domingo, 9 de novembro de 2008

Homens abandonam menos os lares beneficiados pelo Bolsa Família

De acordo com economista, o programa de distribuição de renda diminui o número de pais que deixam suas famílias

As famílias pobres, que vivem com uma renda per capita de até R$ 120 por mês, estão sujeitas a uma série de dificuldades. Nos últimos anos, no entanto, um aspecto positivo começou a chamar a atenção. Há menos pais abandonando suas famílias e deixando seus filhos para serem criados apenas pela mãe. É um fato consolador para essas mulheres, que têm o apoio do companheiro, e para as crianças, que têm a chance de uma formação melhor pela convivência com o pai. Ninguém pode afirmar com certeza absoluta o que está acontecendo. Mas há fortes evidências de que a explicação para o fenômeno não está em um recrudescimento do amor. A questão é o dinheiro.

O economista Gabriel Hartung, da Fundação Getúlio Vargas, no Rio de Janeiro, mostra que programas de transferência de renda e, nos últimos anos, o Bolsa Família, estão produzindo um efeito positivo para a sociedade brasileira. Em um artigo publicado recentemente, Hartung afirma que, onde há distribuição de benefícios pelo governo, há um aumento da presença do pai nas famílias mais pobres, em comparação com as famílias pobres que não recebem. O fato de uma criança ser beneficiária de um programa como o Bolsa Família reduz de 2% a 11% as chances de ela ser criada apenas pela mãe. “A explicação está relacionada ao fato de que o Bolsa Família - e os programas anteriores - são direcionados às crianças, o que deve aumentar a atratividade de viver no mesmo domicílio dos filhos”, afirma Hartung. “O fato de a mãe receber o dinheiro do governo é a chave: isso não incentiva o pai a abandonar o lar”. Do ponto de vista do pai, o mecanismo é simples e lógico: sem a família, sua renda cai.

Os programas brasileiros de transferência de renda foram criados na década de 1990 para combater a pobreza e melhorar a escolaridade. Mas os economistas começam a descobrir o que eles chamam de efeitos colaterais. O trabalho de Hartung capta um deles, bastante benéfico. Diversos trabalhos em diferentes áreas, da psicologia à economia, comprovam que a presença do pai é importante para os filhos. No caso dos meninos, em especial, ela pode ser decisiva. Há mais de 40 anos é aceita a evidência de correlação entre a falta do pai em casa e a criminalidade. A falta do pai afetaria mais a formação do menino - e a maioria dos criminosos são homens. Nos Estados Unidos, quase metade dos detentos no país, ou 43%, foi criada sem o pai ou sem a mãe - na população, esse índice é de 24%.

Ainda é cedo para afirmar que o Bolsa Família poderá reduzir a criminalidade no futuro. Mas, pelo menos seus efeitos colaterais não são considerados indesejados, como em alguns similares estrangeiros. Nos Estados Unidos, um programa chamado “Ajuda para Famílias com Crianças Dependentes” (AFDC, em inglês) foi modificado em 1996 quando o governo identificou um aumento na taxa de divórcios e redução de casamentos porque a ajuda financeira era paga a mães solteiras pobres, sem exigir nada em troca. Assim, elas preferiam manter-se solteiras e até engravidar mais vezes. Até agora, o programa brasileiro tem se mostrado muito mais “família”.

Texto de Leandro Loyola na revista Época
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI16733-15254,00-HOMENS+ABANDONAM+MENOS+OS+LARES+BENEFICIADOS+PELO+BOLSA+FAMILIA.html


Leia também o artigo FEMINIZAÇÃO DA POBREZA
70% das pessoas em todo o planeta que vivem abaixo da linha de extrema pobreza, com o equivalente a menos de 1 dólar por dia são mulheres, este fenômeno é conhecido como a "feminização da pobreza"

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