A entrevista de José Serra ao Zero Hora
(...) Economista formado pela Universidade do Chile e com mestrado e doutorado nos Estados Unidos, o governador paulista brincou que está de férias da profissão, e se esforçou para se apresentar como administrador eficiente e desenvolvimentista. Não deixou, no entanto, de estabelecer o contraponto à atual política econômica do governo federal.
A seguir, os principais trechos da entrevista:
Zero Hora – O governo federal tem apresentado uma série de medidas para dar liquidez e destravar o crédito, como liberar R$ 4 bilhões para financiar a compra de veículos. As medidas foram suficientes ou o crédito ainda está empoçado?
José Serra – O crédito está empoçado, sem dúvida. Aí tem de usar as instituições públicas: Banco do Brasil, Nossa Caixa. Com a taxa de juros do Brasil, é muito mais fácil pegar o dinheiro e, em vez de emprestar, aplicar em juros. Temos a maior taxa de juros do mundo. Aliás, é o único país com uma taxa assim, porque todos os outros países baixaram no meio da crise, e o Brasil, não.
ZH – O senhor teria feito diferente?
Serra – Teria diminuído (a taxa de juros).
(...) ZH – O senhor é um estudioso da crise de 29. Há comparação entre aquela crise e a atual?
Serra – A crise de 29 se prolongou por uma década. Não sei se a atual terá essa profundidade. Isso ninguém sabe, a incerteza é muito grande. No Brasil, a crise impactou por escassez de crédito e também por causa da política anterior do Banco Central de juros siderais e taxa de câmbio arrochada. Os exportadores começaram a perder dinheiro e foram criados mecanismos de compensação. Então, o exportador começou a antecipar receita de exportação com empréstimo. (...) Esse esquema eliminou o cálculo econômico da transação, que envolve produção, custo, produtividade. Criou um esquema de especulação, ou melhor, financeiro com o beneplácito do BC. No momento em que, em vez de ganhar dinheiro vendendo, você ganha especulando, pode cometer exageros. Mas isso foi conseqüência da política errada do Banco Central.
ZH – O Banco Central acertou em ter uma política dura que possibilitou o aumento das reservas e, com isso, deixou o Brasil em posição mais confortável?
Serra – Bom, mas as reservas, se não tivesse arrocho cambial, seriam até mais elevadas. Porque já estamos com déficit em conta corrente. O Brasil conseguiu o milagre de produzir déficit de conta corrente no balanço de pagamentos com alta de preços dos nossos produtos de exportação. Isso é uma façanha mundial, um caso para se fazer tese de mestrado. Como um país gera déficit comercial tendo alta dos preços dos seus produtos?
ZH – Analistas já dizem que o pior da crise passou. O senhor concorda?
Serra – Não sei. Torço para que o pior da crise tenha passado. Agora, acho que aqui dentro temos de fazer o máximo para manter linhas de crédito, manter investimentos públicos, que é o que estamos fazendo no Estado. E ajudar na mobilização do crédito. A intenção do Ministério da Fazenda é a melhor possível, e a gente tem de ajudar e colaborar.
(...) ZH – Muitos especialistas consideram que os efeitos da crise são para o ano que vem. E o senhor?
Serra – Também acho que efeitos da desaceleração vão ser sentidos a partir do primeiro trimestre do ano que vem. (...)
Do blog do Luis Nassif http://www.projetobr.com.br/web/blog/5
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