No mês de abril deste ano, a maioria dos operadores do mercado financeiro – analistas, economistas, estrategistas – já tinha conseguido cumprir suas metas do ano. E não foram metas modestas.
Principalmente os bancos estrangeiros fixaram metas elevadíssimas de desempenho. Mas a política monetária do Banco Central permitiu ganhos dos quais nem o mercado se supunha capaz.
Primeiro, ao manter as taxas de juros Selic muito mais elevadas que as taxas internacionais de equilíbrio. Chama-se de “taxa de equilíbrio” aquela que não permite ganhos de arbitragem – isto é, operações pelas quais os investidores tomam recursos em outras moedas, convertem em dólares, aplicam em juros no Brasil e, na saída, conseguem dólares mais baratos para comprar e remeter.
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Com a queda do “risco Brasil” e das taxas de juros americanas, a taxa de equilíbrio brasileira caiu substancialmente. Como o BC manteve as taxas internas acima, atraiu uma avalanche de dólares que ajudou a valorizar o real – proporcionando o segundo ganho expressivo aos especuladores.
Há uma regra de ouro no mercado financeiro, de que as aplicações precisam se equilibrar entre liquidez (facilidade de resgatar o dinheiro), rentabilidade e segurança. Aplicações mais seguras oferecem menos liquidez e menos rentabilidade. Aplicações de maior risco compensam oferecendo maior liquidez e rentabilidade.
No caso brasileiro, o BC assegurava plena rentabilidade (as mais altas taxas de juros do planeta), plena liquidez e plena segurança – já que as contas internas e externas estão em ordem.
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No mercado, em geral, considera-se a taxa de equilíbrio como pouco acima de 9,5% ao ano. Quando o Copom (Comitê de Política Monetária do Banco Central) define um determinado ritmo de queda da Selic, o mercado estima quanto tempo levará para chegar à taxa de equilíbrio, e vai reduzindo suas posições especulativas no país.
No ano que vem, pela primeira vez, cessarão as condições que permitiam esse ganho fácil ao mercado. A Selic se aproximaria da taxa de equilíbrio, o dólar pararia de cair em algum momento, acabando com o jogo fácil. Aí o mercado terá que mostrar profissionalismo, buscando alternativas em ações, fundos e outros investimentos que exigem muito mais do que meramente “adivinhar” a trajetória da taxa de juros – que o BC não faz questão de esconder de ninguém.
É isso que explica o tremendo alarido que se forma sempre, às vésperas das reuniões do Copom, com previsões de volta da inflação, de volta do fim do mundo. Ontem um economista ouvido pela imprensa dizia que os investimentos brasileiros estão em 18% do PIB. Para não haver inflação teriam que estar em 20%. Puro chute!, mas que serve para alimentar.
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Há muito tempo o Banco Central tornou-se uma agência capturada pelo mercado. É curioso que, pela lógica econômica pura, pela análise dos índices de inflação, pelas análises sobre os níveis de investimento, o próprio mercado estava dividido sobre os rumos da Selic. Não adiantou. O BC preferiu prorrogar a farra do boi.
Texto da coluna de economia do Luis Nassif de 19/10/07
http://www.projetobr.com.br/blog/6.html
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