sábado, 31 de maio de 2008
Anjos do Sol - Meninas Escravas - De 80 casos de exploração sexual de crianças, houve condenações em apenas 10
No ano passado, o Comitê Nacional de Enfrentamento à Violência Sexual contra Crianças e Adolescentes realizou uma pesquisa para verificar a abertura de inquéritos policiais e processos judiciais dos relatos mais emblemáticos. Os técnicos esbarraram na falta de informações das delegacias e da Justiça. Dos 80 casos, 55 resultaram em investigações ou processos. Muitos acabaram arquivados. “As instituições são surdas e cegas. Não há nenhum tipo de reação. Se não existe punição, a prática se repete e outras pessoas se sentem estimuladas a fazer o mesmo”, critica a senadora Patrícia Saboya (PDT-CE), que presidiu a CPMI.
Passados quatro anos da aprovação do relatório, outra comissão instalada no Senado apura o mesmo tipo de crime. A CPI da Pedofilia, presidida por Magno Malta (PR-ES), também quer aprofundar as investigações sobre a exploração sexual via internet, fenômeno que, de acordo com denúncias recebidas pela organização não-governamental SaferNet, está em ascendência.
Informações falhas
Assessor jurídico do Centro de Defesa da Criança e do Adolescente Emaús (Cedeca) no Pará, o advogado Bruno Guimarães Medeiros diz que a falta de informação dos agentes públicos é o primeiro passo para a impunidade. “Embora a exploração sexual seja tipificada, quando se abre o inquérito policial, os crimes são descritos como atentado violento ao pudor ou estupro. Acabam arquivados por falta de provas. O que falta é um preparo específico”, diz.
A impunidade encontra respaldo na burocracia da Justiça. Desde 1997, encontra-se na 3ª Vara Penal da comarca de Itaituba (PA) o processo 19972000897, no qual oito pessoas são acusadas por crime de estupro. O último despacho data de 10 anos depois. Em 27 de abril de 2007, pela terceira vez, houve troca de magistrados, obrigando a juíza Maria de Fátima Alves da Silva a remeter os autos à secretaria da vara. Até agora, o processo está parado.
O caso de Itaituba ilustra a situação descrita por Bruno Guimarães Medeiros. Em 1993, um grupo de comerciantes da cidade aliciava crianças de até 8 anos de idade, em troca de bombons e refrigerantes. As meninas eram fotografadas, e as imagens eram exibidas no bar de um dos acusados. Muitas vezes, ele levava as garotas para motéis e hotéis, onde as explorava sexualmente. Outro acusado, dono de uma boate, deixava que adolescentes tivessem acesso ao local se aceitassem fazer sexo grupal. O dono de uma farmácia trocava remédio pela exploração sexual. Uma das meninas de quem abusava tinha apenas 9 anos e já era portadora de doenças venéreas. A denúncia à Justiça, por estupro, foi oferecida quatro anos depois.
Denúncias
O delegado Felipe Tavares Seixas, chefe da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal, aponta outra dificuldade na investigação dos casos: a ausência de denúncias. “Infelizmente, muitas vezes, por causa das condições socioeconômicas, os próprios pais são os responsáveis por explorarem comercialmente as filhas. Em outros casos, quem alicia são ex-vítimas, que têm de pagar pelas dívidas, e não vão se autoincriminar.” Essa última situação ocorre principalmente nos locais onde há tráfico de seres humanos. As mulheres são enganadas com promessas falsas de trabalho, ficam devendo a viagem e, para se libertar, precisam prestar contas financeiras com seus próprios algozes.
Um exemplo de esquema de tráfico internacional ainda sem punição foi relatado pela CPMI há quatro anos. O Cedeca denunciou que, em Belém, uma rede aliciava meninas e mulheres em situação social vulnerável e as traficava para o Suriname e para a Guiana Francesa, passando pelas fronteiras secas do Pará. Algumas partiam por avião; outras faziam a rota Macapá/Oiapoque, por ser mais fácil driblar a fiscalização.
Hoje, de acordo com o delegado Felipe Tavares Seixas, a Polícia Federal investiga uma quadrilha que faz essa rota. Embora não possa afirmar se é o mesmo grupo, Seixas diz que as meninas são aliciadas em barcos-prostíbulos e depois fazem a travessia. Muitas vezes, passando por garimpos ilegais. O destino é a Guiana Francesa. Para o advogado Bruno Guimarães Medeiros, trata-se dos mesmos traficantes. “Nas regiões do Arquipélago do Marajó, há um forte sistema de exploração com tráfico de meninas para fora do Brasil”, diz.
Além das condições precárias da viagem — elas passam em pequenas embarcações clandestinas durante à noite — quando chegam no destino, as meninas são submetidas a cárcere privado. Seus documentos são apreendidos e elas passam por constantes ameaças. Só podem ir embora em dois casos: se fugirem ou comprometerem-se a aliciar outras meninas em Belém.
No porto de Cabedelo (PB), a CPMI apurou que tripulações estrangeiras atracavam barcos pesqueiros e faziam programas, dentro das embarcações e em casas de prostituição, com meninas. O esquema era promovido por uma rede de exploração que envolvia taxistas, aliciadores e donos de casas noturnas. Alguns policiais acobertariam a quadrilha. Apesar de a comissão apresentar inclusive os nomes dos exploradores e dos locais onde as crianças e adolescentes eram comercializadas, nenhum inquérito foi aberto para apurar a denúncia.
Ausência de denúncias dificulta a investigação
Brasília – O delegado Felipe Tavares Seixas, chefe da Divisão de Direitos Humanos da Polícia Federal, aponta outra dificuldade na investigação dos casos: a ausência de denúncias. "Infelizmente, muitas vezes, por causa das condições socioeconômicas, os próprios pais são os responsáveis por explorarem comercialmente as filhas. Em outros casos, quem alicia são ex-vítimas, que têm de pagar pelas dívidas, e não vão se autoincriminar." Essa última situação ocorre principalmente nos locais onde há tráfico de seres humanos. As mulheres são enganadas com promessas falsas de trabalho, ficam devendo a viagem e, para se libertar, precisam prestar contas financeiras com os próprios algozes.
Um exemplo de esquema de tráfico internacional ainda sem punição foi relatado pela CPMI há quatro anos. O Cedeca denunciou que, em Belém, uma rede aliciava meninas e mulheres em situação social vulnerável e as traficava para o Suriname e para a Guiana Francesa, passando pelas fronteiras secas do Pará. Algumas partiam por avião; outras faziam a rota Macapá/Oiapoque, por ser mais fácil driblar a fiscalização.
A CPMI reportou o caso de duas jovens traficadas de Belém para o Suriname por uma cafetina identificada como Sandra. As meninas passaram pelo Oiapoque. Uma delas, Ângela (nome fictício), sem conseguir saldar a dívida, fugiu da boate onde era prostituída. Alguns dias depois, apareceu morta. Na época do relatório da comissão, nenhuma investigação estava em curso.
Hoje, de acordo com o delegado Felipe Tavares Seixas, a Polícia Federal investiga uma quadrilha que faz essa rota. Embora não possa afirmar, com certeza, se é o mesmo grupo, Seixas diz que as meninas são aliciadas em barcos-prostíbulos e depois fazem a travessia. Muitas vezes, passando por garimpos ilegais. O destino é a Guiana Francesa.
Para o advogado Bruno Guimarães Medeiros, trata-se dos mesmos traficantes. "Nas regiões do Arquipélago do Marajó, há um forte sistema de exploração com tráfico de meninas para fora do Brasil. O tráfico de seres humanos nos preocupa, pois está crescendo", diz. Além das condições precárias da viagem – elas passam em pequenas embarcações clandestinas durante à noite –, quando chegam ao destino, as meninas são submetidas a cárcere privado. Seus documentos são apreendidos e elas passam por constantes ameaças. Só podem ir embora em dois casos: se fugirem ou comprometerem-se a aliciar outras meninas em Belém.
No Porto de Cabedelo (PB), a CPMI apurou que tripulações estrangeiras atracavam barcos pesqueiros e faziam programas, dentro das embarcações e em casas de prostituição, com meninas. O esquema era promovido por uma rede de exploração que envolvia taxistas, aliciadores e donos de casas noturnas. Alguns policiais militares acobertariam a quadrilha.
Apesar de a comissão apresentar inclusive os nomes dos exploradores e dos locais onde as crianças e adolescentes eram comercializadas, nenhum inquérito foi aberto para apurar a denúncia. "E aí, quem vai denunciar de novo? Ninguém, claro. Esses crimes continuam ocorrendo, sob os olhos de quem quiser ver. Mas não se faz nada e as pessoas ficam intimidadas, com medo das ameaças. Tem gente poderosa envolvida", relata uma assistente social, ex-conselheira tutelar de Cabedelo, que pediu para não ser identificada. "Essas pessoas ganham muito dinheiro, principalmente no verão, quando a cidade fica cheia, inclusive de estrangeiros", diz.
Crimes sem castigo
Veja algumas denúncias apresentadas pela CPMI da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes que não resultaram em abertura de inquérito ou condenação judicial:
Em Manaus, cinco adolescentes com idades entre 15 e 17 anos foram contratadas por intermédio de uma cafetina para fazer programas. Elas embarcaram no porto no barco Mantiqueira, com destino a Parintins. Na barreira da Polícia Federal, passaram a ser acompanhadas pelo juiz de direito C.C.B.C.S. No caminho, foram exploradas sexualmente. O fato, ocorrido em 2001, foi denunciado, mas as adolescentes mudaram seus depoimentos. Teriam recebido ameaças e propostas financeiras, como a promessa de ganharem casas, caso a denúncia fosse retirada. Como não receberam nada em troca, elas voltaram atrás e confirmaram a história. O Tribunal de Justiça do Amazonas instaurou procedimento investigativo, mas, um ano depois, o processo foi arquivado por falta de provas.
Há oito anos, Raíssa (nome fictício), à época com 14, foi seduzida pelo deputado estadual C.L.C.F, em Codó (MA), que a convenceu a manter relações sexuais com ele, em troca de presentes e da promessa de melhoria de vida. Ela engravidou e foi convencida pelo deputado a abortar. Segundo depoimento prestado por Raíssa na delegacia, ele próprio introduziu no útero da menina um medicamento abortivo. Ela correu risco de morte e foi abandonada pelo deputado. Depois, ele passou a abordar a irmã de Raíssa, que tinha 15 anos. Em troca de presentes, a jovem cedeu e abandonou a família. A mãe das meninas o denunciou, mas, por se tratar de uma pessoa influente, ele não foi processado.
Em Cuiabá (MT), uma boate localizada às margens do Rio Coxipó oferecia adolescentes a seus clientes, com preços entre R$ 300 e R$ 1,2 mil por programa. As meninas usavam documentos falsos. Em 2002, uma jovem depôs na delegacia e afirmou que era explorada sexualmente na boate. Em audiência pública, a CPMI ouviu uma testemunha que trabalhava na casa noturna e confirmou o uso do local para fins de prostituição. O estabelecimento seria freqüentado por pessoas da alta sociedade. Nenhuma investigação foi feita.
Também no Mato Grosso, a CPMI recebeu denúncias, em audiência pública, de que meninas de Goiânia, Rio Verde e Coxim eram levadas de barco ou de avião para um garimpo localizado em Apiacás. Elas só retornavam quando não tinham mais condições físicas para realizar os programas, que ocorriam em casas de prostituição na Rua das Velhas. O local é conhecido como "Velho Oeste". De acordo com testemunhas, as autoridades eram coniventes e chegavam a freqüentar os estabelecimentos. Nenhuma investigação foi feita.
Em Corumbá (MS), uma rede de tráfico levaria brasileiras para a Bolívia, por intermédio de um aliciador boliviano, apelidado de "Papy", proprietário de uma boate na cidade de Porto Quijaro, na fronteira. Todos os dias, ele iria, pessoalmente, às 18h, dirigindo um Pajero cinza, a Corumbá, aliciar adolescentes, que seriam exploradas em sua boate. Dois brasileiros, identificados como Valtinho e Ronaldinho, ajudariam o boliviano. Eles também aliciariam meninas para trabalhar em casas noturnas, incluindo o bar de um vereador. Apesar das denúncias, nenhum inquérito foi instaurado. Na Serra da Cantareira, Zona Norte de São Paulo, adolescentes eram submetidas à exploração sexual, há oito anos, em orgias realizadas pelo pastor D.M.F. Ele permitia que outros dois integrantes de sua igreja, C.H.R. e E.C.S.V., estuprassem as meninas em sua casa. Durante o inquérito, houve troca de delegados que investigavam o caso porque, supostamente, um deles estava disposto a beneficiar o pastor. O inquérito acabou arquivado.
Fonte: Relatório final da CPMI da Exploração Sexual / Valdo Virgo/Especial para o CB
De Paloma Oliveto do Correio Braziliense de 13/04/2008
Fonte http://noticias.correi...aterias.php?id=2737698
http://www.denunciar.org.br/twiki/bin/view/SaferNet/Noticia20080413004835
quinta-feira, 29 de maio de 2008
Viagem ao Nordeste, final: Praia do Francês, Aracaju, Itacaré, São Paulo
Fizemos uma pequena faxina, para deixar a casa em ordem, entregamos a chave na casa de um vizinho e de novo estamos na estrada, com destino à Bahia.
13:15 – Passamos pela lagoa do Pau, em Coruripe, é uma paisagem maravilhosa, mas continuamos acelerando. 13:22 – Passamos por Coruripe
14:45 – Piaçabuçu – Vamos conhecer o Rio São Francisco, estamos a 13 km da foz do velho Chico, de onde é possível alugar um barco e ir conhecer os últimos metros do rio da integração nacional, fica para outra vez.
Tomamos água de coco, fotografamos, molhei os pés nas águas do velho Chico, imagina, eu, mineiro, que até então não conhecia o rio da integração nacional.
15:30 – Penedo é uma linda cidade histórica, da época da invasão dos holandeses, fundada por Duarte Coelho Pereira, das principais cidades históricas do Brasil, foi elevado a vila de São Francisco em 1636 e em fins do século XVII passou a ser denominada Penedo do Rio São Francisco. É cidade desde 1842. Sua arquitetura atrai turistas de numerosas origens. A Igreja de Santa Maria dos Anjos é uma das obras primas mais visitadas Penedo já foi sede de um dos maiores eventos cinematográficos brasileiro, o Festival de Cinema que reunia artistas brasileiros renomados. É uma cidade essencialmente católica e de povo acolhedor.
O Álvaro se encantou com a igreja de Nª Sª das Correntes e em seguida visitamos o museu da cidade.
16:20 – Pegamos a balsa em direção a Neópolis em Sergipe, 15 minutos de travessia.
19:00 – Chegamos à Aracaju e após rodar “perdidos” na cidade, chegamos ao hotel.
Fomos à feira, tomamos um lanche, retornamos ao hotel e dormimos.
08-03-2008
7:05 – Pegamos a estrada com destino à Salvador.
7:53 - Passamos por Itaporanga a cidade do Forró
8:07 – Avistamos a filial Águas Claras da Ambev
8:25 – Estamos na Linha Verde
8:53 – Passamos pela divisa Sergipe/Bahia
Passamos pela Costa do Sauípe, que é um condomínio fechado e só pode entrar pagando, como nossa intenção era apenas conhecer o local e não tínhamos intenção de parar, aceleramos o carro e retornamos à estrada.
11:08 – Estamos na praia do Forte, paramos para conhecer. As duas Marias e o Álvaro assistiram missa na capela de São Francisco, eu aproveitei para tirar fotos e conhecer um pouco a vila.
Esta localidade é famosa pelo projeto de proteção das tartarugas marinhas, o Tamar.
12:50 - Estamos em Salvador.
13:57 – A praia de Itapuã estava lotada.
Paramos para almoçar em um restaurante em frente à praia e não havia um responsável para cuidar dos carros.
Um “flanelinha” tentou me achacar uns trocados, dentro do perímetro do estacionamento do restaurante, como eu não gosto deste tipo de pessoa, procurei uma vaga mais segura.
Ao sairmos do restaurante, após almoçarmos, vimos o “flanelinha” sendo preso e aparentemente ele havia assaltado algum motorista no farol que fica em frente ao restaurante.
Parabéns à polícia baiana e cuidado turistas. 15:08 – Passamos em frente ao elevador Lacerda.
15:23 – Estamos na estação de embarque para atravessar a baia de Todos os Santos.
16:00 – Embarcamos no ferry-boat que tem até serviço de bordo, além de transportar o carro, nós passageiros pudemos apreciar uma cerveja gelada e para quem gosta de futebol, o programa na tv era assistir ao jogo do Flamengo.
Travessia da
Baia de Todos os
Santos em Salvador
Bahia
17:00 – Chegamos a Bom Despacho na ilha de Itaparica.
Passamos por Nazaré.
18:08 – Guaibim, mais uma vez a polícia rodoviária nos para e pede a documentação do motorista e do veículo, gostaria que a polícia rodoviária fosse mais atuante, isto evitaria muitos crimes, mas em 10.000 km de estradas só fomos parados 3 vezes.
18:12 – Chegamos em Valença – Hospedamos na pousada da Orla. Saímos para tomar umas geladas e um lanche. Enquanto estávamos sentados na beira do cais, um garoto sem me pedir permissão lavou o Celta. A cidade está cheia de pedintes, adultos te param e na maior cara dura te pedem um dinheiro, várias crianças vivem em função da mendicância, talvez pelo fato da cidade ser parada para Morro de São Paulo, que é uma praia de “ricos”, a população se acostumou a viver pedindo, mas pelo que pude notar a região não é pobre e nem miserável, o que acontece é que várias pessoas se acostumaram à vida de pedintes.
Valença é muito visitada principalmente por ser o principal acesso a Ilha de Tinharé, turisticamente famosa pelo povoado de Morro de São Paulo. Destaca-se como o principal produtor de mariscos da Bahia.
A maior cidade da costa do dendê é ao mesmo tempo, uma plácida cidade pesqueira e colonial do século XVI e um dinâmico pólo comercial e de serviços da região. Famosa por seus camarões. Valença conta com um cais do porto onde o casario tem a beleza de um cartão postal antigo, ofertando aos visitantes um rico patrimônio histórico que convive em harmonia com os barcos pitorescos que povoam o Rio Una, que divide a cidade. Três pontes interligam as duas partes da cidade.
A região sofreu com a invasão holandesa na Bahia em 1624 e participou ativamente das lutas pela independência da Bahia.
Quando abrigou a esquadra do Lord Cochrane, vindo para combater os portugueses em 1823. A atuação nessa luta, ao lado de Cachoeira e de Santo Amaro, foi tão notável que a cidade recebeu o título de "a decidida" como no hino da cidade fala.
Na Segunda Guerra Mundial, Valença também entrou em cena, quando submarinos alemães bombardearam os navios Itajiba e Irará, na sua costa. Os passageiros foram salvos pelo saveiro Araripe e os feridos levados para o hospital que funcionava improvisadamente no Prédio do Sindicato dos trabalhadores da Industria de Fiação e Tecelagem de Valença, antiga Recreativa, prédio de planta francesa e arquitetura neoclássica. Este mesmo prédio foi o primeiro banco de sangue desta região, fato ocorrido em agosto de 1942.Por este gesto, Valença recebeu o título de “a hospitaleira”.
10/03/2008 – Na estrada, novamente. 71.965 no odômetro do Celta, acelerando em direção a Itacaré.
Passamos por uma região muito bonita, com plantação de Piaçava, Dendê, Cacau.
Itaperoá, Nilo Peçanha, Ituberaba, Ibirapitanga, Camamu, quantas cidades, quantas histórias, quantas amizades poderíamos fazer, quantas histórias poderíamos ouvir, quantos conhecimentos poderíamos aprender, mas o motor do carro continua a impulsionar as rodas em direção ao sul.
10:15 – Parei para catar sementes de “Açaí”
10:59 – Paramos num quiosque e tomamos um bom suco de cacau, não perguntei a receita de como se faz, dias depois, tentei fazer suco de cacau, mas não consegui.
11:04 – Ubaitaba é nossa porta de entrada para a estrada de chão que leva a Itacaré, vamos acompanhar o curso do rio de Contas. A opção de seguir por estrada de terra, não foi a mais econômica, nem a mais rápida e se o Celta falasse ele certamente não teria concordado, em compensação, continuamos passeando por uma paisagem linda de plantação de Cacau.
13:01 – Chegamos a Itacaré, o odômetro marca 72.164 km
Almoçamos e em seguida nos dirigimos à Pousada Arcádia da minha amiga Ana Maria Bruni.
Fomos muito bem acolhidos.
Assim que cheguei na pousada tive o prazer de falar por celular com a Vera Mattos.
A Ana nos sugeriu um passeio pelas praias da cidade e á tarde deveríamos contemplar o pôr-do-sol.
À noite passeamos pela vila em busca de lembranças e de pechinchas.
Chegamos à pousada, ficamos papeando. Os apartamentos são muito confortáveis e a decoração é muito boa, isto nos convidou para o merecido descanso.
De manhã fomos brindados com um ótimo café da manhã, todos elegeram como o melhor café da manhã de toda viagem.
A Ana nos sugeriu que fôssemos à praia de Itacarézinho.
Fomos conferir: é uma praia linda, muita linda, linda paisagem, areia limpa, água limpa, coqueiros enfeitando a encosta, garotas, muitas garotas lindas, para enfeitar ainda mais a paisagem. Neste dia, os homens fomos contemplados com a visita de “finalistas”. É assim que se diz “formandas” em Portugal, cada cachopa! Ah, se eu fosse solteiro! Tomara que minha esposa não leia esta parte do meu blog, mas que as cachopas são lindas, isto não posso negar, nem sob tortura, imagina só, umas 50 cachopas, desfilando em frente aos meus olhos!
A tarde passamos na vila à cata de lembranças e pechinchas e ao entardecer tornamos a contemplar o por do sol.
À noite as mulheres finalmente foram pescar, a Auxiliadora finalmente, conseguiu usar suas tralhas de pescas e a Conceição a acompanhou. A pousada Arcádia possui um píer de pesca muito bom, vale a pena conferir e tentar fisgar algum peixe, mesmo que seja para devolver ao mar, como fizeram as duas Marias.
12-03-2008
Estrada, 3.000 km de estrada nos aguardam até Sampa
Pé no acelerador, rodas no asfalto, motor a 5.000 rpm, direção Sul.
Agradeço aos companheiros de viagem Maria Auxiliadora e Álvaro, minha esposa Maria Conceição e a vocês pela paciência de lerem este relato de viagem.
Uma coisa a gente aprende quando viaja:
Nós somos muito pequenos e nada conhecemos deste mundo maravilhoso, principalmente as pessoas que nós encontramos pela estrada, são pessoas tão especiais, que dá vontade de ficar dias e dias ouvindo suas histórias e nos encantando com a maravilha que é cada um deles, cada pessoa, cada ser, cada planta, cada animal, cada rocha, cada areia na praia, cada peixe no rio ou no mar, cada pássaro voando e cantando, cada rocha, cada montanha, cada pedacinho, cada milésimo de centímetro, ou cada segundo, são coisas muito lindas.
Cada vez que viajamos pelo mundo, viajamos para dentro de nós, dentro de nossas almas, dentro de nossos corações, cada vez mais nos encontramos, quanto mais longe vamos, mais perto ficamos de nossa pequenez e de nossas dúvidas, nossas incertezas.
VIAJAR É ISTO:
É SAIR DE DENTRO DE NÓS, PARA NOS APROFUNDARMOS AINDA MAIS DENTRO DE NÓS.
Leia também os outros capítulos:
Capítulo 6 - Recife, Arapiraca e as Alagoas
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/viagem-ao-nordeste-6-alagoas.html
Capítulo 5 - João Pessoa, Recife, Porto de Galinhas
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/uma-viagem-ao-nordeste-5.html
Capítulo 4 - Natal, Pipa, João Pessoa
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/uma-viagem-ao-nordeste-4.html
Capítulo 3 - Jericoacoara, Natal
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/05/uma-viagem-ao-nordeste-3.html
Capítulo 2 - Jijoca, Jericoacoara
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/04/viagem-ao-nordeste-2-uma-aventura.html
Capítulo inicial - São Paulo, Guarulhos, Brasília, Terezina, Jijoca
http://amorordemeprogresso.blogspot.com/2008/03/viagem-ao-nordeste-do-brasil.html
domingo, 25 de maio de 2008
Lamentável! - a escola no Brasil
NA ÚLTIMA semana, a imprensa noticiou com grande destaque a má qualidade do ensino público em São Paulo. Isso atinge metade das escolas do ensino fundamental e 60% das escolas do ensino médio. Neste nível, o quadro é escandaloso. Em uma escala que varia de 0 a 10, o índice de qualidade do ensino médio é de apenas 1,41. Uma calamidade.
Várias causas foram apontadas, tais como: 1) a falta de professores de matemática, física, química, história e geografia; 2) a ausência de interesses dos adolescentes pelos conteúdos ensinados; 3) a má gestão e o pouco envolvimento dos professores e dos diretores com a escola; 4) a precariedade das condições nas quais os professores são obrigados a trabalhar.
Não desprezo nenhum desses fatores, pois, afinal, são resultado de uma pesquisa séria. Mas, pelo que ouço das pessoas e pelo que leio nas páginas policiais, acredito que a deterioração do respeito humano que reina nas escolas públicas brasileiras seja uma das mais importantes causas.
A realidade no ensino médio é dramática. Os professores foram encurralados pelos adolescentes. Muitos têm medo de entrar na sala de aula por terem sofrido impropérios verbais e até agressões físicas.
Na maioria das escolas, os alunos se organizam em bandos para ofender funcionários, professores e diretores e também para depredar as instalações. São jovens que revelam um sentimento de ódio e que praticam essas agressões como parte de uma pseudocidadania que, na verdade, é característica das leis da selva, e não das regras da democracia.
Num ambiente como esse, só resta o faz-de-conta de um que ensina e de outro que apreende. É claro que há exceções. Ainda contamos com uma parcela de funcionários, professores e diretores abnegados, corajosos e dedicados, e que trabalham como heróis dentro de uma situação que piora a cada dia.
As causas apontadas pela pesquisa são contornáveis por meio de ações combinadas de formação e de incentivo aos professores e gestores. Mas a recuperação do respeito humano é um desafio monumental, pois reflete as mazelas da nossa sociedade e os maus exemplos que os adultos protagonizam na vida real e na ficção das novelas.
Apesar do enorme desafio, não podemos esmorecer. Para chegar a uma boa educação, teremos de resgatar o respeito e criar um ambiente saudável para o ensino e o aprendizado. Para tanto, faz-se urgente uma grande campanha de recuperação dos valores. Ela terá de ser contínua e envolver toda a sociedade.
Texto de ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES na Folha de São Paulo de 25/05/2008
sábado, 24 de maio de 2008
Bispo do Xingu defende compra de armas por índios
Dom Erwin Krautler, que também é presidente do Cimi, disse que facão não é arma.
Em Altamira, índios voltaram a protestar contra o projeto da usina de Belo Monte.
O bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Dom Erwin Krautler, defendeu a compra de facões para os índios que atacaram e feriram um engenheiro da Eletrobrás em Altamira.
No encerramento do encontro, às margens do rio Xingu, em Altamira, mais uma vez os índios protestaram contra o projeto da usina de Belo Monte. O bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário, dom Erwin Krautler, defendeu José Cleanton Ribeiro, coordenador da entidade na região.
Ribeiro é o homem que aparece, em imagens gravadas pelo circuito interno de TV de uma loja, comprando facões ao lado de um índio. “Se alguém pede para que se compre um facão porque não comprar? O facão não é uma arma. Se depois acontece algumas coisa, não é culpa daquele que comprou o facão. Estão abusando e aproveitando de um incidente lamentável, para dizer que nós estamos armando o povo. Isso não é nada verdade”, disse o bispo Krautler.
Na última terça-feira (20), os índios usaram facões para ferir o braço do engenheiro da Eletrobrás, Paulo Fernando Rezende, que apresentava o projeto para a construção da hidrelétrica de Belo Monte.
O bispo Dom Erwin Krautler lamentou a agressão, mas questionou a postura do engenheiro durante o encontro. “Os índios não queriam matar esse homem. Por outro lado tenho que dizer que o homem não usou de pedagogia para com os povos indígenas. Ele não entendeu a alma kaiapó, senão não teria acontecido nunca um incidente como este”.
Na loja, em Altamira, o vendedor confirmou a venda de facões. “Eles chegaram atrás de facões. Eles compraram três facões e um ciceiro, que a gente chama aqui de chocalho, que é mais conhecido”, disse o vendedor Ailson Lacerda.
Apoio financeiro
O dinheiro para a compra veio do movimento de Mulheres Trabalhadoras de Altamira. “É um recurso solidário, as pessoas estão nos apoiando e a gente passou com a maior tranqüilidade. Passei e repasso de novo”, diz a coordenadora do Movimento das Mulheres Trabalhadoras de Altamira, Antônia Pereira Martins.
Em nota publicada na internet, o Conselho Indigenista Missionário, disse que a compra de três facões foi baseada no respeito à cultura e a identidade dos índios. A justiça federal também divulgou nota e informou que recebeu um abaixo-assinado com 300 assinaturas dos índios do Xingu. No documento, o recado: "ainda haverá conflito entre o empreendedor e os povos indígenas, caso os senhores não parem com essas obras".
O coordenador do conselho na região, José Cleanton Ribeiro, e a representante do Movimento das Mulheres Trabalhadoras de Altamira, Antônia Pereira Martins, prestaram depoimento na Polícia Federal na condição de testemunhas. Os dois disseram que não incitaram os índios a violência. Ribeiro disse que comprou os facões a pedido de um cacique kaiapó para rituais indígenas. Segundo o delegado responsável pelo caso, neste momento não é possível associar a compra dos facões a agressão ao funcionário da Eletrobrás.
A Eletrobrás só vai comentar a agressão em Altamira quando o engenheiro Rezende voltar ao trabalho, na segunda-feira (26). E não vai se pronunciar sobre as declarações do Conselho Indigenista Missionário.
Do G1
http://g1.globo.com/Noticias/Brasil/0,,MUL534716-5598,00-BISPO+DO+XINGU+DEFENDE+COMPRA+DE+FACOES+PARA+OS+INDIOS+NO+PARA.html
Meu comentário:
Facões, pedras, revólveres, pistolas, metralhadoras, fuzis, bombas atômicas, bombas de hidrogênio ou evangelhos envenados, são a mesma coisa, tudo que provocar ou incentivar a violência, deve ser repudiado pelas pessoas civilizadas.
Estes missionários devem ser expulsos das terras indígenas para que os índios possam adorar seus deuses, sem interferência dos "civilizados".
Anonimato criminoso, Orkut, blogs e outros
Revelar a identidade daquele que quis ocultar-se ao ofender a honra de alguém não viola o direito da livre manifestação
Continuam chegando aos tribunais questões relativas a abusos cometidos nos sistemas eletrônicos de comunicação via internet, com ofensas à honra e à dignidade de pessoas. O uso dos novos meios de divulgação para atingir inimigos, causando-lhes prejuízo com a difusão de informações falsas, agrava-se seriamente quando feito sob proteção de anonimato que lhes seja permitido.
Em nosso país, a questão vem claramente distinguida em duas partes fáceis de compreender. De um lado, como valor social indiscutível, está a liberdade plena da manifestação do pensamento. Não há democracia sem que essa garantia seja resguardada. De outro lado, como valor individual fundamentalíssimo, a preservação da vida, da intimidade, da imagem e da honra das pessoas.
Os dois segmentos, assegurados pela Carta Magna, têm, como um de seus elementos básicos, a proibição do anonimato. Quando se trata de comunicações destinadas ao público em geral, o anonimato nega o direito da vítima. Resulta em benefício danoso daquele que se esconde criminosamente, na certeza de que não será chamado a responder pelas conseqüências de sua ilicitude. Essa conduta é inaceitável.
Perde-se na noite do tempo a grita contra a divulgação anônima de ofensas ou de versões desairosas sobre pessoas ou grupos. Do mesmo modo, tem sido preservada a liberdade de emitir opiniões críticas, ainda que desagradem aos atingidos. O ponto do equilíbrio entre o direito individual e o direito geral é difícil de situar em cada caso, mas continua inaceitável quando, na atualidade, o sistema eletrônico, ao preservar seus clientes não identificados, garanta o anonimato do ofensor. Trato do tema depois de debate em mesa na Universidade Anhembi-Morumbi à qual compareceu, entre outros, Frederico Vasconcelos, expoente de nosso jornalismo investigativo em textos assinados por ele.
A imposição de revelar a identidade daquele que quis ocultar-se ao ofender a honra de alguém não viola o direito da livre manifestação. A divulgação ofensiva sem autoria conhecida é o oposto da democracia.
O governo do povo, pelo povo, seria impensável se, na amplitude dos "orkuts" e dos blogs, a agressão da honra tivesse compatibilidade com o anonimato. Pensamento anônimo pode existir na divulgação, desde que não interfira na órbita do direito de terceiros.
Posta a mesma questão em face da ciência jurídica, sabe-se que o direito se destina a coordenar as relações interpessoais, para repetir a feliz frase de Del Vecchio. Coordenação pacífica, equilibrada. Essas qualidades não sobrevivem e são impossíveis de serem preservadas ao se unirem o emissor ofensivo e o meio que propicia a comunicação pública, oral ou escrita, eletrônica ou impressa, que proteja o autor de crime contra a honra, punido pela lei.
Onde, pois, o equilíbrio? Incluídos meios velhos e novos sob a designação de comunicação social, tomada como gênero, é imprescindível submetê-los aos mesmos critérios de clareza aceitos tradicionalmente. Não fosse assim, estaríamos privilegiando a irresponsabilidade dos anônimos em face dos que, no exercício profissional de serem comunicadores, são constantemente chamados a garantir o direito de resposta sob o risco de sanções penais e econômicas.
Texto de Walter Ceneviva na Folha de São Paulo de 24/05/2008
Jovens sem emprego: falta ensino técnico
Quase a metade dos desempregados (46,6%) têm entre 15 e 24 anos de idade; é preciso investir mais em ensino técnico
A ECONOMIA brasileira caminha para completar cinco anos de crescimento ininterrupto. Esse crescimento, embora oscilante e de ritmo moderado, vem se traduzindo, conforme seria de esperar, numa melhora progressiva do mercado de trabalho em geral. Para a população jovem, no entanto, a melhora tem sido muito menos pronunciada.
Conforme destacou reportagem desta Folha na quarta-feira, recente estudo do IPEA apurou que o desemprego chega a 19% entre os jovens de 15 a 24 anos de idade. Essa proporção é 3,5 vezes aquela observada entre os adultos, e o descompasso vem aumentando (em 1995 a taxa de desocupação dos jovens não chegava ao triplo da dos adultos).
Como conseqüência, a participação dos jovens no universo dos desempregados eleva-se. O referido estudo (que se baseia em informações relativas a 2005) aponta que quase metade dos desempregados (46,6%) têm entre 15 e 24 anos de idade. Esta foi a proporção mais alta apurada num conjunto de dez países examinado pelo IPEA.
Preocupa constatar que, ademais, o aumento da participação dos jovens no contingente dos desempregados brasileiros não está ligado a um aumento do seu peso no universo dos brasileiros em idade de trabalhar (ou seja, com 10 ou mais anos de idade). De fato, a influência da demografia tem sido a oposta: a participação dos jovens na população em idade ativa (PIA) vem caindo rapidamente. Em março de 2002 as pessoas com 15 a 24 anos respondiam por 22,9% da PIA, proporção que recuou para 19,4% em março deste ano.
O problema reside mesmo, portanto, na grande dificuldade que os jovens ainda enfrentam para encontrar um emprego, assim como para preservá-lo. A necessidade de política públicas específicas voltadas a minorar o problema é evidente.
A criação de programas governamentais com esse propósito tem sido pródiga; já os resultados, pífios. O exemplo mais eloqüente foi o Primeiro Emprego, lançado com estardalhaço pelo governo federal em 2003 e abandonado em 2007, depois de redundar na criação de 15 mil postos de trabalho para jovens, o correspondente a irrisórios 3% de sua meta.
Dentre as várias causas do alto desemprego entre os jovens brasileiros, a falta de qualificação profissional é reconhecidamente uma das mais importantes. Mas os cursos públicos de educação profissional técnica, elogiados por sua qualidade, continuam a padecer de uma deficiência grave. Segundo estimativa do Ministério da Educação, citadas no estudo do IPEA, a oferta de vagas atende a apenas 11% da demanda potencial.
Editorial da Folha de São Paulo de 24/05/2008
sexta-feira, 23 de maio de 2008
Viagem ao Nordeste: Recife, Arapiraca e as Alagoas
10:47 - Praia de São José da Coroa Grande, uma pena que não vamos parar, a paisagem é deslumbrante. Margeada por piscinas naturais, a cidade tem sua denominação inspirada nas coroas que emergem nas marés baixas nos bancos de areia entre a beira-mar e os corais.
10:55 – Divisa Pernambuco com Alagoas, mal chegamos a Alagoas e fomos parados pela polícia rodoviária, pela 1ª vez depois de 5.735 km percorridos. O odômetro marca 70.732
Paramos em Maragogi, que é uma das praias famosas das Alagoas.
A praia está deserta, afinal de contas, hoje é segunda-feira, e o carnaval já passou. Passeamos pela vila com sua orla repleta de bares, restaurantes e pequenas lojas de artesanato.
O Álvaro comprou coco seco bem barato, vimos um trailer que é uma casa sobre rodas, estacionada na praia, junto a uma guarita da polícia militar e usando energia elétrica de um “gato”
Em Maragogi, o mergulho nas galés integra o turista à fauna marinha
Os mais extensos e preservados recifes de corais do país ficam em uma APA (Área de Proteção Ambiental) que começa ao norte de Maceió e vai até a cidade de Rio Formoso, no sul de Pernambuco.
São 135 km de praias, piscinas naturais e mangues, habitat do peixe-boi marinho, ameaçado de extinção. Um ótimo local para conhecer os recifes é a cidade de Maragogi, cerca de 130 km ao norte de Maceió, de onde é possível fazer passeios de barco até as galés, piscinas naturais de água esverdeada e fundo esbranquiçado nas áreas não tomadas pelos corais.
As galés ficam a cerca de seis quilômetros da praia e podem ser alcançadas por lanchas ou catamarãs em 20 minutos, no máximo, durante a maré baixa, quando a profundidade varia de apenas 0,5 metros a seis metros.
12:05 – Saímos de Maragogi, passamos por uma região onde os rios estão secos e na estrada passamos por vários acampamentos do movimento dos sem terra, a maioria das cabanas está vazia, estão apenas ocupando lugar na fila, pois – “se sair uma terrinha eu to aqui, tomo posse e depois vendo, por que o meu negócio não é carpir a terra, carpir é muito cansativo, prefiro receber bolsa-família”
13:45 – Estamos na praia da Sereia, é uma extensão do Riacho Doce, que forma um dos conjuntos de praias mais bonitas do litoral alagoano, sua beleza despertou o interasse de muitos, que começaram adquirir lotes e construir suas casas de veraneio.
Hoje, alguns moram lá e trabalham na cidade. Nos fins de semana, o movimento é intenso nos bares e barracas improvisadas, enquanto as boleiras e vendedores de frutas, peixes e crustáceos faturam bem, garantindo o sustento da família.
Riacho Doce é tudo isso, e muito mais. É o típico lugarejo provinciano, que por mais modernidade que exista, seus moradores ainda conservam os velhos hábitos. Em dezembro, comemora-se a festa de sua padroeira, Nossa Senhora da Conceição. A igrejinha se enfeita para receber os fiéis, que rezam as nove noites e no dia exato, saem em procissão, com a imagem da Virgem Imaculada Conceição.
14:30 – Paramos na Praia da Sereia para almoçar
Também chamada de Pratagy, é protegida por uma barreira de corais que forma uma piscina natural, onde os banhistas se divertem, e onde também foi erguida uma sereia, daí o nome da praia. Fora da piscina natural, o mar é forte e perigoso para banho.
15:55 – Estamos na Praia do Francês, a população local afirma que a praia tem essa denominação po ter sido, na época do Brasil Colonial, um dos locais frequentados por contrabandistas franceses de Pau-Brasil.
O canto esquerdo da praia é o mais badalado, com bares, restaurantes, piscinas naturais e ondas calmas, pois é protegido pelos arrecifes. O lado oposto é mais selvagem, com ondas fortes, razão pela qual é procurado por surfistas, e para campeonatos de surf.
As suas águas variam do azul turquesa ao verde escuro e a areia é clara e fofa. Entre as várias atrações, estão disponíveis vôos de ultra-leve, passeios de banana-boat, barco e jet-skis, além de diversas lojas de artesanato.
Aqui deveríamos nos encontrar com o casal Galego e Jaqueline que seria nossos anfitriões e ficaríamos hospedados na casa deles na praia dos Franceses, mas a filha deles, Maria, estava doente e teve que ser internada no hospital de Arapiraca e então nos dirigimos até Arapiraca para visitá-los, deste modo vamos conhecer o interior do estado de Alagoas, é a primeira vez que saímos da beira-mar para ir propositalmente ao interior de algum estado do nordeste.
17:07 – Vamos para Arapiraca visitar o casal Galego e Jaqueline e sua filha Maria.
A Jaqueline é sobrinha da Maria Auxiliadora, esposa do Álvaro, que formam o quarteto excursionista.
A estrada para Arapiraca está rodeada de plantação de cana e pela estrada avistamos várias usinas de açúcar e álcool, ficamos impressionados com a sinalização da estrada, avisando das saídas dos caminhões de cana, observamos várias sinaleiras feitas com tochas ao longo da estrada, avisando a saída destes caminhões, os usineiros estão de parabéns quanto a este quesito.
18:40 – Paramos no primeiro posto de combustíveis de Arapiraca, ligamos para o Galego vir nos buscar, pois não sabemos como chegar a casa deles.
19:22 - Chegamos à casa de nossos anfitriões em Arapiraca.
Fomos recepcionados com um farto lanche preparado pela secretária do Galego.
A Jaqueline veio nos ver e em seguida foi passar a noite com a Maria.
04-03-2008 – De manhã fomos torturados por um super-café-da-manhã.
A Tânia preparou inhame cozido, que aqui em Sampa e nas Gerais a gente chama de cará, batata doce, cuscuz, tapioca, bife de contrafilé, carne seca, bolos, pães, frutas diversas, inclusive fruta-pão, que eu não conhecia; ovos, queijo coalho, leite, manteiga e café! ... vocês imaginam que ela não esqueceu do café...
A seguir fomos até o hospital para ver a filhinha deles a Maria, que é uma gracinha de menina.
Vi uma faixa alusiva ao dia da mulher:
“Violência contra mulher... Tolerância: nenhuma”
Em 22/11/2022 volto aqui para relatar que em Arapiraca existe uma avenida Deputada Ceci Cunha, para que o povo não se esqueça que esta mulher foi assassinada a mando do deputado Talvane Alburquerque.
10:00 – O Galego nos leva, eu e o Álvaro para tomar uma cerveja num bar em frente à sua casa, enquanto deglutíamos a cerveja o telefone móvel, como se diz em Portugal ou celular como se diz no Brasil, tocou e o Galego nos deixou, engoli o restante da cerveja, pedi a conta e saímos, pois a cerveja era boa e gelada, mas os meus ouvidos não suportavam a barulheira, música ruim e com decibéis acima do normal.
Saí do bar para descansar meus tímpanos e me dirigi a uma lun-house para atualizar meu Orkut, mal sentei e aparece o Galego me convidando para ir a outro bar, sei lá o nome que eles dão a esses estabelecimentos em Arapiraca.
Eu perguntei tem “barulho”? E respondi que se tiver eu não vou.
O Galego respondeu que não e então fomos eu e o Álvaro, para mais um barzinho super agradável, com petiscos caldos, música do Tim Maia e cerveja estupidamente gelada. Os caldos são deliciosos e os petiscos idem. A conversa é boa.
12:30 – Hora de almoço – o Galego nos leva até sua casa e somos torturados com farto almoço, que infelizmente não pude provar de tudo, senão, a minha pança estourava de vez.
À tarde, repete-se o mesmo ritual de bebidas e comidas.
A Maria conseguiu sair do hospital, mas ainda inspira cuidados.
05-03-2008 – O mesmo ritual do dia anterior.
Comida, bebida, comida, bebida, passeios pela cidade.
A Maria continua sob cuidados médicos, mas aparentemente não é nada sério.
06-03-2008 – A Maria, a filhinha do Galego e da Jaqueline, continua no hospital, mas sem gravidade.
Resolvemos voltar à Praia do Francês em companhia do Galego e da Jaqueline.
O Galego e a Jaqueline nos mostrou alguns lugares interessantes da região, paramos no mirante do Gunga de onde pudemos avistar a Barra de São Miguel.
É um cenário de plantação de coqueiros e ao fundo uma praia maravilhosa.
O Galego nos pagou o almoço num ótimo restaurante na lagoa de Manguaba, aliás, por falar em pagar, quê que é isso? ... Todo tempo que estivemos em Arapiraca e em companhia do Galego não pagamos nada, isto até me lembra uma música que diz assim: Eu vou para Alagoas pra só comer, beber, dormir e não pagar.
A polícia rodoviária nos para pela 2ª vez.
O Galego nos deixou na casa de um amigo dele.
Gostamos muito.
Casa de veraneio, desocupada, com 2 quartos, banheiro, piscina, etc.
Fizemos uma rápida faxina, em seguida os homens foram comprar mantimentos no mercado e as mulheres ficaram em casa.
O mercado fica em Marechal Deodoro, cuja estimada em 2004 era de 41.538 habitantes.
O município faz parte da Região Metropolitana de Maceió.
Foi fundada em 1611 com o nome de povoado de Vila Madalena de Sumaúna. Servia para proteger o pau-brasil do contrabando e da ação de piratas e outros ladrões. O município foi criado em 1636, sendo a vila designada por Santa Maria Madalena da Lagoa do Sul. Em 1817 passou a capital da capitania de Alagoas, criada nesse ano, sendo o nome da vila alterado para Alagoas. Em 1823 foi elevada a cidade. A capital da província de Alagoas passou para Maceió em 1839. O nome da cidade foi alterado para o actual no ano de 1939, em homenagem ao marechal Deodoro da Fonseca, alagoano que foi o primeiro presidente da república do Brasil.
Em 16 de setembro de 2006, dia da emancipação política de Alagoas, foi considerada pelo Ministério da Cultura como Patrimônio Histórico Nacional, em virtude do seu passado e de ter sido berço do Marechal Deodoro da Fonseca, proclamador da República Brasileira.
Os vilarejos que compõem Marechal Deodoro são quatro, Barra Nova, Massagueira, Praia do Francês e Novo Lino.
A Praia do Francês é um dos cartões postais mais conhecidos de Alagoas.
07-03-2008
De novo fomos à praia do Francês.
Sua principal praia, inicialmente chamada Porto dos Franceses, está cotada entre as dez melhores do Brasil para a prática de surfe.
No entanto, do lado esquerdo, é protegida por uma barreira de arrecifes, que, na maré baixa, forma uma grande piscina natural, de águas calmas, mornas e transparentes, cujo tom varia do azul ao verde e convida ao mergulho e à contemplação.
De areia clara, fina e fofa, com muitas barracas erguidas na orla, a célebre Praia do Francês, que já foi considerada uma das mais bonitas da região, hoje em dia recebe bastante movimento, principalmente nos finais de semana.
À direita, o trecho de mar aberto consagrado pelos surfistas, é mais sossegado.
Quem gosta de tranqüilidade, deve visitar a Praia do Saco da Pedra, que faz parte de uma reserva ecológica e pode ser alcançada a pé, pela própria Praia do Francês, na maré baixa, ou de carro, passando por propriedades particulares.
De areia fina, recifes e água tépida e cristalina, possui muitos coqueirais em meio à vegetação nativa.
As duas Marias e o Álvaro ficaram na praia e eu peguei um ônibus lotação e fui à Maceió pagar contas no banco.
Maceió é uma cidade pequena, muito bonita. Vou voltar para conhecer melhor.
14:05 – Fomos para casa almoçar.
A Maria Auxiliadora estava com “soneira” e só acordou no dia seguinte.
Curtimos o resto da tarde na piscina da casa e umas loiras geladas.
08-03-2008
O Galego e a Jaqueline queriam passar o fim de semana conosco, mas devido aos cuidados com a filhinha deles a Maria, ficaram em Arapiraca e nós resolvemos retomar a estrada rumo ao Sul
8:54 – 71179 km no odômetro, estamos de novo na estrada.
Eu, o José, pego o volante em direção à Bahia.
Leia também os outros capítulos:
Capítulo 7 – final - Viagem ao Nordeste, final: Praia do Francês, Aracaju, Itacaré, São Paulo
Os bons morrem cedo demais: senador Jefferson Péres
É tão estranho, os bons morrem cedo demais
Love In The Afternoon
Legião Urbana
Composição: Renato Russo
É tão estranho, os bons morrem jovens
Assim parece ser quando me lembro de você
Que acabou indo embora, cedo demais
Quando eu lhe dizia: - me apaixono todo dia
E é sempre a pessoa errada
Você sorriu e disse: - eu gosto de você também
Só que você foi embora cedo demais
Eu continuo aqui, meu trabalho e meus amigos
E me lembro de você em dias assim
dia de chuva, dia de sol
E o que sinto eu não sei dizer
- Vai com os anjos, vai em paz
Era assim todo dia de tarde, a descoberta da amizade
Até a próxima vez, é tão estranho
Os bons morrem antes
Me lembro de você e de tanta gente
Que se foi cedo demais
E cedo demais eu aprendi a ter tudo que sempre quis
Só não aprendi a perder
E eu, que tive um começo feliz
Do resto eu não sei dizer
Lembro das tardes que passamos juntos
Não é sempre, mas eu sei
Que você está bem agora
Só que este ano o verão acabou
Cedo demais.
Ouça a entrevista de Lúcia Hippolito que comenta sobre a vida e obra do senador Jefferson Péres
http://video.globo.com/Videos/Player/Noticias/0,,GIM831310-7823-MORRE+O+SENADOR+JEFFERSON+PERES,00.html
No Jornal Gente da rádio Bandeirantes José Paulo de Andrade lamentou a morte do senador e disse que "os bons morrem jovens"
Abaixo trechos de Renata Lo Prete na coluna Painel da Folha de São Paulo de 24/05/08
Testamento 1. Líder do PDT, o senador Jefferson Péres (AM), morto ontem, dedicou-se nos últimos meses a duas causas. A primeira era combater o terceiro mandato. "Essa idéia esdrúxula não vai prosperar. Ela fere um dos fundamentos da democracia", discursou em 16 de abril.
Testamento 2. A outra era criticar a demarcação contínua da reserva Raposa/Serra do Sol. "O governo brasileiro, cedendo à pressão de entidades estrangeiras, cometeu um grave equívoco. Não defendo interesses de proprietários rurais, mas dos caboclos. Há perigo de separatismo no futuro", afirmou em 22 de abril.
25/05/2008
Como deveríamos ser - Homenagem de Cristovam Buarque
Jefferson era uma rara espécie no cenário político brasileiro. E sua morte nos passa a sensação de que o Senado ficou muito menor
NA SEXTA-FEIRA de manhã morreu um pedaço da ética na política brasileira. A ética, a política, o Senado ficaram menores com a partida de Jefferson Péres. Raros homens públicos conseguiram encarnar tanto uma bandeira como ele, nenhum conseguiu encarnar tanto a bandeira da ética.
Não foi por acaso. Foi o trabalho de uma vida de coerência, discursos e comportamento. Jefferson Péres não era um político de duas palavras nem de duas caras. E fazia questão de mostrar a cara que tinha e a palavra que dizia. Não perdia oportunidade de falar na defesa das questões morais, com ênfase, sem meias palavras, sem concessões.
Quando teve a generosidade de aceitar ser candidato a vice-presidente na chapa do PDT comigo, ele disse que não sabia dar tapinhas nas costas, carregar crianças que não conhecia, rir sem vontade. Falei que políticos com aquele comportamento já temos muitos. Precisávamos exatamente da "maneira Péres" de fazer política. E sua marca foi fundamental. Onde passei, durante a campanha, escutava de todos que eu tinha o vice que orgulhava a chapa.
Recebi a notícia da sua morte pouco antes de entrar para fazer uma palestra na Universidade da Europa Central, em Budapeste (Hungria), sobre o papel do biodiesel e do etanol na reformulação da matriz energética mundial e na dinâmica da economia brasileira, seguida do lançamento da tradução de meu livro "Os Deuses Subterrâneos". Foi um choque que me fez pensar em suspender tudo e voltar para prestar minha homenagem ao companheiro de chapa, companheiro de partido, orgulho de nós senadores. Seria impossível. Foi preciso levar adiante a agenda, desabafando sobre o ocorrido com os que me escutavam. E esperar chegar ao hotel para escrever estas linhas.
Cada notícia de morte nos trás um trauma, mas Jefferson trouxe mais de um, além do desconforto da distância em que me encontrava no momento.
Ele fazia parte de um pequeno grupo de pessoas que nos passam a idéia de que não morreriam. Não sei se seu físico demonstrava saúde, se sua presença marcante nos parecia permanente, mas ele passava essa idéia.
O outro choque é pelo que ele representava. Jefferson era uma rara espécie no cenário político brasileiro.
E sua morte nos passa a sensação de que teria sido apagada uma parte da ética na nossa política. De que o Senado fica muito menor a partir de agora. Por isso, e em homenagem a ele, vai ser preciso continuar a luta usando o seu legado, transformando-o em um símbolo: o da política com ética, sem demagogia, sem falsidade. A política cujo discurso se faz enfrentando e propondo caminhos, não com o vazio de propostas e o excesso de elogios mútuos de todos os dias.
Ao lado do Jefferson da ética, perdemos também um grande senador da Amazônia. Um defensor de nossa soberania. Porque, além de decente, ele era um nacionalista. Defendia o Amazonas e a Amazônia-nossa com todo o vigor, a serviço dos brasileiros, não apenas como uma reserva paralisada no tempo. Suas últimas falas foram sobre a Amazônia que ele tanto amava e tão bem representava.
Perdemos dois anos e meio de um grande senador e homem público, porque ele vinha afirmando que não tinha pretensões de voltar ao Senado, desejava sair da vida pública, que lhe parecia sem motivação.
Não vamos saber se de fato esse sentimento de frustração o levaria a deixar a política ou se, na última hora, perceberia que não tinha o direito de deixar essa lacuna. Ele não precisou tomar a decisão ou cumpri-la, se já estava tomada no seu fórum íntimo. Quis o destino que ele nem ao menos terminasse seu mandato atual.
Fica para nós, colegas do Senado, amigos e correligionários, a obrigação de levar adiante sua luta. Retomar seus projetos de lei e fazer cada um deles ser aprovado. Ler caladamente seus discursos, para nos inspirarmos.
E lê-los na tribuna, para lembrar aos brasileiros que o país teve um político como deveríamos ser todos nós.
Para o PDT, fica um desafio enorme, porque, a cada erro nosso, seremos lembrados de Jefferson Péres. Seremos desafiados pelo exemplo positivo que tivemos. E que fica.
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CRISTOVAM BUARQUE , 64, doutor em economia, é professor da UnB (Universidade de Brasília) e senador da República pelo PDT-DF. Foi reitor da UnB (1985-1989), governador do Distrito Federal pelo PT (1995-1998) e ministro da Educação (2003-2004). Concorreu à Presidência da República nas eleições de 2006, tendo o senador Jefferson Péres como candidato a vice-presidente em sua chapa.
Da Folha de São Paulo de 25/05/2008
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Falácias sobre a luta armada na ditadura
A LUTA armada, de tempos em tempos, reaparece no noticiário. Nos últimos anos, foi se consolidando uma versão da história de que os guerrilheiros combateram a ditadura em defesa da liberdade. Os militares teriam voltado para os quartéis graças às suas heróicas ações. Em um país sem memória, é muito fácil reescrever a história. É urgente enfrentarmos essa falácia. A luta armada não passou de ações isoladas de assaltos a bancos, seqüestros, ataques a instalações militares e só. Apoio popular? Nenhum. O regime militar acabou por outras razões.
Argumentam que não havia outro meio de resistir à ditadura, a não ser pela força. Mais um grave equívoco: muitos dos grupos existiam antes de 1964 e outros foram criados logo depois, quando ainda havia espaço democrático (basta ver a ampla atividade cultural de 1964-1968). Ou seja, a opção pela luta armada, o desprezo pela luta política e pela participação no sistema político e a simpatia pelo foquismo guevarista antecedem o AI-5 (dezembro de 1968), quando, de fato, houve o fechamento do regime.
O terrorismo desses pequenos grupos deu munição (sem trocadilho) para o terrorismo de Estado e acabou usado pela extrema-direita como pretexto para justificar o injustificável: a barbárie repressiva.
Todos os grupos de luta armada defendiam a ditadura do proletariado. As eventuais menções à democracia estavam ligadas à "fase burguesa da revolução". Uma espécie de caminho penoso, uma concessão momentânea rumo à ditadura de partido único.
Conceder-lhes o estatuto histórico de principais responsáveis pela derrocada do regime militar é um absurdo. A luta pela democracia foi travada nos bairros pelos movimentos populares, na defesa da anistia, no movimento estudantil e nos sindicatos. Teve na Igreja Católica um importante aliado, assim como entre os intelectuais, que protestaram contra a censura. E o MDB, nada fez? E seus militantes e parlamentares que foram perseguidos? E os cassados?
Quem contribuiu mais para a restauração da democracia: o articulador de um ato terrorista ou o deputado federal emedebista Lisâneas Maciel, defensor dos direitos humanos, que acabou sendo cassado pelo regime militar em 1976? A ação do MDB, especialmente dos parlamentares da "ala autêntica", precisa ser relembrada. Não foi nada fácil ser oposição nas eleições na década de 1970.
Os militantes dos grupos de luta armada construíram um discurso eficaz. Quem questiona é tachado de adepto da ditadura. Assim, ficam protegidos de qualquer crítica e evitam o que tanto temem: o debate, a divergência, a pluralidade, enfim, a democracia. Mais: transformam a discussão política em questão pessoal, como se a discordância fosse uma espécie de desconsideração dos sofrimentos da prisão. Não há relação entre uma coisa e outra: criticar a luta armada não legitima o terrorismo de Estado.
Precisamos romper o círculo de ferro construído, ainda em 1964, pelos inimigos da democracia, tanto à esquerda como à direita. Não podemos ser reféns, historicamente falando, daqueles que transformaram o adversário, em inimigo; o espaço da política, em espaço de guerra.
Um bom caminho para o país seria a abertura dos arquivos do regime militar. Dessa forma, tanto a ação contrária ao regime como a dos "defensores da ordem" poderiam ser estudadas, debatidas e analisadas. Parece, porém, que o governo não quer. Optou por uma espécie de "cala-boca" financeiro. Rentável, é verdade.
Injusto, também é verdade. Tanto pelo pagamento de indenizações milionárias a privilegiados como pelo abandono de centenas de perseguidos que até hoje não receberam nenhuma compensação. É fundamental não só rever as indenizações já aprovadas como estabelecer critérios rigorosos para os próximos processos. Enfim, precisamos romper os tabus construídos nas últimas quatro décadas: criticar a luta armada não é apoiar a tortura, assim como atacar a selvagem repressão do regime militar não é defender o terrorismo.
O pagamento das indenizações não pode servir como cortina de fumaça para encobrir a história do Brasil. Por que o governo teme a abertura dos arquivos? Abrir os arquivos não significa revanchismo ou coisa que o valha.
O desinteresse do governo pelo tema é tão grande que nem sequer sabe onde estão os arquivos das Forças Armadas e dos órgãos civis de repressão.
Mantê-los fechados só aumenta os boatos e as versões fantasiosas.
Texto de MARCO ANTONIO VILLA, 51, professor de história do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) e autor, entre outros livros, de "Jango, um perfil".
Governo lançará em três meses site para receber denúncia de exploração sexual
O anúncio foi feito hoje (19) pela subsecretária da Criança e do Adolescente, da Secretaria Nacional de Direitos Humanos da Presidência da República, Carmem Oliveira. Ela participou, no Rio de Janeiro, da lançamento do 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes, previsto para ocorrer na cidade de 25 a 28 de novembro.
Segundo a subsecretária, todas as iniciativas desse tipo já implementadas são no âmbito da sociedade civil. Ela disse acreditar que com mais esse site, o processo de identificação dos casos e a punição dos responsáveis pela exploração sexual contra crianças será acelerado.
O projeto é uma parceria entre a secretaria, a Polícia Federal e a Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol).
"Vamos receber denúncias e teremos um sistema de rastreamento que vai nos permitir muito mais rapidamente acionar a Polícia Federal, o que era um dos problemas. As denúncias chegam de várias partes, muitas vezes até duplicadas e não nos davam a devida proporção do problema no Brasil", explicou.
A representante do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) no Brasil, Marie Pierre Poirier, disse que iniciativas como essa refletem a determinação do governo brasileiro em acabar com a impunidade nos casos de exploração sexual. E esse foi um dos motivos, segundo ela, pelo qual o país foi escolhido para sediar o 3º Congresso Mundial de Enfrentamento da Exploração Sexual de Crianças e Adolescentes.
"O governo brasileiro falou 'nós não queremos o terceiro congresso numa seqüência de 50. Queremos agora construir em cima do congresso que começou na Suécia'. O Brasil não quer mais falar de resoluções, mas de resultados. Quer desenvolver metas concretas, construindo indicadores que não existem no cenário internacional", destacou.
O lançamento do congresso contou também com a presença da primeira-dama Marisa Letícia Lula da Silva, presidente de honra do evento. Ela disse que vai participar do encontro, e lamentou que esse tipo de violação aconteça no país.
"É um horror, temos que mudar. Temos que começar a levar [esse tema] para dentro do nosso trabalho, começar a discutir esse assunto, e a população tem que nos ajudar", disse.
O ministro Paulo Vanucchi, da Secretaria Especial de Direitos Humanos, também enfatizou os esforços que o governo vem implementando para combater a violência sexual contra crianças e adolescentes.
Ele destacou que o serviço de discagem direta e gratuita disponível em todos os estados, o Disque 100, como uma ferramenta importante no combate à exploração sexual.
Segundo ele, nos últimos três anos o volume de chamadas diárias recebidas passou de cerca de 170 para 2 mil, das quais 90% se confirmam como denúncias efetivas.
"Vamos fazer do ano do congresso um evento em que o Brasil reforce o seu compromisso com o enfrentamento à erradicação do problema no país", afirmou. A terceira edição do congresso deve reunir três mil pessoas, dentre os quais 300 adolescentes. As edições anteriores foram realizadas em Estocolmo, na Suécia (1996), e em Yokohama, no Japão (2001).
Da Agência Brasil - 19/05/2008 - 16:12
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