A comida ficará mais cara na maior parte do mundo, em 2008, e essa tendência poderá manter-se por alguns anos, se a China, a Índia, a Rússia e outras grandes economias emergentes continuarem a crescer com rapidez. O uso de milho para a produção de álcool nos Estados Unidos também contribui para inflar os preços e o governo americano promete continuar subsidiando essa atividade. O cenário pode ser preocupante para alguns analistas, mas o Brasil pode estar diante de uma oportunidade preciosa de bons negócios. Nenhum outro país tem condições tão favoráveis para lucrar com a demanda crescente de alimentos, principalmente se as cotações continuarem pressionadas pela fabricação de etanol de milho.
O Brasil bateu mais um recorde nacional na produção de grãos e oleaginosas, na temporada 2006-2007, e repetirá a façanha na safra 2007-2008, segundo as projeções oficiais.
A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) estima para a nova temporada uma produção de 134,8 milhões de toneladas de algodão, arroz, feijão, milho, soja, trigo e demais cereais de inverno. O IBGE calcula 137,3 milhões. A divergência deve-se a diferenças de metodologia, mas qualquer desses números corresponderá a um recorde. O resultado vai depender, naturalmente, das condições do tempo, e os técnicos da Conab já levam em conta, nas suas projeções, o efeito do fenômeno La Niña.
Muitos agricultores do Centro-Sul ainda se recuperam financeiramente de alguns anos difíceis, mas a reação do setor tem sido notável e já se refletiu, na última temporada, nas vendas de máquinas e equipamentos agrícolas. Também os fabricantes de caminhões tiveram grandes encomendas neste ano e os compradores tiveram de aceitar demoras nas entregas. Os problemas das montadoras, nesse caso, foram o prenúncio de uma nova fase de prosperidade no agronegócio.
O setor faturou nos 12 meses terminados em novembro US$ 57,9 bilhões com a exportação, 18,3% mais que no período imediatamente anterior. O aumento da receita foi proporcionado principalmente pela boa evolução dos negócios com carnes, cereais, soja e derivados, fumo e sucos de frutas. A alta dos preços das carnes foi um fator crucial para o bom desempenho do agronegócio no comércio mundial.
O governo federal, no entanto, parece menos atento do que deveria às grandes oportunidades abertas pela evolução do mercado internacional. O setor privado tem procurado levar em conta as novas condições da demanda. Os produtores mais modernos vêm tentando atender às crescentes cobranças de qualidade sanitária e de padrões ambientais e sociais apresentadas pelos compradores do mundo industrializado. Mas o governo tem reagido lentamente e a sua política sanitária continua sendo criticada pelas autoridades da União Européia. Se as autoridades federais não mostrarem maior empenho em relação a esse quesito, excelentes oportunidades poderão ser desperdiçadas, porque as pressões protecionistas são crescentes em alguns dos principais mercados.
No plano interno, as condições de transporte continuam também precárias, tanto nas estradas quanto nos portos, e permanece o risco de gargalos importantes na fase de escoamento da produção. O País continua, claramente, sem uma política de produção e de comercialização para o agronegócio. Os agricultores, criadores e industriais ligados ao setor podem fazer e têm feito muito para modernizar sua atividade, mas o governo não tem acompanhado esse esforço.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o Itamaraty continuam absorvidos em planos mirabolantes de exportação de etanol, cuja produção mal dá para atender à demanda nacional, mas não demonstram preocupação quanto à produção e comercialização dos alimentos, cuja demanda crescente em mercados de todo o mundo temos todas as condições para atender.
Não teria sentido, naturalmente, reeditar as políticas seguidas até o final dos anos 80 ou começo dos 90. Mas também é um erro, e dos mais graves, concentrar a atenção num item - os biocombustíveis, cuja importância tem sido exagerada - e negligenciar uma política de longo prazo para uma das áreas mais pujantes da economia brasileira, o agronegócio.
Fonte: O Estado de São Paulo de 16/12/07
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