sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Governo em desespero por causa do câmbio

Oito anos depois: governo vê ameaça do câmbio 

BC cria compulsório sobre carteira de câmbio dos bancos é a manchete do Valor Econômico em 06/01/2011 

O Banco Central (BC) anunciou medida para redimensionar posição de câmbio vendida dos bancos. Em nota, a autoridade monetária diz que os bancos deverão recolher como depósito compulsório 60% sobre a posição de câmbio vendida que exceder o menor dos seguintes valores: US$ 3 bilhões ou patrimônio de referência, o  compulsório será recolhido em espécie e não será remunerado. As instituições terão 90 dias para se adequar à nova regra.
O BC lembra que, em dezembro de 2010, as instituições financeiras elevaram suas posições vendidas em câmbio para US$ 16,8 bilhões.
O diretor de Política Monetária da autoridade monetária, Aldo Mendes, explica logo mais a medida, que está na Circular 3.520, já divulgada no Sibacen.
(Azelma Rodrigues | Valor)


Este blog tem alertado desde o início do primeiro governo Lula sobre o perigo da desindustrialização brasileira e exportação de empregos para a China. 
Vou republicar, abaixo, minhas postagens daquela época falando sobre o assunto. 
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Antônio Ermírio de Moraes na Folha de São Paulo de 10/09/2006 
Não dá para aceitar que muitos investidores venham a reduzir os investimentos no Brasil. Mas, infelizmente, é verdade, nos últimos três anos, os investimentos produtivos no Brasil caíram cerca de 48% .
E os analistas apontam as razões. Com taxas de juros reais que se mantiveram em patamares estratosféricos -acima dos 10%- por três anos a fio, é claro que muitos produtores desanimaram e, em lugar de investir em atividades produtivas, decidiram emprestar seus recursos ao governo, cuja dívida interna assume proporções preocupantes.
Por cima de tudo, esses mesmos produtores assistem, no dia-a-dia, às promessas de redução de impostos nas falas do governo e pelo contrário ao aumento efetivo dos tributos na prática de seus negócios.
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João Sayad na Folha de São Paulo de 11/09/06 
Em verdade, para o Brasil, existe solução fácil, ainda que imperfeita: juros menores e câmbio maior. 
Em ramos como têxteis, calçados, brinquedos e móveis, a valorização do real,enquanto a macroeconomia chinesa mantém o yuan depreciado à custa de centibilionárias intervenções no mercado de dólar, é perniciosa aos produtores brasileiros.
Já se observa uma queda expressiva na produção, nos investimentos e nas exportações de bens intensivos em trabalho. Não há avanços em setores mais ricos em tecnologia ou intensivos em escala que possam compensar aquela tendência.
O real forte ajuda a estabilizar a inflação e a modernizar a indústria, barateando as importações de máquinas e equipamentos, pode conduzir à desestruturação de amplos setores da indústria brasileira. 
Tem sido paupérrima a reação da elite política brasileira diante do leque de oportunidades e de ameaças gravíssimas que a afluência da China na América Latina vem acarretando. Que o tema n que seja ignorado no pensamento estratégico dos principais candidatos ao Planalto é indesculpável.

Antônio Ermírio de Moraes na Folha de São Paulo de 10/09/2006 
Não dá para aceitar que muitos investidores venham a reduzir os investimentos no Brasil. Mas, infelizmente, é verdade, nos últimos três anos, os investimentos produtivos no Brasil caíram cerca de 48% .
E os analistas apontam as razões. Com taxas de juros reais que se mantiveram em patamares estratosféricos -acima dos 10%- por três anos a fio, é claro que muitos produtores desanimaram e, em lugar de investir em atividades produtivas, decidiram emprestar seus recursos ao governo, cuja dívida interna assume proporções preocupantes. 
Por cima de tudo, esses mesmos produtores assistem, no dia-a-dia, às promessas de redução de impostos nas falas do governo e pelo contrário ao aumento efetivo dos tributos na prática de seus negócios.
Escrito originalmente em AMOR, ORDEM E PROGRESSO 

TRISTE 2007
O problema central da economia brasileira está nos juros escandalosos e no câmbio sobrevalorizado, não na falta de gastos correntes.
Para o Brasil crescer 5% em 2007, duas coisas precisam ser feitas ao mesmo tempo reduzir os gastos públicos, é necessário cortar o gasto corrente no limite e reduzir a taxa de juros real para abaixo dos 9%, que o Banco Central entende como sendo a "taxa de juros de equilíbrio".
Se fizer isso e aumentar o investimento público, o setor privado também aumentará seus investimentos, e o país crescerá.
Falta capacidade e coragem de enfrentar os rentistas e tudo indica que nada será feito, apenas algumas medidas tímidas que nada resolvem. 
A atual política econômica é constituída pelos diagnósticos, conselhos e pressões que os países ricos fazem a seus competidores países em desenvolvimento, essa ortodoxia está cumprindo sua missão: reduzir a capacidade competitiva do Brasil. Não consegue mais fazer isso na Argentina ou na Rússia, nunca conseguiu na China ou na Índia, mas, no Brasil, onde a idéia de nação está quase perdida, ela é bem-sucedida.
Não há razão para otimismo no Brasil: triste será 2007, tristes provavelmente serão os próximos quatro anos. 
Adaptado do texto de Luiz Carlos Bresser Pereira na FSP de 18/12/2006
Escrito originalmente em AMOR, ORDEM E PROGRESSO 


Fábricas saem do País para manter vendas
Empresas brasileiras de calçados buscam produzir em lugares como a Índia para conseguir acompanhar a concorrência de produtos chineses e indianos
Caso a cotação do dólar continue dificultando as exportações dos calçados brasileiros, as etiquetas Made in Brazil, que costumam figurar nas solas de sapatos vendidos em lojas de departamentos mundo afora serão coisa do passado. Para sobreviver ao câmbio e não perder espaço no mercado internacional, indústrias nacionais estão deixando o País para fabricar no exterior.
Fonte: Jornal da Tarde de 04/06/07

Até quando o Brasil vai aguentar a perda de fábricas com a consequente exportação de empregos para a China? 
Escrito originalmente em AMOR, ORDEM E PROGRESSO

Piso de R$ 1,65?  O Japão é o limite* 
De um estrategista de mercado que vem acertando a trajetória do câmbio há pelo menos dois anos:
R$ 1,80 por dólar é o câmbio que zera a conta corrente. Teoricamente seria o câmbio de equilíbrio  se o Banco Central deixasse tudo solto.
Como há um diferencial de juros expressivo entre taxas internas e externas, o câmbio é puxado mais para baixo ainda. Se o Banco Central parar de intervir no mercado, como fez ontem, a aposta é que o dólar bate rápido em R$ 1,65. A única alternativa seria o Banco Central a partir da próxima reunião do Copom anunciar quedas de 0,75 na taxa Selic.
Copiado do blog do Luis Nassif de 15/05/2007

Meu comentário:
Tomara que chegue logo a R$ 1,00
Quanto mais depressa melhor, assim termina logo esta agonia, em seguida o dólar explode e vai a R$ 3,00 ou um  pouco mais R$ 3,20 que deveria ter sido desde o início do grupo Lulla o piso ideal para a moeda americana.
Para que o dólar estivesse neste patamar nossa taxa selic estaria próxima do 6%, nossa dívida pública seria a metade do que é hoje, graças ao valor economizado com o pagamento dos juros,  nosso desemprego estaria em  5%, nossas exportações teriam triplicado e nossas reservas cambiais estariam em mais de U$ 300 milhões.  
 * Por que o Japão é o limite? Por que,  caso o buraco seja muito fundo do Japão não passa.  

Dólar barato e os espertos
Um fabricante de parafusos em Curitiba, nos últimos dois anos empreendeu um esforço hercúleo e ganhou 20% de eficiência. Sua fábrica tem a menor relação produto/energia consumida do estado. Seria um campeão em qualquer economia normal, candidato a crescer vigorosamente e a investir.
No entanto, todo esse esforço permitiu-lhe apenas a sobrevivência, porque concorrentes menos eficientes (porém mais espertos) passaram a importar parafusos da China, beneficiados pelo câmbio esperto.
Ganham os importadores, perdem os exportadores, perdem os trabalhadores, perdem os competidores nacionais, ganham eventualmente alguns setores mais voltados para o mercado interno e a salvo da concorrência internacional.
Todas essas minúcias são deixadas de lado. Segundo o grande Natn, o mundo está dividido entre ineficientes que perdem e eficientes que ganham. 
Seria mais sincero dizendo que não são necessariamente os eficientes que ganham: são os “espertos”. Mas não seria esperteza admitir que suas afirmações são pura esperteza, para não espantar os “patos” que caem no conto do clichê.
Copiado do blog de Luis Nassif de 15/05/2007 

Diferencial de juro estimula especulação 
Com juros reais negativos nos EUA, o Brasil fica ainda mais atraente para o investidor estrangeiro por conta do diferencial entre os juros internacionais e os locais. Os títulos do governo brasileiro pagam hoje uma média de sete pontos percentuais a mais que os papéis do Tesouro americano, já descontadas as respectivas inflações.
No caso da Bolsa, o país também pode oferecer perspectivas melhores de retorno para as empresas, considerando que a economia americana enfrenta -ou caminha para- uma recessão, com crescimento anual previsto de 1%, enquanto no Brasil a previsão é de alta de 5% do PIB.
Os efeitos de curto prazo desse diferencial de juros na economia se traduzem em uma apreciação do real, que se soma a uma desvalorização internacional do dólar -política que ajuda os EUA a venderem mais no exterior e a atraírem capitais, financiando o fim da recessão.
Quando entra no Brasil, o estrangeiro lucra duas vezes: primeiro, com o retorno maior, seja por juro alto ou alta das ações; depois, com o câmbio, já que o real tem comprado sempre mais dólares meses depois, na saída.
O esquema permite uma das operações financeiras mais rotineiras envolvendo países emergentes, o chamado "carry trade". Investidores emprestam dinheiro com juro baixíssimo nos EUA, Europa e Japão para investir em emergentes como Brasil, Leste Europeu e Turquia. Com o ganho no país emergente, pagam o empréstimo original e ainda embolsam uma soma considerável.
"A redução dos juros nos EUA torna ainda maior o nosso diferencial de taxa. Além de um porto seguro, o Brasil ainda paga sete pontos percentuais a mais de juros. Isso vai trazer mais dólares. Não sei como o governo pensa em equacionar a questão cambial", disse Jason Vieria, da UpTrend.
E esse quadro pode ser acentuado, caso o Banco Central brasileiro resolva subir os juros para conter eventual pressão inflacionária, como sinalizou o Copom. "A ata do Copom foi alarmista. Não há motivo para subir o juro. Os outros países estão baixando os juros, e não há perspectiva de aumento inflacionário", disse Alcides Leite, da Trevisan.
Leite reconhece que o diferencial de juros existe, mas relativiza seu impacto em momentos de turbulência. Ele afirma que o diferencial servirá para "tapar o buraco" que se abre com o aumento da aversão ao risco, que prejudica o Brasil. "Um anula o outro, e fica na mesma. O diferencial de juros é grave, mas não maior do que já era."
Para Fernando Blanco, presidente da Coface, empresa de seguro de crédito, o governo brasileiro não deixará o país virar um "cassino" para especulação com diferencial de juros. "Quem vai peitar um Banco Central com US$ 190 bilhões de reservas? O governo já mostrou que está atento e não vai deixar a moeda se fortalecer por uma questão temporária. Depois que o mundo se regulariza, esse dinheiro sai e causa volatilidade. O país é um porto seguro porque a economia está blindada."
De TONI SCIARRETTA na Folha de São Paulo de 19/03/2008 
Escrito originalmente em AMOR, ORDEM E PROGRESSO
Heiner Flassbeck: economista-chefe da Unctad; Para o ex-secretário de Finanças da Alemanha, a valorização do real resulta da especulação com os juros altos no País 

O real está sendo vítima de “um verdadeiro cassino internacional.” O alerta é de Heiner Flassbeck, ex-secretário de Estado do Ministério das Finanças da Alemanha e atual economista-chefe da Conferência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento (Unctad). Segundo ele, a valorização da moeda brasileira está sendo resultado não apenas dos bons fundamentos da economia do País, mas, principalmente, da entrada de capital externo em busca de ganhos com a taxa de juros. “Essa situação não é sustentável para as exportações brasileiras no médio prazo”, alertou Flassbeck. O problema, segundo ele, é que os investidores estão tomando dinheiro emprestado no Japão, a custo próximo de zero, e o levam para o Brasil para aproveitar a alta taxa de juros. A seguir, os principais trechos da entrevista concedida ao Estado.

Como o sr. vê a turbulência internacional atingindo o real?

O que vem ocorrendo é que investidores estão usando o mercado brasileiro e o real para ganhar milhões. Obviamente que o governo diz que a valorização do real é causada por uma situação econômica estável e, em parte, isso até pode ser verdade. Mas o problema é outro e nenhum governo gosta de admitir isso. A realidade é que há um verdadeiro cassino internacional acontecendo e o Brasil está sendo uma de suas vítimas. 

De que forma o Brasil está sendo vítima? 

Investidores, temendo a fraqueza do dólar, estão buscando não apenas as commodities para obter lucros, mas também moedas de países com certa estabilidade, mas ainda com taxas de juros altas. O Brasil está exatamente nesse caso e trata-se de um fenômeno que já vem ocorrendo há alguns meses e se intensificando. Um investidor ou um fundo toma dinheiro emprestado no Japão com taxas muito baixas e até próximo de zero e leva para investir no Brasil, com juros bem maiores. 

Quais são os impactos disso?

Os ganhos são certos para esse investidor, mas não necessariamente para a economia do País. A entrada de dólares pressiona o real. Se a crise internacional continuar afetando o dólar, esse fenômeno vai continuar afetando o Brasil e não é impossível que o País se encontre em uma situação parecida com a dos anos 90, quando a moeda estava supervalorizada. 

O sr. acredita em perdas para as exportações nacionais?

Essa situação não é sustentável para as exportações brasileiras no médio prazo. 

A crise de hoje surgiu nos países ricos. Qual está sendo o papel dos mercados emergentes?

As reservas acumuladas nos países emergentes estão, na prática, financiando os desequilíbrios nas contas das economias ricas. Esse fluxo já vem ocorrendo há dois ou três anos, principalmente na China e com a renda do petróleo. Mas agora se fortaleceu. 

Reportagem de Jamil Chade, 
Fonte: O Estado de São Paulo de 21/03/2008 
Escrito originalmente em AMOR, ORDEM E PROGRESSO




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