Só um sentimento de pânico patológico explica a insinuação do ex-ministro e ex-deputado petista José Dirceu sobre cassar o mandato de Marina Silva se a senadora trocar o PT pelo PV.
"O seu mandato [de Marina Silva] pertence ao povo do Acre e também ao PT", escreveu Dirceu em seu blog. A ameaça foi logo debelada pelo Palácio do Planalto e por petistas em geral. Depois de dezenas de escândalos engavetados, seria devastador para a imagem do PT perseguir Marina Silva.
Para a senadora pelo Acre, talvez fosse até um favor. Ganharia publicidade gratuita como a única cassada no lodaçal do Congresso.
Mas tudo parece ter sido mesmo uma ideia sem conexão com a realidade. No atual momento pelo qual passa o Poder Legislativo, só um fato muito inaudito resultará na punição de algum deputado ou senador. Por ora, estão todos salvos.
Embora o foco agora seja o Senado, não custa lembrar das estripulias na Câmara. Lá, já está tudo abafado. Usou-se até parecer jurídico pago com dinheiro público na absolvição do deputado que levou a namorada ao exterior.
Essa impunidade generalizada parece ter conexão com o momento pelo qual passa o país. A economia não foi para o buraco. Milhões de brasileiros recebem o Bolsa Família. A sensação de bem-estar produzida leva os cidadãos a pensar mais no próximo crediário nas Casas Bahia e menos em protestar contra a canalhice na política.
Num país miserável, não é surpresa a barriga vir na frente da ética e da moral quando se trata de escolher entre ganhar a vida e preocupar-se com políticos indecentes.
Nesta semana, o PSOL fez um protesto anti-Sarney. Apareceram menos de 30 gatos pingados. Faltou povo. Como escreveu ontem Clóvis Rossi, pouco ou nada acontecerá enquanto a maioria achar que basta mandar e-mails desaforados para os congressistas.
De Fernando Rodrigues na Folha de São Paulo de 15/08/09
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