O caso Eloá Cristina Pimentel e a síndrome de Adriana CaringiEste triste caso que vitimou a menina Eloá precisa servir para alguma coisa, nós sociedade brasileira, precisamos doar nossos orgãos para transplante, que nossos orgãos sejam transplantados para uma nova sociedade, onde a hipocrisia e o partidarismo sejam esquecidos em horas de aflição, que nosso cérebro funcione a favor do bem da coletividade, que nossa polícia e nossa justiça esteja a favor das vítimas e que os bandidos, com ou sem antecedentes criminais registrados, sejam punidos e que os inocentes sejam poupados.
Eu não lamento morte de bandido, para quem não conhece minha opinião vou transcrever aqui o ínicio e o fim de um tópico que eu escrevi no Orkut em 01/08/08
Início - Garota é mantida refém por viciado no Guaruja
Fim - Vitima é libertada
FELIZMENTE TUDO ACABOU BEM!
Leia abaixo os textos que transcrevi aqui no blog e ouça a sonora da Bandeirantes
- O fracasso da polícia é dos políticos
- Rodrigo Pimentel, especialista, elogia Gate no caso Eloá
- Síndrome de Adriana Caringi
- A barbárie nossa de cada dia
- Mídia exagerou e fez com que criminoso se visse como um herói
O fracasso da polícia é dos políticos
Texto de JOSÉ PADILHA e RODRIGO PIMENTEL
No fim, são os políticos os principais responsáveis pela repetição de tragédias como a do ônibus 174 e do seqüestro em Santo André
NÃO SÃO apenas as ocorrências mal administradas, cheias de erros primários e ilegalidades que demonstram a necessidade de uma reforma da segurança pública no Brasil. Os dados indicam essa necessidade faz tempo. E os nossos políticos, apesar de conhecerem os dados, têm se mostrado incapazes de realizar tal reforma. São eles, no final das contas, os principais responsáveis pela repetição cotidiana de tragédias como a ocorrida no evento do ônibus 174 e do seqüestro em Santo André.
Em conversa informal com agentes do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais), descobrimos que eles estão desolados com o desfecho da ocorrência, que custou a vida de uma pessoa e feriu outra, e revoltados com os políticos, devido ao descaso que têm com a unidade, exposta ao ridículo com o fracasso da operação.
Afinal, se o Gate dispusesse do equipamento necessário para administrar uma ocorrência desse tipo, como uma microcâmera de fibra ótica, saberia que o seqüestrador tinha encostado um armário de TV e uma estante na porta de entrada do apartamento. Saberia que seqüestrador e reféns não estavam na sala, mas no quarto. Saberia que uma invasão pela porta da frente daria tempo para o seqüestrador atirar nas reféns. Mas o Gate não sabia de nada disso e perdeu preciosos segundos abrindo a porta.
Se o Gate dispusesse de escada com alcance para que um policial pudesse entrar no apartamento pela janela, poderia ter evitado a tragédia. Mas a escada do Gate, como atestam as filmagens, era curta demais.
Se os policiais do Gate fossem bem treinados, não teriam deixado que uma menina de 15 anos, libertada pelo seqüestrador, voltasse a ser prisioneira. Não teriam demonstrado tamanha incompetência e desconhecimento legal. Mas os policiais do Gate, como os do Bope e do resto do país, não recebem treinamento adequado.
Quando trabalhamos no documentário "Ônibus 174", sentimos a mesma revolta por parte dos policiais do Bope, que, em sua maioria, odeiam os políticos a quem servem.
André Batista, colaborador em "Tropa de Elite" e negociador do Bope na malfadada ocorrência, deu o seguinte depoimento para o documentário: "Naquele momento, a gente viu que faltava muita coisa. As coisas que a gente vivia pedindo, os equipamentos, os cursos, parece que, naquele momento, tudo desabou." Ouvimos, virtualmente, a mesma coisa do Gate.
Chegamos, assim, a uma conclusão absurda. Concluímos, parafraseando Nietzsche, que é preciso defender os nossos policiais dos nossos políticos! Afinal, quem são os nossos policiais? E o que o Estado, administrado pelos políticos eleitos, fornece a eles?
Tomemos como exemplo um policial carioca. É um sujeito mal remunerado, mal treinado, que trabalha em uma corporação corrompida por dentro. Isso é o que o Estado lhe dá. E o que pede em troca? Que mantenha a lei. Em outras palavras, que entre em conflito com os membros corrompidos da sua corporação e com os bandidos fortemente armados da cidade.
Ora, não é à toa que o capitão Nascimento, refletindo um sentimento comum entre os policiais do Bope, tenha dito que "quem quer ser policial no Rio de Janeiro têm que escolher. Ou se corrompe, ou se omite, ou vai pra guerra." Em São Paulo, não parece ser muito diferente.
Não esqueçamos, pois, o ano de 2003, quando o então secretário nacional de Segurança Pública, o sociólogo Luiz Eduardo Soares, estava prestes a conseguir a reforma que nossos policiais sérios tanto pedem.
Ele tinha participado da elaboração de um plano de segurança pública que previa um piso nacional decente para o salário dos policiais, a integração da formação e das plataformas de informação das polícias estaduais, o repasse de recursos federais para os Estados condicionado à reforma de gestão e ao controle externo e a desconstitucionalização da segurança pública, dando autonomia para que os Estados reformassem as polícias de acordo com as realidades locais.
Apresentou o plano ao governo federal com a assinatura de todos os governadores. E o que fez o governo? Desistiu. Nem sequer apresentou o plano ao Congresso. Não o reformulou, optou pela passividade. Segundo nos disse o sociólogo, por considerar que a reforma demoraria a dar resultado e que a opinião pública poderia responsabilizar o governo federal, e não os Estados, se eventuais tragédias ocorressem durante a implantação.
Evidentemente, não estamos culpando os atuais governos federal e estadual pelo desfecho do seqüestro em Santo André. Afinal, governos anteriores poderiam ter tentado reformar a segurança. O governo FHC, por exemplo, prometeu um plano nacional depois do ônibus 174.
Estamos culpando os verdadeiros responsáveis: os nossos políticos como um todo, que há muito tempo sabem que precisam reformar a segurança pública para salvar a vida de milhares de brasileiros e que há muito tempo fracassam ao não levar essa tarefa a cabo. Um fracasso ainda mais vergonhoso do que o dos policiais do Bope e do Gate.
JOSÉ PADILHA, cineasta, é diretor de "Ônibus 174", "Tropa de Elite" e "Garapa", entre outros filmes. RODRIGO PIMENTEL, sociólogo, é ex-capitão do Bope (Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar) do Rio de Janeiro, um dos roteiristas de "Tropa de Elite" e co-produtor de "Ônibus 174". Da Folha de São Paulo de 20/08/08
Rodrigo Pimentel, especialista, elogia Gate no caso Eloá Na avaliação é do ex-capitão do Batalhão de Operações Especiais da Polícia Militar e especialista em segurança Rodrigo Pimentel, o Gate fez o melhor trabalho que poderia com a tecnologia e o treinamento que tem disponível.
Ouça esta entrevista ao Milton Parron na rádio Bandeirantes http://radiobandeirantes.terra.com.br/audios/pgm2010rpimentel.mp3
Pimentel: mídia "foi criminosa e irresponsável"
Texto de Diego SalmenA cobertura feita pela Rede Record, RedeTV! e Rede Globo prejudicou as negociações com Lindemberg Alves, na avaliação do ex-comandante do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais) e sociólogo Rodrigo Pimentel. Para ele, a postura das emissoras foi "irreponsável e criminosa".
- O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das reféns mais nervoso, como deixaram, poderiam atrapalhar a negociação, como atrapalharam.
Lindemberg Alves, 22, manteve a ex-namorada Eloá e a amiga Nayara, ambas de 15 anos, como reféns por cinco dias em um apartamento na cidade de Santo André, em São Paulo. Na última sexta-feira, 17, o Gate (Grupo de Operações Taticas Especiais) invadiu o local. O incidente culminou na morte de Eloá.
Co-autor do livro "Elite da Tropa" e roteirista do filme "Tropa de Elite", Pimentel faz uma crítica ainda mais incisiva à inteferência da apresentadora Sonia Abrão, da RedeTV!, nas negociações. Ela entrevistou Lindemberg ao vivo na última quarta-feira, 15.
- Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez. Essas emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis, devem optar na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou aumentar a sua audiência.
Leia a seguir a entrevista com Rodrigo Pimentel:
Terra Magazine - Qual a responsabilidade objetiva dos governantes em incidentes como esse?
Rodrigo Pimentel - O chefe da polícia estadual é o governador do estado. Quem define as políticas de segurança pública e suas prioridades é o governador, através do secretário de segurança pública. É lógico que ele não pode ser responsabilizado de forma isolada pelo que aconteceu. Não é a primeira vez que uma ocorrência com reféns termina em tragédia no país. Nem será a última. Se você fizer uma análise histórica dos casos com reféns aqui, o normal é que eles tenham sido conduzidos com pouca qualidade técnica, muito amadorismo. Há precedentes emblemáticos, como o caso do arcebispo mantido refém num presídio em Fortaleza, quando o governador Ciro Gomes determinou que se dessem armas e coletes aos seqüestradores, tudo foi feito ao contrário do que determinam as normas.
Que normas são essas?
Veja bem: são normas rígidas? Não. São protocolos internacionais que podem ser adaptados de acordo com a necessidade, mas que se baseiam em dados históricos coletados ao longo dos anos. (...) Nós sabemos, por exemplo, que a presença de familiares em 80% dos casos deixa o seqüestrador mais nervoso e arredio, menos propenso à negociação. O jornalista, por exemplo, é bom ou ruim? Eu diria que na maioria das vezes é ruim. Porém, em algumas ocasiões, não muito raras, a presença do jornalista ajuda o tomador do refém a se entregar. Ele percebe que o jornalista no local garante a preservação da sua vida. Então tudo exige um conjunto de avaliações momentâneas.
Como o senhor escreveu em artigo na Folha de S.Paulo, a responsabilidade está na medida em que há falta de investimentos, como por exemplo a falta de câmeras...
Nenhuma unidade tática no Brasil dispõe desse equipamento. São equipamentos baratíssimos, custam menos que uma viatura policial. E são muito necessários. Se o Gate (Grupo de Operações Táticas Especiais) tivesse esse equipamento, não teria feito a opção pela invasão. Porque ia perceber que a porta tinha obstáculos. E aqueles 14 segundos que a equipe policial perdeu na porta foi o tempo para acontecer a tragédia, foi o tempo que o Lindemberg precisou para alvejar as meninas.
Foi o erro crucial?
É, exatamente. Mas o erro mais fácil de ser sinalizado foi a reintrodução da menina Nayara. Você não tem precedente disso na história moderna da negociação. Tem um caso em que o refém voltou ao cativeiro em Nova Iorque, no ano de 1972, que até gerou o filme Um dia de cão, com o Al Pacino. Mas veja bem: foi há quase 40 anos, não havia uma técnica desenvolvida (para lidar com esse tipo de situação). E esse fato foi transformador da doutrina da polícia de Nova Iorque. O filme é maravilhoso: retrata marginais mentalmente perturbados e economicamente motivados; eles queriam assaltar um banco. Foi uma ocorrência dramática em que aconteceu algo igual ao que resultou na morte da Eloá. Jornalistas ligavam para os seqüestradores o tempo todo...
Como o senhor avalia a cobertura da mídia?
A Sonia Abrão, da RedeTV!, a Record e a Globo foram irresponsáveis e criminosas. O que eles fizeram foi de uma irresponsabilidade tão grande que eles poderiam, através dessa conduta, deixar o tomador das reféns mais nervoso, como deixaram; poderiam atrapalhar a negociação, como atrapalharam... O telefone do Lindemberg estava sempre ocupado, e o capitão Adriano Giovaninni (NR: negociador da Polícia Militar) não conseguia falar com ele porque a Sonia Abrão queria entrevistá-lo. Então essas emissoras, esses jornalistas criminosos e irresponsáveis, devem optar na próxima ocorrência entre ajudar a polícia ou aumentar a sua audiência.
O Ministério Público de São Paulo deveria, inclusive, chamar à responsabilidade, essas emissoras de TV. A Record se orgulha de ter ligado 5 vezes para o Lindemberg. Ele ficou visivelmente nervoso quando a Sonia Abrão ligou, e ela colocou isso no ar. Impressionante! O Lindemberg ficou: "quem são vocês, quem colocou isso no ar, como conseguiram meu telefone?". Olha que loucura! Isso jamais aconteceria nos Estados Unidos hoje, jamais. Aconteceu há quase 40 anos, mas jamais aconteceria nos dias de hoje. Foi irresponsável, infantil e criminoso o que a Sonia Abrão fez. Eu lamento não ter falado isso na frente dela. Eu gostaria de ter falado isso para ela e para os telespectadores da Record e da RedeTV!.
O que ela fez foi sem a menor avaliação. Tanto que, num primeiro momento, ele (o repórter Luiz Guerra) tentou enganar o Lindemberg, dizendo-se amigo da família. E depois ele tentou ser negociador, convencer ele a se entregar sem conhecer os argumentos técnicos usados para isso. O que o capitão Giovaninni falava para o Lindemberg a todo momento é que, até aquele momento, o crime que ele havia praticado era muito pequeno. Esse é o argumento técnico, funciona quase sempre. "Olha meu amigo, até agora você não matou ninguém, até agora só colocou essas pessoas sobre constrangimento, sua pena vai ser muito pequena...". Isso funciona mesmo. E a Sonia Abrão não tem esse argumento, a Record também não.
Podemos esperar mais casos com esse tipo de desfecho?
Outras virão, não vai ser a primeira nem a última vez. O que aconteceu ali, apesar de ser uma ocorrência com refém, é algo comum no Brasil. Ex-noivos, ex-maridos e ex-namorados matando suas ex-companheiras ou suas companheiras atuais. Nós temos Estados no Brasil, como Pernambuco, onde cerca de 20% dos homicídios são dessa natureza, praticados por companheiros. Uma mulher morre por dia em Pernambuco vítima do seu companheiro. Essa é outra questão para a gente refletir. Apesar de ser uma ocorrência com refém, o que chama a atenção é a morte de uma ex-namorada, o que é absurdamente comum no Brasil. Homens no Brasil matam suas companheiras com uma freqüência muito grande.
Do Terra Magazine
http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI3270057-EI6578,00-Pimentel+midia+foi+criminosa+e+irresponsavel.html
Síndrome de Adriana CaringiTexto de Afanázio Jazadji
Adriana, de 23 anos, morava com a família numa casa da Rua Tucuna, na zona oeste da cidade, invadida pelo assaltante Gilberto Palhares e sua cúmplice Regiane Maria dos Santos. Avisada por um amigo da família, a polícia cercou o local. Armado com um revólver, Palhares levou Adriana para a janela do andar de cima da casa. O ladrão quebrou o vidro da janela e passou a fazer exigências, como a de receber um carro blindado para a fuga.
Agachado junto a um poste, com um fuzil Belga nas mãos, Furlan estudou a cena por 20 minutos antes de atirar. A bala percorreu 30 metros em diagonal e explodiu a cabeça de Palhares. Adriana, porém, também caiu, morrendo nos braços da mãe, Anna. A terceira vítima da operação foi Regiane, executada por PMs.
Condenado em 1994 a 2 anos de prisão, Furlan teve a pena atenuada para 1 ano e 2 meses pela Justiça Militar, que mais tarde permitiu ao policial permanecer em liberdade. A família de Adriana ganhou na justiça a indenização de US$ 60 mil do governo do Estado.
Oportunidade perdida
Afinal, para que servem os atiradores de elite da Polícia? Não só as pessoas comuns, como eu próprio, atuando há 40 anos em coberturas de ocorrências policiais, estou perplexo com certas omissões, verdadeiros descalabros, em que o chamado “procedimento padrão policial” exige, porém nossos atiradores de elite nunca aparecem.
Seria, ainda, a triste síndrome de Adriana Caringi, aquela bela estudante que, há mais de 10 anos, foi também atingida por um “snipper” do Gate (Grupo de Ações Táticas Especiais da Polícia Militar), no bairro paulistano das Perdizes? Pode ser...
O caso Caringi desenrolou-se numa tarde-noite, quando um assaltante foi surpreendido no sobradinho da família e, no andar de cima, agarrou a jovem como refém, transformando-a em escudo humano. O quarteirão todo foi cercado, coalhado de policiais, repórteres, fotógrafos, cinegrafistas e curiosos.
Em dado momento, a 150 metros de distância, posicionado atrás de uma árvore, um cabo PM do Gate, atirador de elite, fez a visada, acertou a pontaria e, devidamente autorizado pelo comandante da operação, acionou o fuzil 7,62 mm. O projétil, de tão potente, atingiu o bandido, transfixou seu corpo e, infelizmente, vitimou também a jovem estudante, que morreu a caminho do pronto-socorro.
A partir de então, todo o procedimento policial para casos com reféns mudou. Ao invés da triste ocorrência com Adriana Caringi servir para aprimorar as técnicas das nossas polícias Civil e Militar, constata-se que ela simplesmente inibiu a ação dos pretensos defensores da segurança pública. Veja-se, por exemplo, o que aconteceu terça-feira passada, em Limeira, onde um frio latrocida executou um pai de família na rua, homiziou-se na casa de um casal de 79 anos, esfacelou a cabeça do homem com coronhadas e, tudo isso, assistido por policiais civis e militares, tentando “negociar” sua rendição. Foi vexatório para a Polícia, desesperador para a população e sumamente preocupante daqui para a frente. Cadê o “atirador de elite”, em que momento deve agir, afinal, o especialista em tirar a vida de um matador comprovado ou em potencial? Em Limeira, frise-se, dois bandidos resolveram atacar a agência do Banco Itaú, antes do início do expediente. Logo às 8h30 dominaram o vigilante Juarez Rafael dos Santos (39 anos) e esperaram a chegada do gerente Nivaldo Peres (28), que foi rendido perto da agência. A caminho do banco, porém, Nivaldo começou a passar mal a ponto de desmaiar na rua.
Foi o suficiente para que um dos ladrões, Adriano Leonino Bispo dos Santos (22 anos), encostassem o revólver em seu peito, já no chão, e atirasse várias vezes. Correria na rua, os bandidos fugiram tomando rumos diferentes e Adriano, procurado por homicídio cometido em Pindamonhangaba, acabou invadindo a residência dos aposentados Libertino e Beatriz Pizani, ambos de 79 anos.
A caminho da Santa Casa de Limeira, o gerente do banco Nivaldo Peres morreu. Acionada, a polícia cercou a casa dos aposentados tentando a captura do latrocida Adriano. Ao se ver encurralado na residência do casal de idosos, o bandido passou a machucar Libertino com coronhadas na cabeça. E a polícia a tudo assistia, temendo que ele repetisse o gesto tresloucado quando atirou no bancário indefeso.
A situação foi se agravando e mais policiais chegavam. Grupos especiais, com roupas esquisitas camufladas, armas potentes, capuzes ninja, enfim, um desfile de siglas, uniformes e poderio bélico... para a imprensa documentar. Adriano comandou a operação, exigindo e obtendo o que queria, desde advogado a parentes, para garantir seu bem-estar.
Assassino procurado, matador frio do gerente de banco, agressor impiedoso do quase octogenário em sua casa, policiais estrategicamente postados e ... nada. Se atirador de elite não funciona, para que existir?
Texto de
http://br.answers.yahoo.com/question/index?qid=20061112190219AAPkIE8PS: eu não conhecia este texto do Afanázio Jazadji e a expressão síndrome de Adriana Caringi, mas sempre tive compaixão pelo cabo que cometeu este erro, infelizmente por causa deste erro, nossa sociedade fica inerte, paralizada diante de facínoras.
A barbárie nossa de cada dia Texto de Clóvis RossiFrancho Barón, repórter do jornal espanhol "El País", acompanhou, na semana passada, uma incursão de um grupo especial da polícia carioca pela favela do Rebu.
Voltou horrorizado. Mas, por mim, o horror maior é que o horror "faz tempo que deixou de ser notícia", como escreveu Barón.
Posto de outra forma: os brasileiros nos acostumamos à barbárie cotidiana. Só nos agitamos quando a barbárie sai da rotina diária, como nos casos do conflito entre as polícias de São Paulo e do assassinato da menina em Santo André pelo seu seqüestrador.
Sobre este segundo episódio, recebo e-mail desesperado de um policial de Santo André, 50 anos, que não identifico porque não pedi a devida autorização. "Estou abalado.
Não durmo há três dias. Não consigo tirar o evento da cabeça. Tenho duas filhas da mesma idade da Eloá e da Nayara. Lido com a violência, mas não posso admitir hipocrisia, fraqueza e o despreparo", diz.
A carta chegou domingo, antes, portanto, do artigo do cineasta José Padilha ("Tropa de Elite") e do sociólogo Rodrigo Pimentel na Folha de ontem, em que culpam "os nossos políticos como um todo, que há muito tempo sabem que precisam reformar a segurança pública para salvar a vida de milhares de brasileiros e que há muito tempo fracassam ao não levar essa tarefa a cabo".
O policial de Santo André escreveu a mesma coisa ao atacar "governos fracos, hipócritas, medíocres, que desdenham da questão da segurança pública".
Fecha o e-mail com um apelo: "Estão destruindo as polícias. Ajudem-nos a salvá-las!".
Posso estar muito enganado, mas tanto o diagnóstico de Padilha/Pimentel como o grito de socorro do policial cairão no vazio, como tantos outros, assim que a barbárie voltar a ser a usual, sem um pico como os da semana passada.
Da Folha de São Paulo de 21/10/08Mídia exagerou e fez com que criminoso se visse como um herói, afirma professor
Texto de VINÍCIUS QUEIROZ GALVÃOPassado o cárcere privado, uma pergunta se volta aos próprios meios de comunicação: até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo com o criminoso contribuiu para o desfecho trágico do caso? Para o professor da pós-graduação da PUC-SP Norval Baitello Jr, doutor em distúrbios da imagem e estudioso do assunto há 20 anos, a mídia "exacerbou a psicopatia que estava em jogo" e fez com que o captor se visse como herói. Leia abaixo trechos da entrevista.
FOLHA - Como o senhor analisa o papel desempenhado pela mídia no cárcere privado de Santo André?
NORVAL BAITELLO JR - Acho que foi bastante equivocado, desde o começo. Mas isso talvez se deva a um equívoco básico, que é o de que a mídia tem de informar a qualquer custo. E esse fetiche da informação coloca qualquer notícia no mesmo patamar.
FOLHA - Até que ponto a veiculação de entrevistas ao vivo e declarações do seqüestrador contribuíram para o desfecho trágico do caso?
BAITELLO JR- Acredito que esse fetiche da informação a qualquer custo não passa de espetacularização. Se confunde espetacularização com informação porque a espetacularização vende mais do que a notícia.
FOLHA - A mídia realçou os traços emocionais da tragédia?
BAITELLO JR - A mídia exacerbou a megalomania, a psicopatia e a loucura que estava ali em jogo.
FOLHA - Os repórteres e apresentadores não saíram do seu papel, que é informar, ao negociar e falar diretamente com o criminoso?
BAITELLO JR - Todo mundo colocou os pés pelas mãos.
FOLHA - Qual o limite para a cobertura dos meios de comunicação?
BAITELLO JR - Não existe um limite. Os meios de comunicação têm de cuidar também da sua própria imagem. Esse caso foi péssimo para a sustentabilidade dos próprios veículos.
FOLHA - As TVs e os jornais não fizeram uma glamourização da atividade criminosa?
BAITELLO JR - Uma vez que ele aparece na televisão, passa a se ver como um herói.
FOLHA - A mídia não aprende com seus próprios erros?
BAITELLO JR- Falta um acordo tácito da própria mídia. À medida em que há uma escalada, em que o concorrente mostra cenas fortes, o jornal é coagido. É preciso estabelecer limites.
FOLHA - Isso parece ser o modelo americano de cobertura.
BAITELLO JR - O modelo europeu tem sido muito mais cuidadoso. Isso é totalmente americano. Por isso se vê lá uma escalada da violência.
Da Folha de São Paulo de 21/10/08