A violência doméstica traz danos cerebrais que dificultam a reação aos abusos que sofrem dentro de casa, segundo pesquisa da Universidade Federal de São Paulo.
Uma pesquisa da Universidade Federal de São Paulo ajuda a explicar um comportamento muito comum entre as mulheres vítimas de violência doméstica. Veja na reportagem de Elaine Bast.
As agressões começaram quando Conceição estava grávida. O marido, bêbado, deu chutes na barriga dela. “Ele pegava minha cabeça e tacava na parede, já jogava coisa pesada em mim” disse a dona de casa, Conceição Andrade.
Ela disse que só teve paz quando ele morreu há 5 anos, mas as sequelas ficaram. “Ficou problema de coração, de coluna. Me trava tudo, fico sem andar. Tudo por causa das pancadas, das correrias, acabou comigo”, disse.
A violência domestica não deixa apenas marcas físicas nas mulheres. As agressões constantes também trazem danos cerebrais que dificultam até mesmo a reação aos abusos que elas sofrem dentro de casa. É o que mostra uma pesquisa feita pela Universidade Federal de São Paulo com mulheres que por vários anos foram espancadas pelos maridos.
Mais da metade delas já sofria agressões desde a infância e muitas eram ameaçadas de morte pelos maridos. Por causa do medo durante os espancamentos, quase todas ficavam paralisadas, sem reação.
Era o que acontecia com aparecida, que sofreu agressões físicas e psicológicas por oito anos. “Eu ficava parada. Ele me batendo, eu não conseguia me defender”, disse a massoterapeuta
Aparecida Fátima de Oliveira.
Segundo os pesquisadores, as repetidas agressões afetam a percepção da realidade e a memória dessas mulheres. “A pessoa, diante do trauma, ela não consegue muitas vezes recordar de partes importantes, de detalhes no momento da violência. Apaga como um mecanismo de sobrevivência”, disse a pesquisadora da Unifesp Adriana Mozzambone.
O trauma provocou depressão na maioria das mulheres e ansiedade em praticamente todas. Esses distúrbios têm tratamento. Com medicamentos, terapia e o apoio da família.
“É um tratamento que precisa ser feito porque são mulheres que são muito prejudicadas, mas que o sucesso é lento, e tem que ter muita paciência e persistência tanto do paciente como dos terapeutas e médicos”, disse o professor de psiquiatria da Unifesp, Marcelo Feijó de Mello.
Tratamento que tem ajudado Aparecida a retomar a vida que tinha. “Vou pro forró, vou pra umas baladinhas. Tem que reagir, tem que reagir não com agressão, mas se cuidando, se tratando, se dando carinho, permitindo aos outros dar também. E acreditando que vai ter carinho de todos os lados”, disse ela.
É preciso capacitar profissionais para atendimento
Os apresentadores William Bonner e Fátima Bernardes conversaram ao vivo com a coordenadora do Núcleo de Defesa da Mulher da Defensoria Pública de São Paulo, Thais Nader.
A coordenadora disse que é preciso começar a oferecer cursos de capacitação para os profissionais que vão receber a mulher que é vítima de violência doméstica, tanto na área da saúde como nas delegacias.
Muitas vezes elas se queixam de dores mas não denunciam que houve violência. Então, é preciso capacitar os profissionais para que eles passem a ter a percepção do que está acontecendo com essas mulheres.
É muito importante a divulgação da lei dos direitos da mulher, porque a sociedade ainda é muito machista. É preciso também ter apoio da família para que a mulher faça a denúncia.
É preciso fazer a prevenção, para que a violência seja eliminada e para que não se precise chegar à punição total prevista na Lei Maria da Penha.
Existe um número de telefone para todo o Brasil para as mulheres vítimas de violência que precisam de ajuda. É 180.
Reportagem do Jornal Nacional de 30/07/09
Nenhum comentário:
Postar um comentário