Boa tarde, Nassif.
Sou Policial Federal e me orgulho muito disso. Mas infelizmente o momento interno da PF não é dos melhores.
Nunca manifestei em blog’s, paineis de leitor e outras coisas do gênero, mera discrição, mas hoje preciso desabafar e você é um dos poucos jornalistas em que confio no momento.
Acompanhei várias investigações podendo citar como principais: “Law Kin Chong (Capela), Maluf (Bob Pai), Máfia do apito (Atenas e Atenas II), MSI/Corinthians (Perestroika) e Daniel Dantas/Naji Nahas (Satiagraha).
E aprendi a observar jornalistas, lendo o que eles escrevem sobre o que vi nesse tipo de trabalho. Muitos “pescam” situações isoladas e depois “complementam” os espaços vagos com suas ideologias, releituras, “outras fontes” etc; por vezes “criando” versões totalmente dissociadas dos fatos.
Você, Nassif, no momento é o que traz notícias e comentários mais próximos à realidade, não questiono se isso é relevante, apenas descrevo um fato, não o vejo comprometido com interesses políticos ou econômicos (o que pra você pode até ser ruim já que muitas vezes a sobrevivência financeira do jornalista depende de agradar os interesses dos financiadores dos meios de comunicação)
Em se tratando da Satiagraha, as informações disponíveis na internet são poucas (em comparação ao volume de dados coletados durante os trabalhos e o número de pessoas envolvidas que não foram presas). Se um jornalista sério tivesse acesso a 10% dos dados coletados já teríamos uma revolução no país, iniciada pela mídia. Muitas vezes me vi tentado a explicar o que muitos leitores questionam em seu blog, mas por motivos legais (sou funcionário público e estaria cometendo crime sujeito a demissão) não posso ajudá-lo, mas posso dizer que “todas as análises que você fez sobre o caso Satiagraha estão corretas”.
Hoje pela manhã recebi a visita de alguns colegas da PF, tinham um mandado de busca e apreensão para cumprir em minha casa, foi chamada de “operação G” (será que o “G” é de Gilmar ???). Acordei minha esposa e meus filhos para que acompanhassem as buscas em nosso apartamento, estavam “procurando grampos ilegais e mídias”, como todo o trabalho em que participei sempre foi respaldado por autorização judicial (seja a interceptação telefônica, ambiental ou ação controlada), não havia nada a ser encontrado, como não
encontraram.
Está apenas difícil de explicar para meus filhos e esposa que eu trabalhei honestamente como Policial Federal, não aceitei a proposta de suborno de um milhão de dólares, encontrei muita prova contra as pessoas que foram investigadas na operação Satiagraha e hoje recebi em minha residência busca autorizada pela justiça de Brasília e cumprida pela PF.
Entendi o recado... se quiser trabalhar, faça o trivial. Se quiser investigar, investigue um “peixe-pequeno” (ou seriam os três “P”), mas o melhor é que até agora não encontrei nenhuma linha na internet dizendo: “Policiais Federais que trabalharam na Satiagraha são alvo de busca e apreensão em suas residências como reconhecimento pelos trabalhos prestados.”
Realmente não é um dia dos melhores, mas com certeza o número de pessoas indignadas com esse tipo de situação está cada vez maior e essa “revolução silenciosa” não vai tardar. É o que penso, espero... peço a Deus.
Comentário
Confirmei com a Comunicação Social da Polícia Federal que hoje de manhã foi deflagrada uma operação visando apurar vazamentos do Satiagraha. Segundo me informaram, está sendo conduzida pela Corregedoria da Polícia.
Força e fé, pessoal!'
Comentário 2
Leio nos comentários que o juiz que autorizou a operação foi Ali Mazloum. Duas informações sobre Mazloum:
1. Ele foi uma vítima da Operação Anaconda. Fui o único jornalista a defendê-lo na época. Todas as referências que tenho sobre ele são positivas.
2. Até por ter sido vítima da Anaconda, Ali Mazloun não poderia ser considerado isento para julgar a Satiagraha. Em vez de ir à forra, deveria ter se considerado impedido.
Os intestinos do Brasil.
Não existem coincidências.
Hoje à tarde, se não optar por um pedido de vistas, o Supremo Tribunal Federal julga o mérito do habeas corpus concedido pelo presidente do Tribunal, Gilmar Mendes, ao banqueiro Daniel Dantas. Decide, em resumo, se Daniel Dantas volta para a cadeia ou se fica solto. Terra Magazine tem informações que levam a esta crônica de um resultado anunciado: se o julgamento se concretizar, prevalecerá o habeas corpus. Daniel Dantas continuará solto.
Como sabe qualquer calouro de Direito, um julgamento desse porte é, será sempre, acima de tudo político, uma vez que argumentos jurídicos para prender ou soltar sempre existirão. Aos magotes.
Julgamento político tendo-se em conta o mais amplo sentido da expressão. Não existem coincidências nesse profundíssimo e já longo mergulho nos intestinos do Brasil.
Ou terá sido coincidência a batida policial da PF contra o delegado Protógenes Queiroz na véspera do julgamento?
Será coincidência? Exatamente no dia em que o STF de Gilmar Mendes se reúne para decidir se prende ou deixa solto Dantas, a mídia ganha como manchete uma investigação contra o delegado que prendeu Dantas, Naji Nahas, Celso Pitta & Cia?
É conhecida a posição do ministro do STF Joaquim Barbosa no caso, ainda que intramuros. O ministro foi contrário à concessão do habeas corpus naqueles termos e daquela forma. Duramente contrário. É coincidência Joaquim Barbosa estar fora do Brasil no dia em que se vota se Dantas fica solto ou preso?
Terra Magazine sabe que o julgamento deveria, a princípio, ter se dado há mais de um mês, no final de setembro. Se dará, no entanto, exatamente quando Barbosa se encontra nos Estados Unidos, acompanhando a eleição que levou Barack Obama à Casa Branca.
Terra Magazine informa, e assegura: o ministro Joaquim Barbosa não soube, não foi informado antes de sua viagem, do julgamento marcado para hoje. O ministro Joaquim Barbosa foi surpreendido nos Estados Unidos pela notícia do julgamento.
Alguém dirá que tanto foi apenas uma infeliz coincidência. O julgamento do mérito se dar exatamente quando não está no tribunal, em Brasília, no país, a pedra no sapato do habeas corpus.
Terá sido coincidência que o mandado para vasculhar Protógones, sua casa e os meios onde guarda informações tenha sido expedido pelo juiz Ali Mazloum?
Em 2004 o STF considerou Ali inocente numa acusação, formulada no rastro da Operação Anaconda, de formação de quadrilha. Gilmar Mendes, Ellen Gracie, Carlos Velloso e Celso de Mello votaram pela absolvição, enquanto Joaquim Barbosa, relator da matéria, foi o único voto contrário.
O também juiz federal, Casem Mazloum, irmão de Ali, também envolvido pela mesma Anaconda admitiu à época: "Cometi um erro ético", sem ser preciso quanto à natureza do erro.
Casem era acusado de pedir grampo telefônico para a ex-mulher de um prefeito e de uso de influência.
A "Anaconda" se deu à época em que Paulo Lacerda dirigia a Polícia Federal e, então, nos desdobramentos do julgamento, adversários de Lacerda na PF e na mídia tentaram atingi-lo.
Coincidência que agora, quando Lacerda segue afastado da Abin à espera do resultado de investigações sobre suposto grampo ilegal, a PF vasculhe a vida de Protógenes com base em um mandado assinado pelo juiz que um dia foi investigado, como seu irmão, pela PF então sob comando de Lacerda?
Coincidência a virulência do delegado Marcelo Itagiba, hoje deputado federal e presidente da CPI dos Grampos, contra Paulo Lacerda? Ele, Itagiba, que já foi Diretor de Inteligência da PF no mandarinato de Vicente Chelotti.
Coincidência Itagiba presidir a CPI dos Grampos? Ele, contraparente de Andrea Matarazzo, importantíssimo personagem na vida do PSDB e de José Serra? Coincidência histórica Marcelo Itagiba, ex-diretor de Inteligência da PF, ter ido trabalhar com Inteligência no ministério da Saúde na gestão do então ministro José Serra?
O que pensa - ou ao menos o que pensava à época de tudo isso - o senador e ex-presidente da República José Sarney? O que pensou e disse, ao menos reservadamente, José Sarney à época em que a PF flagrou uma montanha de dinheiro na campanha pré-presidencial de sua filha Roseana Sarney no célebre "Caso Lunus"?
Coincidências?
Coincidência a PF investigar o delegado Protógenes por vazamento e não investigar a cúpula da Polícia, a quem o mesmo Protógenes acusa pelo vazamento que levou a Folha de S.Paulo a publicar reportagem sobre a operação no dia 26 de abril, quase dois meses antes da Satiagraha?
Os dois maiores suspeitos pelo vazamento da Satiagraha dois meses antes estão sendo investigados pela PF? Serão? Ou tudo será tragado por esse mar de coincidências?
Coincidência que o julgamento do habeas corpus se dê quando o juiz De Sanctis esteja se preparando para anunciar sua sentença sobre o caso Daniel Dantas?
Coincidência que batida da Polícia Federal e tudo mais se dê horas depois de Protógenes dizer aos estudantes da PUC que "Dantas será condenado, e terá condenação pesada" na primeira instância?
Tudo isso é coincidência, ou o julgamento - se ele de fato se concretizar nas próximas horas desta quinta-feira, 6 de novembro de 2008 - terminará, ao final e ao cabo, atingindo a sentença do juiz De Sanctis?
Certamente existem razões jurídicas também para a decisão que deve ser tomada logo mais - se não houver adiamento -, mas não é isso que se discute aqui e, sim, esse extraordinário leque de coincidências e personagens.
Daniel Dantas seguirá livre em meio a esse mar de coincidências.
Bob Fernandes no Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3311934-EI11354,00-Exclusivo+cronica+de+uma+liberdade+anunciada.html
Ainda o blog do Luis Nassif de 08/11/08 11:54
As disputas na PF
Por Paulo
Interessante matéria no Globo online: clique aqui.
Destaco o seguinte trecho:
"Corrêa foi alçado à direção da PF com pelo menos dois objetivos: pacificar os grupos internos e reduzir o impacto das grandes operações, sobretudo no noticiário das TVs, fonte permanente de pressão de diversos setores contra o governo."
Comentário
A matéria descreve ainda a intenção de Luiz Fernando de promover uma renovação nos quadros da PF, com a ascensão dos novos policiais. E de como está sendo boicotado pela velha guarda.
Apenas reafirma que a ofensiva Gilmar Mendes-Veja deu certo. A votação do STF desta semana, confirmou que os alertas de Nelson Jobim não eram infundados. A ofensiva de Gilmar poderia levar a uma nova frente de crise institucional - claríssima, agora, depois de comprovada sua influência sobre o Supremo.
Mas, entrando nesse jogo, desmontando a nova estrutura da ABIN e da Polícia Federal - em vez de trabalhar internamente para corrigir desvios e desmandos - Lula gerou a maior ameaça ao seu governo: está permitindo o desmonte da grande âncora institucional, que era a frente de combate ao crime organizado, despolitizada, composta por jovens quadros da PF, Ministério Público e Judiciário, única força capaz de enfrentar o influentíssimo esquema subterrâneo que, nos últimos tempos ganhou visibilidade graças ao pacto Dantas-Abril.
Os que estiveram na trincheira solitária de enfrentamento desse jogo, muitos sem sequer se conhecerem ou trpcar informações, continuam na luta. Permanecem expostos aos ataques caluniosos, aos assassinatos de reputação, às ações judiciais indiscriminadas. Jornalistas que foram atacados, juízes que foram fuzilados, delegados que passaram de heróis a bandidos, apenas para atender às conveniências desse grupo, aparentemente continuam na luta, machucados mas não intimidados.
A revista Veja e Gilmar Mendes comemoram sua vitória. Mas é impossível tornar um país inteiro refém desse jogo. Impossível! Um país que gerou Machado de Assis e Joaquim Nabuco, Sobral Pinto e Raimundo Faoro, Celso Furtado e Otávio Gouvêa de Bulhões, Gilberto Freyre e Sérgio Buarque, um Supremo que teve Aliomar Baleeiro e Evandro Lins e Silva, tornou-se grande demais para se submeter a isso.
Todos os que esperam ansiosamente pela renovação do serviço público, pela impessoalidade e eficiência dos sistemas de combate à corrupção, pela profissionalização da PF e do Ministério Público, pela renovaçào do Judiciário, não podem permitir que a rapaziada que vem por aí sucumba ante a miséria moral secular que marcou as relações com o poder.
A causa é boa. A ficha caiu para toda a categoria dos jornalistas. Poucos conseguem espaço para expressar sua indignação, mas esse sentimento é crescente, assim como o movimento da opinião pública, expresso nos comentários de blogs e das notícias online. Em breve, os jornais não poderão continuar ignorando esse vagalhão cívico.
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