Inclusp dá pontos adicionais no vestibular da Fuvest a alunos de escolas públicas, sem distinção de renda ou cor
O programa de inclusão da Universidade de São Paulo (USP), que começou a funcionar neste ano, aumentou em 9,5% o número de negros matriculados na instituição. O Inclusp, como é chamado, dá pontos adicionais na nota do vestibular da Fuvest para alunos de escolas públicas, sem distinção de renda ou cor. “O resultado mostra que o programa é uma alternativa ao sistema de cotas”, diz a pró-reitora de graduação da USP, Selma Garrido Pimenta.As cotas existem atualmente em 16 das 57 universidades federais, mas sempre houve muita resistência a uma eventual reserva de vagas na USP. A maior universidade do País, no entanto, também sofria pressão para aumentar o número de alunos carentes e negros, que representavam apenas cerca de 20% do total. O Inclusp foi lançado no ano passado - inspirado em experiência semelhante da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) - e tinha o objetivo de mostrar que poderia haver inclusão sem cotas.Os resultados indicam também que 76,4% dos estudantes de escolas públicas matriculados neste ano têm renda familiar inferior a R$ 3 mil. A maior parte deles (39,5%) vem de famílias com renda entre R$ 500 e R$ 1.500. Só 3,7% desses alunos têm renda familiar acima de R$ 7 mil. Isso ocorre apesar de as escolas públicas que mais aprovam estudantes na Fuvest não estarem em zonas periféricas e pobres, como o Estado mostrou em reportagem no início do mês.“Fica nítido que o aproveitamento nas aulas dos alunos que vieram de escolas públicas é menor, incluindo o meu”, diz Jaqueline Saes, de 21 anos, aluna do primeiro ano de História da USP. A renda da família - que inclui ela, a mãe e a avó - é de R$ 2 mil. Jaqueline conta que trabalha em uma farmácia há três anos e teve de estudar muito aos finais de semana para conseguir ser aprovada. “As pessoas achavam que eu não tinha chance de entrar na USP e agora se espantam por eu estar aqui”, diz, sobre os colegas de faculdade.A USP não divulgou o porcentual de alunos de renda baixa entre o total de matriculados em 2007, beneficiados ou não pelo Inclusp. O site da Fuvest mostra as estatísticas apenas até 2006. Elas indicam que, tradicionalmente, cerca de 40% dos aprovados vêm família com renda de até R$ 3 mil.PRETOS E PARDOSNo ano passado, entraram na USP 1.227 alunos negros (pretos e pardos). Neste vestibular, foram 117 a mais. O número representa atualmente 13,4% dos estudantes da universidade. O porcentual de brancos ingressantes caiu de 77,1% para 76,6%. “Indiretamente, quando se ajuda o pobre, o negro é beneficiado”, diz o aluno do primeiro ano de Química da USP, Arcelino Bezerra da Silva, de 21 anos. Ele é negro e estudou em escola pública. O Inclusp - que dá bônus de 3% na nota dos estudantes de escolas públicas - aumentou em 17 pontos o desempenho de Silva na Fuvest.“Os mecanismos dessa ação afirmativa ainda mantêm a exclusão dos pretos e pobres”, acredita Douglas Belchior, coordenador da ONG Educafro, que administra cursinhos para alunos carentes. Ele defende que a USP adote um sistema de cotas, beneficiando tanto negros quanto carentes. “A Fuvest usa a meritocracia e privilegia alunos que tiveram mais oportunidades nas escolas particulares.”Segundo os dados mais recentes da universidade, o Inclusp aumentou em 11% o número de estudantes de escolas públicas na instituição. Eles representam atualmente 26,7% do total de alunos.De acordo com Selma, a partir de 2008 todos os novos matriculados na USP deverão obrigatoriamente responder a um questionário socioeconômico para que as informações sobre a totalidade dos alunos sejam mais precisas. Hoje, só alunos que precisam de bolsas fornecem esse tipo de informação à instituição.NOTASOs números da USP mostram também que os alunos de escolas públicas aprovados tiveram média de 37,01 (em 100) na prova da primeira fase da Fuvest, considerada baixa. A média de todos os cerca de 150 mil candidatos da Fuvest em 2006, por exemplo - aprovados ou não aprovados - foi superior: 41,39.Entre os matriculados na USP, independentemente de terem estudado em escolas públicas ou não, as médias também costumam ser mais altas. No curso de Administração, por exemplo, em 2006, a média dos matriculados foi de 70,5 pontos na primeira fase. Os alunos de História e de Letras tiveram média de 62,2 e 56,6, respectivamente.
Reportagem de Renata Cafardo no Estado de São Paulo de 01/09/07
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