13 anos depois, ainda primitivos
Reproduzo a seguir os trechos essenciais de texto publicado neste mesmo espaço no dia 9 de outubro de 1996, quando se discutia a reeleição de Fernando Henrique Cardoso. "Decidi (...) iniciar campanha para coletar assinaturas em emenda popular, cujo texto seria mais ou menos assim:
Artigo 1º - Todo presidente da República tem o direito inalienável de concorrer quantas vezes quiser à reeleição.
Artigo 2º - O anterior se aplica apenas quando o presidente da República se chamar Fernando Henrique Cardoso.
Artigo 3º - Se o presidente se chamar Fernando Henrique Cardoso, mas não quiser, em algum momento, concorrer à reeleição, serão convocados o papa e a Organização das Nações Unidas para tentar demovê-lo de ideia tão contrária aos mais legítimos anseios da pátria.
Artigo 4º - Se mesmo assim o presidente Fernando Henrique Cardoso insistir em não concorrer, o direito à reeleição se transfere a seus descendentes diretos, nos termos do artigo 1º.
Revogam-se as disposições em contrário".
Bom, agora você troca Fernando Henrique Cardoso por Luiz Inácio Lula da Silva e o texto fica absurdamente atual, apesar de ter sido publicado faz 13 anos e depois de quatro períodos presidenciais.
A atualidade do texto só demonstra que o Brasil continua politicamente primitivo. Uma parte relevante do mundo político só se empenha no culto à personalidade do ocupante da Presidência, seja qual for, e/ou em ocupar o poder e mantê-lo uma vez ocupado, sem apresentar, jamais, um projeto de país, mesmo que fosse ruim.
Torço, sem grandes esperanças, para que Lula diga publica e fortemente que não será candidato, ainda que passe a re-reeleição. Pelo menos ele seria menos primitivo que seus bajuladores.
De Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de 19/05/09
Sem Dilma, a carta de Lula 3.0 virá da rua
O silêncio dos dois candidatos tucanos à Presidência é hoje estímulo para o PT
A DOENÇA da ministra Dilma Rousseff acordou o fantasma de uma emenda constitucional que abra o caminho para Nosso Guia disputar nas urnas um terceiro mandato. Como sempre acontece, essas tempestades nascem na periferia. O projeto, que prevê um referendo popular, virá do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) e há uma semana a proposta foi trazida pelo sindicalista Paulo Vidal, que nos anos 70 antecedeu Lula na presidência dos metalúrgicos de São Bernardo. Nas suas palavras, com seu estilo:
"Imaginar pura e simplesmente que politicamente seria importante cumprir as normas constitucionais e tirar o Lula da Presidência, eu acho que todos nós temos que repensar isso. (...) A companheira Dilma que me desculpe."
(Num lance pérfido, Lula já contou que, durante a ditadura, "muitos companheiros presos disseram que Paulo Vidal era quem tinha dedado.
Eu, sinceramente, não acredito." Se não acreditasse, não deveria ter dito, sobretudo quando se sabe que na oficina de ourivesaria stalinista do mito de Nosso Guia, Vidal é colocado no papel de policial.)
Se a candidatura da doutora Dilma Rousseff sair do trilhos, são fortes os sinais de que a carta petista será a emenda constitucional que permita a disputa do terceiro mandato. A manobra exige que até setembro três quintos do Congresso votem a favor da medida, para levá-la a um referendo. Pode-se antever dificuldades no Senado, que já negou essa maioria ao governo no caso da prorrogação da CPMF, mas uma coisa é certa: se a nação petista for para esse caminho, ela não se fará ouvir com maiorias parlamentares, virá com o ronco das ruas.
A expressão "terceiro mandato" trai a abulia política em que se prostrou a oposição. O que Lula pode vir a pedir é o direito de disputar uma terceira eleição. A ideia de "mandato" pressupõe que, podendo disputar, ganhe na certa.
O comportamento dos dois candidatos tucanos à Presidência da República diante da opção queremista (ecoando o "Queremos Getúlio" de 1945) é hoje estímulo para o PT. José Serra e Aécio Neves guardam obsequioso silêncio em relação ao assunto. Serra e o PSDB meteram-se numa camisa de força institucional. Um governador de São Paulo e um partido que simpatizam com uma reforma política capaz de criar o voto de lista por maioria simples ficam numa posição girafa se quiserem condenar um projeto de reeleição que vai buscar os três quintos exigidos para reformas constitucionais para que se realize um referendo.
No caso do governador de Minas Gerais, chega a ser difícil entender por que ele condenaria a manobra queremista, capaz de levá-lo ao melhor do mundos. Primeiro porque a mudança permitiria sua própria reeleição (refrigério de que Serra já dispõe, caso não queira ir para outra disputa com Lula). Em 2014, Aécio Neves estará livre de seu principal adversário, que se chama José Serra, não Lula.
É possível que Serra, Aécio e grão-tucanato deem pouca importância aos sinais de fumaça que saem da panela do Planalto. Em 1995, muita gente boa da oposição se recusava a acreditar que Fernando Henrique Cardoso mudaria a Constituição para se reeleger em 1998. Deu no que deu, colocando no colo dos tucanos a paternidade do instituto da reeleição.
De Elio Gaspari na Folha de São Paulo de 20/05/09
Artigo 1º - Todo presidente da República tem o direito inalienável de concorrer quantas vezes quiser à reeleição.
Artigo 2º - O anterior se aplica apenas quando o presidente da República se chamar Fernando Henrique Cardoso.
Artigo 3º - Se o presidente se chamar Fernando Henrique Cardoso, mas não quiser, em algum momento, concorrer à reeleição, serão convocados o papa e a Organização das Nações Unidas para tentar demovê-lo de ideia tão contrária aos mais legítimos anseios da pátria.
Artigo 4º - Se mesmo assim o presidente Fernando Henrique Cardoso insistir em não concorrer, o direito à reeleição se transfere a seus descendentes diretos, nos termos do artigo 1º.
Revogam-se as disposições em contrário".
Bom, agora você troca Fernando Henrique Cardoso por Luiz Inácio Lula da Silva e o texto fica absurdamente atual, apesar de ter sido publicado faz 13 anos e depois de quatro períodos presidenciais.
A atualidade do texto só demonstra que o Brasil continua politicamente primitivo. Uma parte relevante do mundo político só se empenha no culto à personalidade do ocupante da Presidência, seja qual for, e/ou em ocupar o poder e mantê-lo uma vez ocupado, sem apresentar, jamais, um projeto de país, mesmo que fosse ruim.
Torço, sem grandes esperanças, para que Lula diga publica e fortemente que não será candidato, ainda que passe a re-reeleição. Pelo menos ele seria menos primitivo que seus bajuladores.
De Clóvis Rossi na Folha de São Paulo de 19/05/09
Sem Dilma, a carta de Lula 3.0 virá da rua
O silêncio dos dois candidatos tucanos à Presidência é hoje estímulo para o PT
A DOENÇA da ministra Dilma Rousseff acordou o fantasma de uma emenda constitucional que abra o caminho para Nosso Guia disputar nas urnas um terceiro mandato. Como sempre acontece, essas tempestades nascem na periferia. O projeto, que prevê um referendo popular, virá do deputado Jackson Barreto (PMDB-SE) e há uma semana a proposta foi trazida pelo sindicalista Paulo Vidal, que nos anos 70 antecedeu Lula na presidência dos metalúrgicos de São Bernardo. Nas suas palavras, com seu estilo:
"Imaginar pura e simplesmente que politicamente seria importante cumprir as normas constitucionais e tirar o Lula da Presidência, eu acho que todos nós temos que repensar isso. (...) A companheira Dilma que me desculpe."
(Num lance pérfido, Lula já contou que, durante a ditadura, "muitos companheiros presos disseram que Paulo Vidal era quem tinha dedado.
Eu, sinceramente, não acredito." Se não acreditasse, não deveria ter dito, sobretudo quando se sabe que na oficina de ourivesaria stalinista do mito de Nosso Guia, Vidal é colocado no papel de policial.)
Se a candidatura da doutora Dilma Rousseff sair do trilhos, são fortes os sinais de que a carta petista será a emenda constitucional que permita a disputa do terceiro mandato. A manobra exige que até setembro três quintos do Congresso votem a favor da medida, para levá-la a um referendo. Pode-se antever dificuldades no Senado, que já negou essa maioria ao governo no caso da prorrogação da CPMF, mas uma coisa é certa: se a nação petista for para esse caminho, ela não se fará ouvir com maiorias parlamentares, virá com o ronco das ruas.
A expressão "terceiro mandato" trai a abulia política em que se prostrou a oposição. O que Lula pode vir a pedir é o direito de disputar uma terceira eleição. A ideia de "mandato" pressupõe que, podendo disputar, ganhe na certa.
O comportamento dos dois candidatos tucanos à Presidência da República diante da opção queremista (ecoando o "Queremos Getúlio" de 1945) é hoje estímulo para o PT. José Serra e Aécio Neves guardam obsequioso silêncio em relação ao assunto. Serra e o PSDB meteram-se numa camisa de força institucional. Um governador de São Paulo e um partido que simpatizam com uma reforma política capaz de criar o voto de lista por maioria simples ficam numa posição girafa se quiserem condenar um projeto de reeleição que vai buscar os três quintos exigidos para reformas constitucionais para que se realize um referendo.
No caso do governador de Minas Gerais, chega a ser difícil entender por que ele condenaria a manobra queremista, capaz de levá-lo ao melhor do mundos. Primeiro porque a mudança permitiria sua própria reeleição (refrigério de que Serra já dispõe, caso não queira ir para outra disputa com Lula). Em 2014, Aécio Neves estará livre de seu principal adversário, que se chama José Serra, não Lula.
É possível que Serra, Aécio e grão-tucanato deem pouca importância aos sinais de fumaça que saem da panela do Planalto. Em 1995, muita gente boa da oposição se recusava a acreditar que Fernando Henrique Cardoso mudaria a Constituição para se reeleger em 1998. Deu no que deu, colocando no colo dos tucanos a paternidade do instituto da reeleição.
De Elio Gaspari na Folha de São Paulo de 20/05/09
Terceiro mandato de Lula é "violência contra democracia", diz Aécio
O governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), disse nesta quarta-feira (20), em Belo Horizonte, que a possibilidade de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se candidatar a um terceiro mandato seria uma "violência contra a democracia" e criticou setores do PT (Partido dos Trabalhadores) por defenderem essa hipótese.
"Eu, em todas as conversas que tive com o presidente, percebi com muita sinceridade que ele descarta essa possibilidade. Seria, na verdade, uma violência contra a sua própria biografia. Eu acredito sinceramente que o presidente não se movimenta nessa direção. Por outro lado, além de ser algo que significaria uma enorme violência à própria democracia, não há mais tempo hábil para que isso seja aprovado do ponto de vista congressual", disse.
Sem citar nomes, Aécio criticou petistas que defendem a tese de terceiro mandato para Lula. "O que eu percebo é que os mesmos setores do PT, que sempre tiveram muitas dúvidas sobre as possibilidades reais de vitória do PT na sucessão do presidente Lula, volta e meia aventam essa possibilidade", frisou.
Aécio recebeu o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governo mineiro, e segundo ele, foi convidado pelo prefeito para participar de evento tucano no próximo dia 5, em Foz do Iguaçu (PR). O evento servirá como pano de fundo para que o governador defenda a realização de prévias no PSDB, O que ele vem fazendo em viagens pelo Brasil.
"Eu, em todas as conversas que tive com o presidente, percebi com muita sinceridade que ele descarta essa possibilidade. Seria, na verdade, uma violência contra a sua própria biografia. Eu acredito sinceramente que o presidente não se movimenta nessa direção. Por outro lado, além de ser algo que significaria uma enorme violência à própria democracia, não há mais tempo hábil para que isso seja aprovado do ponto de vista congressual", disse.
Sem citar nomes, Aécio criticou petistas que defendem a tese de terceiro mandato para Lula. "O que eu percebo é que os mesmos setores do PT, que sempre tiveram muitas dúvidas sobre as possibilidades reais de vitória do PT na sucessão do presidente Lula, volta e meia aventam essa possibilidade", frisou.
Aécio recebeu o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB), no Palácio das Mangabeiras, residência oficial do governo mineiro, e segundo ele, foi convidado pelo prefeito para participar de evento tucano no próximo dia 5, em Foz do Iguaçu (PR). O evento servirá como pano de fundo para que o governador defenda a realização de prévias no PSDB, O que ele vem fazendo em viagens pelo Brasil.
De Rayder Bragon no UOL notícias
http://noticias.uol.com.br/politica/2009/05/20/ult5773u1226.jhtm
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