domingo, 28 de junho de 2009
Bolsa Ditadura
O assalto à bolsa da Viúva conseguiu o que 21 anos de perseguições não conseguiram, avacalhou a velha esquerda
SE ALGUÉM QUISESSE produzir um veneno capaz de desmoralizar a esquerda sexagenária brasileira dificilmente chegaria a algo parecido com o Bolsa Ditadura.
Aquilo que em 2002 foi uma iniciativa destinada a reparar danos impostos durante 21 anos a cidadãos brasileiros transformou-se numa catedral de voracidade, privilégios e malandragens. O Bolsa Ditadura já custou R$ 2,5 bilhões à contabilidade da Viúva. Estima-se que essa conta chegue a R$ 4 bilhões no ano que vem. Em 1952, o governo alemão pagou o equivalente a R$ 11 bilhões (US$ 5,8 bilhões) ao Estado de Israel pelos crimes cometidos contra os judeus durante o nazismo.
O Bolsa Ditadura gerou uma indústria voraz de atravessadores e advogados que embolsam até 30% do que conseguem para seus clientes. No braço financeiro do pensionato há bancos comprando créditos de anistiados. O repórter Felipe Recondo revelou que Elmo Sampaio, dono da Elmo Consultoria, morderá 10% da indenização que será paga a camponeses sexagenários, arruinados, presos e torturados pela tropa do Exército durante a repressão à Guerrilha do Araguaia. Como diria Lula, são 44 "pessoas comuns" que receberão pensões de R$ 930 mensais e compensações de até R$ 142 mil. Essa turma do andar de baixo conseguiu o benefício muitos anos depois da concessão de indenizações e pensões aos militantes do PC do B envolvidos com a guerrilha.
O doutor Elmo remunera-se intermediando candidatos e advogados. Seu plantel de requerentes passa de 200. Ele integrou a Comissão da Anistia e dela obteve uma pensão de R$ 8.000 mensais, mais uma indenização superior a R$ 1 milhão, por conta de um emprego perdido na Petrobras. No primeiro grupo de milionários das reparações esteve outro petroleiro, que em 2004 chefiava o gabinete do advogado Luiz Eduardo Greenhalgh na Câmara. O Bolsa Ditadura já habilitou mais de 160 milionários.
É possível que o ataque ao erário brasileiro venha a custar mais caro que todos os programas de reparações de todos os povos europeus vitimados pelo comunismo em ditaduras que duraram quase meio século. Na Alemanha, por exemplo, um projeto de 2007 dava algo como R$ 700 mensais a quem passou mais de seis meses na cadeia e tinha renda baixa (repetindo, renda baixa). Na República Tcheca, o benefício dos ex-presos não pode passar de R$ 350 mensais.
No Chile, o governo pagou indenizações de 3 milhões de pesos (R$ 11 mil) e concedeu pensões equivalentes a R$ 500 mensais. Durante 13 anos, entre 1994 e 2007, esse programa custou US$ 1,4 bilhão. No Brasil, em oito anos, o Bolsa Ditadura custará o dobro. O regime de Pinochet matou 2.279 pessoas e violou os direitos humanos de 35 mil. Somando-se os brasileiros cassados, demitidos do serviço público, indiciados ou denunciados à Justiça chega-se a um total de 20 mil pessoas. Já foram concedidas 12 mil Bolsas Ditadura e há uma fila de 7.000 requerentes.
Os camponeses do Araguaia esperaram 35 anos pela compensação. Como Lula não é "uma pessoa comum", ficou preso 31 dias em 1979 e começou a receber sua Bolsa Ditadura oito anos depois. Desde 2003, o companheiro tem salário (R$ 11.239,24), casa, comida, avião e roupa lavada à custa da Viúva. Mesmo assim embolsa mensalmente cerca de R$ 5.000 da Bolsa Ditadura. (Se tivesse deixado o dinheiro no banco, rendendo a Bolsa Copom, seu saldo estaria em torno de R$ 1 milhão.)
O cidadão que em 1968 perdeu a parte inferior da perna num atentado a bomba ao Consulado Americano recebe pelo INSS (por invalidez), R$ 571 mensais. Um terrorista que participou da operação ganhou uma Bolsa Ditadura de R$ 1.627. Um militante do PC do B que sobreviveu à guerrilha e jamais foi preso, conseguiu uma pensão de R$ 2.532. Um jovem camponês que passou três meses encarcerado, teve o pai assassinado pelo Exército e deixou a região com pouco mais que a roupa do corpo, receberá uma pensão de R$ 930.
Nesses, e em muitos outros casos, Millôr Fernandes tem razão: "Quer dizer que aquilo não era ideologia, era investimento?"
Texto de Élio Gaspari na Folha de São Paulo de 28/06/09
sexta-feira, 26 de junho de 2009
A mulher no islã
OS PROTESTOS sobre o resultado das eleições no Irã mostraram a face de um dos mais dolorosos tratamentos impostos à mulher, que, baseados em motivos religiosos, varre os países islâmicos e a sujeita a uma situação de inferioridade que atinge brutalmente os direitos humanos.
Já contei uma vez, nesta coluna, que Antonio Alçada Baptista, grande escritor português que morreu no ano passado, certa vez, conversando comigo em Lisboa, dava graças a Deus por ter nascido português. Dizia que achava isso um privilégio que o Criador lhe tinha deferido e acrescentava com humor: "Calcule se ele me tivesse feito mulher no Afeganistão".
Os talibãs eram radicais em relação ao uso da burca, aquele cárcere de pano que prende o corpo e a face das mulheres, sem que possam mostrar nem sequer a forma dos pés.
Outros países vão à mutilação do clitóris para que a mulher seja apenas um repositório do sêmen do homem. No Irã, são legalmente consideradas cidadãs de segunda classe, que nem sequer têm direito à guarda dos filhos e são obrigadas pela sharia (a lei islâmica) a usar uma bata que lhe esconda os contornos do corpo, além de terem de cobrir a cabeça e usar o véu. Tudo isso as transforma em escravas sujeitas a todos os tipos de tratamento desumano.
Estive em Teerã, de passagem apenas pelo aeroporto, há mais de 30 anos, com Tancredo e Nelson Carneiro, quando íamos a uma conferência da Interparlamentar no Sri Lanka. A cidade é cercada de montanhas, muito seca, sem nenhuma umidade e dá uma sensação de aridez. É tão grande esse clima de opressão causado pela secura que, quando o aiatolá Khomeini morreu, em seu sepultamento a multidão de milhões de pessoas foi constantemente aspergida por helicópteros especializados em incêndios, que jogavam água sobre ela -e nem assim conseguiram evitar muitos mortos.
Agora surgiu na campanha eleitoral um candidato, Mousavi, que revolucionou tudo. Comparecia aos comícios com sua mulher, Zahra Rahnavard. Transformou-se logo no homem que valorizava a mulher. Seu cartaz dizia: "Mousavi, igualdade". Esta palavra, igualdade, ficou logo associada à causa feminista.
Agora, os protestos violentos que enchem as ruas de Teerã contra a fraude eleitoral têm como vanguarda sempre mais mulheres. Jovens de todas as idades. E o símbolo desse protesto passa a ser Neda, uma mulher morta pela milícia fanática dos aiatolás, basiysí. Seu rosto ensanguentado foi mostrado em todo o mundo. Seu sangue sem dúvida vai motivar mais ainda a libertação da mulher iraniana. Isso mostra que nem as mais cruéis tiranias, mesmo as teocráticas, resistem às ideias de liberdade e igualdade.
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Texto de José Sarney na Folha de São Paulo de 26/09/09
quarta-feira, 24 de junho de 2009
terça-feira, 23 de junho de 2009
Meninas invisíveis
UM ENREDO em dois atos e muitas omissões. Recentemente, o Brasil se indignou diante da TV, no horário nobre de uma noite de domingo, com uma mãe que, no interior do Pará, oferecia a filha a um repórter em troca de três latas de cerveja.
O "show da vida" ali não tratava de uma ficção, mas de um flagrante da dura realidade vivida por milhares de meninas invisíveis que são exploradas sexualmente no breu de ruas, becos, botecos e esquinas do país.
Na última semana, no conforto de suas salas climatizadas, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) manteve a decisão do Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul (TJ-MS), que havia absolvido dois réus acusados de exploração sexual de menores por entender que cliente ou usuário eventual de serviço oferecido por prostituta não se enquadra no crime previsto no artigo 244-A do Estatuto da Criança e do Adolescente.
Aqui cabe uma pausa; vamos aos autos, senhores magistrados, digo, leitores. Uma das menores violentadas -que chamaremos de Virgínia- não nasceu nas ruas. Sua mãe ofereceu Virgínia ao amante, numa discutível prova de amor. Seviciada e humilhada, Virgínia fugiu de casa e, nas ruas, encontrou uma amiga, também menor, filha de uma trocadora de ônibus, que se iniciara na prostituição em troca de um vidro de xampu.
A decisão do STJ, em si, já é absurda. A possibilidade de criar uma jurisprudência do "liberou geral" é, então, ultrajante. Ela viola os direitos humanos e avilta o espírito da própria lei.
Afinal, os legisladores que criaram o Estatuto da Criança e do Adolescente não foram permissivos e deixaram claro que não há nenhuma distinção de classes sociais, muito menos atenuantes no caso de a violência sexual ser praticada contra crianças que já tenham sido violentadas anteriormente. Em nenhum lugar da lei está escrito que a ausência da virgindade pode se transformar numa atenuante para os que cometem os odiosos crimes sexuais.
Voltando aos autos. Dois homens em um ponto de ônibus assediam e contratam Virgínia e a outra menor para um programa mediante o pagamento de 80 reais para cada uma. No motel, além de fazer sexo, espancam as garotas e as fotografam desnudas em poses pornográficas.
O cioso tribunal manteve a condenação dos réus apenas por terem fotografado as menores -será que foi pela falta de registro profissional? Silenciou quanto ao fato de as meninas terem sido agredidas fisicamente, o que, por si só, já agrega traços de sadismo e violência que deveriam agravar a situação dos réus.
Foi uma infeliz e retrógrada decisão jurídica baseada em um anacrônico Código Penal sexagenário que tipifica esse tipo de crime apenas contra os costumes. Ora, bastava aos ilustres magistrados considerar que a atual legislação -o ECA- já responde a isso e não ficar no cômodo aguardo da alteração do Título VI do Código Penal, paralisado no Senado Federal no aguardo de discussão e votação. Torpe e lamentável interpretação, optaram os magistrados.
Quem se der ao trabalho de consultar o relatório da CPI que investigou a exploração sexual de crianças e adolescentes no país vai se deparar com o caso acima citado e outras dezenas de flagrantes do flagelo documentado por meses de apuração em todos os Estados brasileiros.
O caso das crianças matogrossenses choca pela sua brutalidade e perversidade. Deveria servir de exemplo para que o país voltasse os olhos para o tema da prostituição infantil, não pelo viés machista e sexista dos primórdios do século passado, mas pela busca de um arcabouço jurídico que garanta a igualdade entre os sexos e puna de forma rigorosa todos os crimes cometidos contra a dignidade humana, ainda mais quando as vítimas são crianças e adolescentes no desamparo de uma família esgarçada ou, no mais das vezes, não existente.
São histórias de meninas invisíveis que tiveram seus instantes de esperança e luz ao contar seus dramas diante de congressistas, procuradores e representantes da sociedade civil.
A decisão do STJ apaga essa luz e devolve ao breu, à insignificância e ao abandono jurídico essa legião de brasileiras ultrajadas e violentadas nas suas vidas. Crianças definitivamente marcadas em suas mentes, seus corpos e seus corações.
sábado, 20 de junho de 2009
As origens da gripe suína
VIVEMOS UMA pandemia de gripe suína. Foi o que declarou a Organização Mundial da Saúde nesta semana, após contabilizar 36 mil casos em 75 países.
A designação de pandemia se refere à disseminação do vírus pelos diversos países, não à gravidade da doença -a mortalidade tem sido em média 0,4%.
Sempre que surge uma epidemia, o mundo quer saber se tudo foi feito para contê-la nos momentos iniciais. A pergunta tem lógica porque não são raros os exemplos de governantes que escondem os primeiros casos de doenças contagiosas para evitar preconceitos e perdas econômicas. Em número recente, a revista Science mostra que não foi esse o caso na atual crise.
Na cidade do México, no dia 7 de abril, os serviços de saúde detectaram a existência de pneumonias graves associadas a quadros gripais em adultos jovens, justamente a faixa etária que costuma apresentar poucas complicações de gripe.
Imediatamente, os mexicanos começaram a colher dados e a acompanhar a evolução do surto.
Como os laboratórios daquele país não dispunham da tecnologia necessária para identificar o novo vírus, foram enviadas diversas amostras para os Centers for Disease Control and Prevention, nos Estados Unidos, e para a Public Health Agency, no Canadá.
Em 23 de abril -portanto apenas 16 dias após identificado o surto-, canadenses e americanos confirmaram que realmente se tratava de um novo vírus, o A (H1N1), de origem suína. Segundo a epidemiologista Ira Longini, da Universidade de Washington, criadora de modelos matemáticos para prever a disseminação das epidemias de gripe: "Os mexicanos fizeram todo o possível dentro de uma situação impossível".
Tem razão, é praticamente impossível para qualquer país conter um surto epidêmico de um novo vírus da gripe. Para reforçar, os epidemiologistas mexicanos apresentam um argumento indiscutível: "Os americanos identificaram o vírus antes de nós, e não foram capazes de contê-lo".
Enquanto nas epidemias passadas os cientistas trabalhavam isolados em seus laboratórios, desta vez as informações sobre as características do vírus e da enfermidade causada por ele foram trocadas em conferências pela internet, YouTube, Skype, Twitter, Google Maps e toda a parafernália disponível nas telas dos computadores. Jamais uma epidemia foi monitorizada em tempo real como esta.
Em poucos dias os genes do vírus haviam sido sequenciados e colocados à disposição da comunidade científica através do GenBank.
Ficou claro que cerca de um terço deles veio do vírus da gripe suína da América do Norte, um terço da gripe aviária também norte-americana e o terço restante da gripe suína típica dos países europeus e asiáticos.
Os fatores que facilitaram a transmissão do vírus para o homem, bem como sua adaptação à disseminação de homem para homem, são desconhecidos. Há especulações de que o surto tenha suas origens na infecção de um porco, no Estado mexicano de Veracruz. Outros supõem que o primeiro animal tenha se infectado nos EUA, como consequência do comércio de porcos com os países asiáticos.
No dia 2 de maio, os canadenses anunciaram a primeira infecção pelo vírus A (H1N1) em porcos que nunca haviam saído do país: numa fazenda com 2.200 animais, 10% foram infectados.
A suspeita da fonte de infecção recaiu sobre um marceneiro que tinha viajado para o México e trabalhado na pocilga num dia em que se sentia adoentado. Caso seja confirmado, esse caso é único na literatura: um vírus transmitido do porco para o homem, que mais tarde percorre o caminho inverso.
O que acontecerá?
Ninguém sabe, leitor, a epidemia está em sua infância. A chegada do verão nos países do hemisfério norte provavelmente diminuirá a velocidade de propagação, mas existe a possibilidade de seu retorno no outono.
Para nós, que vivemos ao sul, o pior virá agora, com o inverno.
O perigo mais temido é o de que depois desse ataque inicial, o vírus sofra mutações que o tornem mais letal, como ocorreu com a gripe espanhola. Essas mutações, no entanto, ainda não aconteceram: as amostras virais colhidas nos quatro cantos do mundo são portadoras de genes idênticos.
Surgirão cepas mutantes, mais agressivas. Como saber?
A evolução das espécies é sobretudo imprevisível, como ensinou Charles Darwin.
Texto do Doutor Draúzio Varella na Folha de São de Paulo de 20/06/09
sexta-feira, 19 de junho de 2009
A vaca foi pro açougue e o consumidor foi pro brejo dos preços altos
quarta-feira, 17 de junho de 2009
Filhas Mulheres...Ou educamos nossas filhas para a liberdade, pela instrução e pelo trabalho, ou elas vão continuar vestindo rosa e chorando quando el
Primeiro trecho:
Uma jovem no afeganistão estava a caminho da escola quando um grupo de homens jogou-lhe ácido no rosto, causando-lhe danos permanentes à visão, só porque se opunha à sua busca por instrução. A tentativa de aterrorizar a moça e sua família fracassou.
— Meus pais disseram para eu continuar na escola, ainda que possa ser morta — disse a garota.
A estupidez faz isso mesmo, vítimas. Há homens que não admitem a independência da mulher, uma independência que tem me levado à rouquidão nas minhas palestras com elas. Vivo dizendo que a mulher só pode ser livre se for instruída e trabalhar para e por si mesma, isto é, ganhar o seu próprio dinheiro. Foi-se o tempo em que o “vovô”, mais das vezes um bronco, mandava em tudo, e no que mais mandava era na barriga da mulher, fazendo-a parir enquanto pudesse durante a vida... As mulheres mais antigas lembram bem disso.
Outro trecho de jornal, este de São Paulo:
Maioria dos estudantes — homens — da Universidade de São Paulo acha que mulher não deve trabalhar fora...
Claro, os inseguros não se garantem, sabem que a mulher saindo para o trabalho vira foco de interesse de muitos outros homens... Então, que suas mulherzinhas fiquem em casa. E depois de algum tempo, ou nem tanto, sejam chutadas por eles e fiquem na amargura de não ter estudo nem especialização para o trabalho.
Aqui vai mais um trecho de leitura de jornal que recolhi, artigo de uma advogada:
Os homens se consideram tão importantes e superiores que não admitem que uma mulher possa dispensá-los... A educação familiar e social das crianças ainda é no sentido de afagar o ego masculino, aceitando suas fraquezas e explosões violentas, e de convencer as meninas a serem “princesinhas”. Além dos maridos, os namorados também se julgam os senhores absolutos das parceiras.
Chega? Tem mais. Mais uma manchete:
Independência das mulheres faz aumentar os divórcios
Mas não pense, leitora, leitor, que é a mulher que ao se tornar independente manda o marido passear, nada disso. Eles, mais das vezes, é que não se sentem bem com mulheres que têm dinheiro na bolsa e altivez para dizer-lhes não...
Ou educamos nossas filhas para a liberdade, pela instrução e pelo trabalho, ou elas vão continuar vestindo rosa e chorando quando eles dão o bolo...
sábado, 13 de junho de 2009
Recessão no Brasil
Especialistas comparam recessão técnica no Brasil com outros países
China e Índia estão em melhor posição que o Brasil.
Ministro da Fazenda acredita que o pior já passou.
Na semana em que os números divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre o Produto Interno Bruto (PIB) confirmaram o registro de recessão técnica no Brasil, especialistas ouvidos pelo Jornal Nacional avaliam se a situação do Brasil é melhor ou pior do que a de outros países emergentes, como Índia, China e Rússia.
Para o governo, a sensação foi de alívio quando o IBGE anunciou a queda de 1,8% do PIB - soma de bens e serviços produzidos no país - nos primeiros três meses deste ano, em comparação com o mesmo período do ano passado. Especialistas e a própria equipe econômica do governo esperavam uma queda maior.
Mas alguns analistas discordam do otimismo do presidente. Levando-se em conta o PIB das maiores economias entre os países emergentes - o chamado BRIC, grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia e China -, os números mostram que dois destes países estão atravessando a crise melhor do que o Brasil. Na China, o ritmo de crescimento diminuiu, mas permanece positivo em 6,1%. Na Índia, o PIB permanece positivo em 5,8%. Nesses dois países, ao contrário do Brasil, não há
recessão.
Na Rússia, o PIB sofreu uma queda de 9,5%. Neste caso, o país sofreu com a queda do preço do petróleo, um dos seus principais produtos.
Para o economista José Roberto Mendonça de Barros, a China e a Índia estão em melhor posição que o Brasil para enfrentar a crise porque tiveram um crescimento muito grande no ano passado. ”Temos China e Índia que são dois casos muito importantes do lado positivo. A produção (nesses países) vai cair muito pouco e, ao contrário, eles vão crescer este ano e crescer bastante ano que vem”, avalia Barros.
O presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Márcio Pochmann, acredita que não há como comparar o Brasil com os países asiáticos: “São economias bastante diferenciadas. As duas economias asiáticas tiveram uma redução no nível de atividade. Elas estavam crescendo muito mais rapidamente que o Brasil, e têm uma composição do seu produto distinta da nossa”.
Para o economista Carlos Eduardo de Freitas, o Brasil não será um dos primeiros a sair da crise porque depende da recuperação da economia mundial. “O governo conta que há uma recuperação da economia brasileira. É verdade, há os indícios, há os sinais, há os sintomas, a economia está se recuperando. O que ele não conta é a segunda parte da história, é que essa recuperação pode encontrar um teto que é a nossa dependência da economia internacional. Pode encontrar, mas pode também não encontrar. Pode ser que a economia internacional se recupere junto conosco”, analisa Freitas.
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, acredita que o pior já passou e diz que novas medidas do governo vão ajudar o país a sair rapidamente da crise. “Nós já estamos em um processo de recuperação em relação à crise que houve nos dois trimestres que já passaram. (...) Nós vamos tomar medidas para baratear os investimentos no país de modo que eles vão retomar o mais breve possível”, afirma Mantega.
Do G1, com informações do Jornal Nacional
http://g1.globo.com/Noticias/Economia_Negocios/0,,MUL1192986-9356,00-ESPECIALISTAS+COMPARAM+RECESSAO+TECNICA+NO+BRASIL+COM+OUTROS+PAISES.html
sexta-feira, 5 de junho de 2009
Deputado reapresenta PEC que permite o 3º mandato
Na sua primeira tentativa, peemedebista protocolou a PEC com 183 apoios, mas ficou apenas com 170 após a retirada dos oposicionistas
O deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) voltou a protocolar ontem a PEC (proposta de emenda constitucional) que abre a possibilidade para um terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Essa é a segunda tentativa do peemedebista de levar a sua proposta adiante. Na semana passada, horas depois da primeira tentativa, deputados do PSDB e do DEM retiraram o apoio do texto, fazendo com que o mesmo, sem apoio suficiente, fosse devolvido pela secretaria da Câmara ao autor.
Na ocasião, o deputado havia protocolado a PEC com 183 apoios, mas no final do dia, ela ficou com apenas 170 (são necessárias, no mínimo, 171).
Agora, a proposta foi apresentada com 182 nomes. Da oposição, apenas os deputados Rogério Lisboa (DEM-RJ), Betinho Rosado (DEM-RN) e Jerônimo Reis (DEM-SE) apoiaram a proposta. Do PMDB são 53 apoios (antes eram 46) e do PT 32 (antes eram 31).
O texto protocolado prevê um referendo, a ser realizado no segundo domingo de setembro de 2009, para consultar a população sobre o terceiro mandato. E diz que todos os cargos do Executivo (governadores, prefeitos e presidente) "e quem os houver sucedido ou substituído no curso dos mandatos poderão ser eleitos para até dois períodos imediatamente subsequentes".
Barreto diz que, por ser do Nordeste, ele sente o "clamor do povo". O discurso oficial de líderes do PT e do PMDB é que são contra a proposta. O apoio foi dado, segundo ele, por ser praxe dentro da casa.
Para entrar em vigor, a PEC precisa passar pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara, por uma comissão especial, por dois turnos de votação no plenário e seguir o mesmo trâmite no Senado.
Pesquisa Datafolha feita na semana passada mostrou que a emenda que permitiria a Lula concorrer de novo à Presidência em 2010 tem apoio de 47% dos entrevistados contra 49% de desaprovação. Em 2007, a proposta era rejeitada por 65%.
Na sua viagem à Guatemala, na terça, Lula voltou a rejeitar um terceiro mandato, mas se disse "muito feliz" com a parcela da população que defende mais quatro anos para ele no Planalto: "Mas não existe hipótese de terceiro mandato", disse. "Eu volto a repetir o que eu já disse: eu não brinco com a democracia. Foi muito difícil a gente conquistá-la, e o que vale pra mim vale pros outros".
Da Folha de São Paulo de 05/06/09
quinta-feira, 4 de junho de 2009
Lobo Mau na CPI da Floresta -O senhor é pedófilo, senhor Lobo Mau??? - destempera-se o senador.
_ O senhor comeu a Vovozinha? _ pergunta o senador enquanto ajeita a gravata, preocupado com as câmeras de TV.
terça-feira, 2 de junho de 2009
ONG ensina famílias pobres como educar os filhos
Sandra, no beliche, com os três filhos. Antes, a casa funcionava como depósito de lixo. Agora, é local de estudo
Priscila e Sandra nasceram, cresceram e estão criando seus filhos no Jardim Ângela, periferia de São Paulo. Foi lá que aprenderam (e agora estão tentando desaprender) lições que marcaram seu passado. E que podem moldar o futuro de seus filhos. Os nomes que aparecem nesta reportagem são fictícios, para preservar a identidade das famílias.
Quando tinha 10 anos, Priscila aprendeu: criança que fica jogando queimada em vez de lavar a louça leva surra até ficar roxa. No dia seguinte em que isso aconteceu, ela fugiu de casa. Na rua, aprendeu que criança pode ganhar um bom dinheiro no farol se fizer cara de fome e sono. Sandra foi criada por uma família que lhe ensinou: criança obedece sem reclamar. Ela foi dada pela mãe biológica quando tinha apenas 26 dias e criada como escrava doméstica. Nesse tempo, aprendeu que uma menina sozinha pode lavar e cozinhar para uma família inteira. E que é normal bater numa criança que faz o serviço da casa.
Quando Priscila e Sandra viraram mães, a primeira aos 16 anos e a segunda aos 20, aplicaram à educação de seus filhos esses ensinamentos. Os três meninos mais velhos de Priscila (são seis ao todo) apanhavam até quando insistiam por um carinho da mãe. Um por um, foram fugindo de casa. Quando voltaram, encontraram a mãe desempregada e solteira. O jeito foi começar a pedir dinheiro no farol. Os filhos de Sandra (são três) cresceram ajudando a mãe a colher material reciclável no lixo. No começo do ano, Sandra queimou o braço da menina de 12 anos porque ela se recusou a arrumar a casa.
O futuro dessas crianças parecia determinado pela educação que suas mães receberam. Até que Priscila e Sandra foram convidadas a quebrar o ciclo. Elas aceitaram o desafio colocado pelo Instituto Rukha, organização não governamental que trabalha com 200 famílias em três bairros na Zona Sul da cidade de São Paulo: Jardim Ângela, Capão Redondo e Jardim São Luiz. Elas tiveram de tirar os filhos da rua e da reciclagem. Tiveram também de matriculá-los na escola e num curso de atividades complementares – como teatro ou futebol.
Da rua para a escola |
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Em dois anos e meio, a maior parte das crianças do projeto parou de trabalhar e voltou a estudar |
94% deixaram de trabalhar |
93% vão à escola |
81% fazem atividades complementares como esporte ou música |
Onde elas trabalham? |
Há no Brasil 1,7 milhão de crianças de 5 a 14 anos trabalhando. No Estado de São Paulo, a maior parte delas trabalha nos faróis |
Para compensar a perda de renda, recebem R$ 350 por mês ao longo de quatro anos. Para que as mães reflitam sobre outras questões importantes para as crianças, como as punições, elas recebem a visita semanal de uma dupla de educadores. Eles tentam identificar os problemas e encaminhar soluções. Adicionalmente, Priscila foi indicada para o psicólogo da ONG, com quem passou a discutir a relação com os filhos. Não é obrigatório, mas a organização estimula que os pais terminem os estudos para fazer cursos profissionalizantes ou faculdade. Para isso, dão uma bolsa de R$ 150 para ajudar na mensalidade. O marido de Priscila entrou em um curso técnico de logística.
“A transformação é na intimidade da família. Um trabalho lento, de mudanças profundas”, diz o neuropsicanalista Yusaku Soussumi. Ele é dos um fundadores da ONG, seu principal formulador teórico e o responsável pelo nome – Rukha –, que significa sopro de vida na tradução do aramaico. A ideia de Soussumi é criar estímulos para mudanças no interior das famílias, por meio de mudanças na vida de seus integrantes, pais e filhos. Se Soussumi é o principal formulador da atividade da organização, o homem que a tornou possível foi o empresário Marcos de Moraes, doador dos US$ 10 milhões que permitiram criar e tocar a organização nos últimos três anos.
Depois de ver as crianças pedindo dinheiro na Avenida Faria Lima, Moraes se deu conta de que elas são a única ponte entre dois mundos que coexistem na mesma cidade. Filho de Olacyr de Moraes, o rei da soja, Marcos cresceu cercado de riqueza. Ficou conhecido por vender, em 1999, o portal de internet Zip.Net por mais de US$ 300 milhões. Bem antes disso, aos 23 anos, ficou chocado ao conhecer meninos de uma favela que não sabiam a própria idade. “Eles não tinham identidade”, diz. “Eu não sabia direito o que fazer, acabei investindo em cursos profissionalizantes.” De lá para cá, faz incursões por bairros pobres para descobrir como pode ajudar. Já pegou ônibus para chegar a favelas onde seu carro blindado não poderia entrar sem correr risco. Os seguranças, à paisana, foram junto. Discutindo essas questões com seu terapeuta, o neuropsicanalista Soussumi, eles resolveram fundar a ONG em março de 2005. Marcos entrou com o dinheiro, Soussumi entrou com a parte teórica.
Para participar do projeto, as mães têm de mostrar empenho na mudança. Priscila diz que sente sua pressão subir quando pensa em sua parcela de culpa pela situação atual dos filhos mais velhos. Ela tem três meninos, de 21, 19 e 18 anos, e três meninas, de 13, 10 e 8. Os meninos cresceram com uma mãe agressiva. “Achava que bater era certo. O pior dia foi quando quebrei um rodo na perna de um deles, que tinha 11 anos.” Depois que foram trabalhar na rua, os meninos começaram a usar maconha e cocaína, trabalharam para o tráfico e roubaram. Os três já passaram pela Fundação Casa (antiga Febem) e não trabalham.
Da Revista Época
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI75249-15228,00-ONG+ENSINA+FAMILIAS+POBRES+COMO+EDUCAR+OS+FILHOS.html
Não haverá terceiro mandato, não brinco com democracia, diz Lula
Na Guatemala, presidente comentou pesquisa sobre terceiro mandato.
Lula comparou divergências entre ministros a 'algazarra' de filhos.
Lula durante cerimônia de recepção das chaves da Cidade da Guatemala, nesta terça (2) (Foto: Ed Ferreira / Agência Estado)
Lula foi enfático ao declarar que "o Brasil não deve ter terceiro mandato". "Eu não brinco com a democracia. Quem quer o terceiro [mandato] pode querer o quarto, o quinto ou o sexto", disse.
Lula defendeu a alternância de poder, acrescentando, no entanto, que "ficou feliz" com os resultados recentes de pesquisas de opinião que mostram que tem muita gente favorável a um novo mandato seu.
O presidente destacou que há vinte anos nenhum analista acreditava que os presidentes Álvaro Colom (Guatemala), Cristina Kirchner (Argentina), Rafael Correa (Equador), Evo Morales (Bolívia) e Michele Bachelet (Chile) pudessem chegar ao poder e, por isso, ressaltou, "a alternância é importante".
Lula aproveitou para dar um recado para a oposição, dizendo que, "ao ganhar as eleições, o novo governante tem de governar, tem de ter tranquilidade para governar para deixar o país crescer e não pode passar o tempo todo combatendo problemas internos". "Quem perder, tem de compreender que quem ganhou tem de governar", disse.
Do G1, com notícias da Agência Estadão
http://g1.globo.com/Noticias/Politica/0,,MUL1180100-5601,00-NAO+HAVERA+TERCEIRO+MANDATO+NAO+BRINCO+COM+DEMOCRACIA+DIZ+LULA.html
Meu comentário: Lula disse: " Quem perder, tem de compreender que quem ganhou tem de governar", será que ele estava se referindo ao período em que o partido dele não deixava ninguém governar?
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Maísa, A Fama e o Conselho Tutelar -- Maísa é uma criança privilegiada ou uma criança explorada?
Maísa é uma criança privilegiada ou uma criança explorada? É um fenômeno, ou apenas uma entre milhares de maísas que bem poderiam substituí-la nos palcos do Sílvio Santos?
Apresentadora de programas no SBT, quarta rede de televisão aberta em audiência, investimentos e anunciantes, Maísa, que está diante das câmeras desde os 3 anos de idade, recebe 20 mil reais de salário, mora a 85 quilômetros do seu local de trabalho, grava dois programas semanais e passa cerca de seis horas entre cabeleireiros e maquiadores.
Frequenta a escola, na fase crucial da alfabetização, para onde vai cercada de seguranças (Sílvio Santos e uma filha foram vítimas de seqüestro há alguns anos), driblando os repórteres que costumam assediar também funcionários e alunos.
Mas foi o fato de ter enfrentado situações inusitadas, chorado e se retirado de cena nas últimas apresentações, que chamou atenção para a criança Maísa. Nem Silvio Santos, nem os pais da menina perceberam nada de anormal ou constrangedor e se dizem surpresos com a reação do público, da mídia, de especialistas e agora, da Justiça. Silvio Santos chegou a argumentar que tinha três filhas mulheres, como se o fato de reproduzir garantisse bom comportamento. Os pais se declaram perplexos com tanta repercussão, só porque Maísa chorou em cena? Não é difícil entender, afirma Ivana Bentes, professora de pós-graduação da Escola de Comunicação da UFRJ, em entrevista à Folha de São Paulo, “se imaginarmos o nível de satisfação/excitação do pai e da mãe da menina - satisfação simbólica e real - com sua galinha dos ovos de ouro mirim.”
Uma promotora de Osasco requereu, a Juíza concedeu e Maísa, por enquanto, não se apresenta mais com o patrão nas tardes de domingo.
Como entende tudo isso a conselheira Brenda?
O Conselho Tutelar entrou na história nos últimos dias recomendando e garantindo acompanhamento psicológico para Maísa. Alçada, ela também, à condição de celebridade, a Conselheira Tutelar declarou ao Diário de São Paulo: “Pode não parecer, mas ela tem uma carga grande de responsabilidade para uma menina de 7 anos. A ajuda de um profissional é essencial, ainda mais nesse momento em que ela não vai mais poder gravar com Silvio Santos”.
“Pode não parecer?”. Disse mais, ao repórter da UOL: que Maísa é uma menina feliz e os pais são muito bons. Nada mais simplório, ginasiano até. Menina feliz, pais bons, o que isso significa exatamente? Não sabemos há quanto tempo a conselheira Brenna exerce a função, como foi eleita, qual sua formação ou idade, mas parece tão despreparada como foram despreparados o conselheiro que devolveu dois irmãos aos pais que os mataram cruelmente dias depois ou a conselheira que visitou a menina de doze anos vítima de tortura em Goiânia e também não viu nada de anormal. O fato é que a conselheira Brenna, numa única visita domiciliar, chegou à conclusão que Maísa está ótima, que nem lembra o que aconteceu no programa e que está triste apenas porque estão falando mal do patrão e só por isso precisa de um psicólogo.
Eleonora Ramos é jornalista e coordenadora do Projeto Proteger
Susan Boyle é internada em clínica psiquiátrica em Londres
A escocesa Susan Boyle, que no sábado perdeu a final do programa de calouros Britain's Got Talent, foi internada neste domingo em uma clínica psiquiátrica em Londres, segundo relatos da mídia britânica.
Segundo o tablóide The Sun, a cantora foi internada na clínica Priory com exaustão. A Priory é famosa por tratar celebridades dependentes de drogas ou com crises de depressão.
A polícia metropolitana de Londres confirmou ter recebido um chamado por volta das 18h de domingo de médicos que atendiam uma mulher com uma crise psicológica em um hotel da capital.
Segundo a polícia, a mulher, cuja identidade não foi confirmada, entrou voluntariamente em uma ambulância para ser levada à clínica.
A pedido dos médicos, os policiais acompanharam a ambulância.
A clínica Priory disse não poder "confirmar nem negar os relatos" de que Susan Boyle se internou no local.
Celebridade mundial
A escocesa desempregada de 48 anos se tornou celebridade mundial após aparecer no programa de calouros há menos de dois meses. Os vídeos com sua apresentação foram vistos mais de 100 milhões de vezes no YouTube.
Apesar do favoritismo na final do programa, no último sábado, Susan Boyle ficou em segundo lugar, atrás do grupo de dança Diversity, que levou o prêmio de 100 mil libras (cerca de R$ 320 mil).
No domingo, os produtores do programa também haviam revelado que ela se isolaria por um tempo, seguindo ordens médicas.
Segundo um comunicado dos produtores, "após o programa do sábado, Susan está exausta e exaurida emocionalmente".
"Ela foi examinada pelo seu médico particular, que apóia sua decisão de tomar alguns dias para descansar e se recuperar. Nós oferecemos nosso apoio e desejamos a ela uma recuperação rápida", afirma o comunicado.
Meninas escravas sexuais
Mãe agencia programa e oferece vender filha menor por R$ 500 no Pará
Reportagem do Fantástico simulou compra em Portel (PA).
Prostituição de menores ocorre livremente nas ruas.
Uma mãe foi flagrada agenciando programas para a própria filha, menor de idade, em troca de "quatro cervejas" e oferecendo vender a menina por R$ 500. Os crimes foram registrados pela reportagem do "Fantástico" na pequena Portel, cidade do Pará isolada a 18 horas de barco de Belém, onde a prostituição de menores ocorre livremente nas ruas.
Usando uma câmera escondida, a reportagem foi em busca dos aliciadores que fazem o contato entre os interessados e as famílias. Na tabela da exploração sexual de menores, a noite com uma virgem pode custar R$ 1 mil. Geralmente tudo é feito com conhecimento dos pais.
Programa por cerveja
Edina dos Santos Balieiro, a mãe que pediu R$ 500 pela filha, é dona de um bar em Portel. A reportagem simula primeiro interesse num programa com a adolescente de 17 anos. A mãe aceita negociar:
Repórter - “Quer alguma coisa aí?”
Mãe - “Deixa quatro cervejas aí pra mim beber..”
Repórter - “Quantas?”
Mãe - “Quatro.”
A menina acompanha tudo de perto sem interferir.
“Você acha que eu vou dar minha filha por R$ 10, é ?”, diz a mãe, pegando os R$ 10 da mão do suposto cliente. “É louco, é ?”, diz ela enquanto amassa o dinheiro com a mão e guarda.
Apesar do que diz, a mãe fica, sim, com o dinheiro para comprar as cervejas. E a menina chega a entrar num táxi. O repórter revela então que não vai haver programa. E a jovem é levada de volta pra casa.
No dia seguinte, a reportagem voltou ao bar e simulou interesse não apenas em um programa mas em comprar a jovem. O repórter deixa claras suas supostas intenções: levar a moça, e fazer com ela o que quiser.
Antes do acerto, a mãe faz uma única exigência: “Pode viajar. Pode ir. Ela... só quero um número de telefone pra ligar. Ela me ligar.”
No dia seguinte, Edina fala qual é o preço para entregar a filha:
Repórter - “Aquela nossa conversa tá de pé, não tá?”
Mãe - “Tá.”
Repórter - “A senhora falou pra ela e ela falou o que?”
Mãe - “Eu tenho coragem de ir, mamãe.”
Repórter - “Ela tem coragem?”
Mãe - “Tem. Chega lá, fala: ‘Vim te buscar pra gente viajar.’”
Repórter - “Mas quanto? quinhentos, mil, duzentos?
Mãe - “Ah, não sei... cê que sabe.”
Repórter - “R$ 500?”
Mãe - “Talvez , né? Tou ouvindo ... cê que sabe.”
Na hora de fechar a negociação da compra da jovem, Edina define o preço da filha:
Repórter - “A senhora acha que quanto fica bom pra senhora?”
Mãe - “Aquilo que cê tinha me falado da outra vez.”
Repórter - “Quanto?”
Mãe - “O que cê me falou tá bom.”
Repórter - “Quanto? R$ 500?”
Mãe - “R$ 500 tá bom pra mim.”
Repórter - “R$ 500, né?”
Mãe - “É.”
A reportagem não chega a concretizar o negócio e diz a Edina que voltaria com o pagamento depois.
14 anos de prisão
Cada passo da reportagem foi acompanhado por pessoas ligadas à Igreja Católica. “Essa mãe precisa responder a um processo. Ela cometeu um crime. A polícia precisa apurar isso. Sem o exemplo de que a lei existe as pessoas vão continuar praticando isso dentro da normalidade”, afirma o defensor público Anginaldo Oliveira.
De acordo com a lei brasileira, Edina pode pegar até 14 anos de prisão por exploração sexual e venda da filha.
"Está se perdendo em muitas regiões do Pará e também no Marajó, o respeito, a valorização de uma menina, de um menor, de uma menor. E perdendo esse respeito as bases de uma sociedade estão minadas”, afirma José Luiz Azscon, bispo de Marajó.
Miséria e exploração
A renda média dos moradores de Portel está bem abaixo do salário mínimo nacional: R$ 229 por mês, segundo o IBGE. A prefeitura estima que quase 80% dos adultos da cidade não têm trabalho fixo.
“Há elementos econômicos, há elementos de empobrecimento, mas não é so isso [que explica a prostituição e venda de menores no local]", diz a deputada Maria do Rosário (PT-RS), relatora da CPI da Exploração Sexual. "Há uma cultura em torno de estar num meio onde se pode ganhar algum dinheiro com a sexualidade. Porque há um apelo sobre a sexualidade permanente em todos os ambientes”, completa.
“Lá, mulher não é uma mercadoria. Lá, mulher é um lixo, porque uma mercadoria vale bem mais. ela tem um valor”, diz uma jovem, sob anonimato, que nasceu e passou a adolescência em Portel. Vítima de estupro aos 13 anos, decidiu denunciar o que se passa na cidade paraense.
“Muitas mães, elas acostumaram com a cultura de lá. E acham que negociando a filha vai ser normal. Eu vejo aquilo lá como a parte de um verdadeiro inferno, de um purgatório, onde a gente é mutilado, destruido e tem que se calar e se redimir por si próprio”, disse.
A delegada Socorro Maciel diz que a venda de uma filha pela mãe não a surpreende. “Não me surpreendo porque a gente sabe que acontece. Infelizmente acontece. Não só no Pará. A gente sabe que em todo o brasil acontece isso”, diz.
Do G1, com informações do Fantástico