 31 de janeiro de 2010

Contratos com Dnit aumentaram 120% em um ano



O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), vinculado ao Ministério dos Transportes, foi o órgão que mais fez pagamentos à Delta em 2009. A empresa obteve 52 contratos com o órgão, que somam R$ 1 bilhão (99% deles obtidos por concorrência pública). O valor é 120% superior ao volume de contratos de 2008 (42 contratos totalizavam R$ 401 milhões).
Dados do Portal da Transparência mostram que a empresa recebeu R$ 720,1 milhões do governo, sendo 87% do Dnit, segundo a ONG Contas Abertas.
Fundada em Pernambuco em 1961, a Delta Construções era uma pequena empreiteira até pouco mais de dez anos. Comandada por Fernando Cavendish Soares, começou a se destacar no Rio no final da década de 90, na gestão de Anthony Garotinho. Inspeções do Tribunal de Contas do Estado na época constataram problemas em obras da Delta, que continuou recebendo contratos.

Da Folha de São Paulo de 31 de janeiro de 2010

Meu comentário atual, de hoje: Fazem dois anos que a Folha avisou.  




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