Sempre que uma avaliação do ensino escancara o nosso atraso, os saudosistas lamentam o fato lembrando que, no passado, a escola pública era de qualidade.
Ainda que o Brasil só tenha começado a comparar o desempenho de seus estudantes em 1995, essa afirmação, muito provavelmente, é verdadeira.
O que nem sempre é levado em conta é que aquela escola pública era para poucos. Em 1940, apenas 31% das crianças de 7 a 14 anos estavam na escola. Não é difícil imaginar o perfil de quem estava fora dela.
Em 2000, essa proporção chegou a 95%. Ganhamos em quantidade, perdemos em qualidade.
A chegada dos mais pobres à escola pública foi acompanhada da migração gradativa da elite para o ensino privado. Para um país que se esmerou como poucos na construção de uma sociedade desigual, a convivência dessas duas classes num mesmo espaço -no caso, a escola- não fazia sentido.
Esse modelo funcionou bem para aquele projeto de país. Os mais ricos eram educados em escolas privadas e, com isso, asseguravam seu futuro profissional, já que os melhores postos de trabalho não estavam ao alcance de quem tinha como única opção a escola pública.
Os resultados do Pisa evidenciam que esse projeto não serve mais nem mesmo para quem sempre se beneficiou dele. Numa economia cada vez mais globalizada, ganham mais empregos e investimentos os países que têm sua mão-de-obra mais qualificada.
As nações que conseguiram as melhores posições foram justamente aquelas onde a desigualdade de notas entre seus melhores e piores alunos foi a menor: Finlândia e Hong Kong.
Na Finlândia, sequer existe ensino particular (98% estão em escolas públicas). Em Hong Kong, a maioria (91%) está no ensino privado, mas em escolas que dependem de financiamento público.
Não por acaso, os Estados do Brasil que se saíram melhor no Pisa foram os da região Sul. É lá que, como mostra o Exame Nacional do Ensino Médio, a distância entre a rede pública e a privada é menor no Brasil.
O que Finlândia e Hong Kong fizeram foi equalizar as oportunidades. Por isso, ficam entre os primeiros mesmo quando se compara apenas os mais pobres ou somente os mais ricos.
Com uma educação de qualidade e para todos, os melhores, para se sobressair, têm de ser ainda melhores.
Texto de ANTÔNIO GOIS na Folha de São Paulo de 05/12/07
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