Os limites da bronca
Se seu filho insiste em desobedecer, você pode estar falando o que não devia. Veja 9 frases vetadas por especialistas
Foto: Getty Images
Na luta por colocar limites em seus filhos, pais podem notar que algumas táticas estão longe de causar o efeito necessário. Na verdade, algumas atitudes chegam a acarretar o resultado contrário. Antes de culpar as crianças, os pais devem prestar atenção se estão dando bronca direito – e “direito” não significa com cara de bravo ou com ameaças assustadoras. Muito pelo contrário.
Ações como gritar excessivamente e bater são vetadas por psiquiatras, psicólogos e psicopedagogos. De acordo com Içami Tiba, autor de “Disciplina: Limite na Medida Certa” (Integrare Editora), as crianças aprendem com o que os pais fazem. Se eles batem na criança, “o filho aprende a linguagem da violência”. A psicopedagoga Larissa Fonseca afirma que tanto gritar quanto bater demonstram falta de controle pessoal dos pais, o que é bastante danoso para a criança. “Gritar é mostrar que a criança te afetou – e ela adora isso”, afirma Larissa.
Leila Tardivo, professora do Instituto de Psicologia da USP, explica que as crianças, como todas as pessoas, precisam de atenção. “Se os pais só olham para a criança quando ela faz algo de errado, ela continuará fazendo isso”, fala. Na opinião de Dora Lorch, psicóloga e autora do livro “Superdicas para educar bem seu filho” (Editora Saraiva), educar é passar por certos desconfortos. Ou seja, dar bronca é chato e prometer um chocolate para a criança parar de chorar parece bem mais fácil. Só que os pais precisam estar preparados para se posicionar quando as desobediências acontecem.
Mas como se posicionar corretamente? Consultamos especialistas que resumiram 9 frases que não devem ser ditas para a criança.
1. “Não te amo mais”
“A criança é muito mais frágil que o adulto. Tudo que se fala ganha uma dimensão maior”, comenta Dora Lorch. Portanto, ouvir uma frase destas da boca dos pais pode causar estragos. Larissa Fonseca explica que esta falta de aceitação pode ser muito forte. “A criança não consegue entender a complexidade do mundo, e alguns adultos não têm consciência disso”, diz Larissa.
2. “Você é feio”
Xingamentos e palavras feias podem afetar a formação da autoimagem, explica Leila Tardivo. Repetidos excessivamente, também podem ser considerados violentos. Larissa Fonseca aponta que existe uma diferença sutil, mas essencial entre “você é feio” e “o que você acabou de fazer foi muito feio”, que desloca o adjetivo negativo para a ação e não para a criança.
3. “Vou te matar”
“O que traz a educação é a firmeza, e não a agressividade”, diz Içami Tiba. Ameaças do tipo servem apenas para criar medo nas crianças, o que, segundo o psiquiatra, não leva a lugar algum. “O medo não educa, só traumatiza”, diz Içami. A longo prazo, a intimidação tampouco é efetiva e esvazia o discurso dos pais, já que eles obviamente não vão cumprir o que prometeram. “Primeiro, as crianças sentem um desamor muito grande. Depois, quando descobrem que as ameaças não funcionam, não levam mais os pais a sério”, afirma Dora Lorch.
4. “Nunca mais te trago aqui”
Como a noção temporal das crianças é diferente, as punições precisam ser imediatas.
Este tipo de ameaça também não faz efeito por ser mentirosa. “As crianças sentem que estão sendo enganadas. E isso não faz bem para elas”, diz Larissa. Dora Lorch aponta que ameaças do tipo, assim como “você nunca mais vai ver televisão” ou “nunca mais vou falar com você”, passam uma ideia ambígua para criança, o que prejudica a sua formação moral.
5. “Você puxou o seu pai” ou “Você é igualzinho a sua mãe”
Quando os pais estão separados e há algum conflito entre ambos, não é nada saudável usar este tipo de frase. Segundo Leila Tardivo, as crianças entendem que elas são parecidas com a parte rejeitada – e se sentem dessa forma.
6. “Se ficar bonzinho, dou um chocolate para você”
Comportar-se bem, arrumar o quarto, guardar os brinquedos ou fazer a lição de casa são responsabilidades dos filhos, por isso eles não precisam ganhar nada em troca quando fazem isso. Quando os pais fazem estes acordos de maneira repetida, os filhos podem achar que não se tratam de deveres. “A criança precisa aprender a fazer as coisas por responsabilidade, e não porque vai ganhar algo”, diz Larissa.
7. “Para com isso, todo mundo está olhando!”
Esta frase é mais fruto do embaraço dos pais que um tipo de bronca para os filhos. Segundo Içami Tiba, ela também passa a mensagem da “campanha da boa imagem”, quando a criança só tem que parecer educada para os outros. “O que os pais estão falando é um problema deles. As crianças não ligam para o que os outros estão vendo”, explica.
8. “Fica quieto!”
No geral, as crianças tendem a atender ordens mais específicas. Quando escutam frases como esta, elas se confundem. “Ela não sabe se é para parar de falar, de pular ou de fazer o que está fazendo”, diz Dora Lorch. Os pais devem apontar exatamente o que eles gostariam que a criança fizesse.
9. “Limpe já seu quarto, senão você vai ficar de castigo”
“Quando um adulto coloca um ‘senão’ do lado de suas ordens, isso quer dizer que ele não acredita muito nelas”, diz Dora Lorch. Isso demonstra que os próprios pais já estão negociando, o que faz com que as crianças não respeitem as ordens dadas. Os “senões” só podem aparecer quando a criança questionar muito. “Firmeza é dizer que não pode, e não poder mesmo”, resume Içami.
Camila de Lira, iG São Paulo | 09/01/2011 09:48
Limites: essenciais para a criança
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Não somos anjos: crianças precisam de limites para atingir seu pleno desenvolvimento
A imposição de limites, escolhida como grande desafio da educação pelos leitores do iG Delas, não pode ser "terceirizada" - e é fundamental para os filhos
Cuidados, amor e atenção: todos os pais sabem bem como agradar seus filhos. Mas, depois do amor, a coisa mais importante que eles podem dar aos filhos tem sido esquecida, muitas vezes confundida com repressão: disciplina.
Para o pediatra e psiquiatra infantil T. Berry Brazelton, autor de livros como "Disciplina: O Método Brazelton" (Editora Artmed), a maior necessidade de uma criança, depois de amor, é disciplina. Mas falta a muitos pais conhecimento - para estabelecer os limites corretos, sem reprimir os filhos - e firmeza - para fazer com que eles sejam cumpridos sem lançar mão das palmadas.
Ao longo do ano, o iG Delas tratou do assunto muitas vezes, sob enfoques diversos. Se o bebê passa por uma fase narcisista natural, depois de certa idade ele precisa de disciplina - e é mais fácil estabelecer limites antes dos 7 anos.
Mesmo estabelecendo regras, rotinas e desenvolvendo um vínculo saudável com a criança, ela vai testar os limites impostos. Nessa hora, entender o papel da birra e saber como reagir são armas essenciais. Tudo para não perder a cabeça e acabar dando palmadas na criança -- ainda que tenham finalidade pedagógica, elas não são necessárias.
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