Advogada brasileira é atacada por skinheads na Suíça
Grávida de gêmeos, Paula Oliveira perdeu os bebês e teve partes de seu corpo feridas com estilete
No ataque, a brasileira teve várias partes de seu corpo feridas com golpes de estilete. Em suas coxas, os agressores entalharam a sigla SVP (Scheiz Volks Partei), que em português significa Partido Popular da Suíça. Ela segue hospitalizada nesta quarta, mas passa bem.
De acordo com a chancelaria, o governo brasileiro já entrou em contato com a polícia suíça e as investigações para determinar os autores do incidente estão em andamento. O Itamaraty disse não saber se Paula retornará ao Brasil nos próximos dias.
Texto de Gabriel Pinheiro no Estadão - estadao.com.br
http://www.estadao.com.br/internacional/not_int322281,0.htm
Final infeliz para ela e para nós brasileiros
Brasileira ferida admite ter mentido à polícia da Suíça, diz promotoria
Ela assinou confissão na última sexta-feira, segundo comunicado.
Paula Oliveira teria recuado da versão da agressão seguida de aborto.
A procuradoria de Zurique confirmou nesta quinta-feira (19) que Paula Oliveira, a brasileira agredida na Suíça , admitiu ter forjado uma suposta agressão de skinheads e mentido sobre seu aborto de gêmeos.
Em comunicado, o Ministério Público disse que Paula, de 26 anos, revelou em um interrogatório na sexta-feira passada que mentiu e assinou uma confissão. Ela ainda estava internada no Hospital Universitário de Zurique.
Paula teria confessado a fraude após ter sido informada de que os peritos sabiam da falsa gravidez, segundo a imprensa local.
Segundo policiais entrevistados pela revista "Weltwoche" , a brasileira poderia estar interessada em ganhar uma indenização do governo por ser vítima de ato violento. Caso ela tivesse realmente perdido os bebês em uma agressão, poderia receber entre 50 mil e 100 mil francos suíços (algo entre R$ 100 mil e R$ 200 mil).
Mapa localiza a cidade em que ocorreu a agressão. (Foto: Arte G1)
Paula disse que foi atacada próximo a uma estação de trem na cidade de Dubendorf, a 6 km de Zurique, por três neonazistas -um deles com um simbolo nazista tatuado na nuca- e que os agressores cortaram-na na barriga e nas pernas, provocando seu aborto.
Confrontada com provas mostradas pela polícia, Oliveira teria admitido no último dia 13 que não houve ataque e que ela teria cortado sua própria pele, segundo a procuradoria. Ela também admitiu que não estava grávida.
O semanário suíço "Weltwoche" havia divulgado essas informações no dia anterior.
Na quarta-feira, o Ministério Público indiciou Paula e bloqueou seu passaporte e demais documentos. Agora, eles estão investigando as motivações de Paula, como ela premeditou seus atos e se ela tem cúmplices, segundo a procuradoria.
Do G1 http://g1.globo.com/Noticias/Mundo/0,,MUL1009647-5602,00-BRASILEIRA+FERIDA+ADMITE+TER+MENTIDO+A+POLICIA+DA+SUICA+DIZ+PROMOTORIA.html
Um caso para não esquecer
Paula Oliveira tem a sua identidade e a sua existência, mas o seu nome e o episódio em que se envolveu em Zurique poderão entrar para a história do preconceito contemporâneo. As razões que a levaram a inventar uma suposta agressão de neonazistas suíços são, por enquanto, irrelevantes. O “Affaire Paula Oliveira” é, em si, paradigmático porque contém a maioria dos ingredientes que marcam o nosso tempo e o tornam tão insensato e perturbador.
De alguma forma e por desígnios ainda ignorados, a jovem advogada pretendeu chamar a atenção do Brasil e do mundo para a exacerbação dos movimentos racistas que hoje empolgam a Europa. Empolgam e sempre empolgaram, diga-se. O fascismo e o nazismo europeus só deram trégua nas duas ou três décadas seguintes ao fim da 2ª Guerra Mundial.
A prosperidade europeia e a própria construção da União Européia foram viabilizadas pelas massas de imigrantes portugueses, espanhóis, gregos, turcos e norte-africanos - os chamados gastärbeiter, trabalhadores convidados - dos países meridionais que ofereceram a mão de obra barata de que careciam as economias destroçadas da Europa Ocidental. Na geração seguinte, quando estes imigrantes tornaram-se parte das sociedades que ajudaram a construir, surgiram os problemas. Eram agora competidores no mercado de trabalho mais qualificado, começaram a ocupar posições de relevo nas respectivas sociedades e, ainda por cima, eram diferentes. E estas diferenças foram em grande parte as responsáveis pelo reaparecimento da militância racista anteriormente abrigada dentro do fascismo e do nazismo. Aos antigos preconceitos étnicos e religiosos foram acrescentadas as paixões políticas, as ideologias.
Foram as ideologias as responsáveis pela dimensão e repercussão do caso Paula Oliveira. A imprudência da mídia brasileira em abrigar as acusações foi uma patriotada descabida. O horror não foi provocado pela solidariedade humana com uma jovem supostamente atacada pela bandidagem política. O estouro da manada foi provocado por uma explosão ideológica. A emoção politizada forneceu as doses de irreflexão necessárias à conversão de uma reação antixenófoba num acesso xenófobo.
A prova está no fato de que dias depois, quando já se pressentia a reviravolta do caso, colunistas de nomeada ainda diziam que eventuais erros cometidos por Paula Oliveira eram insignificantes se comparados com as brutalidades cometidas pelos skinheads neonazistas. E logo se apontavam as medidas discricionárias adotadas em aeroportos europeus, principalmente Barajas, em Madri. A Espanha é um país socialista, os supostos agressores de Paula Oliveira seriam da extrema direita suíça, mas numa hora destas os brios feridos equalizam, cimentam e confundem todos os ressentimentos.
Quando um diplomata experiente e competente como o nosso chanceler Celso Amorim (mesmo depois de saber que Paula Oliveira já teria confessado o erro), afirma que o episódio era verossímil está negando não apenas os procedimentos jurídicos e a função da diplomacia, mas estabelecendo o primado do preconceito, do pré-juízo, da implicância e da prevenção.
O inimigo da razão chama-se apriorismo. Em defesa de uma conterrânea supostamente agredida foram utilizados os mesmos estereótipos que teriam motivado o ataque. Esta não é a melhor forma de combater a violência política. Reações coletivas extremadas só podem produzir sociedades totalitárias, incapazes de admitir o contraditório e o pluralismo.
A Argentina vai expulsar o bispo Richard Williamson, recentemente reabilitado pelo papa Bento XVI por insistir publicamente em negar o Holocausto perpetrado pelos nazistas contra os judeus. O sacerdote inglês é também um neonazista mas nem a Inglaterra, muito menos o Vaticano vão considerar o gesto argentino como afronta nacional.
O caso Paula Oliveira trouxe de volta o irracionalismo e o perigo dos linchamentos. E o pior, ficamos do lado errado junto aos irracionais e linchadores. Convém não esquecer este desconforto. Pode evitar vexames futuros.
Texto de Alberto Dines no Último Segundo de 20/02/2009 -15:30 http://ultimosegundo.ig.com.br/opiniao/alberto_dines/2009/02/20/um+caso+para+nao+esquecer+4204901.html
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