Confesso que fiquei como Thomas Trebat, diretor do Centro de Estudos do Brasil da Universidade Columbia :
“Fiquei surpreso pelo timing, conceder o grau de investimento bem no meio de um ciclo econômico que está prestes a virar”, disse.
“O boom econômico brasileiro não vai durar para sempre; por causa da crise mundial, haverá queda nos fluxos de capital e nos preços das commodities, e o País voltará a ter déficit em conta corrente. A melhora foi um reconhecimento do esforço de política econômica dos últimos 12 anos, mas precisamos ver como o País vai reagir ao ambiente menos amistoso dos próximos tempos.”
Vamos entender esse imbróglio:
1. A S&P pisou feio na bola com a Argentina e Brasil, antes de 1999, ao analisar exclusivamente as contas públicas – sob a ótica de capacidade de pagar dívidas contraídas. Dançou feio porque não adianta contas públicas em ordem sem contas externas em ordem. O investidor entre com dólares, adquire reais, aplica. Na hora de sair precisa comprar os dólares para remeter. Na hipótese de uma crise cambial a pressão pelas compras provocará uma explosão nas cotações, que lhe infligirá prejuízos.
2. O Brasil não está perto de uma crise cambial, mas não está longe. A deterioração nas contas externas se dá a olhos vistos, por conta da apreciação cambial. E essa apreciação cambial é fruto do diferencial entre juros internos e externos – quanto maior, mais dólares entram, mais o real se aprecia. Com o “investment grade”esse diferencial aumenta (porque a rentabilidade do títulos soberano do Brasil no exterior diminuir, por ser considerado menor o risco); ocorrerá aumento do fluxo de dólares (muitos fundos institucionais aplicam fatias de sua carteira de acordo com o grau de investimento dos ativos); e o dólar cairá mais ainda por aqui. Portanto será um fator a mais de risco para as contas externas.
3. Os investidores entrarão com a mão no revólver (não diria o dedo no gatilho, porque ainda falta um tempo), de olho nas contas externas. Ficarão até à véspera de uma situação considerada insustentável. Depois se mandam. Futurismo? Não: análise do passado recente apenas.
Para ficar mais claro, entenda quem ganha e quem perde:
1. Ganham investidores externos, que terão mais recursos e mais diferencial de juros para ganhar, enquanto a festa durar.
2. O governo Lula, obviamente, por calar a boca dos críticos da política econômica. É óbvio que, quando vier a crise externa, os críticos passarão a criticar a política econômica e fingirão que não a apoiavam antes. A conta será toda do governo.
3. Grandes multinacionais brasileiras? Dificilmente, já que muitas delas já tinham melhor avaliação que a do Brasil.
4. Importadores em geral. Mas quem adquire bens de investimento ficará com um pé no freio, porque a deterioração das contas externas está se acelerando.
Quem perde:
1. Contas públicas. Cada dólar que entra pelo mercado financeiro está levando o Banco Central a aumentar as reservas e exige como contrapartida a colocação de títulos públicos no mercado. Essa conta é paga pelo contribuinte.
2. Exportadores, por razões óbvias.
3. As contas externas brasileiras, com a ampliação do déficit nas transações correntes.
Estamos falando do primeiro tempo do jogo.
A questão é o segundo tempo.
Numa ponta, há sinais nítidos de que o FED americano está terminando o ciclo de baixa dos juros. Assim que a economia americana demonstrar o menos sinal de recuperação, tratará de aumentar os juros e inverter a queda do dólar. O dólar voltará a se valorizar, os juros a aumentar, reduzindo os fluxos financeiros para o mundo.
Haverá efeitos sobre os preços das commodities (que hoje abrigam capitais especulativos fugindo da desvalorização do dólar) e recuperação da capacidade de importar dos EUA.
A estratégia brasileira tem sido a de substituir dólares seguros (provenientes de contas comerciais) por dólares assustados (do mercado financeiro), Quando os seguros deixarem de entrar, os assustados se assustam.
Do blog do Luis Nassif, de 01/05/08
Meu comentário:
A agência Standard & Poor's está mostrando aos gafanhotos onde podem podem devastar e nosso banco central obediente aos seus patrões, os financistas, vai continuar aumentando a SELIC para compensar as perdas no mercado americano.
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