Era uma vez uma princesa que beijou um sapo, na certeza de que, ao quebrar-se o encanto, o sapo voltaria a ser um príncipe. Em vez disso, foi a princesa que se transformou numa sapa. Uma variação é a do príncipe que matou a princesa para ficar com o dragão. Essas fábulas invertidas já foram de tudo na vida: desenho animado, cartum, história em quadrinhos. Mas seu habitat natural -o pântano- é o mundo político.
Foi o que o presidente Lula fez de novo nesta semana, insistindo em abraçar-se ao dragão, mesmo que lhe custasse a perda de velhos aliados. Pela repetição, tal atitude não deveria surpreender ninguém e, aos que se indignaram e pediram o boné, desligando-se do PT, só não se entende por que não o fizeram há mais tempo. Nos últimos anos, nomes respeitáveis do petismo já caíram fora, e pelo mesmo motivo -para escapar ao miasma.
Em todas essas defecções, a reação de Lula resumiu-se a "os incomodados que se mudem". Sua autossuficiência fará com que, até o fim do mandato, a troca de times se complete: a seu lado, estarão todas as figuras que um dia ele execrou e aos quais parecia uma alternativa -Sarney, Collor, Maluf e os demais. Na oposição, ou de pijama em casa, os "companheiros" que, em 1980, lhe ensinaram as primeiras letras e o usaram como pôster para suas ideias, sem imaginar que o pôster fosse ganhar vida, vestir a casaca e virá-la pelo avesso.
Lula ficou maior que o PT. Enquanto este se afoga no mangue, o presidente nada de braçada no azul. É imune a algas, dejetos e caranguejos, como se fosse feito de teflon -como o definiu no passado seu mais simbólico adversário, o hoje também aliado Delfim Netto.
Nada se gruda a Lula. Dentro de ano e pouco, sairá do governo fresco como uma rosa, deixando o brejo coaxando pela sua volta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário