segunda-feira, 1 de junho de 2009

Maísa, A Fama e o Conselho Tutelar -- Maísa é uma criança privilegiada ou uma criança explorada?


Maísa, A Fama e o Conselho Tutelar





A súbita discussão sobre a menina Maísa Silva, de sete anos, tem revelado aspectos, situações e personagens que transcendem o fato em si, entre eles a Conselheira Tutelar de São José dos Campos, Brenna Boshi.


Maísa é uma criança privilegiada ou uma criança explorada? É um fenômeno, ou apenas uma entre milhares de maísas que bem poderiam substituí-la nos palcos do Sílvio Santos?


Apresentadora de programas no SBT, quarta rede de televisão aberta em audiência, investimentos e anunciantes, Maísa, que está diante das câmeras desde os 3 anos de idade, recebe 20 mil reais de salário, mora a 85 quilômetros do seu local de trabalho, grava dois programas semanais e passa cerca de seis horas entre cabeleireiros e maquiadores.


Frequenta a escola, na fase crucial da alfabetização, para onde vai cercada de seguranças (Sílvio Santos e uma filha foram vítimas de seqüestro há alguns anos), driblando os repórteres que costumam assediar também funcionários e alunos.


Mas foi o fato de ter enfrentado situações inusitadas, chorado e se retirado de cena nas últimas apresentações, que chamou atenção para a criança Maísa. Nem Silvio Santos, nem os pais da menina perceberam nada de anormal ou constrangedor e se dizem surpresos com a reação do público, da mídia, de especialistas e agora, da Justiça. Silvio Santos chegou a argumentar que tinha três filhas mulheres, como se o fato de reproduzir garantisse bom comportamento. Os pais se declaram perplexos com tanta repercussão, só porque Maísa chorou em cena? Não é difícil entender, afirma Ivana Bentes, professora de pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ, em entrevista à Folha de São Paulo, “se imaginarmos o nível de satisfação/excitação do pai e da mãe da menina - satisfação simbólica e real - com sua galinha dos ovos de ouro mirim.”


Uma promotora de Osasco requereu, a Juíza concedeu e Maísa, por enquanto, não se apresenta mais com o patrão nas tardes de domingo.


Como entende tudo isso a conselheira Brenda?


O Conselho Tutelar entrou na história nos últimos dias recomendando e garantindo acompanhamento psicológico para Maísa. Alçada, ela também, à condição de celebridade, a Conselheira Tutelar declarou ao Diário de São Paulo: “Pode não parecer, mas ela tem uma carga grande de responsabilidade para uma menina de 7 anos. A ajuda de um profissional é essencial, ainda mais nesse momento em que ela não vai mais poder gravar com Silvio Santos”.


“Pode não parecer?”. Disse mais, ao repórter da UOL: que Maísa é uma menina feliz e os pais são muito bons. Nada mais simplório, ginasiano até. Menina feliz, pais bons, o que isso significa exatamente? Não sabemos há quanto tempo a conselheira Brenna exerce a função, como foi eleita, qual sua formação ou idade, mas parece tão despreparada como foram despreparados o conselheiro que devolveu dois irmãos aos pais que os mataram cruelmente dias depois ou a conselheira que visitou a menina de doze anos vítima de tortura em Goiânia e também não viu nada de anormal. O fato é que a conselheira Brenna, numa única visita domiciliar, chegou à conclusão que Maísa está ótima, que nem lembra o que aconteceu no programa e que está triste apenas porque estão falando mal do patrão e só por isso precisa de um psicólogo.


“A questão é saber onde acaba o lúdico e o adorável e começa a perversão e a monstruosidade dessa situação-mídia”, como lembra Ivana na entrevista. Incrível: a conselheira acredita que Silvio Santos é tão vítima da situação quanto Maísa. A conselheira também se preocupa com os pais, chocados com tanta alarido só porque Maísa chorou em cena. Como pensar diferente, faturando 20 mil por mês? Qual seria a renda da família, antes do contrato de Maísa no SBT?

Para melhor entender a posição da Conselheira Tutelar de São José dos Campos, voltamos à especialista em comunicação: “Na busca de criar fatos midiáticos incessantemente, capturar nossa atenção e comprar nosso tempo, a televisão convoca, explora e mobiliza nossos afetos, nossa atenção.


Somos nós que emprestamos nosso tempo, nossa subjetividade e nosso imaginário para criar valor na TV.”É isso aí, está explicado.



Eleonora Ramos é jornalista e coordenadora do Projeto Proteger


Um comentário:

  1. Bom eu sou Conselheira Tutelar e acho que mesmo sendo uma celebridade, Maisa é antes de mais nada uma criança, e como tal merece todos os cuidados dispensados as crianças.
    Deveria ter sido feito uma averiguação diagnostica, e um acompanhamento psicologico tanto dela com de seus pais.
    Quanto a Conselheira Brenna, ela fez o mesmo curso e capacitaçaõ que eu fiz, mas infelizmente tem pessoas que não se identificam com a causa e talvez seja este o caso dela, principalmente por ser uma patricinha.
    PS: Conservo-me o direito de permanecer anônima, pois esta Conselheira ja foi denunciada inumeras vezes no CMDCA por não cumprir suas funções e horários de atendimento.

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