Recebida com surpresa e até irritação por alguns, a decisão do Copom de reduzir a Selic para 12% a.a. pareceu-me lógica e defensável.
O cenário internacional está se alterando com grande rapidez, e a crise vai tomando proporções maiores. Não são poucos aqueles que acreditam estarmos diante de um quadro de transição estrutural, e não meramente conjuntural.
Com toda a imponderabilidade de se fazer previsões nesse cenário, o que anotamos são estimativas que indicam que a economia dos países centrais (leia-se EUA, União Europeia e Japão) levará de três a cinco anos, no mínimo, para definir um novo rumo de crescimento. A OCDE observa que o G7 vê aprofundamento da atual crise.
O comportamento da economia chinesa será a variável determinante da duração da crise. Se o país for duramente afetado, reduzindo seu crescimento, o aperto será maior.
Por aqui, os sinais são de enfraquecimento. Os balanços das companhias abertas, segundo o "Valor Econômico" do último dia 31, apontam desaquecimento. A venda de imóveis em São Paulo caiu 31% no primeiro semestre.
Na Brix, recém-criada bolsa de energia, arrefeceu a demanda industrial por energia "spot". A confiança dos empresários também indica queda. A indústria automobilística deu férias coletivas a 35.000 empregados, e o BNDES registrou a primeira queda em oito anos dos pedidos de financiamento.
Diante do presente cenário internacional, não devemos perder a oportunidade de fazer os ajustes internos que irão nos fortalecer ainda mais para um longo e indefinido período. Em 2008, perdemos uma grande oportunidade de fazer uma redução mais robusta na taxa Selic.
Nesse contexto, sua redução não é surpreendente e nem deve ser interpretada como uma submissão do Bacen aos desejos da Presidência -que, aliás, expressam os da sociedade, inconformada com juros escandalosamente elevados.
Ao falar sobre o tema, a presidente pode ter dado a impressão de que influiu na decisão do Bacen. Não acredito nessa hipótese. Ela sabe que sua popularidade e seu prestígio não dependem das taxas de juros, mas sim da inflação, que corrói os ganhos dos trabalhadores.
Portanto, não aceito a premissa de que as autoridades monetárias estão sendo lenientes com a inflação. Estabeleceu-se uma correlação absoluta, como se a redução de modestos pontos percentuais dos juros incentivasse imediatamente o consumidor ou, reciprocamente, sua elevação o afetasse.
Nem uma coisa, nem outra. Nada irá mudar radicalmente com a decisão. Há espaço inclusive para novas reduções sem que efeitos inflacionários sejam sentidos. A política fiscal é o instrumento de que se deve lançar mão; o recente orçamento enviado ao Congresso é o que preocupa, ao não reconhecer a necessidade de ajustes adicionais.
Uma das explicações para nossa desproporcional taxa de juros é que consumimos mais do que poupamos, sobretudo o Estado. Concordo com essa visão. No entanto, para atrair capitais, temos mesmo que praticar uma taxa real de juros na casa dos 5% a.a., quando o mundo opera com taxas negativas? Fala-se de uma desconfiança por causa das heranças do passado. Mas 15 anos de boa gestão macroeconômica não permitiram superar o batido argumento? Chega de carma.
Os agentes financeiros, de certa maneira, se acostumaram a pautar as decisões do Copom. Por isso, não interpreto a decisão tomada como indício de perda de autonomia, mas sim de independência.
Os investidores de longo prazo certamente apoiarão o Copom, assim como os trabalhadores que buscam estabilidade e emprego.
Texto de Roberto Teixeira da Costa ,economista, sócio da Brix Energia e Futuro na Folha de São Paulo de 10/09/2011.
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