Integração operacional terá que esperar mudanças no Plano Geral de Outorgas, que regulamenta o setor
Aquisição cria grande tele nacional para disputar mercado com a espanhola Teléfonica e o grupo mexicano América Móvil
A operadora de telefonia Oi anunciou ontem o fechamento da compra da Brasil Telecom, por R$ 5,863 bilhões. Com isso, a antiga Telemar se tornará um dos maiores grupos empresariais brasileiros, com receita anual de R$ 29,3 bilhões (a soma das operadoras em 2007).
A operação financeira total, incluindo o valor a ser pago aos acionistas minoritários, ultrapassará R$ 12 bilhões. Isso sem incluir os recursos do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), de R$ 2,569 bilhões, para a reestruturação acionária da Oi.
O negócio foi fechado sem amparo legal. A compra da BrT depende de mudanças no PGO (Plano Geral de Outorgas), que estabeleceu as regras do mercado após a privatização, em 1998. Também serão necessárias as autorizações da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações), da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e do Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica).
Enquanto isso não acontece, as duas companhias permanecerão atuando separadas. O presidente da Oi, Luiz Eduardo Falco, que estará à frente da nova operadora, espera mudanças no PGO num prazo de até três meses: "As mudanças já estão maduras. Esperamos agora ventos positivos e fumaça branca saindo das chaminés".
A compra da BrT pela Oi era esperada desde dezembro, quando as negociações se intensificaram. Mas rumores sobre o assunto circulavam havia cerca de dois anos. O resultado será a criação de uma grande tele nacional, projeto estimulado por boa parte do alto escalão do governo federal.
Os analistas consideram que as chances de impedimento legal para o negócio são remotas. Assim, a telefonia brasileira assistirá a uma disputa entre três grupos: a Oi, a espanhola Telefónica e o grupo mexicano América Móvil, de Carlos Slim, dono da Claro e da Embratel.
O negócio foi fechado na tarde de ontem. Foi uma negociação em duas etapas. Na primeira, os grupos Andrade Gutierrez e La Fonte (de Carlos Jereissati) compraram as participações do Citigroup, do Opportunity e da GP Investimentos na Oi (Telemar). Na segunda etapa, a Oi comprou o controle da BrT -que, por sua vez, também passou por reestruturação societária, com a saída do Citigroup e do Opportunity.
Para que essa engenharia se concretizasse, Opportunity, Citigroup e fundos de pensão desataram o nó societário da BrT -umas das disputas mais ferozes entre companhias brasileiras. A Telemar pagará R$ 315 milhões para eliminar as pendências judiciais relativas à disputa do controle acionário.
A operação financeira total compreende os R$ 5,8 bilhões pagos pela Oi para a compra do controle da BrT, R$ 3,5 bilhões ofertados num instrumento chamado "tag along" (que estende aos minoritários 80% do valor pago) e R$ 3 bilhões na oferta pública voluntária para os minoritários com ações preferenciais (sem direito a voto).
Em entrevista concedida ontem à noite, Falco disse esperar reação: "Acho que eles [os concorrentes] vão tentar impedir o negócio. Mas o fato é que o Brasil tomou a decisão de não ter duas plataformas [no setor de telecomunicações], e sim três".
Segundo ele, o mundo assiste a um processo de intensa concentração no mercado de telecomunicações. Os grandes grupos passaram a atuar em diversos segmentos: telefonia fixa, celular, acesso à internet e transmissão de dados. E citou o exemplo dos EUA, onde, depois de muitas fusões e aquisições, restaram três grandes: AT&T, Qwest e Verizon.
Para competir com os gigantes internacionais Telefónica e América Móvil, a Oi tentará conquistar mercados no exterior. A meta é atrair 30 milhões de clientes estrangeiros em cinco anos. Falco mira América Latina, Europa e África.
Segundo ele, para competir no país com os grupos espanhol e mexicano, a Oi precisará de escala e se tornar uma operadora global. Exemplo: mesmo no Brasil, a nova Oi larga na terceira posição no bilionário mercado de telefonia celular, com 17,9% dos clientes. A Claro tem 25% e a Telefónica detém 56,7%, incluindo a operação da TIM no Brasil (o grupo espanhol comprou participação no controle da Telecom Italia, dona da TIM) -as duas atuam de forma independente).
Do ponto de vista financeiro, a Oi nasce com receita anual de R$ 29,3 bilhões, contra R$ 41,5 bilhões do grupo Telefónica (incluindo TIM), e supera a Claro (R$ 20,5 bilhões). Os números são de 2007.
Mas, na comparação internacional, o quadro muda: a Oi, que não tem negócios lá fora, mantém os R$ 29,3 bilhões. Já os espanhóis tiveram receitas de R$ 240,1 bilhões, contra R$ 81,3 bilhões do grupo mexicano, sempre levando em conta os resultados do ano passado.
Reportagem dee ROBERTO MACHADO na Folha de São Paulo de 26/04/08
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