Os ricos não gostam de pegar em dinheiro. Por isso inventaram o talão de cheques e o cartão de crédito, sem falar no seu velho e respeitável substituto, o calote. Homens como Onassis, J. Paul Getty e Antenor Patiño, que eram podres de ricos, passavam anos sem tocar numa cédula. Seus acompanhantes pagavam tudo por eles, à vista ou com cartão. E ai de quem não prestasse contas direito.
Nossos governantes e ministros também não gostam de pegar em dinheiro. Nem precisam. Seus assistentes, motoristas ou aspones encarregam-se das despesas, com os cartões corporativos que recebem juntamente com a carteira funcional, as chaves do carro e o terno preto. A diferença está na prestação de contas. Onassis, Getty e Patiño eram rigorosos ao conferi-las, porque, afinal, tratava-se do dinheiro deles. Já nossos mandantes, liberais com o dinheiro público e eufóricos com o "nouveau-richisme" de seus cargos, não parecem ter muita paciência para conferir números.
É essa liberalidade que explica seus gastos com mesas de sinuca, lojas de enxoval, piscinas, colchões, flores, vinhos, bombons, carnes importadas para churrascos e outros itens do Carnaval governamental -com todo respeito pelo Carnaval. No Japão, a compra indevida de uma tapioca (R$ 8,30) com o cartão corporativo faria o responsável atirar-se do 65º andar em sinal de vergonha. Aqui, basta devolver o dinheiro para que a nódoa ética seja considerada apagada.
Mas o grande cartão corporativo é o que o governo passou para si mesmo ao criar exóticas "secretarias especiais", como a da Aqüicultura e Pesca, a de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, a de Políticas para as Mulheres, a de Planejamento de Longo Prazo etc. Todas com peso e despesas de ministério, e tão deslumbradas quanto.
De Ruy Castro na Folha de São Paulo de 09/02/08
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