QUEM É mais observador já percebeu que, desde o início da crise aguda no sistema financeiro internacional, houve uma certa trégua no combate à equivocada política brasileira de juros. Entendeu-se que a incerteza gerada pelo colapso no sistema financeiro mundial justificava uma parada para reavaliação do cenário.
Passados, porém, três meses desde o fatídico 15 de setembro e tendo o Banco Central do Brasil tomado a decisão de manter por mais 45 dias a absurda taxa básica de juros de 13,75% ao ano, a trégua terminou.
Não dá para entender em que mundo vivem os diretores do Banco Central. Se olharem para fora, verão que os principais BCs do mundo cortaram drasticamente suas taxas de juro nos últimos três meses. O Fed, dos EUA, cortou 50% da taxa, ou seja, de 2% ao ano para 1%, e deverá fazer um novo corte hoje. O ortodoxo BC europeu baixou de 4,25% para 2,5%. Gastaria todo o espaço deste artigo se escrevesse aqui a lista completa dos países que cortaram juros, desde Japão até Portugal, França, Reino Unido, Índia, Canadá, Holanda, Vietnã etc. etc. etc.
Os bancos centrais fizeram isso por duas razões: primeiro porque desapareceu o risco de inflação, o velho inimigo número um. A preocupação atual é com a deflação, que já se manifesta em muitos países. Na Alemanha e no Japão, por exemplo, os preços no atacado já apresentam quedas históricas. As cotações das commodities internacionais, inclusive do petróleo, caíram mais de 60%. Segundo porque o desaquecimento foi ainda mais rápido do que se esperava, e vários países já estão em recessão. Nessas circunstâncias, o juro baixo e o crédito amplo passam a ser o oxigênio para a recuperação.
No Brasil, não é diferente. Todos os índices de inflação estão em queda. O IGP-DI, da FGV, subiu apenas 0,07% em novembro e os preços no atacado registraram deflação de 0,17%. A economia esfria a olhos vistos. A primeira estimativa do comportamento da indústria em novembro, elaborada com base no consumo de energia, mostra queda de 6% sobre outubro.
Entre as várias analogias usadas sobre a economia, a mais adequada é a que a compara a um trem. Não é possível acelerar nem frear muito rapidamente. Quando se aumenta a velocidade, é preciso esperar um tempo até que o trem alcance a velocidade desejada. Os bancos centrais do mundo inteiro estão fazendo isso agora: aceleram para que a economia volte a avançar em 2009 ou em 2010. Aqui no Brasil, o BC faz o contrário: pisa no freio.
A esta altura da crise, soa até ridículo alinhar argumentos a favor da queda dos juros. Isso é uma obviedade ululante, como diria Nelson Rodrigues. Só uma rebeldia juvenil do Banco Central pode justificar a manutenção da taxa de 13,75%, que já era exagerada em tempos de prosperidade e virou excêntrica em um momento de gigantesca crise.
Vale lembrar que essa atitude tem custo direto e elevado. Estima-se que cada ponto percentual na taxa Selic aumente em R$ 10 bilhões os gastos anuais do governo com a dívida pública. Esses recursos seriam muito mais bem aplicados em investimentos públicos, tão necessários na batalha que se começa a travar contra a recessão e o desemprego. O trem da economia não terá como andar se, enquanto uns tentam acelerar seu ritmo com medidas anticíclicas, outros pisam no freio por simples rebeldia juvenil ou para reafirmar sua autonomia.
Texto de BENJAMIN STEINBRUCH , 55, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
Na Folha de São Paulo de 16/12/08
Comentário nesta terça-feira 16/12/08 o FED baixou ainda mais as taxas de juros
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