Colaboração da Enfermeira Jaqueline
A doença de amar o agressor
Ana Paula Ferraz
Olá pessoal! Meu nome é Ana Paula, e atendendo ao pedido de meu amigo José, como colaboradora deste blog, elaborei esse texto sobre a doença de amar o agressor. Discutimos sobre o assunto na comunidade no orkut "Contra a violência à mulher", e recebi esse honorável convite.
Muito se indaga porque muitas vitimas de violência doméstica "se sujeitam" a tal humilhação. Coloquei entre parenteses "se sujeitam", porque creio que nenhum ser humano na face desse planeta goste de sofrer, querendo se colocar socialmente como novo Cristo.
O que vemos diariamente desse circo dos horrores: mulheres que sofrem anos, décadas de violência doméstica e nunca procuram ajuda. E quando alguém lhe indaga sobre o olho roxo, afirmam que tropeçaram e bateram com o rosto no armário, apesar daquele enorme óculos escuros dizer o contrário. Aí surge a indagação "Por que ela mente? Todo mundo sabe que foi o marido quem desceu o sarrafo nela! Mais uma maria-sem-vergonha".
NÃO! NÃO É MARIA-SEM-VERGONHA! É uma vítima acometida pelo mal de amar o agressor. A vítima se cega de tal forma, que acredita que o agressor vai mudar, que aquilo foi momento de raiva, que o agressor "é pavio curto, fazer o que né?", criando uma macabra dependencia psicologica e financeira. A vitima não se vê vivendo longe do agressor que ama tanto!
Basta frequentar a delegacia da mulher por UM dia, que podemos constatar isso: aparece a vítima lá, incentivada pela vizinha, pela amiga, pela mãe, pela irmã, a prestar queixa contra o agressor. A vítima se constrange ao fazer isso porque ela pode colocar o pai dos filhos dela, o homem que ela ama na cadeia. Ela não quer isso! Dias depois ou na hora mesmo, ela desiste de prosseguir, afirmando que foi acidente, que foi momento de raiva e que aquilo não irá mais acontecer. Ela afirma pra ela mesma que aquilo foi rompante, que não vai mais acontecer, porque o agressor "arrependido" chorou, implorou para ser perdoado... Mas dá um dia, e tudo volta como era antes: tapas ultrajantes no rosto porque falou algo que o "macho" não gostou, é porque anda "saidinha" porque conversa animadamente com o vizinho... A vítima considera o comportamento normal, de homem ciumento latino.
Essa doença de amar o agressor pode ter consequências ainda mais desastrosas: abusos contra os filhos do casal, enteados, sobrinhos! SIM! SIM! Com medo de perder o homem que ama, a mulher muitas vezes silencia sobre o abuso sexual sofrido pela filha, pelo filho... Passam-se anos de silêncio e infância perdida.
O filme "Precious", que entrou em cartaz no Brasil durante o carnaval, retrata essa situação macabra que comentei no parágrafo anterior. A menina é abusada sexualmente pelo proprio pai desde os 3 anos de idade, e a mãe silencia para não perder o homem que ela ama. Ela é contra aquilo, mas silencia porque pensa que sem aquele homem ela não consegue viver.
O pai de Precious é um viciado em drogas e vendedor de drogas. E quando ele vai embora, a mãe de Precious a culpa implacávelmente. A garota está grávida do segundo filho gerado pelos estupros praticados pelo pai dela, sendo a primeira filha portadora da Sindrome de Down, a qual é criada pela a vó de Precious. A mãe cria muita raiva da menina pelo fato do macho dela te-la deixado, e agride a garota constantemente, a assedia moralmente chamando-a de burra e que nunca vencerá na vida, quem ela pensa que é, que ela se acha muito mulher porque engravidou duas vezes... Esse filme me arrancou lágrimas, me deu aperto no peito, porque isso é tão corriqueiro, ocorre embaixo dos nossos narizes, e a omissão se perpetua. Baseado em um livro, que conta a volta por cima da vitima de violência sexual e violência doméstica. A mocinha tinha 16 anos na época.
Como se pode ver, o problema é bem complexo. Assim como qualquer doente, a vitima de violencia domestica que reluta em denunciar o agressor precisa de ajuda para isso, entretanto, ela tem que reconhecer que é uma pessoa que precisa de ajuda em primeiro lugar para superar a maldita dependencia com o agressor. Porque afinal não há como ajudar alguem que não se ajuda.
A dependência da vitima em relação ao agressor é como a dependência do álcool, cigarro e drogas ilicitas: a pessoa pode até se dar conta ou não se aquilo lhe faz mal, mas para se livrar do vício, ela precisa se ajudar, mas esse empurrão tem que vir de fora também, porque a vítima de violência doméstica, assim como o viciado, o que menos eles têm é o amor próprio, consumido pelo vicio.
No caso da violência doméstica, o agressor cria um ambiente que faz com que a vitima acredite que ela sem ele é um nada, uma ninguém, o cocô do cavalo do bandido. E caso o agressor não consiga seu intento com isso, ele pratica agressões maiores porque ele não consegue segurar "o brinquedinho dele", para compensar as fustrações pessoais dele por ser um fracassado, um invejoso (muito agressor tem inveja de sua vitima), um zero a esquerda.
O agressor impede que a vitima procure ajuda, a isola da familia e amigos, para que ele continue com o seu intento: DESTRUIR A SUA VITIMA!
O prazer em destruir alguém mais fraco emocionalmente que ele é a meta, para que se sinta melhor em seu complexo de inferioridade, já que a sua vitima é mais bem sucedida que ele, ganha mais que ele, ou até o agressor é pobre, mas inveja a sua vitima que tem mais capacidade de dar a volta por cima do que ele, vai a luta, trabalha, e não fica como o agressor que bota a culpa no mundo por ele ser daquele jeito, de ser um fracassado. Aí para enfraquecer a sua vitima, o agressor usa métodos que a aniquilem, que a humilhem a tal ponto, que faça a vitima acreditar que ela sem ele não é nada e que o amor por ele é a unica coisa que a mantém viva e a faz ser alguém.
E agora parto para outro ponto que se liga ao tema: a sociedade cria a mulher para amar (ser amada não e tão importante), ser boa mãe, boa esposa, aguentar os trancos do casamento, porque a boa esposa tolera tudo... E quando o marido não é bom marido? Fica a icógnita.
Aí quando essa vitima resolve abandonar o marido, prestar queixa, pô-lo na cadeia, aí a mulher é a vilã, a malvada, e por romper esses valores impostos a ela, é culpabilizada pelo que aconteceu, com o famoso "apanhou? É porque tava merecendo!". A vitima se constrange por isso também, portanto o problema da não denúncia não parte somente de amar o agressor, mas do medo de ter o nome jogado na lama e expor a sua intimidade, expor mais ainda os filhos, a familia...
Portanto as vitimas de violência doméstica antes de mais nada, sofrem também com o abandono da familia e amigos se ela sai do roteiro imposto a ela: boa mãe, esposa e saco de pancada. E muitas vezes elas "acham que amam o agressor" por conta disso, vivendo uma fantasia de dependencia que a própria familia e o agressor a fazem acreditar: que ela é um nada sem o marido, e casal que se ama briga, mesmo que role porrada, e depois vem o sexo de reconciliação.
Com todo esse emaranhado, fica difícil vc convencer a vitima a denunciar o agressor. E a sociedade a condena por ser "Maria-sem-vergonha". Um pré-julgamento muito cruel para quem já sofre tanto com o agressor e falta de apoio da familia.
O que precisamos fazer, o que as autoridades precisam fazer? PRECISAMOS PARAR DE TRATAR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMO ASSUNTO PRIVADO!
Por quê? Muito simples! Essas pessoas que sofrem abusos se tornam os futuros agressores, futuras vítimas de homicídio ou lesáo corporal gravíssima (como um aleijão) e futuros delinquentes, o que gera um enorme prejuizo social.
Esmiuçando melhor: os agressores, em sua grande maioria, são criados em lares desestruturados, com pais violentos, mães submissas, irmãs sendo estupradas a olhos vistos e eles consideram isso normal. A vitima também pode ser criada em lar assim e achar isso natural, corriqueiro como respirar. A vítima, a qual é condicionada a aceitar a situação, cria-se para ela o circulo vicioso dos sem esperança, dos que sempre tem que depender de alguém para se sentirem pessoas, seres humanos.
Os delinquentes? Vem desses lares desestruturados, dado a revolta que eles sentem contra todos e contra o mundo. Tudo é culpa do mundo pra eles, se sentem sós porque ninguém os ajuda quando pedem socorro, e o pior: quando a criança conta algo que acontece com a mãe dentro de casa, ainda tem gente que diz que criança fantasia. Fantasia? E onde eles acham tanta riqueza de detalhe sórdido, os palavrões? Em filme americano?
A justiça brasileira bota a chance de reconciliação em casos de violência doméstica, como se fosse um simples caso de separação, na qual o casal não se tolera mais e não quer mais viver sob o mesmo teto.
Sincermaente, a lei no Brasil já começa agindo errado! O Brasil e a historinha do "tapinha de amor não dói". Até a víitma aparecer morta em mais um crime bárbaro que choque o país, para todos ficarem com cara de empada vencida do "ó que tragédia". TRAGÉDIA EVITÁVEL NÁO É?
E quando a vitima cria coragem, leva tudo adiante? Socialmente, basta por na cadeia o agressor que tudo se resolve. NÃO! NÃO RESOLVE!
Por que? Assim que o agressor sair de lá, vai caçar a sua vítima que virou a sua algoz colocando-o na cadeia, podendo até elimina-la. O que se deveria fazer? Acompanhamento psiquiátrico para todos: agressor, vítima e família.
Sim! A violência doméstica afeta a todos do circulo da vitima, principalmente se ela tem filhos com o agressor. E o agressor sendo punido simplesmente, sem ajuda psiquiátrica, ele vai criar um odio mortal contra a sua vítima. Não precisamos de formação de médico psiquiatra para nos darmos conta de como o psicopata age com o ódio extremo. Aqueles psicopatas que aparecem nos filmes e novelas são uma amostra do que alguém com ódio pode fazer. Mas fazemos de conta que na vida real não seria assim, porque a dramaturgia exagera um pouco. sim, pode até ser, MAS O PSICOPATAS EXISTEM E SÃO PERIGOSOS!
Como advogada vi absurdos proferidos em Varas de Família, em justiça criminal, tratando o caso como briga passageira. Muitos juizes e Promotores não saem da torre de marfim e ficam proferindo decisões baseadas em doutrinas que leram e não na vida prática.
Esquecem os operadores do direito que a lei também deve se moldar à realidade, mais conhecido entre os juristas como equidade, que é uma forma de se aplicar o Direito, sendo o mais próximo possível do justo para as duas partes. A equidade completa o que a justiça não alcança somente com a lei. Por mais taxativa que a lei seja, o juiz tem a liberdade de julgar conforme seus principios e conforme o clamor de justiça da sociedade. O que juiz não pode fazer é legislar em cima do legislado. E a equidade passa longe de legislar.
Colocando todos esses pontos, podemos notar como amar o agressor, a criação das mulheres e a omissão de quem poderia ajuda-la somente aumentam o quadro trágico da violência doméstica no Brasil.
Preciso colocar que violência contra a mulher, contra as crianças e contra os idosos é praga mundial, e até na "avançada europa" temos casos absurdos. Náo é exclusividade "terceiro mundista". O diferencial é que paises europeus como Noruega, Suécia, Reino Unido, Dinamarca entre outros, tratam a violência doméstica como problema social.
Nesses paises há orgãos do governo que ajudam vítimas e auxiliam agressores tambem com psiquiatras e psicologos. Há também política de educacão com os jovens de que violência nao é normal. Professores e, educadores são treinados para notarem qualquer comportamento que indique violência dentro da casa de crianças e adolescentes, porque isso afeta a vida social de quem presencia também, incluindo o baixo rendimento escolar.
Uma lição de casa que o Brasil precisa aprender, porque não basta a Lei Maria da Penha. Aliás, dou vivas à Maria da Penha pela sua coragem em processar o Brasil por violação aos direitos humanos na OEA, pelo fato da justiça brasileira se omitir em punir um monstro assassino!
Depois de toda essa exposição sobre o assunto, peço a reflexão dos leitores para que se mude a idéia de que mulher que não denuncia é sem-vergonha e gosta de apanhar, ou que a menina de 13 anos não denuncia o estupro dentro de casa foi porque gostou... Temos o temor reverencial, a dependência e o amor ao agressor, incutido na cabeça das vitimas pela propria sociedade que as julga implacavelmente, em jogo de gato e rato. Não é somente o agressor que consegue acabar com a vitima. Nós mesmos conseguimos acabar com as vitimas de violência doméstica pela omissão, e a lei e a justiça aniquilam a vitima por tratar o assunto como privado.
Esse assunto é muito extenso e tive uma enorme dificuldade para resumir meu pensamento. Pessoalmente eu passaria no minimo 3 horas explicando o meu raciocinio, porque o assunto "a doença de amar o agressor" é extenso para resumir. Eu poderia citar psicologos e psiquiatras que falam sobre o assunto de forma bem exemplificativa, porém isso tornaria o meu texto menos dinâmico e maçante para o leitor.
E meus agradecimentos à José, que me deu essa oportunidade de vir até aqui e esclarecer o que é "a doença de amar o agressor.
Saudações a todos os leitores e leitoras do blog.
Ana Paula Ferraz.
Embora o começo de todos os relacionamentos afetivos seja regado a muita sedução, sonhos e desejos, infelizmente com o tempo, o envolvimento emocional pode levar à dependência, rotina e desgaste. Uma pessoa pode se tornar dependente de comida, drogas, álcool, jogos, trabalho, filhos ou amigos. Mas é na relação a dois que com mais freqüência a dependência se torna destrutiva, podendo sem dúvida, tornar-se doentia e simbiótica, impedindo o crescimento e a troca entre o casal. A dependência geralmente acontece quando um ou os dois já tiveram experiências durante a vida de abandono, rejeição, levando-os a temerem passar novamente por isso. Cria-se a dependência, como uma forma desesperadora e fantasiosa de impedir que aconteça de novo.
Mesmo quando a realidade mostra uma relação transformando a vida em um pesadelo, muitos acreditam ainda que estão sonhando, pois é difícil acordar. A pessoa ao sentir-se incapaz de mudar sua vida, se acomoda. Geralmente a dependência psicológica acontece por necessidades inconscientes nem sempre identificadas. Além disso, ela propicia gratificações secundárias, como a sensação de segurança. É como se a pessoa respirasse através do outro, como se o outro fosse o responsável pela manutenção da sua vida e do ar que respira. Talvez por causa dessas gratificações, muitos sentem dificuldade para se libertarem, ainda que a relação esteja totalmente destrutiva.
Os dependentes deixam que desvalorizem tudo que lhes é mais caro: seus sentimentos. Perdem completamente o valor ao se permitirem que o outro jogue no "lixo" seu eu mais verdadeiro, desprezando tudo que dizem, sentem, fazem, pois nada que é seu é valorizado, ao contrário, tudo é motivo de crítica, fazendo-os acreditarem serem incapazes. O que não é verdade!
Em geral, essas pessoas tornam-se tristes, depressivas, enclausuradas em seus quartos escuros, podendo ficar assim durante anos, até o momento em que não suportam mais e explodem.
Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente. Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros. Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Neste momento percebem que são capazes de ouvirem suas próprias vozes e não mais os gritos que as ensurdeciam e as palavras que as dilaceravam, percebem que suas vozes podem voltar a se tornarem novamente doces, suaves, como uma melodia gostosa de se ouvir. Conseguem assumir a responsabilidade pela própria vida, não mais colocando a sua vida na mão de quem quer que seja, mas na única pessoa em quem pode confiar: em si mesma. Claro que tudo isso exige muitas lutas internas, rever um passado que machucou muito, mas que se não for identificado e elaborado, continuará machucando através das repetições de padrões antigos e na manutenção de relações destrutivas.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada. E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente. Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros. Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Mesmo quando a realidade mostra uma relação transformando a vida em um pesadelo, muitos acreditam ainda que estão sonhando, pois é difícil acordar. A pessoa ao sentir-se incapaz de mudar sua vida, se acomoda. Geralmente a dependência psicológica acontece por necessidades inconscientes nem sempre identificadas. Além disso, ela propicia gratificações secundárias, como a sensação de segurança. É como se a pessoa respirasse através do outro, como se o outro fosse o responsável pela manutenção da sua vida e do ar que respira. Talvez por causa dessas gratificações, muitos sentem dificuldade para se libertarem, ainda que a relação esteja totalmente destrutiva.
Os dependentes deixam que desvalorizem tudo que lhes é mais caro: seus sentimentos. Perdem completamente o valor ao se permitirem que o outro jogue no "lixo" seu eu mais verdadeiro, desprezando tudo que dizem, sentem, fazem, pois nada que é seu é valorizado, ao contrário, tudo é motivo de crítica, fazendo-os acreditarem serem incapazes. O que não é verdade!
Em geral, essas pessoas tornam-se tristes, depressivas, enclausuradas em seus quartos escuros, podendo ficar assim durante anos, até o momento em que não suportam mais e explodem.
Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente. Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros. Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Neste momento percebem que são capazes de ouvirem suas próprias vozes e não mais os gritos que as ensurdeciam e as palavras que as dilaceravam, percebem que suas vozes podem voltar a se tornarem novamente doces, suaves, como uma melodia gostosa de se ouvir. Conseguem assumir a responsabilidade pela própria vida, não mais colocando a sua vida na mão de quem quer que seja, mas na única pessoa em quem pode confiar: em si mesma. Claro que tudo isso exige muitas lutas internas, rever um passado que machucou muito, mas que se não for identificado e elaborado, continuará machucando através das repetições de padrões antigos e na manutenção de relações destrutivas.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada. E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Algumas também implodem, ou seja, somatizam e adoecem gravemente. Depois de externalizarem toda raiva contida, e conseguem retomar de alguma forma sua saúde mental, podem perceber as contradições no outro e em si mesmo, tomando consciência de quanto eram sufocadas sob os valores e interesses de terceiros. Retomando essa consciência, que pode ser adquirida através do processo de psicoterapia ou mesmo da profundidade da dor, começam a perceber seus próprios valores, seus desejos, vontades e sentimentos, resgatando assim com sua saúde mental, a auto-estima e o amor-próprio.
Neste momento percebem que são capazes de ouvirem suas próprias vozes e não mais os gritos que as ensurdeciam e as palavras que as dilaceravam, percebem que suas vozes podem voltar a se tornarem novamente doces, suaves, como uma melodia gostosa de se ouvir. Conseguem assumir a responsabilidade pela própria vida, não mais colocando a sua vida na mão de quem quer que seja, mas na única pessoa em quem pode confiar: em si mesma. Claro que tudo isso exige muitas lutas internas, rever um passado que machucou muito, mas que se não for identificado e elaborado, continuará machucando através das repetições de padrões antigos e na manutenção de relações destrutivas.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada. E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Para romper esse círculo vicioso é preciso identificar as necessidades que não foram supridas durante a vida, principalmente na infância, entender que por mais que tenha machucado, já passou e desprender-se da ânsia, inconsciente é claro, de compensar perdas e rejeições passadas por meio de um relacionamento dependente como garantia de não mais ser abandonada. E ao conseguir se libertar de um relacionamento doente, cure cada uma das feridas existentes e não se entregue imediatamente a um novo relacionamento, pois será grande o risco de transferir os comportamentos viciados se ainda não forem identificados, podendo comprometer mais um relacionamento.
Texto de Rosemeire Zago, Psicóloga clínica com abordagemjungiana.
Desenvolve o auto conhecimento e ministra palestras motivacionais.
Contato: (011) 3815.9172A doença de amar o agressor
Ana Paula Ferraz
Olá pessoal! Meu nome é Ana Paula, e atendendo ao pedido de meu amigo José, como colaboradora deste blog, elaborei esse texto sobre a doença de amar o agressor. Discutimos sobre o assunto na comunidade no orkut "Contra a violência à mulher", e recebi esse honorável convite.
Muito se indaga porque muitas vitimas de violência doméstica "se sujeitam" a tal humilhação. Coloquei entre parenteses "se sujeitam", porque creio que nenhum ser humano na face desse planeta goste de sofrer, querendo se colocar socialmente como novo Cristo.
O que vemos diariamente desse circo dos horrores: mulheres que sofrem anos, décadas de violência doméstica e nunca procuram ajuda. E quando alguém lhe indaga sobre o olho roxo, afirmam que tropeçaram e bateram com o rosto no armário, apesar daquele enorme óculos escuros dizer o contrário. Aí surge a indagação "Por que ela mente? Todo mundo sabe que foi o marido quem desceu o sarrafo nela! Mais uma maria-sem-vergonha".
NÃO! NÃO É MARIA-SEM-VERGONHA! É uma vítima acometida pelo mal de amar o agressor. A vítima se cega de tal forma, que acredita que o agressor vai mudar, que aquilo foi momento de raiva, que o agressor "é pavio curto, fazer o que né?", criando uma macabra dependencia psicologica e financeira. A vitima não se vê vivendo longe do agressor que ama tanto!
Basta frequentar a delegacia da mulher por UM dia, que podemos constatar isso: aparece a vítima lá, incentivada pela vizinha, pela amiga, pela mãe, pela irmã, a prestar queixa contra o agressor. A vítima se constrange ao fazer isso porque ela pode colocar o pai dos filhos dela, o homem que ela ama na cadeia. Ela não quer isso! Dias depois ou na hora mesmo, ela desiste de prosseguir, afirmando que foi acidente, que foi momento de raiva e que aquilo não irá mais acontecer. Ela afirma pra ela mesma que aquilo foi rompante, que não vai mais acontecer, porque o agressor "arrependido" chorou, implorou para ser perdoado... Mas dá um dia, e tudo volta como era antes: tapas ultrajantes no rosto porque falou algo que o "macho" não gostou, é porque anda "saidinha" porque conversa animadamente com o vizinho... A vítima considera o comportamento normal, de homem ciumento latino.
Essa doença de amar o agressor pode ter consequências ainda mais desastrosas: abusos contra os filhos do casal, enteados, sobrinhos! SIM! SIM! Com medo de perder o homem que ama, a mulher muitas vezes silencia sobre o abuso sexual sofrido pela filha, pelo filho... Passam-se anos de silêncio e infância perdida.
O filme "Precious", que entrou em cartaz no Brasil durante o carnaval, retrata essa situação macabra que comentei no parágrafo anterior. A menina é abusada sexualmente pelo proprio pai desde os 3 anos de idade, e a mãe silencia para não perder o homem que ela ama. Ela é contra aquilo, mas silencia porque pensa que sem aquele homem ela não consegue viver.
O pai de Precious é um viciado em drogas e vendedor de drogas. E quando ele vai embora, a mãe de Precious a culpa implacávelmente. A garota está grávida do segundo filho gerado pelos estupros praticados pelo pai dela, sendo a primeira filha portadora da Sindrome de Down, a qual é criada pela a vó de Precious. A mãe cria muita raiva da menina pelo fato do macho dela te-la deixado, e agride a garota constantemente, a assedia moralmente chamando-a de burra e que nunca vencerá na vida, quem ela pensa que é, que ela se acha muito mulher porque engravidou duas vezes... Esse filme me arrancou lágrimas, me deu aperto no peito, porque isso é tão corriqueiro, ocorre embaixo dos nossos narizes, e a omissão se perpetua. Baseado em um livro, que conta a volta por cima da vitima de violência sexual e violência doméstica. A mocinha tinha 16 anos na época.
Como se pode ver, o problema é bem complexo. Assim como qualquer doente, a vitima de violencia domestica que reluta em denunciar o agressor precisa de ajuda para isso, entretanto, ela tem que reconhecer que é uma pessoa que precisa de ajuda em primeiro lugar para superar a maldita dependencia com o agressor. Porque afinal não há como ajudar alguem que não se ajuda.
A dependência da vitima em relação ao agressor é como a dependência do álcool, cigarro e drogas ilicitas: a pessoa pode até se dar conta ou não se aquilo lhe faz mal, mas para se livrar do vício, ela precisa se ajudar, mas esse empurrão tem que vir de fora também, porque a vítima de violência doméstica, assim como o viciado, o que menos eles têm é o amor próprio, consumido pelo vicio.
No caso da violência doméstica, o agressor cria um ambiente que faz com que a vitima acredite que ela sem ele é um nada, uma ninguém, o cocô do cavalo do bandido. E caso o agressor não consiga seu intento com isso, ele pratica agressões maiores porque ele não consegue segurar "o brinquedinho dele", para compensar as fustrações pessoais dele por ser um fracassado, um invejoso (muito agressor tem inveja de sua vitima), um zero a esquerda.
O agressor impede que a vitima procure ajuda, a isola da familia e amigos, para que ele continue com o seu intento: DESTRUIR A SUA VITIMA!
O prazer em destruir alguém mais fraco emocionalmente que ele é a meta, para que se sinta melhor em seu complexo de inferioridade, já que a sua vitima é mais bem sucedida que ele, ganha mais que ele, ou até o agressor é pobre, mas inveja a sua vitima que tem mais capacidade de dar a volta por cima do que ele, vai a luta, trabalha, e não fica como o agressor que bota a culpa no mundo por ele ser daquele jeito, de ser um fracassado. Aí para enfraquecer a sua vitima, o agressor usa métodos que a aniquilem, que a humilhem a tal ponto, que faça a vitima acreditar que ela sem ele não é nada e que o amor por ele é a unica coisa que a mantém viva e a faz ser alguém.
E agora parto para outro ponto que se liga ao tema: a sociedade cria a mulher para amar (ser amada não e tão importante), ser boa mãe, boa esposa, aguentar os trancos do casamento, porque a boa esposa tolera tudo... E quando o marido não é bom marido? Fica a icógnita.
Aí quando essa vitima resolve abandonar o marido, prestar queixa, pô-lo na cadeia, aí a mulher é a vilã, a malvada, e por romper esses valores impostos a ela, é culpabilizada pelo que aconteceu, com o famoso "apanhou? É porque tava merecendo!". A vitima se constrange por isso também, portanto o problema da não denúncia não parte somente de amar o agressor, mas do medo de ter o nome jogado na lama e expor a sua intimidade, expor mais ainda os filhos, a familia...
Portanto as vitimas de violência doméstica antes de mais nada, sofrem também com o abandono da familia e amigos se ela sai do roteiro imposto a ela: boa mãe, esposa e saco de pancada. E muitas vezes elas "acham que amam o agressor" por conta disso, vivendo uma fantasia de dependencia que a própria familia e o agressor a fazem acreditar: que ela é um nada sem o marido, e casal que se ama briga, mesmo que role porrada, e depois vem o sexo de reconciliação.
Com todo esse emaranhado, fica difícil vc convencer a vitima a denunciar o agressor. E a sociedade a condena por ser "Maria-sem-vergonha". Um pré-julgamento muito cruel para quem já sofre tanto com o agressor e falta de apoio da familia.
O que precisamos fazer, o que as autoridades precisam fazer? PRECISAMOS PARAR DE TRATAR VIOLÊNCIA DOMÉSTICA COMO ASSUNTO PRIVADO!
Por quê? Muito simples! Essas pessoas que sofrem abusos se tornam os futuros agressores, futuras vítimas de homicídio ou lesáo corporal gravíssima (como um aleijão) e futuros delinquentes, o que gera um enorme prejuizo social.
Esmiuçando melhor: os agressores, em sua grande maioria, são criados em lares desestruturados, com pais violentos, mães submissas, irmãs sendo estupradas a olhos vistos e eles consideram isso normal. A vitima também pode ser criada em lar assim e achar isso natural, corriqueiro como respirar. A vítima, a qual é condicionada a aceitar a situação, cria-se para ela o circulo vicioso dos sem esperança, dos que sempre tem que depender de alguém para se sentirem pessoas, seres humanos.
Os delinquentes? Vem desses lares desestruturados, dado a revolta que eles sentem contra todos e contra o mundo. Tudo é culpa do mundo pra eles, se sentem sós porque ninguém os ajuda quando pedem socorro, e o pior: quando a criança conta algo que acontece com a mãe dentro de casa, ainda tem gente que diz que criança fantasia. Fantasia? E onde eles acham tanta riqueza de detalhe sórdido, os palavrões? Em filme americano?
A justiça brasileira bota a chance de reconciliação em casos de violência doméstica, como se fosse um simples caso de separação, na qual o casal não se tolera mais e não quer mais viver sob o mesmo teto.
Sincermaente, a lei no Brasil já começa agindo errado! O Brasil e a historinha do "tapinha de amor não dói". Até a víitma aparecer morta em mais um crime bárbaro que choque o país, para todos ficarem com cara de empada vencida do "ó que tragédia". TRAGÉDIA EVITÁVEL NÁO É?
E quando a vitima cria coragem, leva tudo adiante? Socialmente, basta por na cadeia o agressor que tudo se resolve. NÃO! NÃO RESOLVE!
Por que? Assim que o agressor sair de lá, vai caçar a sua vítima que virou a sua algoz colocando-o na cadeia, podendo até elimina-la. O que se deveria fazer? Acompanhamento psiquiátrico para todos: agressor, vítima e família.
Sim! A violência doméstica afeta a todos do circulo da vitima, principalmente se ela tem filhos com o agressor. E o agressor sendo punido simplesmente, sem ajuda psiquiátrica, ele vai criar um odio mortal contra a sua vítima. Não precisamos de formação de médico psiquiatra para nos darmos conta de como o psicopata age com o ódio extremo. Aqueles psicopatas que aparecem nos filmes e novelas são uma amostra do que alguém com ódio pode fazer. Mas fazemos de conta que na vida real não seria assim, porque a dramaturgia exagera um pouco. sim, pode até ser, MAS O PSICOPATAS EXISTEM E SÃO PERIGOSOS!
Como advogada vi absurdos proferidos em Varas de Família, em justiça criminal, tratando o caso como briga passageira. Muitos juizes e Promotores não saem da torre de marfim e ficam proferindo decisões baseadas em doutrinas que leram e não na vida prática.
Esquecem os operadores do direito que a lei também deve se moldar à realidade, mais conhecido entre os juristas como equidade, que é uma forma de se aplicar o Direito, sendo o mais próximo possível do justo para as duas partes. A equidade completa o que a justiça não alcança somente com a lei. Por mais taxativa que a lei seja, o juiz tem a liberdade de julgar conforme seus principios e conforme o clamor de justiça da sociedade. O que juiz não pode fazer é legislar em cima do legislado. E a equidade passa longe de legislar.
Colocando todos esses pontos, podemos notar como amar o agressor, a criação das mulheres e a omissão de quem poderia ajuda-la somente aumentam o quadro trágico da violência doméstica no Brasil.
Preciso colocar que violência contra a mulher, contra as crianças e contra os idosos é praga mundial, e até na "avançada europa" temos casos absurdos. Náo é exclusividade "terceiro mundista". O diferencial é que paises europeus como Noruega, Suécia, Reino Unido, Dinamarca entre outros, tratam a violência doméstica como problema social.
Nesses paises há orgãos do governo que ajudam vítimas e auxiliam agressores tambem com psiquiatras e psicologos. Há também política de educacão com os jovens de que violência nao é normal. Professores e, educadores são treinados para notarem qualquer comportamento que indique violência dentro da casa de crianças e adolescentes, porque isso afeta a vida social de quem presencia também, incluindo o baixo rendimento escolar.
Uma lição de casa que o Brasil precisa aprender, porque não basta a Lei Maria da Penha. Aliás, dou vivas à Maria da Penha pela sua coragem em processar o Brasil por violação aos direitos humanos na OEA, pelo fato da justiça brasileira se omitir em punir um monstro assassino!
Depois de toda essa exposição sobre o assunto, peço a reflexão dos leitores para que se mude a idéia de que mulher que não denuncia é sem-vergonha e gosta de apanhar, ou que a menina de 13 anos não denuncia o estupro dentro de casa foi porque gostou... Temos o temor reverencial, a dependência e o amor ao agressor, incutido na cabeça das vitimas pela propria sociedade que as julga implacavelmente, em jogo de gato e rato. Não é somente o agressor que consegue acabar com a vitima. Nós mesmos conseguimos acabar com as vitimas de violência doméstica pela omissão, e a lei e a justiça aniquilam a vitima por tratar o assunto como privado.
Esse assunto é muito extenso e tive uma enorme dificuldade para resumir meu pensamento. Pessoalmente eu passaria no minimo 3 horas explicando o meu raciocinio, porque o assunto "a doença de amar o agressor" é extenso para resumir. Eu poderia citar psicologos e psiquiatras que falam sobre o assunto de forma bem exemplificativa, porém isso tornaria o meu texto menos dinâmico e maçante para o leitor.
E meus agradecimentos à José, que me deu essa oportunidade de vir até aqui e esclarecer o que é "a doença de amar o agressor.
Saudações a todos os leitores e leitoras do blog.
Ana Paula Ferraz.
Nota do editor
Republiquei acima o texto da Ana Paula Ferraz juntamente com o texto da Rosemeire Zago, que foi uma colaboração da Enfermeira Jaqueline.
Ótimos textos!
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