Febre contra febre, por Fernando Gabeira
Com o verão, volta a ameaça de dengue. A esta altura, já deveríamos estar trabalhando febrilmente na sociedade. Febre contra febre. Nosso maior inimigo não é o mosquito, mas a tendência de empurrar com a barriga.
No Rio, os sinais são ambíguos. É alto o índice de infestação em alguns bairros. Este índice é calculado em uma amostragem de prédios. Por outro lado, há só um caso de dengue notificado, contra 1.558 em novembro do ano passado.
Alguns acadêmicos dizem que neste ano não haverá epidemia. O Ministro da Saúde tem razão: é preciso trabalhar esperando o pior. Os problemas são grandes. No Complexo do Alemão foi registrado um macrofoco. Mas quem vai drenar toda essa água em área onde há ocupação armada?
Minha proposta é simples. De nossa parte, começamos no dia 20 a levantar, com fotos aéreas, os principais focos. Com a ajuda de GPS, poderemos ganhar muito tempo e tapar as caixas d'água. Vamos entregar os dados ao governo. Se faltar gente, abre-se o voluntariado. Nos lugares mais perigosos, é preciso uma ação militar, antecedida de uma campanha com os moradores.
É preciso formar médicos para o diagnóstico, descentralizar o trabalho de hidratação e colocar grandes laboratórios de sobreaviso e motociclistas para levar sangue. Sangue não falta, se soubermos mobilizar.
É preciso fazer no Rio, que já conhece três tipos de dengue, um centro de referência nacional. Em Campos existe um. No passado, dizíamos que íamos erradicar a dengue. Hoje, mais realistas, falamos em controle. Se tivermos sucesso na gincana contra nossos hábitos, poderemos pensar, no futuro, em derrotar o mosquito. O problema é o seu novo aliado: o aquecimento global. É razoável imaginar uma década de trabalho duro antes de cantar vitória.
Texto de Fernando Gabeira publicado na Folha de São Paulo de 14/11/08
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