QUANDO EU era pequeno, botequins eram lugares muito frequentados, mas mal afamados. Meu pai se orgulhava de jamais haver posto os pés num deles, proeza da qual o filho não pode se gabar.
Naquele tempo, o homem de verdade pedia uma pinga no balcão e tomava de um gole só, sem cara feia. A menos que afeitas a gracejos, as mulheres mudavam de calçada para desviar dos bares. Os tempos felizmente são outros: elas entram onde bem entendem, não hesitam em dar o troco ao primeiro insolente e bebem o que lhes dá na cabeça.
Apesar do empenho feminino em busca da igualdade, por um capricho da natureza, o metabolismo do álcool nas mulheres não é, nem jamais será igual ao nosso. Se administrarmos para mulheres e homens a mesma dose, ajustada de acordo com os índices de massa corpórea, elas fatalmente apresentarão níveis sanguíneos mais elevados.
Nelas, a fragilidade aos efeitos embriagadores é justificada pela maior proporção de tecido gorduroso, por variações na absorção do álcool no decorrer do ciclo menstrual e porque a concentração gástrica da desidrogenase alcoólica (enzima essencial para a decomposição do álcool) é mais baixa do que nos homens.
Esses mecanismos explicam porque ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e seu cortejo de complicações.
O efeito de uma cerveja no corpo feminino equivale ao de duas tomadas por um homem de mesmo peso.
Para os mesmos níveis de ingestão, o risco de cirrose nas mulheres é três vezes maior. As que tomam de 28 a 41 drinques por semana (1 drinque = 150 ml de vinho = 1 lata de cerveja = 45 ml de bebida destilada) apresentam risco de cirrose 16 vezes maior do que o dos homens abstêmios.
A avaliação dos questionários aplicados durante anos consecutivos em dezenas de milhares de mulheres acompanhadas no célebre "Nurses" Health Study", revelou que tomar dois ou três drinques diários aumenta em 40% o risco de surgir hipertensão arterial, bem como o de derrame cerebral hemorrágico.
Uma análise de seis estudos (metanálise) demonstrou que as mulheres habituadas a ingerir de dois e meio a cinco drinques por dia, apresentam probabilidade 40% maior de desenvolver câncer de mama.
O uso continuado de álcool reduz a densidade da massa óssea em ambos os sexos, mas a probabilidade de provocar osteoporose é maior no feminino. Estudos demonstram que a maior parte das mulheres bebe como forma de livrar-se das angústias associadas aos quadros depressivos. A prevalência de depressão nas que abusam de álcool é de 30 a 40%. Talvez por essa razão, tentem o suicídio quatro vezes mais do que as abstêmias.
A bebida pode causar problemas ao feto. A ingestão de álcool durante a gestação eventualmente provoca distúrbios fetais que vão do retardo de desenvolvimento, à chamada síndrome alcoólica fetal.
Não há nenhum estudo que assegure existir na gravidez uma quantidade de álcool segura. É imprevisível: bebês de mães que beberam a gestação inteira podem nascer normais, enquanto os de outras que o fizeram ocasionalmente podem apresentar malformações congênitas.
Na dúvida, recomenda-se que a gestante não beba, afinal são apenas nove meses.
Alguns trabalhos sugerem, no entanto, que beber pouco e regularmente é menos grave para o feto do que beber muito de uma só vez: tomar um copo de vinho por dia, durante cinco dias, traz menos riscos do que tomar os cinco numa única ocasião. Ao contrário do que se pensava, os efeitos nocivos do álcool não se fazem sentir apenas no primeiro trimestre, período crucial para o desenvolvimento embrionário. Um estudo norte-americano mostrou que o abuso de bebida durante o segundo trimestre está associado à dificuldade dos filhos para aprender a ler e a escrever.
A complicação mais grave, porém, é a síndrome alcoólica fetal, distúrbio que pode surgir em 50% das gestantes que ingeriram álcool. O diagnóstico é baseado nos seguintes critérios: redução do tamanho do feto (abaixo de 10% do esperado), alterações faciais típicas e distúrbios neurológicos.
Você, leitora que resistiu até aqui, não adianta ficar com ódio de mim. Caso não esteja grávida, a mulher pode beber, mas pouco, talvez um ou dois drinques por vez. Como a carne é frágil, se você exagerar neste sábado, dê um tempo amanhã, depois e mais alguns dias. Contrariar a natureza é guerra perdida.
Naquele tempo, o homem de verdade pedia uma pinga no balcão e tomava de um gole só, sem cara feia. A menos que afeitas a gracejos, as mulheres mudavam de calçada para desviar dos bares. Os tempos felizmente são outros: elas entram onde bem entendem, não hesitam em dar o troco ao primeiro insolente e bebem o que lhes dá na cabeça.
Apesar do empenho feminino em busca da igualdade, por um capricho da natureza, o metabolismo do álcool nas mulheres não é, nem jamais será igual ao nosso. Se administrarmos para mulheres e homens a mesma dose, ajustada de acordo com os índices de massa corpórea, elas fatalmente apresentarão níveis sanguíneos mais elevados.
Nelas, a fragilidade aos efeitos embriagadores é justificada pela maior proporção de tecido gorduroso, por variações na absorção do álcool no decorrer do ciclo menstrual e porque a concentração gástrica da desidrogenase alcoólica (enzima essencial para a decomposição do álcool) é mais baixa do que nos homens.
Esses mecanismos explicam porque ficam embriagadas com doses mais baixas e progridem mais rapidamente para o alcoolismo crônico e seu cortejo de complicações.
O efeito de uma cerveja no corpo feminino equivale ao de duas tomadas por um homem de mesmo peso.
Para os mesmos níveis de ingestão, o risco de cirrose nas mulheres é três vezes maior. As que tomam de 28 a 41 drinques por semana (1 drinque = 150 ml de vinho = 1 lata de cerveja = 45 ml de bebida destilada) apresentam risco de cirrose 16 vezes maior do que o dos homens abstêmios.
A avaliação dos questionários aplicados durante anos consecutivos em dezenas de milhares de mulheres acompanhadas no célebre "Nurses" Health Study", revelou que tomar dois ou três drinques diários aumenta em 40% o risco de surgir hipertensão arterial, bem como o de derrame cerebral hemorrágico.
Uma análise de seis estudos (metanálise) demonstrou que as mulheres habituadas a ingerir de dois e meio a cinco drinques por dia, apresentam probabilidade 40% maior de desenvolver câncer de mama.
O uso continuado de álcool reduz a densidade da massa óssea em ambos os sexos, mas a probabilidade de provocar osteoporose é maior no feminino. Estudos demonstram que a maior parte das mulheres bebe como forma de livrar-se das angústias associadas aos quadros depressivos. A prevalência de depressão nas que abusam de álcool é de 30 a 40%. Talvez por essa razão, tentem o suicídio quatro vezes mais do que as abstêmias.
A bebida pode causar problemas ao feto. A ingestão de álcool durante a gestação eventualmente provoca distúrbios fetais que vão do retardo de desenvolvimento, à chamada síndrome alcoólica fetal.
Não há nenhum estudo que assegure existir na gravidez uma quantidade de álcool segura. É imprevisível: bebês de mães que beberam a gestação inteira podem nascer normais, enquanto os de outras que o fizeram ocasionalmente podem apresentar malformações congênitas.
Na dúvida, recomenda-se que a gestante não beba, afinal são apenas nove meses.
Alguns trabalhos sugerem, no entanto, que beber pouco e regularmente é menos grave para o feto do que beber muito de uma só vez: tomar um copo de vinho por dia, durante cinco dias, traz menos riscos do que tomar os cinco numa única ocasião. Ao contrário do que se pensava, os efeitos nocivos do álcool não se fazem sentir apenas no primeiro trimestre, período crucial para o desenvolvimento embrionário. Um estudo norte-americano mostrou que o abuso de bebida durante o segundo trimestre está associado à dificuldade dos filhos para aprender a ler e a escrever.
A complicação mais grave, porém, é a síndrome alcoólica fetal, distúrbio que pode surgir em 50% das gestantes que ingeriram álcool. O diagnóstico é baseado nos seguintes critérios: redução do tamanho do feto (abaixo de 10% do esperado), alterações faciais típicas e distúrbios neurológicos.
Você, leitora que resistiu até aqui, não adianta ficar com ódio de mim. Caso não esteja grávida, a mulher pode beber, mas pouco, talvez um ou dois drinques por vez. Como a carne é frágil, se você exagerar neste sábado, dê um tempo amanhã, depois e mais alguns dias. Contrariar a natureza é guerra perdida.
Texto do Dr. Drauzio Varella na Folha de São Paulo de 23/05/09
Conselho municipal quer ampliar blitze contra álcool perto de escolas em SP
Fiscalização deve ocorrer em 15 subprefeituras até agosto.Objetivo é impedir acesso de menores de 18 anos à bebida.
Fiscalização quer impedir acesso de bebidas a menores (Foto: Mateus Mondini/ G1)
Oliveira espera que, até o ano que vem, as ações sejam realizadas em todas as 31 subprefeituras. “O nosso foco é o ensino fundamental e médio. Temos pesquisas que mostram que o início do uso de álcool tem sido casa vez mais precoce”, diz. Antes das blitze, integrantes do conselho e das subprefeituras traçam um perímetro a ser vistoriado ao redor das escolas. Eles também contam com ajuda de guardas-civis e conselheiros tutelares.
Segundo ele, os estabelecimentos podem ser multados em R$ 4,5 mil caso sejam flagrados vendendo ou servindo bebidas alcoólicas a crianças ou adolescentes. “Ela é dobrada na reincidência e na terceira vez o estabelecimento é fechado”, afirma. Além disso, há uma multa prevista de R$ 1,5 mil caso não seja fixado um cartaz que alerta sobre os prejuízos à saúde do consumo excessivo de álcool.
As blitze educativas começaram há cerca de três anos. Mas Oliveira diz que uma lei aprovada em 2007 e regulamentada em 2008 criou sanções a serem aplicadas durante as fiscalizações. Depois dessa lei, as ações foram iniciadas em agosto do ano passado em seis subprefeituras. De acordo com ele, mais de mil estabelecimentos foram fiscalizados nos últimos nove meses.
“Nosso propósito maior é o de orientar os comerciantes, fazê-los conhecer a lei e colocar os cartazes. A receptividade dos comerciantes tem sido muito boa. Eles não reagem negativamente à implantação desse programa”, conta Oliveira. “Também queremos alertar os diretores de escolas, professores e pais que isto não é só para ser seguido pelo dono do bar e do restaurante, mas também dentro de casa.”
Oliveira diz ser muito difícil fiscalizar um decreto da década de 90 que proíbe a venda de bebida alcoólica a 100 metros das escolas. “Esse decreto é totalmente impraticável, porque tanto o número de escolas aumentou muito, como, na organização da cidade, isso não foi levado em conta. Se você fosse seguir à risca esse decreto, muitos estabelecimentos seriam fechados”, afirmou. Para ele, o importante é garantir que esses comércios não vendam ou sirvam bebidas alcoólicas a menores de 18 anos.
Do G1, em São Paulo
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