Traços familiares, por Jânio de Freitas
É interminável a grande dinastia das medidas do governo que nascem com endereço determinado e corrupção também
A MEDIDA provisória que libera a Caixa para associar-se a construtoras/empreiteiras, assim como o Banco do Brasil a comprar parte ou o todo de empresas, tem os traços próprios das providências governamentais que devem ser recebidas com muitas reservas. Aí estão certos traços fisionômicos que sugerem algum parentesco, por exemplo, com as artimanhas para tornar a Oi/Telemar dona da Brasil Telecom, criando situação monopolista na telefonia fixa, com dinheiro do BNDES e do Banco do Brasil. É interminável a grande dinastia das medidas que nascem com endereço determinado.
A necessidade das construtoras/ empreiteiras não figurou nas notícias de setores já tocados por incipientes reflexos da crise. Muito pelo contrário, os negócios imobiliários foram objeto de recente noticiário, inclusive documental em TV, de que o interesse dos pretendentes a aquisoções não se mostrou abalado. O que é até lógico, porque a insegurança de aplicações mais propagandeadas, como Bolsa e fundos, aumenta a atração pela solidez dos imóveis.
De repente, o governo lança umas referências imprecisas sobre associação com construtoras, citando a Caixa Econômica e o BNDES, e em pouco mais de 24 lança a MP, na qual o Banco do Brasil substitui o outro banco, que já está metido em mais comprometimentos financeiros do que lhe convinha. Claro que a providência estava encaminhada antes da primeira e mal definida referência: para a reunião que a originou, no Planalto e com Lula, já foram chamados os presidentes do BB e da Caixa.
Rapidez e precaução podem indicar eficiência administrativa. Não, porém, quando essas duas qualidades deixam rombos sugestivos. Quem vai indicar os beneficiários dos capitais da Caixa e do BB? E por que critérios? Como se comprovará o estado empresarial de necessidade do favorecimento? E, acima de tudo: quem e como serão fixados o montante do aporte e O VALOR de cada ação?
Convém lembrar logo que empresa carente de auxílio extremo tem suas ações depreciadas.
E não será demais observar que as indagações acima, formas do interesse público tanto quanto do dever governamental, referem-se a esclarecimentos também públicos para a regra geral e para cada caso do favorecimento.
A espera de tal clareza do governo fica por conta do otimismo de cada leitor.
Da Folha de São Paulo de 23/10/08
Meu comentário: Tomara que as apreensões do Jânio de Freitas e as minhas desconfianças não se concretizem, mas tudo leva a crer que teremos mais um amontoado de corrupção.
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